31 agosto, 2010
Como Construir o Futuro:
ordem dos fatos:
.a. inseri em meus Links Amados (o que escrevo no momento é lido à esquerda deles...) o vizinho "Vento Sueste"
.b. fiquei ouvindo o youtube's concerto para violino n.4, de Mozart.
.c. fui ler Zero Hora. antes mesmo de ler o nome de meu familiar (e nem sempre a beijos) jornal matinal, vi a manchete "Bolsa-infrator reduz a volta de jovens ao crime no Estado", que eles escrevem "estado" com maiúscula, o que me levaria a querer que também escrevessem "rua" e "beco" da mesma forma, amaiusculado: "biribas do Beco não se becam nem se bicam"...
.d. voltei e escrevi o que segue.
na postagem de 29 de agosto (clique aqui), Miguel Madeira, o signatário do dia no "Vento Sueste, tem a chamada "Os benefícios sociais estimulam o desemprego?". a resposta é um razoável "não". da mesma forma que se pensou que a abolição da escravatura iria destruir o Brasil, que o voto feminino impediria o surgimento da democracia e que o salário mínimo iria reduzir os capitalistas à miséria, busca-se desqualificar a renda básica universal. argumenta-se que ela e seu substituto imperfeito, a bolsa família, iria lançar milhões de brasileiros à vagabundagem.
(o Brasil não foi destruído por isto, mas pelo mercado de drogas ilegais, a democracia não surgiu por falta de homem, e o salário mínimo não impediu que a renda ficasse ainda mais concentrada depois de 50 anos de sua vigência.)
os meninos de rua vivem na rua por não terem casa, parece óbvio. os meninos de rua respondem a um sistema de incentivos que não lhes favorece a escolha mais interessante para o futuro do Brasil que é irem à escola, escovarem os dentes e os cabelos, estudarem a tabuada, aprenderem a tocar violino, essas coisas que hoje são apanágio dos meninos de casas abastadas. os meninos infratores deixam de ser infratores se o incentivo para praticarem infrações é reduzido, até negativo, como decorar tábuas de logaritmos (e a libertação seria, naturalmente, o ensino do conceito e do uso de calculadoras...). os beneficiários nordestinos do Programa Bolsa-Família que se recusam a cortar cana por salários, digamos, mínimos são adeptos da teoria da escolha racional, que lhes garante o direito de aceitarem incentivos materiais mais adequados a sua estrutura de preferências, não era isto? e se eles preferem lazer, cabe aos interessados na colheita da cana "subornarem-nos" para que eles deixem suas redes e frequentem os brejos.
nunca devemos esquecer que o inventor da renda básica (na forma de imposto de renda negativo) foi o liberal Milton Friedman. e que dele é a máxima sobre desemprego: há desemprego a que taxa de salário? claro que se o salário fosse de D$ 1 por milênio, até eu iria tentar contratar 1.000 trabalhadores por década e tentar levá-los a vender meus livros, um troço assim.
moraleja: querer dizer que meninos infratores não podem ser subornados a aprenderem violino é aceitar um tipo de teoria da ação humana que não leva a nenhum lugar decente, como o prova o próprio fato de que eles, em tenra infância, por não terem escola, por não terem violinos, por não terem cama e pão-com-manteiga, decidiram -racionalmente- escolher o caminho do crime. sem excessivas ironias de parte a parte...
DdAB
p.s.: será casual que caí no "Mercado Livre" para trazer a ilustração acima? não dá de pegar aqueles guris agora e jogá-los a estudar violino?
29 agosto, 2010
A BAM, o empreededorismo e as eleições
teremos eleições dentro de um mês, não é mesmo? os preparativos, a formação de programas partidários, a busca de alianças que refletissem afinidades ideológicas, aquela conversa toda, foi superada. pelo que entendi, a essência da busca das alianças foi a posse de "minutos de mídia" por parte dos diferentes partidos.
nanico que se preze nem chegou a ser convidado pelos grandes. os grandes, que já eram sacos de gatos, como é o caso do PMDB, tornaram-se verdadeiros circos de horrores (no sentido da esclamação francesa "une vraie horreur"...). mas cabe o registro de um nanico que arregimentou a candidatura de Marina da Silva, que -por seu turno- capturou os menos de 10% dos votos do eleitorado postado mais à esquerda do espectro político. e assim condenou-a a história.
programa dos candidatos? em breve começarei a escarafunchar na Internet, para ver se localizo algo da dupla polarizada Serra-Dilma. do primeiro, já ouvi cada promessa de corar o chefe do Tesouro. da mulher dele, ouvi uma diatribe contra a renda básica universal. por estas e por outras, já ouso prever que Serra fará menos de 10% dos votos, lançando a chapa Má/rina/Serra. dizque Serra andou esbravejando contra o sindicalismo de Lula e considerando-o ainda mais perigoso (?) do que o sindicalismo de João Goulart, um dos pródromos alegados para o golpe militar de 1964, que consagrou a primeira ditadura verdadeiramente eletiva da história do Brasil.
programa da companheira Dilma? tem muita coisa, que não acompanho. terá coisa no site que irei escarafunchar. mas tem algo que quero referir hoje. inspirando-me no que desejo falar, localizei uma turminha do barulho aqui. o sem-copo do "hang loose" é consagrado autor alemão, que passou os muitos últimos anos de vida em Londres, tendo lá desencarnado e sido sepultado no Cemitério de Highgate (mas, para visitar, desça na parada de Archway).
que teria dito ele sobre a candidatura de Dilma? se bem entendi na leitura que fiz de uns bouquês de flores que vi ao lado de sua tumba, ele diria: vamos substituir o governo dos homens pela administração das coisas. e que responderia lá ela? claro, Marx, e vamos -no processo- criar o Banco Nacional do Empreendedorismo.
eu nunca entendera direitinho o que é dialética, nem -sob este ponto de vista- ao ler o maravilhoso livro de Carlos Roberto Cirne-Lima. mas achei que a melhor maneira que a candidata vencedora das próximas eleições teve de aplicar seus conhecimentos sobra a obra de Karl Marx e associados (talvez nenhum de respeito posando para a foto carnavalesca acima) foi mesmo destruir o aparato estatal criando novo organismo estatal.
mas também pensei, usando drágeas do pensamento funcionalista e da teoria da grande conspiração, que a intenção da criação voltada à destruição poderia estar encaminhada a substituir o programa bolsa-família (de dar dinheiro a pai de criança em idade escolar) pelo programa renda básica. e seu dourado derivativo, a brigada ambiental mundial. nesta, como sabemos, neguinho (diria nossa companheira Dilma) devotará:
.a. três horas de ginástica por dia para manter sua coluna ereta
.b. três horas de aula por dia para manter sua mente quieta
.c. três horas de trabalho comunitário por dia para manter seu coração tranquilo.
neste período de nove horas, ele/ela/indivíduo-humano poderá pensar em suas habilidades empreendedoras e desenvolvê-las ainda mais agudamente. que ganha a sociedade financiando a brigada ambiental mundial? ganha a perda dos moradores de rua, pois eles serão declarados empreendedores e serão despidos de seu caráter de caroneiros das benesses urbanas, passando a contribuir para sua conservação e manutenção. nunca mais papeleiros, nunca mais marginais, nunca mais crimes movidos pela fome ou pelo vício. o controle social sobre a população jogou essa turminha no oprópio, no vício e nas condições de vida compatíveis com o oprópio e o vício. quem deve mudar é o controle social, para fazer a população mudar!
se você puder, vote diretamente em Marx ou Engels (nunca em Lênin, Stálin, Mao-tse-tunz ou Fidel Castro). se não for possível, não vote em ninguém, anule o voto ou nem vá votar!
DdAB
28 agosto, 2010
Mentiras Sinceras
pois no v.2 de sua biografia (das Letras, 2007:305), Doris Lessing disse:
[...]. Ralph sabia que eu devia saber que as coisas que estava dizendo não eram verdade, entretanto irradiava sinceridade.
O que me traz -e me levou na época- à pergunta: Conta como sendo mentira quando o mentiroso sabe perfeitamente bem que seu ouvinte sabe que está mentindo? Quando tanto quem fala quanto quem ouve estão por dentro do 'estilo de trabalho' leninista, que aprecia a mentira e todo tipo de golpe sujo?
Fiquei ali escutando, sorrindo, pensando comigo mesma a respeito dessa e de outras questões associadas, enquanto Ralph fazia sua arenga.
