19 junho, 2010

Nós e a Argentina

querido blog:
ontem, li no jornal, houve um leilão em Nova York, lance vencedor de US$ 300,000, objeto leiloado, o manuscrito oslt do conto "El Jardín de los Senderos que se Bifurcan", de Jorge Luis Borges, escrito -eu o sabia- em 1941, uma anterioridade de quase 70 anos à chegada de Nina. no sendeiro pelo qual minha existência decidiu enveredar, digamos, lá por 1975, este destino seria inevitável, como o foi, ainda que ninguém -ao que eu saiba- tenha ousado tentar este devir específico. em outro futuro, não haveria Nina, mas Elisa, em outro, seria o menino Recabarén, e assim por diante.

por US$ 300,000, achei que valeria a pena reler "El Jardín...". dissera elsewhere que o relera em 2008, pois tê-lo-ia lido em 1998, ainda no tempo de Floripa. se o li, então é porque ele se encontrava no livro "Ficciones", uma coletânea que comprei em Barcelona, em 1987. ou seja, décadas de cá ou de lá... ocorre que, no livro "Ficciones", não há jardim nenhum, pelo menos não o do japonês, do Mr. Albert, sei lá. talvez, mesmo na primeira leitura de dois anos atrás (3/set/2008), eu datava Floripa: 21/nov/1997, às 22h30min, que deveria ser transcrição de algo, pois o exemplar de que falo é o da coleção em quatro volumes da Editora Emecé, que adquiri em 2004, em plena Vivenda Visconde.

pois bem, é tempo de Copa do Mundo, Maradona brilha tanto quanto grandes jogadores da Seleção Argentina. pois bem, Borges, à p. 475, neste very conto diz:

Pensé que un hombre puede ser enemigo de otros hombres, de otros momentos de otros hombres, pero no de un país: no de luciérnagas, palabras, jardines, cursos de agua, ponientes.
é um espantoso breve contra os antropocentrismos ("esta chuva me odeia, quer matar-me") e etnocentrismos ("todo acendedor de lampeões de rua é abobado"). claro que não posso ser inimigo de um jardim, quer ele venha a bifurcar-se ou apenas enrodilhar-se. nem afirmar que o por-do-sol do Rio Guaíba ou do Rio Jaguari é o mais belo do planeta. isto já basta para deixar claro que esta depreciação que se faz à Argentina enquanto nação por causa da seleção brasileira de futebol já é exagero. como se o futebol do Boca Juniors fosse realmente rival da brasilidade, essas coisas. eu amo a Argentina, epa. eu amo Jorge Luiz Borges, epa, epa. eu amo os escritos de Borges, eu amo os tangos, eu amo pilhas de coisas da cultura argentina.

e parece que não sou apenas eu, pois a canção de Chico Buarque e Maria Bethânia diz:

[...] penetrar no labirinto, no labirinto de labirintos [...]

verso, em prosa, da mesma página do mesmo conto do mesmo autor do mesmo país. ou seja, Borges diz:

Pensé en un laberinto de laberintos, en un sinuoso laberinto creciente que abarcara el pasado y el porvenir y que inplicara de algún modo los astros.


DdAB
twitter: na verdade, aquele troço de Floripa era sobre "A Biblioteca de Babel", do livro "Ficciones".
captura da imagem: bananeiros? macacos? apenas brasileiros. https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3USn8rYx7cjI392a9rw-xqtcl0f242Nu5qQpjsuuKwoprQnlUojwS3EIs_OGxo4RKTZwBzPUzimajZv2OVRuZPL6B5yoaqfduQ4DaucvsXZkUYqYKNo1MPFbo-d6Q4jvGVW-8kiZb72nj/s320/Bananas.bmp

Nenhum comentário: