querido blog:
ordem dos fatos:
.a. inseri em meus Links Amados (o que escrevo no momento é lido à esquerda deles...) o vizinho "Vento Sueste"
.b. fiquei ouvindo o youtube's concerto para violino n.4, de Mozart.
.c. fui ler Zero Hora. antes mesmo de ler o nome de meu familiar (e nem sempre a beijos) jornal matinal, vi a manchete "Bolsa-infrator reduz a volta de jovens ao crime no Estado", que eles escrevem "estado" com maiúscula, o que me levaria a querer que também escrevessem "rua" e "beco" da mesma forma, amaiusculado: "biribas do Beco não se becam nem se bicam"...
.d. voltei e escrevi o que segue.
na postagem de 29 de agosto (clique aqui), Miguel Madeira, o signatário do dia no "Vento Sueste, tem a chamada "Os benefícios sociais estimulam o desemprego?". a resposta é um razoável "não". da mesma forma que se pensou que a abolição da escravatura iria destruir o Brasil, que o voto feminino impediria o surgimento da democracia e que o salário mínimo iria reduzir os capitalistas à miséria, busca-se desqualificar a renda básica universal. argumenta-se que ela e seu substituto imperfeito, a bolsa família, iria lançar milhões de brasileiros à vagabundagem.
(o Brasil não foi destruído por isto, mas pelo mercado de drogas ilegais, a democracia não surgiu por falta de homem, e o salário mínimo não impediu que a renda ficasse ainda mais concentrada depois de 50 anos de sua vigência.)
os meninos de rua vivem na rua por não terem casa, parece óbvio. os meninos de rua respondem a um sistema de incentivos que não lhes favorece a escolha mais interessante para o futuro do Brasil que é irem à escola, escovarem os dentes e os cabelos, estudarem a tabuada, aprenderem a tocar violino, essas coisas que hoje são apanágio dos meninos de casas abastadas. os meninos infratores deixam de ser infratores se o incentivo para praticarem infrações é reduzido, até negativo, como decorar tábuas de logaritmos (e a libertação seria, naturalmente, o ensino do conceito e do uso de calculadoras...). os beneficiários nordestinos do Programa Bolsa-Família que se recusam a cortar cana por salários, digamos, mínimos são adeptos da teoria da escolha racional, que lhes garante o direito de aceitarem incentivos materiais mais adequados a sua estrutura de preferências, não era isto? e se eles preferem lazer, cabe aos interessados na colheita da cana "subornarem-nos" para que eles deixem suas redes e frequentem os brejos.
nunca devemos esquecer que o inventor da renda básica (na forma de imposto de renda negativo) foi o liberal Milton Friedman. e que dele é a máxima sobre desemprego: há desemprego a que taxa de salário? claro que se o salário fosse de D$ 1 por milênio, até eu iria tentar contratar 1.000 trabalhadores por década e tentar levá-los a vender meus livros, um troço assim.
moraleja: querer dizer que meninos infratores não podem ser subornados a aprenderem violino é aceitar um tipo de teoria da ação humana que não leva a nenhum lugar decente, como o prova o próprio fato de que eles, em tenra infância, por não terem escola, por não terem violinos, por não terem cama e pão-com-manteiga, decidiram -racionalmente- escolher o caminho do crime. sem excessivas ironias de parte a parte...
DdAB
p.s.: será casual que caí no "Mercado Livre" para trazer a ilustração acima? não dá de pegar aqueles guris agora e jogá-los a estudar violino?
2 comentários:
Parabéns,Duilio!
A idéia central é muito boa e a forma da escrita é muito bonita.
MdPB
obrigado, MdPB! um sorriso destes dizendo isto faz-me sorrir!
DdAB
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