A verdadeira mentira, a mentira pura e perfeita, parece corporificada na seguinte história [...].
chega. ela discutia seus tempos de militante comunista. naqueles tempos, o início dos anos 1950s, o stalinismo começava a dar sinal de estiramento. durou ainda uns 35 anos. uma tragédia, um pega-ratão que me pegou... mas de que me livrei há 20 anos.
aqui
DdAB
27 agosto, 2010
Eleições etc.: deu no Faoro
teria dito Machado de Assis: se tu pesca muito, então tu lê pouco. ou melhor, quem teria dito esta sentença pouco aquerenciada ao português machadiano poderia ser o Gaúcho da Fronteira, cantor escorreito e candidato a deputado que, se bem entendo, tentará contratar-me ou a algum outro economista de aguda visão para ministrar-lhe um curso de teoria da escolha pública. ah, essa política brasileira contemporânea.
e teria dito Machado de Assis: "ah, essa política brasileira contemporânea", não é mesmo? e que teria dito Raymundo Faoro do que teria dito Machado de Assis? agora sim: "A nação não sabe ler." quem não lê mal ouve, mal fala, mal vê. quem mal ouve, mal fala, mal vê não pode votar decentemente. quem não se interessa por política devia ser proibido de votar. quem não tirar pelo menos nota cinco num exame de nível intermediário de teoria da escolha pública devia ser proibido de votar. votar, claro, é uma forma de fazer política. outra, como é meu caso, é dizer:
a chapa Serra-Dilma deixou-me louco, o que foi agravado pelo fato de que não me foi dado lançar tarrafas sobre eles, como observamos um colega na maravilhosa foto acima, cuja fonte está aqui.
no maravilhoso livro
FAORO, Raymundo (1976) Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. 2ed. São Paulo: Nacional.
Raymundo Faoro (lá na ficha catalográfica, ao contrário da capa etc., fala em 'raimundo'. se eu me chamasse Raimundo, então não me assinaria Raymundo) fala o seguinte, dos tempos machadianos, na p.127:
Quem fazia política no Segundo Reinado? Havia os eleitores e os eleitos, e, à margem dos primeiros, tênue orla de pessoas que vagamente participavam dos pleitos e da luta eleitoral. Além deles está o vácuo inquietante no seu silêncio. Numa crônica de 1876, comentou Machado de Assis o recenseamento do Império, que revelava o índice de 70% de analfabetos. 'A nação não sabe ler". As consequências políticas do fato estão à vista, nunca desdenhadas pelo escritor, atento ao funcionalmetn do mecanismo institucional. 'As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos' [...]". Embora sombrio o retrato que ele apresenta da nação, está muito aquém da verdade. Nas eleições de 1881, compareceram 96.411 eleitores, pela primeira vez diretamente confrontados com os candidatos, para uma população de provavelmente 12 milhões de habitantes. Menos de 1% da população votava, o que é escandalosamente pouco, mesmo se comparado com época diferente do país. Em 1945, para uma população de 45 milhões de pessoas, o eleitorado alvançou 7.350 mil, cerca de 16,3%. Na década de 20, para uma população de 30 milhões de habitantes, o eleitorado subia apenas a cerca de 4%. Um aspirante à Câmara dos Deputados disputava a eleição, considrados os círculos em que se dividiam as províncias, num grupo, em média, composto de 800 pessoas.
Machado estaria mais correto do que Faoro, não fossem requererimentos auxiliares (mulher não vota, pobre não vota etc.): dos 30% que podem votar, desejaram fazê-lo apenas 100 mil. e daí? por isto defendo o voto voluntário. o próprio coeficiente de abstenção já é um indicador não digo da adesão à política, mas ao sistema eleitoral. agora, torna-se claro que Faoro está falando em "agentes da política", conceito que aprendi com Jorge Vianna Monteiro, em seus livros de 1982 ( cap.6) e 2004 (cap.1): contamos seis agentes ou grupos de agentes atuando no mercado de arranjos institucionais (inclusive monetários). trata-se do cidadão, os legisladores, o chefe do poder executivo, os burocratas, os grupos de interesse socialmente organizados e os juízes.
penso que esta massa disforme pode -mesmo que, provavelmente sim, com a ajuda externa de seus "intelectuais orgânicos"alcançar a famosa consciência de si de que falou Marx. e penso que isto se dará contra os atuais políticos brasileiros, e não com seu auxília. fora da chama Serra-Dilma, temos a utopia conservadora de Plínio de Almeida Sampaio e o destrambelhamento descontente de Marina da Silva. se Plínio tem candidatura juvenil, que dizer de outros?
DdAB
26 agosto, 2010
Excesso de Informação etc.
e que têm os olhos de Geraldine a ver com o infinito, o excesso de informação, e por aí vai? tem que uma vez li que ela declarou que lia dois livros por semana. se eu viver 107 anos (pois comecei a ler apenas aos sete), seriam 2 x 365 x 100 = 73.000, isto se eu lesse dois livros por dia, menos do que dois anos dos novos lançamentos em alemão. fica um universo absolutamente inconcebível de conteúdos que jamais compulsarei...
e isto ainda implica que eu nunca mais poderia reler "Insônia", "Memórias do Cárcere", "O Tempo e o Vento", "O Senhor Embaixador", Machado de Assis, X de Y (escritor que vai nascer apenas daqui a dois anos e estreará na literatura precisamente no dia em que, se tudo correr bem, eu completarei 93 anos de idade? é pau!
o excesso de informação na vida moderna é uma realidade inarredável da vida moderna, ou seja, de nossas vidinhas. também terei lido em Chico de Oliveira que quem não consegue descartar-se do excesso de informação, fica louco. e também li nos tempos do "Julinho" que "não nos devemos empanturrar de livros". e Fábio Erber, que disse há 30 anos, numa resenha bibliográfica sobre o progresso tecnológico, que não mais poderíamos ler tudo o que já fora publicado sobre o tema?
e eu já falei tudo isto em outras postagens? qual a redundância, a entropia? e quais serão os mecanismos que criaremos para lidar com isto?
DdAB
25 agosto, 2010
Tarso Genro, o governo sul-riograndense e a tributação
segue-se logicamente (à página 9) a página 10, com um quadrinho "Recorte e Guarde", onde se lê: "Eu [nomeadamente, Tarso Genro] prometo" e ainda:
"Vamos reduzir impostos para aumentar a arrecadação."
eu achei que entendera mal, pensei no Efeito Tanzi (aquele troço sobre a sonegação ser razão direta da alíquota do imposto, uma besteira de difícil averiguação empírica), pensei na seguinte equação:
A = I + O,
onde "A" é a arrecadação, "I" são os impostos e "O" são os outros fatores que influem sobre a arrecadação. então cheguei à apressada conclusão de que a única forma de obtermos autorização aritmética de induzirmos Tarso Genro a cumprir sua importante promessa eleitoral é levá-la, ou seja, a aritmética, a elevar "O". por exemplo, se
100 = 99 + 1,
podemos chegar a
101 = 1 + 100,
ou seja, reduzimos os impostos em 98 e elevamos as outras fontes de arrecadação em 99. simples, né? obrigar todos os candidatos e suas assessorias econômicas a realizarem cursos de teoria da escolha pública (ou fechar a boca) parece da maior necessidade, né?
DdAB
24 agosto, 2010
A Tragédia do PMDB do Rio Grande do Sul
obviamente olhar para trás tem seus méritos, pois o passado detém a chave do futuro, ainda que não saibamos qual foi a fração do passado que determinou inequivocamente a presença de qual futuro. na verdade, como não existe verdade factual completamente verdadeira (sempre temos aproximações, como aprendi com todo o mundo, destacando Milton Friedman e o artigo sobre a metodologia positiva), nem sabemos bem o que é passado nem presente, mas podemos usar uma varinha de condão para levar-nos ao futuro que desejamos. wishful thinking.
mas o PMDB olha para trás de maneira equivocada, por exemplo, com sua liderança nas mãos de gente do porte de Eliseu Padilha e Pedro Simon. agora temos o filho do jornalista Mendes Ribeiro dirigindo a campanha de José Fogaça para governador. eu achava que o Rio Grande do Sul estava farto do PT, mas aparentemente há tantos equívocos neste negócio do PMDB enfurnar-se na buraqueira que a vitória eleitoral pode caber mesmo a Tarso Genro, o personalíssimo advogado que condenou a UFRGS milhares de vezes.
não gosto deles, claro, já gostei, claro. Simon, ouviram-me dizer, emocionar-me com qualquer discursinho. mas depois comecei a pensar: e daí? e a resposta veio célere: e daí, nada. outros também chegaram a emocionar-me. claro que não falo de Collor, essas "porqueiras" (como diria Gaúcho da Fronteira, se é que ele não é candidato pelo partido "errado", pelo que entendi está no PTB, o novo PTB que pouco ou nada tem a ver com o PTB que pareei com o PSB acima).
