31 janeiro, 2015

O Mundo é um Multimundo


Querido diário:

Aécio deixou crescer a barba. Um mundo. Achei-o mais parecido com Lula, o que há de credenciá-lo para suceder Dilma e conquistar os votos dos eleitores nordestinos. Outro mundo. Já são dois. No estilo proletário, na foto, Aécio aparece sem gravata. Terceiro.

Quarto mundo: um cidadão brasileiro possivelmente em dia com suas obrigações eleitorais e tributárias:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
   Parece que novamente, com a ajuda da mídia, o governo do Estado vai tentar extinguir órgãos públicos, sociedades de economia mista etc., para com o dinheiro das mesmas dar cobertura aos investimentos privados. Incentivos e anistias fiscais continuam. Nada muda. Extingue-se ou privatiza-se uma empresa pública em benefício de empresas privadas, através de empréstimos a fundo perdido, ou se terceirizam os serviços.
   Qual a diferença entre o público e o privado? No primeiro caso, desperdício e cabide de empregos; no segundo, serviços e produtos superfaturados e roubalheira desenfreada. Qual é melhor? Nenhum, porque no EStado e no Brasil a má administração e o mau gerenciamento são a tônica. O dinheiro público aqui é usado para cobertura e enriquecimento escusos.
JOSÉ MIGUEL BITTENCOURT
Técnico industrial - Viamão
(Carta do leitor de Zero Hora de 30/jan/2015, página 6)

Quinto: já faz agora parte do quinto mundo, ou até mais o artigo na seção de Artigos, da página 33:

O LUGAR DA EDUCAÇÃO
Rejane de Oliveira
Ex-presidente do CPERGS
O sistema capitalista, para sobreviver, precisa subordinar a educação aos seus interesses. Sua pretensão é garantir a aceitação passiva do sistema que explora o trabalho. O papel da educação é libertar o ser humano do determinismo neoliberal, desenvolver uma alternativa de sociedade igualitária e emancipadora.

E por aí vai. Não consegui ler o resto, pois achei que tinha bebido já na primeira frase. E suei frio ao achar que alguma coisa da terceira era de minha própria autoria. Explico: pouca gente se dá conta de que considerar que o capitalismo precisa de algo (ar, água???) para sobreviver é uma imagem, uma figura de retórica, pois sistemas não precisam sobreviver, menos ainda de algo que os faça sobreviver, além daquelas coisas de "reprodução ampliada". No caso, a educação. Antropocentrismo que suscita a questão: e qual sistema moderno não precisaria? O socialismo realizado precisou e até mesmo, penso, os gregos e egípcios também sobreviveram graças à educação. Ou, pelo menos, a ela deveram melhorias em seu padrão de vida. É fumeta.

Na sentença final fiquei ainda mais contrafeito, nesta linha de esculturas e pirâmides. Então aqueles gregos que viam na educação um compromisso da cidadania que estava nascendo lá com eles não viam que o papel da educação é libertar o ser humano do determinismo neoliberal?

O pior é que o restante da frase poderia ser minha: precisamos desenvolver uma alternativa às sociedades contemporâneas baseados em princípios de igualitarismo e emancipacionismo. Só bebendo. Quero dizer, só jejuando, que não há mais água à vontade...  Bem entendo que uma sociedade igualitária tem contornos muito mais social-democratas que neo-liberais. Agora, cá entre nós, esta mistureba de conceitos e concepções, ideologia e preconceito da ex-presidenta do CPERGS é fumeta. Ela ainda não se deu conta de que ajudou a destruir ou manter no nadir o sistema educacional estadual. Só com um parágrafo a profa. Rejane de Oliveira deixou à mostra mais uns 30 mundos, pelo menos.

Ela conclui o artigo: "Caberá a nós, educadores, colocar a educação em primeiro lugar... lutando." E pensei: uma greve, que tal uma greve? Não foram as greves que fizeram com que a matação de aula fosse institucionalizada abaixo do Rio Pelotas?

DdAB
Tirei a imagem daqui.
P.S. de 1/fev/2015 às 10h30min: esqueci de fazer uma citação não sei de quem, da mesma página do carimbadíssimo jornal, na coluna Política +, assinada por Rosane de Oliveira. Pois então. Desde que comecei a ouvir falar de Aécio Neves e suas funções juntamente a seu tio Tancredo -que não chegou a ser presidente do Brasil- considerei-o um play-boy. Nem sabia que naquele tempo ele já era um executivo de porte, exercendo funções na Caixa Econômica Federal, segundo o difamaram durante a campanha eleitoral do ano passado. E daí? Pois daí saem cobras e lagartos, não é mesmo? Mas tem pior. Ou ele ("o tucano") ou a jornalista disseram o seguinte, como legenda para a foto com barba: "[...] o tucano deixou claro que o PSDB mira a criação de quatro CPIs para desgastar a presidente Dilma Rousseff." Pois então, pois entões: que beleza, hein? Desgastar o piloto da nave? Isto não seria sabotagem?

Nenhum comentário: