querido blog:
como sabemos, a felicidade pode ser aproximada por um índice cardinal, ainda que originária de um fator comum entre várias variáveis (categóricas e ordinais e intervalares e racionais). o que é sutil e cria confusão associa-se a uma questão do tipo: se meu índice elevou-se em 1%, significa que minha felicidade também cresceu nesta magnitude? obviamente a resposta é: não, Pedro Bó, quem cresceu foi o índice e não a felicidade. o que desta sabemos são apenas as informações que geraram o índice. e o índice fará sentido (ou seja, terá algum isomorfismo com o fenômeno que estamos querendo quantificar) apenas se as associações que estamos fazendo, inclusive nossas escolhas sobre os critérios de agregação, fizerem sentido.
pois bem, levarei o cursor às "opções de postagem" e, ao lado da "Vida_Pessoal" que inicialmente marcara, acrescentarei "Escritos", pois o parágrafo acima é completamente impessoal. e até poderia colocar "Economia Política", pois não é que estas questões são fundamentais para a orientação da política pública?
dito isto, passemos a falar num dos elementos que acabam de elevar algumas das componentes importantes de meu índice de felicidade pessoal. tenho a intenção de expandir esta postagem e transformá-la em um pequeno ensaio (200 ou 300 páginas) sobre o hedonismo e os meninos de rua. por enquanto, desejo assinalar
primeiro: parece economia política, mas não é. há alguns anos, apresentei um paper num congresso da Sociedade de Economia Política, em Campinas. primeiro, toda a reserva de hospedagem deu-se pelo telefone, sem nenhuma interferência humana do lado de lá, pois -aparentemente- eu seria humano e falava do lado de cá. refestelando-me no restaurante do próprio hotel, constatei que o talher que portava era belíssimo, um desenho industrial finíssimo, algo absolutamente extraordinário, uma pérola do cérebro humano, sem exageros. como a refeição também merecia estes e outros adjetivos, dei-me por satisfeito apenas de viver num mundo de homens e máquinas, fora uns vegetais e outros animais que fagocitei. como tal, dei o assunto por acabado.
segundo: meses depois (ou um ano depois?), fui a Belo Horizonte visitar o Cedeplar e minha amada amiga Sueli Moro. fomos jantar num restaurante interessante, pessoas interessantes como ela e o casal que nos acompanhou. não é que, no restaurante, também servimo-nos de facas do mesmo design? jantar maravilhoso, faqueiro maravilhoso, foi o que pensei. ato contínuo, vi a marca do faqueiro, pois já entendera que acrescentar sua posse (variável binária) a meu índice de felicidade iria dar a ele um acentuado incremento). a efígie marcada nos talheres era de uma grande loja atacadista de São Paulo. com minha indefectível canetinha e meu indefectível papelzinho, fiz as anotações pertinentes.
terceiro: o périplo iniciou-se na Internet, achei a loja paulista, ou seja, vim a descobri-la, vim a encomendar o faqueiro e vim a saber que ela não mais o "revendia", pois o produtor era meu vizinho, a empresa Mundial, antiga Zivi, também Hércules, essas mudanças que a economia de empresas ajuda a explicar. em outras palavras, quem produziu os "Lunas" com que mostrei traços civilizatórios de não pegar os alimentos diretamente com as mãos (lógico que nada estou dizendo contra os traços civilizatórios que requerem que se pegue a comida com a mão) não mais vendia para Sampa, mas poderia vender-me, e isto é o que me interessava, dada minha filiação às escolas do individualismo metodológico.
quarto: a compra não ocorreu quando iniciei a busca. simplesmente a Mundial informou-me que tirou o Luna de linha e que só o reinseriria quando a Lua se transformasse em queijo, o que achei um prazo excessivamente dilatado para meus interesses imediatos e -pasmemos- desisti. em outras palavras, depois de intenso sofrimento em busca da felicidade, achei que seria melhor associá-la a coisas que dependem de mim, como recomendara Schopenhauer (Parerga e Paraliponema, etc.) há mais de 100 anos.
quinto: a compra ocorreu! fiquei feliz, juntara dinheiro contadinho durante um ano inteiro, paguei à vista, dividi a utilidade marginal pelo preço e deu igualzinho à utilidade marginal da moeda, essas coisas. voltei a casa, vim para o computador, na planilha Excel que uso para estes casos, calculei meu índice de felicidade e percebi que ele aumentou em 1.000%.
ou tu acha que eu inventei esta história toda? ou, pior, tu acha que se um ladrão entrar em minha casa, o que é razoável de imaginarmos dadas as coordenadas políticas do Brasil Contemporâneo, e afanar meu faqueiro, minha felicidade pode cair em 1.000% e a felicidade nacional bruta manter-se inalterada?
DdAB
p.s.: disse-me um anjo que este negócio de eliminação da Itália e da França da Copa do Mundo, acompanhadas, in due time, dos demais países colonialistas europeus é nada mais nada menos do que a "vingança da África", o título de um filme que será feito daqui a 10 anos por cineastas zambanonianos, algo assim.
captura da imagem: tão manjada que nem darei a fonte, mas personalizei-a aqui e ali, como os peritos das civilizações futuras poderão facilmente identificar, se assim os odds deixarem (p.s.: esta de falar em "odds" e não em "deuses" é uma prova de que, materialisticamente, saí do armário, não apenas por adorar um objeto material -ainda que fruto da geléia de incontáveis trabalhos humanos, ou apenas do trabalho humano abstrato-, mas, sobretudo, por não tomar o nome de Deus em vão... ok, ok, piadinhas nesta postagem pessoal...).
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