sobre Fogaça falei no outro dia: um vacilão. mas ele sabe o que lhe convém, embora talvez o que lhe convém e seus requebros para alcançá-lo possam derrreá-lo no segundo turno das eleições. felizmente temos eleições em dois turnos, coisa que volta-e-meia esqueço de arrolar em meu ideário. pois agora as coisas tornaram-se ainda mais ridículas. como sabemos, a chapa Serra-Dilma tem, no PT, a representação amostral dada por Dilma-Temer (Michel, do PMDB de Sampa). pois Temer foi convidado a visitar o Rio Grande do Sul, pois -afinal- é candidato, não é? e já prometeu quintuplicar a bolsa família e dar dinheiro para famílias que têm mais de 25 filhos.
seja como for, os prefeitos do PMDB do Rio Grande do Sul apoiam Dilma, os deputados apoiam Serra, Fogaça não apoia ninguém, pois alega que todos são bons, honestos, competentes e que não será ele que irá ensinar padres a rezarem missa, ou faqueiros a apunhalarem ou ainda ajoelhados a rezarem. inclusive ele próprio já andou trocando de partido aqui e ali. resumo: a contradição entre os restos combativos do PMDB gaúcho e seu arrivismo, de um lado, e, de outro lado, os frangalhos arrivistas do PMDB nacional e sua combatividade por cargos deve ser resolvida com a evasão em massa daquele ninho de oportunismo.
política no Brasil? etc., mas acrescento: quem foi que mandou mesmo que para representar o povo em qualquer lugar deve estar inscrito em partido? vamos mudar este troço?
DdAB
23 agosto, 2010
O Infinito Não É Acessível
meu relógio despertador permite que eu escolha entre dois tipos de "bips" ou uma rádio pré-sintonizada ou um dos concertos de Brandemburgo. supondo que eu goste mais de Bach e outros clássicos e mesmo música barroca feita pela bot acima, especialmente desenhada -a música- para dar-me alegria e contentamento, poderíamos pensar que o iPod de que venho falando volta e meia porte mesmo, entre criações originais e cópias virtualizáveis, um milhão de concertos. então, se eu viver 1.000 anos, terei 365.250 (é isto mesmo?) despertares. ou seja, um terço da capacidade do iPod. se eu fosse um clube de quatro ou cinco, teria mais chances...
e se eu já me confundo com a bagatela de um milhão de canções, podes imaginar o que eu faria com 100 bilhões delas...
DdAB
22 agosto, 2010
Desemprego + Depressão = Drogas
ando envolvido na revisão da revisão etc. do livro de contabilidade social. um dia termina, disseram-me, para que eu não fique excessivamente deprimido com a tarefa que já ingressa no quinto ano. por isto, as postagens, que se encaminham ao meio milheiro, escassearam, ou seja, nem tanto, mas talvez eu nem consiga alcançá-la -a 500a.- em agosto. e daí?, indagaram-me.
isto implica logicamente que ontem vi um artigo interessantíssimo no caderno Cultura de Zero Hora (p.6): Homens ainda choram? (depressão masculina), de Luis Hornstein. achei tudo muito interessante e destaco algumas coisas. ficará evidente a razão que me leva a postar como "Economia Política"? primeiro: enriqueci meu vocabulário:
.a. labilidade: "instabilidade emocional: tendência a demonstrar, alternadamente, estados de alegria e tristeza"
.b. astenia: fraqueza orgânica; debilidade, fraqueza.
sobre astenia, lembrei de que conheci pelo menos um Sr. Astênio. se fosse para debilidade, deveria ser seu coração de manteira, um dos homens mais generosos que já vi, em Campo Grande, no Mato Grosso, há 50 anos. ou não?
s trechos:
sobre a doença, que encaminha ao desemprego, e vice-versa, seleciono alguns trechos:
Os deprimidos têm uma visão pessimista de si mesmos e do mundo, um sentimento de impotência e de fracasso. Seus dias são uma cansativa sucessão de rotinas e pesares, sem as pequenas “faíscas” de alegria da pessoa comum e quase sem motivos de deleite (intelectuais, estéticos, alimentares ou sexuais). Como se à vida faltasse cor, sabor e sentido. Nem todos os homens são silenciosos e vivem morrendo de abatimento. Alguns ocultam o vazio interior com o ruído da violência, o consumo de drogas ou a adição ao trabalho. [...]Há alterações nas funções cognitivas, na linguagem e nas funções vegetativas (como sono, apetite e atividade sexual) os quais costumam afetar o desempenho social, do trabalho e interpessoal. [...]A opressão se expressa na temporalidade (“não tenho futuro”), na motivação (“não tenho forças”) e na autoestima (“não valho nada”). Sentem-se esmagados por certa desesperança que os impede de contar com a energia necessária para formular novos projetos e deixar de remexer, nostalgicamente, as cinzas do passado. Porque o futuro, diferentemente do passado e do presente, tem que ser inventado. Porque inventar é uma brincadeira. E essas pessoas não sabem brincar ou sabem, mas esqueceram. [...] O alcoolismo e as adições, sem serem exclusivos da depressão masculina, às vezes se somam a ela como o outro lado do vazio depressivo. (E sabemos que o trabalho, os jogos de azar, etc. também podem ser adições). Depressão e adição formam um círculo vicioso. Busca-se a euforia artificial para escapar da apatia depressiva, mas o alívio é passageiro. O dano, ao contrário, é duradouro e acentua o sentimento de culpa.
daqui sai muita coisa, mas começo com dois dados trazidos mais para cima, lá no artigo. nos Estados Unidos, país sabidamente maníaco por estatísticas, se o termo não está inadequado e adequadamente definido... são seis milhões de indivíduos envolvidos anualmente, com um prejuízo social de US$ 48 bilhões. não preciso ser um excel para dizer que a sociedade gasta com cada deprimido a cifra de US$ 666 dólares mensais. mania de número? então que tal este 666?
em outras palavras, a sociedade sairia ganhando pelo menos US 1/deprimido/ano, se conseguisse subornar cada um deles com não mais de US$ 665 mensais. é uma coisa de louco. é a renda básica! é o efeito do desemprego sobre a moral e os bons costumes. por falar neles, é claro que um aliado potente da depressão é o consumo de drogas. por isto, selecionei no Google Images a imagem acima, retirada do site acessável com um (clique aqui, e que contém certo ar religioso).
a primeira reação a estes números só pode ser de incredulidade. deve estar errado. a renda básica não se justifica apenas por este tipo de situação, mas claramente haverá cifras menores que também favorecem a hipótese de modificações nos arranjos societários que conduzirão nossos netos às estrelas. os arranjos societários que começam hoje a ser costurados para o resto da transição do século XXI para frente. na primeira constituição da república do Brasil, revogada pelos militares, falava-se que "todos os brasileiros terão direito a emprego que lhe possibilite existência digna". foi cassado, nem todo brasileiro garrou este tipo de emprego e o que aconteceu foi que as drogas tomaram conta, destruíram o Brasil. precisamos, eu e as gerações futuras, pensar em como reconstruí-lo, o que ainda não dá sinais severos de iniciação.
o lado alegre de tudo isto é que a campanha eleitoral tem dois candidatos, a famosa chapa Serra-Dilma, que prometem renda básica universal, ou melhor, prometem ampliar a abrangência da bolsa-família. a renda básica universal tem tantas vantagens sobre a bolsa família que concluo que jamais será implantada. mas a bolsa família já é alguma coisa, tento -a meu ver- a desvantagem de incentivar a natalidade e exibir custos de transferência do dinheiro elevados.
o lado rebaixador de preços do sistema em que vigora a renda básica é que o salário de equilíbrio do mercado terá que subir, o que reduzirá o emprego e, como tal, também fará os preços caírem, permitindo até mesmo a elevação do valor da renda básica. deflação? talvez. certamente elevação do poder aquisitivo da moeda. o paraíso, a liberdade. cartão vermelho para as drogas.
