05 outubro, 2010

Cianinha e as Eleições: o PSol down the hill

querido diário:
nunca detive excessivamente minha atenção sobre o PSol, cuja legenda é "socialismo e liberdade", nem sei se é este mesmo o nome do strange animal. minha falta de interesse já se prendeu a esta ordem: primeiro o socialismo e segundo a liberdade. se é para ordenarmos lexicograficamente, prefiro pensar não mais em "partidos" mas em "sociedades" e já caio na "sociedade justa" de John Rawls, cujo primeiro e absoluto item é a liberdade.

mas, por contraste a minha visão morna sobre a viabilidade política de um partido que também parte para colocar o substantivo "liberdade" após a palavra "socialismo", tenho visão acérrima sobre pontos específicos do programa dessa turma. seu rompimento com o PT quando o governo Lula começou a mostrar-se mais pragmático do que muitos gostaríamos, eles fizeram lá seu cisma. mas, ao invés de inventarem um partido da liberdade e do socialismo, ou melhor, da liberdade e das reformas democráticas que conduzam ao socialismo, inventou logo este troço que aí está.

Heloísa Helena era senadora. depois, elegeu-se vereadora. depois, parece que mais nada, nem sei se ela ainda é vereadora. parece que acaba de perder as eleições para uma das vagas de senadora de Alagoas. ela é moralista (contra o aborto) e preconceituosa (contra a economia aberta), e por aí vai. do Babá, prá rimá, nunca mais ouvi falá. e da Luciana Genro, acabo de ver sua entrevista na p.14 do jornal Zero Hora de hoje. a ironia é que Cianinha perdeu seu mandato e não poderá recuperá-lo nas próximas eleições, pois seu daddy foi eleito governador do Rio Grande do Sul. disse ela há muitos anos que sua imersão na política nada teve a ver com o fato de ser filha dele. nem a votação, nem o sobrenome. então é injusto que ela pague agora pelos sucessos eleitorais do progenitor, não é mesmo? não, claro que não. pois a lei não foi feita para ela, ou pelo menos não foi feita contra ela. nem sei o que dizer desta lei, num país que teve um presidente da câmara dos deputados possuidor de escravos.

na parte cômica da postagem de hoje, tenho duas sugestões à madame. primeira: trocar de nome: passar a chamar-se Nora Genro, o que talvez fosse aceito como mudança de paternidade. nada garanto, mas -se não der certo- ela pode transferir seu domicílio eleitoral para um estado que não seja governado por um parente. dizia-se no passado que cunhado não é parente. nesta linha, poderíamos pensar que sogro tampouco, então, caso ela viesse a chamar-se Nora Sogro, poderia alcançar sucesso em candidaturas em milhares de estados brasileiros.
na parte mais consentânea da postagem, penso que a tragédia do PSol vai muito além deste revés do orçamento doméstico da candidata derrotada (menos de R$ 30.000, actually). o PSol foi um fracasso eleitoral, teve uma candidatura anti-candidatura, com o católico Plínio de Arruda Sampaio. ele era o esculhambador dos debates. ele disse inomináveis absurdos e mostrou absoluto despreparo para ser candidato a presidente. ele é católico. foi um militante católico. como sabemos, os católicos não proibem seus acólitos de submeterem-se a treinamento na teoria da escolha pública, mas ele esquivou-se.

no Rio Grande do Sul, o PSol teve um fracasso ainda mais rotundo, completo e estrondoso do que o mergulho nacional. os números são os seguintes (mesma fonte):
:: eleitores do Rio Grande do Sul: 5.986.549
:: número de vagas na câmara federal: 31
:: quociente eleitoral: 5.986.549/31 = 193.114 (não conferi com meu poderoso Excel)
:: número de votos de Luciana Genro:  129.501
:: número de votos em seu partido: 179.578.

ou seja, o PSol não foi capaz de preencher sequer uma das 31 vagas que estavam em litígio. e queria quantos deputados? faltaram 14 mil eleitores, talvez, como a onça agredida por Jeca Tatu, "até hoje estejam correndo do 'socialismo'".Luciana insurgiu-se, segundo o jornal: 

O sistema é injusto, mas a maior injustiça nem é essa. É a possibilidade de se fazer uma campanha com o mínimo de condições igualitárias em tempo de TV e recursos financeiros. O fato de ter tido os votos e não entrar poderia ser resolvido se não houvesse um patamar mínimo ou se esse patamar fosse menor.

para mim, que não sou socialista, mas apenas quero as reformas democráticas que conduzam a ele, há coincidência de opinião: o sistema eleitoral (ou melhor, o sistema, mesmo) é injusto. mas sigo exercitando meu direito de divergir: a maior injustiça é que o voto é obrigatório. a segunda é que o voto não é distrital. a terceira é que o voto não é em partidos mas em palhaços, reis, piratas e jardineiras. retifico o que disse acima: não vemos uma tragédia do PSol, mas de gente que acredita que um projeto de transformação da realidade com estes contornos pode requerer esforços sérios ao longo de uma vida pública. aliás, também acho que a reforma eleitoral deveria proibir reeleições (o que impediria Tarso de reeleger-se governador e ela, olimpicamente, poderia voltar a disputar eleições). sempre achei, não é casuísmo pró-Cianinha. mas agora ela deveria era ir trabaiá! ela tem profissão ou e apenas "política"?

então sigamos: fazer campanha igualitária, com tempos e recursos distribuídos igualitariamente? como é isto? e se eu fizesse o PDdAB (Partido DdAB), poderia candatar-me a tempos e dinheiros? e por que precisaria deste artifício pueril do PDdAB? não bastava autorizarem, com tempos e dinheiros, a candidatura direta de DdAB? segundo: ela, querendo a reforma política, poderia contribuir para impedirmos que pessoas jurídicas dessem dinheiro a candidatos e seus partidos. e mais, que o financiamento das campanhas fosse exclusivamente público. todo dinheiro teria que sair de um fundo orçamentário (que não poderia ser maior do que o gasto em, digamos, vacina BCG, sei lá).

e tem mais: teve votos e não entrou? mas não eram 193.114 votos para entrar? ela entrou no erro de cálculo. ou é pior? ou é que ela está pensando em modelos tipo a candidatura paulista do palhaço Tiririca, que surgiu do nata, em um partido de nada e ganhou uma votação de fazer inveja a rinocerontes e outros casca-grossas que já ganharam mordomias (R$ 30.000 mensais) em Sampa e no resto do indigitado país. não quereria Luciana um sistema de distritos eleitorais? um sistema que cercasse cada grupo de 193.114 eleitores e os fizesse escolher um representante?

não podemos esquecer que o assunto não começou com ela. lembro que alguém cogitou que a filha da governadora Yeda Rorato Crusius viria a ser candidata a vereadora, ou deputada, ou ambos os cargos orçamentários. pois não sei se a Sra. Tarsila quis mesmo, o fato é que os mesmos jornais que noticiaram, desnoticiaram-na. a lei já existia naquele tempo. ou seja, não pode ser candidato em governo de parente. a Luciana, claro, vai recorrer, já contratou um advogado. eu, se fosse os juizes, autorizá-la-ia, com o argumento de "só por farra".

faça-se claro: não sou contrário à existência de partidos nanicos, ou seja, todo mundo tem direito a criar seu partidinho. mas acho que nos aproxima ainda mais do socialismo é criarmos outro tipo de reforma política que não dê monopólio aos partidos à participação popular. o que acho absurdo é que se leve a sério, sob o ponto de vista da organização institucional da eleição, as candidaturas absolutamente irrelevantes, como a dos candidatos a presidente de partidos que fizeram menos de 1% dos votos. ou seja, o diabo do partido, que quer governar 200 milhões, não consegue alcançar nem os 13 milhões de pessoas do "colégio eleitoral". inclusive andi pensando que, por contraste à sagração dos eleitos, esse pessoal de tão horrível visão de suas próprias possibilidades de capturar as preferências coleticas deveria desfilar em alguns desses palcos que frequentou e ser vaiado...
DdAB

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