19 outubro, 2010

Dilma e SUS, Americanos e Máquinas

querido diário:
ontem, declarei meu voto em favor de Dilma, minha estagiária na FEE, ou melhor, não declarei meu voto (pois sigo em desagradável desobediência civil), nem Dilma Vana foi minha estagiária na FEE. seja como for (1), eu podia ter votado em Dilma -e não o fiz- e ela podia ter sido minha estagiária -e não o foi. seja como for (2), conheci-a proximamente, se é que alguém o fez. sei que ela dizia "neguinho" e me ensinou uma pequena manha relacionada ao índice de Laspeyres. foi minha estagiária? muito aprendi com eles, os estagiários e elas, as estagiárias, mas Dilma não o foi e ensinou-me, do mesmo jeito.

ok, chega de Dilma (mas não esqueça de votar nela...). vamos ao SUS e à p.39 de Zero Hora de hoje, em que se noticia que o sr. Paulo Ricardo Pfeifer da Silva recebeu um transplante cardíaco em março deste ano no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. e que o procedimento custou ao SUS a quantia de R$ 500 mil. e que mr. Paulo não tinha mobília em sua casa. e eu fiquei pensando duas coisas:

.a. muitos me tacham de americanófilo, eu que sou a favor de taxas (mas não de tarifas nem de theft, se meus trocadilhos não me desacompanham). se não sou americanófilo, certamente sou monetarista, no sentido friedmaniano, de quem andei lendo maravilhas ontem. ser americanófilo é amar também a tecnologia lá criada ou por lá desenvolvida como não se imaginava há 500 anos. e há quem não goste, como o site de onde tirei a ilustração de hoje, ao que parece. claro que sou a favor de pessoas artificiais, se me faço entender. ou melhor, sou a favor de rompermos as cadeias que nos deixam com esta vida curta, suja e bruta. se o Universo vai durar mais oito bilhões de anos, nada haveria de errado se as máquinas permitissem que nossas consciências durassem, digamos, uns sete bilhões.

.b. transplantes do coração são campeão! mas, cá entre nós, pensei direto na QALY, ou seja, nos anos de vida ajustados pela qualidade. mas, mais que isto, pensei no que hoje chamam de estratificação do risco, ou seja, o estabelecimento da hierarquia com que os doentes serão atendidos. pensei em Abraham Maslow:


Em 1943, [ele] classificou as necessidades humanas que se costuma resumir em:
a) necessidades fisiológicas (metabólicas),
b) necessidades materiais superiores (segurança e estabilidade),
c) necessidades sociais (reconhecimento e afeição derivados de se pertencer a um grupo), e
d) necessidades superiores (evolução pessoal ligada à busca da verdade e significado da vida).

Alinhadas na seqüência articulada por Maslow, tudo indica que não nos dispomos a trocar um prato de comida pela audição de um poema: apenas de barriga cheia é que teremos aguçada nossa sensibilidade artística.

e pensei no grande clube da baixaria brasileiro -que não juro venha a resolver-se com a Chapa Branca sendo eleita - em que convivem cirurgias delicadas, de R$ 500 milhões e outras mais e menos caras e a prosaica barriga dágua, os médicos treinadíssimos e os professores analfabetos. no dia em que os políticos tomarem doses de baixo preço de vergonha cívica, o orçamento universal começará a disciplinar estes despilfarros de recursos. in the meanwhile, vai votando na Dilma aí, sô!
DdAB

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