DdAB
20 agosto, 2010
Sistema Judicário: também pudera...
este organograma (ver fonte) não contém o que, no outro dia, chamei de "sistema judiciário", mas bem dá uma ideia de que ele não pode funcionar mesmo! três instâncias, milhares de divisões e subdivisões. e o pior é que, por aqui, não vemos outro lado da questão judiciária, claramente de caráter multifacetado. por exemplo, a polícia deve ser considerada parte integrante do sistema judiciário, mas não apenas ela. outras instâncias do poder executivo, como a assistência social e a assistência médica também devem integrar esta totalidade.
noticiazinha de dias atrás (e repetidinha no outro dia) deixou-me saber que os juízes já pediram (e é claro que serão atendidos) novo aumento, de cerca de 10%, passando a cerca de R$ 30mil mensais. 60 salários mínimos, ou um pouquinho menos. uma corte de trabalhadores poderia substituir cada juiz de direito. ainda assim, nem tudo é clube da baixaria nesse corpo corporativo. na p.10 de ZH de hoje, Rosane de Oliveira informa que o supremo tribunal proibiu que funcionários do tribunal (outro, sei lá, que não consta do organograma acima) ganhem mais do que o teto remuneratório estabelecido em lei. o interessante é que anteriormete eles recebiam mais, a lei não era levada a sério pelos governantes. mas, se a lei autorizar ganharem R$ 30mil mensais, seguirei dizendo que a lei não é levada a sério pelos governantes e sigo na campanha do fechamento do poder judiciário e abertura de um sistema judiciário atrelado ao poder executivo. quem são esses cidadãos milionáros para julgar o povo? ilegítimos!
de outra parte, falta eficiência no sistema judiciário, que está preocupado em indexar seus rendimentos, conforme também noticia a p.10 do combativo (?) jornal. quer uma prova? o desmando é tanto, a impunidade tornou-se uma manifestação cultural importante que a polícia militar recebeu até o final do mês de julho 195mil trotes telefônicos, denunciando falsas situações e emergência. e gastou R$ 225mil neste processo, entre o funcionário que atendeu ao grãbel e o deslocamento da viatura ao local suspeito de bandidagem.
DdAB
19 agosto, 2010
O Criador dos Criadores
primeiro aspecto de interesse da natureza: a lei de Lavoisier diz que "nada se cria, tudo se transforma". então, quando faço uma escultura em bronze (eu e as do Museu Rodin, de Paris...), a verdade verídica não é que "fiz uma escultura", mas que "transformei frações do Universo, dando-lhes a forma de uma escultura em que figurará minha figura estilizada e umas escadas que fotografei no Museu Rodin". pode ser que não a faça, mas se o fizer, não estarei fazendo, do mesmo jeito, porque toda a energia envolvida no projeto apenas foi transformação de outras formas do tetraedro espaço-tempo-matéria-energia. não é isto?
primeiro aspecto de interesse: descontando a consciência de meus amigos humanos, animais e vegetais, ou seja, de meus colegas-seres-vivos, a grande questão é se existe outra consciência que abarque todas as demais consciências. conformado com a presença do "outro" no Planeta Terra (e, por suposto, no Planeta 23), indago-me se ainda haverá outra presença. não duvido da pluralidade dos mundos habitados", uma espécie de postulado da doutrina espírita. mas não falo disto, e sim da consciência que -se fosse este o caso- abarcaria também a essa macacada.
primeiro aspecto: a hipótese alternativa -de não ter sido criado, mas apenas transformado, por ser cidadão da natureza- retira da palavra "criação" qualquer significado empírico de interesse.
primeiro: neste caso, estarei cobrando um exagero não com a origem do Universo nem a natureza de Deus, mas -mais prosaicamente- com o vernáculo.
DdAB
18 agosto, 2010
Distribuição, decisão e jogos
procurei "Sérgio Monteiro", combativo professor de economia da UFRGS. apareceram pilhas de "Sérgio Malandro", o que nada tem a ver com meu aplicadíssimo ex-aluno! e, para minha alegria, surgiu o lado alegre dos Monteiros, com o pianista. piano: meu instrumento musical preferido, eu que apenas arranho violões...
é que Sérgio, há alguns semestres, levou-me a pensar sobre sua definição de "ciência econômica", como sendo o estudo de processos decisórios, todos. das galáxias e das amebas, das viúvas negras aos praticantes do ludopédio, inclusive o impetuoso ponteiro direito Garrincha.
eu e o David Ricardo sempre achamos que a economia política estuda as leis que regem a distribuição da renda. como ligar estas concepções? digamos que o problema distributivo seja um jogo de soma variável (positiva ou nula, e até negativa, como no caso de uma greve). e digamos que o jogo pode ser cooperativo o não cooperativo (e ambos podem ser de soma positiva ou negativa).
se o jogo é cooperativo, o interesse recai na distribuição para o encaminhamento da barganha. se é não-cooperativo, estas noções tornam-se ainda mais claras: preciso decidir qual a estratégia que me faz alcançar a maior fração do pay-off do jogo. Sérgio Monteiro, David Ricardo e myself estamos cobertos de razão.
DdAB
17 agosto, 2010
Madeira e Alzheimr: piadinhas
já falei que minha ideia fixa de ler Zero Hora todo o dia leva-me a ler também a página de variedades que sempre tem uma piadinha, e às vezes muito divertidas? por exemplo, em plena ação na campanha "Ateus, saiam do armário!", li que a professora indagou:
-Joãozinho, você reza antes das refeições?
e o garoto de ouro resondeu:
-não é necessário, professora, minha mãe é excelente cozinheira.
então procurei o título desta postagem e achei a imagem acima em ... clique aqui. e rima com a piadinha que é como segue.
uma irmã, de 93 anos, a mais jovem da família, chama a segunda e diz coisas que a segunda suspeita estar frente a um caso puro de Alzheimer, dirigindo-se à mais velha:
-tu não acredita que a [mais jovem, nome mantido em sigilo...] não se lembra que hoje é o aniversário dela. acho que é Alzheimer.
a mais velha bate na madeira e diz:
-Alzheimer, nem me fala nesta baixaria.
a irmã do meio, ao ouvir a batidinha, diz: "ouvi uma batidinha na madeira. quem será?", e dirige-se à porta. a irmã mais velha fica com esses sons na cabeça, a batidinha na madeira, o som "madeira", a preocupação da irmã em atender a porta e diz:
-deve ser a entrega da madeira que parece que foi ontem que ouvi vovó pedindo ao telefone.
DdAB
p.s. caso esta postagem também tivesse o marcador de "Economia Política", eu seguiria falando na formação do PIB da sociedade do futuro e a importância do setor saúde nele.
16 agosto, 2010
A Neutralidade de Fogaça
impossível falar em Fogaça, José, sem lembrar o "Vento Negro", o que me inspirou a buscar esta foto que, por problemas de nuvens escuras tangidas pelo vento, não sei o que são, mas estão aqui. ainda ontem li a frase de Chomski que falava em algo do tipo da "verde maçã sem cor", mas a sinestesia é mais visível na cor do vento...
só que Fogaça sabia do que estava falando, pois era -bem lembro- professor de português. além de professor de cursinho, foi compositor e jornalista na TV, do grupo de Zero Hora, ela, a Herra. não foram poucos os políticos lançados pelo combativo grupo jornalístico, destacando-se a Doutora Yeda, além de milhares de outros, já apitando na curva a Sra. Ana Amélia Lemos, que aparentemente será eleita senadora, voltando a morar em Brasília, onde fez a parte mais substantiva e longa da carreira. tá eleita ou não? claro que tá. e o Fogaça? acho que, no segundo turno, ganha a eleição.
penso que o gaúcho médio agirá como um bom número de prefeitos do PMDB: Dilma lá e Fogaça aqui. principalmente se não houver segundo turno presidencial. a Dilma virá para fazer campanha para o Tarso, claro, o Lula também, e tutti quanti, mas vejo a recusa ao projeto local do PT induzindo o voto no segundão, Fogaça himself.
pois bem, professor e jornalista? sim, não lembro como os programas na TV iniciavam, mas é certo que terminavam com "A gente se pecha", ele tinha peito, pois vivíamos tempos da ditadura e ele conseguiu dizer coisas interessantes, críticas, não-conformistas. mas há romantismo acompanhando a figura fogaciana, como testemunhei há milhares de anos. numa de suas candidaturas, creio que a primeira -se é que foram milhares- para o senado da república. li no Viaduto Duque-João Pessoa, centro, uma pixação: "Beto, vota no Fogaça. por mim." claro que não nasci em Niterói, não sou Beto e não lembro se votava no PT ou fazia "voto útil" no PMDB (ou ainda era MDB?). mas comovi-me. legal esta da guria (cujo nome foge-me, se é que o soube um dia, se é que a mensagem estava assinada) dizer para o cara fazer algo político em homenagem a ela.
pois melhor, professor, jornalista, político. se a marca registrada do PSDB era viver em cima do muro, indefinições de inúmeras naturezas, parece que o titular é Fogaça, tendo deslocado da posição o "Doutor Simon", campeão da categoria e até hoje muito influente no sentido de campear uma posição interessante: o cargo de presidente da república não é suficientemente importante para requerer uma posição. a neutralidade é uma postura inconcebível para um político. o partido deles, assim como todos os demais partidos cheiram (epa, as sinestesias), cheiram a sacos de gatos, ou seja, emitem sons harmônicos, no mau sentido: muitas vozes e timbres, mas sem harmonia polifônica...
