querido blog:
até parece que o mendigão do cando direito, com seus -creio- três dentões, já andou pintando em minhas ilustrações copiadas do Google Images. procurei hoje "mendigo loiro" e tive que mudar para chegar onde parei. por que falo em mendigos loiros? hoje, jejum de minha parte, oito da matina da parte do resto do universo porto-alegrense, fui ter meu próprio sangue tirado, a fim de vê-lo examinado e ser declarado velhinho saudável, condição que busco certificar anualmente.
entre minha casa e o laboratório, divisei com um senhor de poucas posses, pelo que sou dado a julgar. mais ainda, chamou-me a atenção seu cabelo: um jovem, cabeleira basta, pelos alongados, a metade de baixo bem loirinha e a de cima mais para castanha. pensei: oxigenação, aplicada na Estética Franciscana, oslt. Era, creio, um loiro oxigenado que o simples giro do planeta fez descer para mais longe dos folículos pertinentes. uma tragédia, o fim do mundo. o que passa comigo, claro, pois não sei como ele vem a sentir-se quanto aos tais giros planetários que referi. ele fala português, indagou-me onde é a Avenida Ipiranga. pensei no grito da independência, que aparentemente ele deu, de um jeito arrevezado, ou lhe deram... um desamparado, temo concluir.
por contraste, fui recebido com pompas de um verdadeiro imperador (como já registrei, não há registro de nenhum imperador Duilio...), uma cortesia e eficiência espantosas. ao sair, voltei a caminhar (combustível do pensamento) e pensar no erro daqueles que insistem na tecla de que a presença do estado na sociedade brasileira é excessivo.
por circunstâncias não absolutamente transversas, recebi de presente um ensaio curto de Jorge Luis Borges, em sofisticada tradução de Sérgio Faraco, intitulado -lá o ensaio, não o Faraco- de "Nosso pobre individualismo". não quero falar muito mais do que registrar que a obra, o autor, o tradutor e o leitor geniais: achei muito interessante. procurei em minhas Obras Completas e não localizei, o que deixa claro que elas não são "Completas". ao contrário. além de co-autorias, como o livro do budismo e do Martin Fierro (que adquiri ambos), sei de várias outras coisas que fugiram à Editora EMECÉ. seja como for, quando saírem as obras super-completas, não mais vou comprar. aprendi a lição com os quatro volumes da Nova Aguilar e de Machado de Assis. daqui a alguns tempos, estou certo, pintará novidade.
Borges preocupa-se com o que hoje chamamos de problemas de escolha coletiva: aprendi com Samuel Bowles (livro de micro de 2004) que devemos citar três "instituições" que organizam as preferências sociais: mercado, estado e comunidade. também aprendi que, além destas inegáveis virtudes, as três apresentam falhas e apenas no ambiente de equilíbrio entre elas é que poderemos pensar no funcionamento harmônico da sociedade (frase meio redundante, pois parece que "equilíbrio" e "harmonia" tornam-se sinônimos neste contexto).
eu olhei para as ruas de Pescara e lembrei das de Porto Alegre, nas semelhanças (vendedores ambulantes) e contrastes (não há meninos de rua). agora olho as de Porto Alegre e fico a indagar-me o que querem dizer os liberais extremados (também Borges?) quando querem menos presença do estado. para mim, não precisava ser estado para coletar lixo ou impostos ou pagar aposentadorias, mas alguém deveria fazê-lo, a fim de garantir regras decentes de convivência (menos pedintes e menos assaltos). mas quando penso na corrupçáo que se instala, volto a entender que a participação comunitária é que se mostra fundamental. e aí começam os problemas novamente, pois nem o mercado -enquanto locus de concorrência e maximização- nem o estado têm maiores interesses em promover este tipo de saneamento.
ao mesmo tempo, sempre que penso em participação comunitária lembro de um breve que aprendi não faz muito tempo: mas cuidado com os comitês de defesa da revolução. acho que só metendo um chopp para poder desdobrar-me destes impasses...
DdAB
fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipGk3a7Kh33vw9-pu7d90lKMX-fGNzrXtnEY7fh8sCjGHscG8fWvUe_zul19OOiFzzpZiZjBCnEO_saZZNZ8FGqkT0l5IBbbJ4L53UQAssYRSLF9L7s03a3X7W9VIcbBEC4ZFJM0Fzx3c7/s400/mendigos.jpg
2 comentários:
Como ficariam as pobres empresas de segurança espalhadas pelo nosso país, se o estado cumprisse a sua obrigação de prover a segurança, principalmente aquelas cujos donos são ilustres políticos?
(Sílvio)
Primeiro, sem qualquer alusão ao comunismo, haveria mais democracia nas relações de trabalho e os funcionários iriam prender os ladrões... Segundo, os que sobrassem seriam treinados para guardas de trânsito, guardas de quarteirão etc., de sorte que o crime cairia a zero em menos de duas eleições.
DdAB
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