05 agosto, 2010

Adoro Drogas 4: debate em ZH

querido blog:
adoro drogas, mas não as do tipo que hoje ilustra a postagem de "economia política". mas quero voltar ao assunto e não encerrá-lo, pois duvido que os políticos brasileiros sensibilizem-se tão cedo sobre os ângulos mais importantes para tratar do problema.

entro, como posso, na polêmica que emergiu do artigo de Marcos Rolim, na ZH de domingo passado. seguiu-se uma matéria do jornal (não assinada), na segunda-feira. Rolim queria menos moralismo para tratar do problema das drogas. Zero Hora disse que a experiência que Rolim relatou (viciados em crack transitaram para a maconha e também a abandonaram, in due time) era equivocada. um médico chegou a tachar o autor do experimento de covarde, ou algo parecido.

hoje ZH cita o autor do experimento do crack cum maconha. este diz que nunca leu nada escrito em revistas de respeito contestando seu experimento, algo assim. eu achei que é bom trazer mais ângulos ao exame do problema. Rolim falou -e já é um progresso admirável- que o problema das drogas é médico e de segurança. eu acrescento outra dimensão espantosamente econômica (a lei da oferta e procura, como sabemos, é mais imponente do que a da gravidade). claro que haverá outras dimensões também extremamente importantes, como a da assistência social (inclusive com uma dimensão econômica que não me parece a mais relevante para o ataque frontal do problema, nomeadamente, a perda social incidida pelos desvios de recursos para o combate ao tráfico e a queda na produtividade agregada do sistema devida à degradação nas condições de trabalho (eu não disse "condições de saúde") dos consumidores.
trabalhador drogado não produz tanto quanto um colega "de cara limpa".

mas o problema é outro. na medicina, podemos falar em pilhas de problemas humanos, de escolha individual, essas coisas, fora o mal-estar provocado na família quando um pai mata um filho, em virtude do fato de que um deles gosta de inalar crack. em boa medida o problema da segurança é um problema social, mais que individual, ainda que pudéssemos pensar nas razões do indivíduo a fumar ou traficar. mas a dimensão médica não é apenas médica: todos os profissionais da saúde terão algo a dizer sobre o assunto: psicólogos, assistentes sociais, educadores físicos, e por aí vai. e o da segurança? apraz-me ter sempre presente que não é bem segurança, mas justiça. na sociedade muito desigual, há vários incentivos que comprometem o funcionamento do sistema judiciário.

mas falar em incentivo coloca-me frente ao problema econômico, à estúpida tentativa do governo e alguns de seus mais obscurantistas arautos de revogar a lei da oferta e procura. sua visão autoritária os impede de observar que haverá sempre uma fração da população que preferirá usar drogas. e que não deve ser tratada com pena de morte. além deste problema, a visão econômica pode ajudar a sociedade avaliar (análise de custo-benefício) quanto ela paga por ter políticos que delinearam a atual política de tratamento do problema.

um lado da visão econômica já foi referido acima, o da queda na produtividade agregada do sistema, além do desperdício de recursos no combate à droga, ao jogo, ao contrabando etc.. o problema principal é o da avaliação dos incentivos, o que aumenta a rentabilidade da indústria produtora e distribuidora, que suborna o judiciário, que suborna a polícia, que suborna o executivo, que suborna o legislativo, que destruiu a sociedade brasileira.

se há um triângulo de combate ao crime (repressão, punição, prevenção), eu diria que os incentivos econômicos é que serão responsáveis por seu sucesso. não quero dizer, com isto, que o amor de mãe, o respeito do professor, não influam, mas que os incentivos materiais (recompensas e punições) é que são maiúsculos para a determinanção do comportamento dos agentes envolvidos: viciados e seus tratadores. ok, não pude falar tudo por duas razões. não tenho tempo para falar mais coisa que sei e se liga com o tema. e não sei tudo.
DdAB
captura da imagem: http://www.google.com.br/images?hl=pt-BR&biw=1280&bih=608&gbv=2&tbs=isch:1&btnG=Pesquisar&aq=f&aqi=g2&oq=&gs_rfai=&q=sarney.

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