Simon convenceu Fogaça, pelo que intuo de minha leiturinha diária de Zero Hora, a salvar o Rio Grande do Sul. Fogaça transitara do PMDB ao partido de Roberto Freire (esqueci o nome agora...) e, deste, de volta ao PMDB. no PMDB, Fogaça vacilou montes para aceitar concorrer ao cargo de prefeito e fez o mesmo para o de governador. agora, na campanha, vem-me com esta: acha que cada um deve votar em quem tá afim, algo assim. e que será que ele acha do consumo de drogas, do aborto, da Voz do Brasil, da miséria na África? do protecionismo chinês (câmbio maluco), dos paradoxos de escolha, da avó do badanha?
que posso dizer? perca uma hora inteirinha por dia fazendo ginástica. que mais? não vote mas, se tiver que votar, anule o voto! exija respeito, exija eleições decentes, já que não há país decente, nem trabalho decente, nem menino de rua decente...
DdAB
15 agosto, 2010
30 Milhões de Desempregados
depois de ver esta imagem, não sobra mais dúvida de onde vieram as preferências brasileiras pelo automóvel, pelo transporte individual... jovens gorilas sempre gostaram de ser carregados e jovens humanos sempre gostaram de levar existência digna, mesmo que a cabresto. mas hoje o mundo inteiro exibe um exército de 30 milhões de jovens desempregados. eles, infelizmente, ainda não são os últimos de uma geração que foi incapaz de:
.a. controlar decentemente a natalidade
.b. racionar os empregos existentes.
o mundo de hoje fez com que muita gente, ao invés de ter sua jornada de trabalho reduzida, tenha-a elevado. há macacos que trabalham 14 e mais horas por dia. e outros 30 milhões que não trabalham. o trabalho é a mais interessante forma de conseguir auto-respeito e auto-motivação. é impossível pensarmos numa sociedade em que enormes contingentes de desempregados sejam reprimidos por quem quer que seja.
é impossível pensarmos numa sociedade com enormes diferenciais de consumo per capita. é impossível pensarmos no futuro sem nos inquietarmos um pouco mais. em 2050, o Brasil terá 240 milhões de habitantes, depois de ter alcançado seu récord, de 250 milhões, em 2040. sem renda básica, sem um arranjo comunitário que reduza os diferenciais de consumo, sem trabalho voluntário para elevação do respeito e motivação pela vida não há solução.
13 agosto, 2010
Ricardianas, mas não apenas...
nem tudo burro é cordato, mas o que agora vemos é-lo (diria Jânio Quadros, típico político mato-grossense). e tem burros ultra-arrogantes, como David Ricardo, myself e milhares de outros. ou melhor, não era isto o que eu queria dizer. David Ricardo foi um dos maiores gênios do pensamento humano. ou seja, não o destaco apenas entre os economistas. ele, como poucos, tinha em mente a diferença clara entre o que hoje Cirne-Lima ensinou-me a chamar de realidade realmente real e mundo da realidade imaginada.
dentro deste último, meu R^i -por contraste ao R^3, encontra-se a percepção da realidade induzida pelos métodos científicos. Ricardo inventou estas coisas. claro que, pelo que sabemos, apenas para a ciência ecômica, configurando-se como um de seus founding fathers e figurando no panteão do pensamento econômico eternamente (ver Maurício Coutinho no livro "Técnicas de Pesquisa em Economia; transformando curiosidade em conhecimento").
pois bem, para Ricardo, o capitalismo do século XIX deixava ver que a melhor forma de modelar o dinamismo do sistema era pensar na distribuição funcional da renda, ou melhor do produto (e lá isto ele não sabia), ou seja, a distribuição que cabe a trabalhadores e os residual claimants, os capitalistas. claro que Marx e milhares de outros o seguiram, eu mesmo tendo repetido até aqui neste blog. no outro dia (há muitas e muitas luas atrás), Sérgio Monteiro me disse entender que o objeto da economia política é o estudo do processo decisório. "decisório ponto", pelo que bem entendi. então até podemos explicar o processo decisório de uma pedra ao tomar a liberdade de ser atraída por todos os demais corpos do Universo e, em particular, digamos, a cabeça de um político brasileiro (para não falar nas baixarias do Irã...; lá é linha dura e aqui falo apenas metaforicamente sobre punições físicas à ladroagem nacional). desta parte, vim a entender que podemos pensar que o processo decisório mais desafiante é mesmo, por antropocentrismo e outras razões relevantes, o humano.
e como ligar "estudo da distribuição do excedente entre capitalistas e trabalhadores" e "estudo do processo decisório das sociedades animais superiores"? não sei bem, mas acho que poderíamos argumentar na linha de que os meninos de rua (filhos bastardos da classe trabalhadora, ou melhor, do proletariado, ou melhor, dos rapazes sem bens, sem patrimônio) encontram-se onde estão em resposta a um processo de escolha coletiva (decisão coletiva, pois não?).
e aí começo a concluir. isto significa, para Ricardo, Marx e os atuais burros endeusadores da soberania absoluta do mercado para tomar todas as decisões relevantes para a vida social, e milhares de outros etc., o menino de rua merece manter esta condição, pois não tem nenhum recurso relevante de sua propriedade. ou seja, nada tem a vender que o mercado valorize de forma mais consentânea com nossos valores de três refeições diárias, escovação de dentes após elas, um banhozinho, cadernos, castigos, recompensas, esse troço todo que faz a alegria do pedagogo. mas não é apenas ele: o desempregado (seu pai?, avô?) também mostra-se incapaz de ver seus talentos reconhecidos pelo mercado e merece o oprópio econômico, isto é, um emprego precário ou simplesmente o nada. good for nothing, dizem lá nossos patrões.
e qual é a moral da história?
.a. que não devemos aceitar uma distribuição da renda baseada exclusivamente nos direitos de propriedade das instituições (famílias, governo, empresas nacionais/investmentos e empresas estrangeiras/exportações) sobre os fatores (ou seja, devemos pensar em donativos)
.b. que devemos pensar em nos organizarmos em torno do orçamento público para, por meio dele, exercermos com exação o processo de escolha pública!
DdAB
p.s.: tudo o que eu disse sobre falar mal antes de falar bem é anulado agora. nunca vi ninguém falar tão bem quanto David Coimbra na p.2 de Zero Hora de hoje! você não pode perder. tem que ler. abaixo o relativismo cultural, abaixo a burrice, por mais cordata que seja! Disse ele, entre milhares de pérolas: "A intocabilidade do corpo é o mais sagrado [de todos os direitos universais]."
12 agosto, 2010
Tempo Breve
11 agosto, 2010
Contradições: discordo diplomaticamente
um tanto esgarçado este velhinho que aparenta uma contradição. diz o código de trânsito que vemos "homens trabalhando", quando vejo apenas um, se é que não é um boneco munido de uma pá. mas não era uma contradições? pode ser um homem trabalhando, mas também pode ser um higienizador removendo as contradições do espaço jornalístico. fico com esta hipótese, diplomaticamente.
costumo, como sabem as rotativas mais antigas, o prelo, os clichês, os linotipos, manifestar meu apreço pelo jornal Zero Hora, que leio diariamente (e já fiz minha tarefa de hoje) e pela revista Carta Capital (que fo-leio semanalmente, e ontem falei nela). há dias, andei uns dias lendo La Nación, da próspera cidade de Buenos Aires e seus moradores/trabalhadores de rua. e ontem comecei a ler o n.47 do Le Monde Diplomatique Brasil (ou seria Brésil?). Não demorei a constatar que o diretor e editor-chefe (p.2), Sr. Sílvio Caccia Bava, apresentou-se na p.3 como jornalista e disse: "São 25 mil assassinatos ao ano por cada 100 mil pessoas [...]". gelei. fazia tempo que eu não lia o "Diplô" doméstico. andei lendo um que outro original em meu tugúrio italiano. mas por cada? cá entre nós, faltou paciência para o editor chefe dar uma relidinha em seu texto e simplesmente eliminar o "cada", com o quê liberaríamos a porcada. ok, isto não é contraditório com regras da lógica, não é mesmo?
ok. vejamos o que diz a chamada para a entrevista que Luiz Eduardo Soares dá, adivinhem a quem?, ao próprio Sr. Sílvio, na p.4: "Quem associar pobreza a violência estará, involuntaria e inadvertidamente, justificando o procedimento do policial". li, choquei-me, pensei se não seria recurso retórico o ex-secretário nacional de segurança pública em 2003 (sic). afinal, conheço um menino de rua que alega associar pobreza e violência voluntaria e advertidamente e não lhe tiro o direito de assim pensar. mais ainda, na p.10 e duas matérias após a entrevista, vemos a chamada para a matéria "Caracas em chamas": "Os números apontam para o paradoxo que vive a capital venezualena:o índice de violência atingiu 127 homicídios por 100 mil habitantes [...]. Por outro lado, em dez anos, a taxa de pobreza baixou de 60% para 23%."
decidi entrevistar o menino de rua.
