Querido Blog:
Um lindo site, nomeadamente, neuronioscorderosa, ofereceu-me esta linda imagem para ilustrar a postagem de hoje. Que ter-me-á "ferido como uma flecha" nesta figura cujo copyright pertence a Tenneson 2002? Mãe e filha, passado e futuro? Acabo de citar uma frase que tendo a fazer de meu motto para os próximos 100 ou 200 anos, se tanto ele -mote- aguentar:
.a. viver como se fosse morrer amanhã
.b. estudar como se não fosse morrer nunca.
O passado, o presente e o futuro são apenas três formas evanescentes, contingentes, de outras dimensões (também evanescentes) que temos designado por matéria, energia e espaço. A vida vem em ondas, como o mar, ninguém poderá banhar-se no mesmo rio mais de uma vez. Tudo passa na vida, tudo passa, inclusive a grafia das palavras. Aí começam os problemas, meu chapa.
Foram dois os rios que por mim passaram. Banhando-me neles mais de uma vez, foi-me possível desenvolver minha individuação, que me trouxe à condição que hoje porto. Em ambos os rios, por sinal, havia portos (diria Lourdette, sumida da p.3 de ZH, que hoje nem tem "responsável"; voltará ela com o horário de verão amanhã?).
Em ambos esses portos, o nome está mal ajambrado: um rio virou mar, ou baía. Podia ter sido golfo ou saco. Nada do fluir de um rio de água doce, nada parecido com a mansidão de um lagueto. Qualquer que tenha a percepção do acidente geográfico, a história reteve a percepção dos descobridores (invasores, como já foi assinalado em ambiente de reconstrução radical). Era o Rio de Janeiro. Ou era o São Sebastião do Rio de Janeiro? Ou a Avó do Badanha de São Sebastião do Rio de Janeiro? Meu interesse, carioca que nem sou nem deixo de ser, é apenas perfunctório no verdadeiro nome da cidade que consta de minha certidão de nascimento, ainda que eu me considere mais grosso do que muito gaúcho finório. O sucesso dos responsáveis pelo batismo foi inegável: mesmo sendo declarado portador de água salgada, de ser saco, baía, golfo, o que seja, ele não perdeu a condição de "Rio de Janeiro".
Não é difícil aceitarmos -por inócua e irrelevante para fins de comunicação humana- a proposição de que a Baía de Guanabara sempre foi baía, e que o Rio Guahyba -o segundo lindeiro a meus portos privados- sempre terá sigo lago, laguna, lagoa, sei lá [e o Aurelião diz que um guaíba é um pântano profundo]. O erro dos geógrafos e políticos (ergo, ladrões) da geração presente é mudar-lhe, no caso do Guaíba, o nome para lago. O pior é que eu mesmo -ao escrever 'guahyba'- preciso pensar bastante, pois fui treinado -cãozinho doméstico- a latir (diria Lourdette) 'guaíba'. O traço cultural que o identificou como rio é thrown to the dogs, se me não faço rude nem lourdettiano. Ora, o Lago Guaíba, a Baía de Janeiro e o Estuário do Paraná (sei lá, já postei algo antes), ou seja, o Rio Guaíba, o Rio de Janeiro e o Rio da Prata são o que são: uma rosa é uma rosa, não importa como queiram chamá-la. Há rosas brancas e vermelhas -ainda assim, sempre rosas-. Há rosas cor-de-rosa, da cor de neurônios, não importa o que se delas diga: são rosas. Eles -os meus dois portos- são o que deles quero e não o que os geógrafos (rios, lagos, montanhas) ou gramáticos (guaíbas e guahybas) requerem.
Nada do que eu disse até agora autoriza-me a denunciar nova e odiosa simetria entre hipócritas:
.a. o PSDB nacional (Mister Aníbal) achando que o Presidente Lula não pode comer caviar nas margens do Rio São Francisco, em sua visitinha incognito,
.b. o PT (Mrs. Stella) local achando que a Governadora Yeda não pode descansar os pés num pufe de R$ 105.
Mais refinada é a campanha de moralização que lancei, cujo início -diferentemente do horário de verão que deve iniciar amanhã- está previsto para daqui a 100 ou 200 anos: anistia a todos os ladrões de colarinho branco da atual geração e seriedade por meio do cumprimento da lei do orçamento para seus sucessores.
DdAB
3 comentários:
Uau, Duilio!
Adorei as divagações sobre a vida..., as ondas... e o mar...
O mote é ótimo: viver como se fosse morrer amanhã e estudar como se não fosse morrer nunca.
Eu trafego em estradas muito próximas desse mote.
MdPB
é, da Paz!
fiquei feliz com as duas visitas, aqui e lá adiante. por falar em estrada, tempos atrás, trafeguei sobre a de Caxangá, que algum dia voltarei a Recife para ver de perto. o motto tem fonte, acho que falei na postgem, ou em outra também recente: um velhinho campineiro numa "Ciência Hoje" (revista da SBPC) de 20-25 anos atrás. memória, memórias...
DdAB
Oi!
O Caxangá continua verde e lindo.
MdPB
Postar um comentário