15 outubro, 2010

O Mercado de Arranjos Institucionais

senhoras e senhores:
o mercado de arranjuos institucionais (inclusive os monetários) é algo fundamental para a compreensão do verdadeiro fluxo circular da renda, como tenho postado aqui e escrito ali. procurando a expressão do título desta mensagem no Google Images, achei apenas duas citas a meu próprio blog. tirando o "mercado de", pesquei algumas imagens, inclusive a que nos ilustra hoje, amado diário. claro que já falei sobre o casamento heterossexual, sobre comunidades, gens punaluana, essas coisas de mentes arejadas, mentes que não vêem óbices à livre expressão de suas emoções. casal heterossexual na escada com nota de dólar? não sabemos, mas que parece, parece. subidos no altar do dinheiro? não é impossível, sem Mamón, não haveria Deus. sem dinheiro, não haveria altares, não haveria noivas, noivos, fraques, frufrus. a divisão do trabalho é a mãe da satisfação das necessidades materiais superiores. obviamente existe divisão do trabalho sem capitalismo, mas -encetada a troca- parece que ainda não estamos perto do dia em que a monetização da riqueza verá seus limites. em outras palavras, as economias monetárias ainda têm enorme vitalidade, casamentos, procriação, tanto é que pessoas sensatas não podem atrever-se a sugerir mais do que um simples "reformas democráticas que conduzam ao socialismo".

e que é mesmo este troço de mercado de arranjos institucionais? definindo por negação: não é o mercado em que se transacionam bens e serviços (produtores ofertam, instituições demandam), nem aquele cujo objeto das transações são os serviços dos fatores de produção (produtores demandam e os locatários dos 'fatores ofertam os serviços). ainda assim, este terceiro é um mercado bem azeitadinho, com oferta de arranjos institucionais pelas instituições e demanda de tais arranjos pelos locatários dos fatores. caso não houvesse uma ordem institucional, garantia de direitos de propriedade, não haveria mercado de nada, não haveria civilização, haveria rapina, barbárie e absoluta carência de incentivos para qualquer atividade social distante daquela que vigora entre nossos primos chimpanzés. ou, pior, a ordem do formigueiro, em que a liberdade é praticamente nula, o instinto é dominante.

na verdade, a teia de relações sociais que fez com que os arranjos institucionais, inclusive os monetários surgissem, é bem mais velha do que o próprio dinheiro, do que a própria troca e se associa aos mais elementares passos dados pela humanidade para estabelecer-se como espécie. mas, digamos, depois de certas tentativas e erros, criou-se o dinheiro. e, com ele, surgiram os trechos das páginas 256 e 257 do livro

CLOWER, R. W. ec. (1973) Monetary theory. Harmondsworth: Penguin. Nestas páginas, iniciadas na p.254 e concluídas na p.269, vemos um trecho do livro:

HICKS, J. R. (1967) Monetary theory and history: an attempr at perspective, originalmente publicado em seu Critical Essays in Monetary Theory, do capítulo 9 do livro da Clarendon, às p.155-173.

que trechos são estes? eles falam por si:

Throughout the whole time - back before Ricardo, forward after Keynes - money itself has been evolving. The change from metallic money to paper money is obvious; but there are other things which have gone with that change, of even grearter importance, which are not so easy to recognize and to assess. Even if we say that metallic money has given place to credit money, we are still not gettring to the bottom of what has happened. For credit money is just a part of a whole credit structure that  extends outside money; it is closely interwoven with a whole system of debts and credits, of claims and obligations, some of which are money, some of which are not, and some of which are on the edge of being money. The obvious change in the money medium, from 'full-bodied' coins to notes and bank deposits, is just a part of a wider developlment, the development of a financial system. This has taken the form of the growth of financial institutions, not just banks, but other 'financial intermediaries' as well; it has carried with it a fundamental change in the financial activities of governments. In the course of these changes there has been a change in the whole character of the monetary system. In a world of banks and insurance companies, money markets and stock exchanges, money is quite a different thing from what it was before these institutions came into being. 

This evolution has been going on ever since the time of Ricardo (its beginnings, of course, are much earlier); it clearly called, as it proceeded, for a radical revision of monetary theory. As the actual system changed, the theoretical simplification ought to have changed with it. We can now see that it did not change sufficiently; there was a lag. But the reason for the lag was not just laziness or sleepiness; there was an obstacle to be overcome.

On the theoretical level - in terms of basic principles -the evolution tha was occurring had two aspects. From one of them it was a natural piece of economizing. Metallic money is an expensive way of performing a simple functon; why waste resources in digging up gold from the ground when pieces of paper (or mere book entries) which can be provided, and transported, at a fraction of the cost will do as well? That is the reason why the credit system grows: that it provides a medium of exchange at much lower cost. But on the other side there is the penalty that the credit system is an unstable system. It rests upon confidence and trust; when trust is absent it can just shrivel up. It is unstable in the other directon too; when there is too much 'confidence' or optimism it can explode in bursts of speculation. Thus in order for a credit system to work smoothly, it needs an institutional framework which shall restrain it on the one hand, and shall support it on the other. To find a framework which can be relied on to give support when it is needed, and th impose restraint just when it is needed, is very difficult; I do not think it has ever been perfectly solved. Even in this day we do not really know the answer.

em resumo, foram-se quase 50 anos que Hicks escreveu isto e, claro, ainda não há resposta. neste meio tempo, a literatura da economia das instituições, comportamento e evolução tomou corpo, lançando-se como área autônoma de pesquisa. quando eu comecei a pensar num nome para este mercado de créditos às instituições e débitos aos locatários dos fatores de produção, eu pensava em "arranjos políticos", algo assim, nais de acordo com influências da teoria da escolha pública. mas depois, vim a fixar-me nesta expressão dos arranjos institucionais. torna-se clara a natureza monetária das economias de que estamos tratando, torna-se claro que o mercado -diferentemente da comunidade e do estado- é a forma de agregação de preferências coletivas mais propícia à criação de incentivos materiais para a ação dos agentes. e mais, também influiu sobre minha identificação destas propriedades milagrosas a visão de financeirização crescente das transações, do efeito Excel, aquelas coisas e principalmente a securitização na linha dos mercados generalizados de seguros concebidos por Kenneth Arrow.

para a campanha de um refrigerante ou o que seja que ainda poderá ser lançado: para domesticarmos o futuro, muito mais importante do que pensaqrmos no juro, devemos é fazer nosso seguro.
DdAB

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