-caro abcd (nome mantido em sigilo), você vê contradição no aumento da violência e redução da pobreza?
-caro DdAB (nome escrito por extenso no frontispício deste blog), não vejo, não. o que vejo é a insofismável prova de que, em Caracas, os ricos é que são os criminosos.
decidi mudar de asssunto:
-diga-me, abcd, quanto é 3 x 5.
abcd olhou-e e disse:
-por que você não redireciona sua pergunta ao prefeito da cidade?
eu redirecionei para esta foto:
e fiquei a indagar-me o que haverá de intrinsecamente errado no trabalho da polícia? voltei a indagar ao menino de rua:
-que que tu acha do barrigão do primeiro policial?
ele disse:
-não acho nada, exceto que ele deveria ser submetido a três horas de ginástica por dia (para manter a coluna ereta), três horas de aula por dia (para manter a mente quieta) e três horas de trabalho comunitário por dia (para manter o coração tranquilo). ou, por outra, reservo-me o direito de nada mais dizer sobre o tema.
fui forçado a anuir diplomatica e também espalhafatosamente. não vi contradição alguma.
DdAB
10 agosto, 2010
Carlos Lessa, o Falso Imperador
em estilo diário, mas não de um alienado, mas sim engajado, sigo em postagens cruzadas entre economia política e vida pessoal. sob o ponto de vista social, nada mais me alegrou do que saber que, entre os cinco grandes imperadores romanos, não havia nenhum chamado de Duilio. de certa forma, a presença desta ausência foi registrada em minha postagem de primeiro de março e sua ausência absoluta em 26 de abril. mas há novidades, como podemos observar na foto que hoje nos ilustra. foto de Tânia Giesta, ou melhor, de sua inspiração e minha encomenda (e edição). outro agente social a enquadrou, presumo. devo indagar, descobrir mais detalhes.
a verdade é que eu não queria fazer aqui um altar do culto de minha personalidade. e a verdade verídica é que não o estou fazendo, pois informei:
.a. às vezes abrevio (especialmente em alguns e-mails) meu nome como "d", para não ser confundido com D (dos deuses...)
.b. que não há nenhum imperador Duilio
.c. que a Rua Duilio, em conjunção com a Rua Tito (pai de César Leal?) não tem este nome em minha homenagem. como diria Roland Barthes na p.118 da obra "A Câmara Clara", da Edições 70, sita à Rua Duque de Ávila, 69 r/c. Esq. - 1000 Lisboa e distribuído no Brasil pela Livraria Martins Fontes (local diverso da Rua Duilio), ao exibir a foto de André Kertész intitulada Ernst, em 1931, em Paris: "É possível que Ernst viva ainda longe: mas onde? Como? Que romance!". romances os há em todo o lugar, bem o sabemos, e aqui mesmo já pintam mais dois. o primeiro é como é que o Duque de Ávila foi parar numa rua? não seria Duílio de Ávila e se enganaram entre "que" e "ilho"? o segundo é que lembrei, com esta nota ".c.", o que lemos na p.133 do livro de Osman Lins cujo título é "A Rainha dos Cárceres da Grécia" e que li em Berlim, em narração de primeira pessoa, após evocar o poema:
Morta Laura, il passato, il presente
e il futuro, tutto gli è tormento e pena
La vita vigge e non s'arresta una ora,
e la morte vien dietro a gran giornate,
e le cose presenti e le passate
mi danno guerra, e le future ancora;
e'l rimembrare e l'aspettar m'accorda
or quinci or [...]
após rimembrare, repito, reage e filosofa:
Não, Petrarca, teu soneto não é duro bastante para celebrar o aniversário, o segundo, da iníqua morte de Julia, esmagada, cinco meses depois de dar por terminada a sua obra, sob um caminhão GM de cor verde, chassi de oitocentos e oitenta e dois milímetros, eixo dianteiro tipo viga em 1 (capacidade três mil, setecentos e cinquenta quilos), eixo traseiro flutuante dupla redução (capacidade nove mil e trezentos quilos), tanque para cento e quatro litros de óleo diesel, freios a ar, pneus de doze e catorze lonas, carregado, peso bruto total vinte e dois mil e quinhentos quilos.
supondo, desta forma, que nada do que acima consta me diz respeito diretamente, vim a colocar em perspectiva o que resta da postagem que agora entro em fase de conclusão. na Carta Capital desta semana (n.608), as p.46-48 têm uma entrevista com Carlos Lessa (já postei a respeito dele, clique aqui). a direita já lhe endereçou muitas críticas, mas -por falar em crítica- vejamos outra, que lhe faço pela esquerda. disse o indigitado economista:
[...] A grande desindustrialização aconteceu nos anos 1990 e no início dos anos 2000. No governo Lula, esse processo foi interrompido, mas ainda não há uma retomada significativa do processo de industrialização. O que creceu no Brasil nos últimos anos não foi a indústria, foi o Brasil pós-Tordesilhas, o Centro-Oeste e Amazônia Meridional. O que estamos fazendo é reproduzir o modelo da República Velha. Tormano-nos o país da soja, do boi, do etanol. Há uma única diferença. Naquele tempo, o café era todo nacional. A semente era produzida pelo Instituto Agronômico de Campinas, a estrada de ferro era em grande parte nacional, os exportadores e até os bancos eram nacionais. Hoje, a semente é produzida pela Monsanto, o fertilizante é importado. Nenhum fabricante de máquinas é brasileiro. Os defensivos não são brasileiros e, dos três maiores exportadores de soja do País, nenhum é brasileiro. Não vamos ser a República Velha. Estamos pior do que na República Velha. Éramos uma economia primária e naconal. Hoje somos primários e internacionalizados.
tem tanta coisa no artigo que me deixa corado. achei que este trecho poderia merecer maiores reflexões. nem vou fazê-las, mas apenas mostrar que fiz uns cálculos que não pretendo explicar aqui. peguei dados do IPEA sobre o PIB real e do IBGE sobre o emprego, uma mixórdia de dados, fontes, coisas de louco. só no Brasil! (ainda prevejo que o IBGE entrará em greve antes do final do Censo que já está chegando às ruas). seja como for, fazendo o melhor que pude cheguei à conclusão que a produtividade do trabalho no setor primário cresceu cinco vezes entre 1950 e 2009. cinco vezes! uma vez que pelo menos serviços bancários e fertilizantes não são bens primários, segue-se que houve grande integração entre a agropecuária e a indústria.
ainda vou escrever mais sobre a tese da reprimarização da economia brasileira, tese esposada por Carlos Lessa e que me deixa fora de combate, ou seja, toda a evidência de que disponho sugere que o lado produtivo da economia brasileira não vai de mal a pior, que seu problema é distributivo, que o fechamento do país para o comércio exterior foi o grande vilão da exclusão do povão (epa, rimas?). minha visão do processo econômico, cada vez mais, desloca o foco da atenção de quem produz (os produtores, encastelados nos setores econômicos) para quem consome (as instituições, entre elas destacando-se as famílias pobres, que abarcavam 70% da população e 15% do consumo em 1980).
parece inegável que o bem-estar do brasileiro médio e mesmo do pobre médio aumentou nestes 60 anos, para não comparar com a turma da República Velha. vive-se mais, ainda que não se disponha de muito maior consumo per capita (comer salmão retirado do lixo não é comer decente). a questão com os 10% inferiores e mesmo os 1% mais pobres não é que lhes falte bem-estar por problemas de carência de produção de alimentos, mas de carência de redes de distribuição a preços compatíveis com suas rendas.
afortunadamente o Brasil desindustrializou-se, afortunadamente a economia é tão integrada que os "centros dinâmicos" são de tal maneira pulverizados que não mais podemos falar em "economia primário-exportadora". ou melhor, podemos, podemos falara até em capacidade de carga de caminhões, quando fazemos poesia. podemos tudo, mas poesia é da vida pessoal, ao passo que produtividade é da economia política.
DdAB
09 agosto, 2010
O Parlamentarismo com Dilma
claro que não sou favorável à teoria da grande conspiração, exceto nos casos em que ela me dá vitória nos debates que levo, especialmente os que levei durante minha militância no Grêmio Estudantil e, depois, no Diretório Acadêmico, e ainda na Sociedade de Economia e, para finalizar, nas reuniões do Condomínio de la Plaza. tampouco sou chegado a fazer previsões erradas, o que não me impede de tê-las feito. nunca pensei em errar numa previsão, mas já o fiz, aliás fi-lo (diria Jânio, não era ele?) neste blog dezenas de vezes.
talvez os modelos teóricos da sociedade futura, todos baseados na inteligência artificial assessorada (ou vice-versa) pelo cérebro humano, tenham mais verossimelhança do que os atuais. seja como for, estou inclinado a pensar que o voto distrital é a salvação da humanidade brasileira contemporânea. nada poderá salvar Joaquim Silvério dos Reis, que a história condenou. nada poderá salvar Rui Barbosa, que Raymundo Magalhães Júnior condenou. eu fui convencido por Raymundo, mas não tenho muitas razões para pensar muito seriamente que o Joaquim realmente foi tão mau caráter quanto sugere a história oficial, a mesma que endeusa o velhinho da águia de Haia.
ok, votemos o voto distrital, digo, voltemos a falar no tema. um elenco de críticas endereçadas a esta mudança institucional brasileira sugere que, sem exposição do político à mídia (como é o caso da locução de jogos de futebol ou programas de esmolas), não surgiriam lideranças locais. este argumento me parece tão despido de fundamento que acho até que estou entendo-o errado (por sinal, Machado teria errado, ao substituir adjetivos -como eu- por (for) advérbios?)
parece-me que o verdadeiro lugar de surgirem lideranças é no parlamento, logo precisamos do voto distrital que leve representantes dos ocupantes de determinados territórios ao parlamento e, de lá, estes se alcem a esferas legislativas mais elevadas. o óbvio, se negativo é, é que o candidato terá um colegio eleitoral reduzido a seu distrito. mas tampouco vejo a desvantagem deste recorte, uma vez que o principal está acontecendo: proximidade do eleitor com o eleito, as duas figuras centrais arroladas por Jorge Vianna Monteiro como sendo os agentes da política.
pois bem, a figura que selecionei (clique aqui) mostra a atual dupla dinâmica da política brasileira contemporânea. penso que Lula foi o real fundador do parlamentarismo no Brasil. seu jeito de governar, negociando aqui e transigindo lá, enquadrando ainda acolá, deixando o dia-a-dia do governo por conta de agentes de seu partido (reformadores e burocratas), é a fase inaugural do parlamentarismo. no caso, enquadro como reformadores e burocratas os ministros, outros "companheiros" que dirigem importantes órgãos da administração direta e da indireta. para não falar em excesso no presidente do Banco Central e os rapazes dos ministéros da Fazenda e Planejamento, centro-me em Dilma Rousseff. do greêmio estudantil e do diretório acadêmico, ela transitou aqui e ali, entrou para o PDT com uma turma da pesada, ingressou no PT e culminou como candidata.
que ocorrerá se ela vencer as eleições? talvez tenhamos -e esta é minha previsão de hoje- o mesmo rearranjo institucional protagonizado pela Rússia pós-soviética. Vladimir Putin (rima com Lenin) -já não lembro- era ministro e virou presidente ou era presidente, elegeu o sucessor e virou primeiro ministro. por que Lula não pode ser o primeiro ministro de fato? acho que ele já o é, ainda que eleito. ok, para que minha previsão não se concretize, precisamos de um bom antídoto à teoria da grande conspiração, pois qualquer coisa que Lula fizer, direi que é o parlamentarismo e a ação do primeiro ministro. mas vejamos.
por enquanto, retenhamos em mente meu mantra, um tanto tonto com a ladroagem:
política no Brasil? não vote. mas -se tiver que votar- anule o voto!!
DdAB
08 agosto, 2010
Economia Política: a mania da crítica
abandonei, como não podemos ver pela ilustração da postagem de hoje, os temas religiosos, pelo menos por mais uma jornada de relação contigo, meu querido blog. parece-me buonarotti, mas não juro...
paguei R$ 3,50 (preço de capa) por Zero Hora de hoje, o que significou R$ 1,75 por um desgosto. com efeito, não pude refrar meu desprazer ao ler meandros do editorial "A Obrigação do Voto". pensei, claro, que meus R$ 3,50 iriam a um jornal que jamais receberia o afetivo epíteto de Zero Herra. lado em geno, ledo engado, ledo engano, sei lá. de fato, ela inicia com dados interessantíssimos, se não fossem contestáveis, com aliás todos os dados, pois na verdade nem os sabemos "dados", mas "observados". diz lá, ZH:
Pesquisa realizada no final de maio pelo instituto Datafolha sobre a obrigatoriedade do voto mostrou uma divisão equilibrada da população brasileira: 48% dos entrevistados são favoráveis ao dispositivo constitucional que obriga o eleitor a ir periodicamente às urnas e 48% são contrários. No mesmo universo de pesquisados, 55% dizem que votariam se o voto fosse facultativo e 44% optariam por não votar.
a primeira coisa que pensei foi: cara, gente, bicho! a Zero Hora é totalmente favorável ao instituto do voto facultativo, possivelmente engajada na campanha de sua candidata ao Senado, a Sra. Ana Amélia Lemos, em afinidade com o Sr. Marco Maciel. este, já o elogiei aqui mesmo, fez um projeto de lei que bane da vida civil (exceto o blim-blim-blim político) o crime eleitoral. ledo engano. Zero Herra não pensou em analisar os números como um elogio do empate e, como tal, do cultivo da estratégia de obrigar a votar apenas quem quer votar e deixar quem quer o voto facultativo fazer o que bem entende. o exemplar que li do jornal não-exemplar não sabe que, se o foto for voluntário, teremos um equilíbrio em estratégia dominante. precisamente isto: ninguém fica insatisfeito, a não ser com o comportamento de outros, pois estará fazendo o melhor que pode. com o voto obrigatório os outros estão fazendo o melhor que podem e inquietando os uns que querem que os outros votem. juraria que este não é um equilíbrio estável. mas o jornal partiu para a crítica:
Os números são significativos e indicam que o país ainda não atingiu amadurecimento democrático suficiente para a desejável implantação do voto facultativo, que atualmente se restringe a analfabetos, maiores de 70 anos e jovens entre 16 e 18 anos.
quando li que os números são significativos ainda, santa ingenuidade, pensei que estávamos do mesmo lado, ela, os números e eu. santa ingenuidade: já pintou a história do amadurecimento democrático, seja lá o que a rapaziada editorialista entende pelo assunto. será que o fato do voto ser facultativo ao analfabeto reflete o amadurecimento democrático? acho que trata-se mais de desmazelo redacional do combativo jornalista que desunhou o texto. mas o problema é muito mais sério e nem se prestaria amplamente à galhofa, não fosse meu stress com o dia dos pais, afinal, nunca fui pai e avô ao mesmo tempo!
mas deixemos em reserva. primeiro, precisa de amadurecimento democrático e apenas depois, como brinde ao sábio e maduro povo é que teremos a sobremesa: o voto facultativo. segundo, eu mesmo comecei acima a falar que nem todo o número reflete a realidade realmente real. mas, supondo que os números do Datafolha assim pensem, então temos o seguinte. é possível que todos os que são a favor do voto obrigatório obriguem-se a votar. esta suposição extrema obviamente superestima o eleitorado obrigatório, pois haverá alguns entrevistados entre analfabetos, maiores de 70 anos os teen agers. na cultura judaica, a maioridade surge aos 13 anos, não era isto? ou seja, digamos que haja 47% dos obrigatórios que se obrigam, o que significa que, entre os do voto facultativo, (55-47) + 1 = 9% da negadinha que prefere o voto facultativo iria votar, mesmo com a faculdade de não fazê-lo.
agora faço um exercício de busca de racionalidade na argumentação de nossa Herra (agulha em palheiro?) que aprendi com Stephen Hymer lá em seu artigo sobre o Robinson Crusoé. olha só o que acontece, no caso de substituírmos a palavra "facultativo" por "obrigatório":
O risco de deformações na representatividade democrática seria muito grande com a implantação imediata do voto obrigatório. Facilitaria, por exemplo, o chamado clientelismo _ e a eleição reiterada de candidatos sem escrúpulos para cabalar votos junto a eleitores de pouca instrução. Além disso, com o instituto da reeleição e com o mau hábito dos governantes brasileiros de transformar a máquina pública em cabide de empregos para apadrinhados, correligionários e protegidos poderiam formar base eleitoral suficiente para eleger seus protetores.
e eles retomam o juízo:
O voto obrigatório também gera problemas. Pessoas que votam sem qualquer interesse, apenas para se desembaraçar de um encargo, podem ser facilmente manipuláveis, já que não acreditam nos resultados do gesto democrático.
mas não por muito tempo. já na frase seguinte do mesmo parágrafo vemos:
Mas a participação compulsória amplia a base de votantes e dificulta a eleição de candidatos manipuladores.
nem preciso comentar esta sentença, nem me dando ao trabalho de ir além da simplestroca de "compulsória" por "voluntária". mas vem mais sensatez, no mesmo parágrafo e, em seguida, mais burradas em que tasquei negritos:
Votar não deveria ser apenas um dever, como prevê a art. 14 da Constituição _ e sim um direito. No mundo inteiro, apenas pouco mais de duas dezenas de países obrigam seus cidadãos a votar. Porém, no Brasil, o voto impositivo terá que ser mantido até que o país consiga erradicar vícios políticos entranhados em nossa sociedade.
não posso impedir-me de dizer que os vícios políticos resultam de milhares de ações e omissões, inclusive dos meios de comunicação social e que um deles, avaliado por 48%. a Lei de Gresham Mutatis Mutandis assevera que o mau político expulsa o bom político do mercado político! volta a sensatez:
O aperfeiçoamento da legislação eleitoral, especialmente no que se refere ao controle do financiamento de campanhas, conjugado com o acesso cada vez maior dos cidadãos à administração pública, facilitado pelas novas tecnologias e pela criação de mecanismos de transparência, representa uma nova etapa de amadurecimento democrático para o país. Num futuro próximo talvez se possam criar as condições para a desejada reforma política, que deverá incluir esta questão do voto opcional.
e um final olímpico sendo o maior elogio do non sequitur, da velha sabedoria romana: não se segue do argumento, como argumentei acima. onde um argumento retórico se torna sensível à simples troca de uma palavra por outra (e não é trocar "sim" por "não", coisas assim), a retórica permite trocar-lhe a eficácia. ou seja, já que a argumentação é inconclusiva, nada melhor do que terminar com uma espécie de petitio principii:
Até lá, porém, o melhor para o país é continuar convivendo com a obrigatoriedade que transforma direito e dever, mas assegura uma representatividade mais equilibrada para os cidadãos.
ok, falta prestar contas de R$ 1,75. este prejuízo foi-me dado pelo artigo de Sérgio da Costa Franco, no artigo da p.14, intitulado "A voracidade fiscal". ele fala nas promessas eternizadas sobre a necessidade de uma reforma fiscal no Brasil. parece até que isto é uma unanimidade, nunca ouvi desagrado nas declarações dos meninos de rua, nem em outros importantes agentes sociais obrigados a votar! mas cui bono? (este domingo e este latinório parecem querer transformar a postagem de hoje na monotonia de uma missa, antes do tempo do roquenrou eclesiástico).
se tu não me sabe latim, já te digo quem se beneficia. começo com a visão do Dr. Sérgio (antigo promotor público e atual historiador, e-mail scostafranco@hotmail.com, como se lê abaixo do nome de autoria do artigo). e farei comentários e pararei de citar o artigo dele:
vejemos: "O consenso existe, entre os cidadãos em geral, de que tal reforma deve objetivar a redução da voracidade fiscal, a diminuição dos impostos, taxas e contribuições de toda a natureza, que hoje atormentam a vida dos cidadãos e muito especialmente daqueles que ousam investir em negócios, criar empresas e contratar empregados. [...]"
primeiro: este troço de "voracidade fiscal não é muito de meu agrado, como busco argumentar. tá na cara que a voracidade fiscal, sob o ponto de vista da política fiscal representada pelo gasto público, ou seja, elevação dos gastos, a menos que eivados de práticas corruptas, o que aliás, é verdade no Brasil ("todo político é ladrão", escreverei em meu livro de lógica). apenas abobados é que pensam que o aumento do gasto público pode provocar qualquer dano ao sistema. se quisermos qualificar as mazelas inflingidas pela corrupção ou por outros desvios, como a identidade entre produto efetivo e produto potencial, acharemos, de um lado, pouca vergonha e, de outro, inflação. nos modelos keynesianos de sala de aula, eu estou falando de um mundo em que o deslocamento da curva de demanda agregada da economia para a direita provoca apenas elevação do PIB, com manutenção do nível geral de preços. é uma questão geometria.
segundo e mais importante. se diminuir impostos tem que diminuir gastos para que o setor público não fique no vermelho a vida inteira. se ficar, causa inflação. (mas não pensemos que estou falando contra o déficit esporádico; ver a respeito o artigo também iracundo de Paul Krugman (quer ver? clique aqui)). qualquer mamífero submetido a um curso elementar de mais de um segundo sobre teoria da escolha pública saberá que não pode não ter impostos. sem impostos, não tem governo, sem governo, não tem ordem, não tem progresso, não tem nada, pelo menos também quando consideramos o curto prazo. lembro disto, pois claro que quero substituir o governo dos homens pela administração das coisas, mas não deste jeito reacionário, preocupado em reduzir os impostinhos dos burguesinhos! por fim, se é que é para ter impostos e não prejudicar a alocação de recursos (ou seja, no mercado dos fatores), devemos retirá-los do bloco B21 da matriz de contabilidade social, ou seja, isentar os produtores. mas ão podemos isentar as instituições, que -de acordo com esta conceptualização- são as proprietárias dos serviços dos fatores levados aos mercados de fatores (trabalho e capital). ou seja, cobrar impostos indiretos causa distorções alocativas. cobrar impostos diretos gera outras distorções que não são de interesse para a discussão. [aquele negócio de afetar a "capacidade de trabalhar" é um dos maiores lixos culturais da história da ciência econômica!].
Tantas são as complicações e embaraços à iniciativa no campo econômico, que uma grande massa de empreendedores abraça a economia informal, para subtrair-se, o quanto possível, às mordidas do Fisco e às imposições da burocracia. É plausível reconhecer, por isso mesmo, que a informalidade e a relativa clandestinidade dos negócios, são justas medidas de resistência à voracidade do poder público. Até um inativo, que não tem nenhuma possibilidade de aumentar suas vantagens de aposentado, sofre desconto de contribuição previdenciária, se resolver trabalhar como autônomo. E desse modo vai engordar, sem causa, os cofres do INSS.
do mesmo nível que o lixo sobre "capacidade de trabalhar" encapsula-se o "efeito Tanzi", que diz que a sonegação está em relação direta com a carga. se removermos os impostos dos produtores, a lei vai abaixo, mas ela já foi abaixo há muito tempo, mesmo sem esta precaução. parece óbvio que a sonegação depende é da fiscalização. e mesmo a estrutura tributária mais injusta do mundo (digamos 105% do PIB, o que é contabilmente possível, como os 105% das exportações malasianas de que falo volta e meia) pode gerar sonegação zero, desde que submetida a boa fiscalização. cada coisa!
depois disto, a diatribe que ele despacha contra a incompetência governamental só pode receber elogios. não acho que ele sonhe que a lei do orçamento poderia ajudar a organizar o galinheiro, mantendo as raposas afastadas, refazendo a política e levando, enfim, a classe operária ao paraíso, ou seja, a substituir o governo dos homens pela administração das coisas.
07 agosto, 2010
Religião, Adão, Etc.: Finale
nesta postagem final sobre problemas religiosos desta série (nada me impede de iniciar nova série amanhã, domingo, dia dos pais, logo eu que também sou avô, ou seja, pela primeira vez, passarei um dia dos pais também na condiçao de avô), decidi partir para a ficção, que é como a religião deve ser tratada pelos ateus que toparam sair do armário.
eram dois escravos que lutavam pelo ideal do branqueamento de que falou Gilberto Freyre e talvez outros antes dele. o primeiro, naturalmente, foi Adão de Deos, ou simplesmente Adão, também conhecido por sua mãe como Adãozinho. o segundo transacionou com Adão e com Caim e com Abel e com outros. ao fazê-lo, criou a sociedade de classes e suas instituições, como a linguagem, o tabu do incesto, o banco central, a troca, a moeda, a divisão de alimentos com estranhos, a produtividade do trabalho, em resumo, eles e seus descendentes criaram a sociedade moderna como a conhecemos.
a tarefa dos ficcionistas é mostrar que outro tipo de sociedade, que não baseie suas regras de distribuição na propriedade de ativos levados ao mercado de fatores de produção, seria ainda mais charmosa do que a sociedade capitalista (as economias monetárias contemporâneas).
DdAB
.n.b.: não estou postando sob o título de "economia política".