23 dezembro, 2008

Acaso, contingência & necessidade

Querido Diário:
Falta-me critério para postar em "Escritos", digo, escrevo coloquial, ou digo "Querido Sr. Diário"? Será acaso que eu pense hoje nisto, para iniciar? Tudo por contraste à "Vida Pessoal", quando viria bem um "querido" destes prá cá e outro prá lá e ambos para o mesmo lado, o de cá e o de lá, um de cada vez. Havia algo fascinante sobre o "onde digo digo digo desdigo". Postar-lhe-ei detalhes in due time, pois os anglicismos prosperarão na nau da mequetrefe Federação Galáctica.

Ou melhor, que poste com este começo o que deliberei sobre acaso e necessidade. Sobre contingência e necessidade. Agora obrigo-me também a refletir sobre a relação entre contingência e acaso. Rege meu pensamento sobre muitas destas questões o palpitante livro "[...]; a fascinante história do risco", de Peter Bernstein. Se meu marcador fosse "Economia Política", seria necessário, creio, avançar sobre a relação entre mercado financeiro, seguros e renda básica. Como o marcador é apenas "Escritos", faço menção contingente sobre esta questão.

Contingência: o que tenho tentado sugerir, em minhas reflexões sobre a sociedade igualitária é que a maior justificativa para a instituição da renda básica (à la Eduardo Suplicy) é que "seguro morreu de velho", ou seja, a sociedade precisa dar um tratamento condigno às grandes massas, para que elas pensem que são importantes, ou seja, para que a própria sociedade sinta-se importante ao se tratar bem (o que a fará reciprocar, tratando-se bem, no círculo kaldoriano que diz que sucesso gera sucesso e que fracasso gera fracasso). Ou seja, a renda básica é uma contingência, ao passo que dela decorrem conseqüências muito desejáveis. Haverá muitas maneiras de se gerar a sociedade igualitária, sendo -bem sei- a renda básica apenas uma delas. O que me parece interessante de entendermos nos dias que correm é que
.a. a jornada de trabalho no mercado formal experimentou reduções drásticas ao longo do Século XX
.b. o mercado informal de trabalho contribuiu para a destruição de boa parte das benesses da vida social mesmo nos países capitalistas avançados
.c. não haverá volume de investimento adequado para absorver as populações excedentes (sob o ponto de vista do mercado de trabalho, para não querer que pensem que acho que 'havia gente demais').

Ergo é preciso que a Brigada Ambiental Mundial crie ocupação socialmente desejável, transformando o emprego precário em ocupação necessária (trocadilho...). Nove horas diárias de ocupação necessária farão bem a toda a comunidade. A magnitude das escalas de empreendimentos provocados pelas modernas tecnologias, abundância relativa e descontrole demográfico fazem com que mesmo um indivíduo humano tenha sua importância no conjunto de todos os indivíduos diminuída. Com isto, tratá-lo também como pária da apropriação e absorção do valor adicionado é buscar complicações.

Ok, uma vez que meu marcador é "Escritos", vamos ao assunto direto, deixando o transverso. Bush não tinha necessidade de atacar o Iraque, de ver-se envolvido com o incidente provocado pelo jornalista iraquiano que o quis agredir com o lançamento de um par de sapatos. Eu condeno toda a forma de violência. Ergo condeno Bush e seus patrocinadores. E condeno também o jornalista que não pôde conceber maneira mais eficaz de
.a. combater a ditadura no Iraque durante a maior parte de toda sua vida
.b. contribuir para a pacificação de seu país.
E mais ainda: condeno todos os que se entusiasmam com este tipo de reação individual, achando-a necessária. Eu penso que se trata apenas da afirmação de momentos contingentes na história humana. Sou pela paz! Sou pela paz!
Para mim, o jornalista é tão incapaz quanto o próprio Bush de distinguir seu papel na história e buscar um significado para sua vida.

Pois bem, Bush não é um ás no tema 'estratégia', nem mesmo um asno meio político. Ele também tem suas contingências, dada a necessidade que os EUA têm de expressar-se como detentores da hegemonia da transição humana para a Federação Galáctica, sepultando o estado nacional. Transitarmos sob a égide americana eriça os conservadores tanto quanto qualquer outro tipo de trânsito. E digo agora 'conservadores', no sentido de pessoas que buscam ideologia de esquerda para abrigar um enorme sentimento de superioridade moral, um espantoso convencimento da importância de suas próprias posições, um ciclópico par de viseiras maniqueístas. Eles e nós, quero dizer, eles -os conservadores- e nós -os intolerantes- ou vice-versa. Ao defender a sociedade igualitária sempre deixo claro que ela pode ser o caminho mais fácil para algumas transições importantes que serão feitas pela humanidade. Esta que conhecemos e que parece ter (não diria natureza) desejos de expandir significativamente seu nível de absorção (consumo) de bens materiais. Ou seja, consumir dádivas da natureza, como um grão de trigo ou uma ponte de safena no coração, coadjuvados em seu processo produtivo por um trator ou um bisturi eletrônico.

E baralhos são necessários? Claro que apenas para o ambiente fascinante mas contingente de um jogo de pôquer. E se eu furto o baralho de meu irmão e sou flagrado com ele nos bancos do Jardim da Infância do Grupo Escolar Inácio Montanha? Eu diria que o 'flagra' é contingente, mas também o furto o fora. Todavia o teorema de Bayes deixa claro que, uma vez furtado o baralho da caixa de 'belongins' de minha irmã, digamos, a probabilidade de que o acaso seja flagrado se transforme em necessidade de ações diversas expande-se como a propagação de ar provocada por uma das bombas que o Mr. Bush mandou (foi ele mesmo? não era Colin Powell, Carter, Roosevelt, o rapaz da bomba atômica?) despachar sobre o Código de Hamurabi.

É Natal, é Natal, em poucos séculos, vamos para a aldeia global! Como o teorema de Bayes pode forçar-nos a concluir, uma vez iniciado o processo de troca de bens materiais, as finanças tornar-se-iam inevitáveis dentro de poucos séculos, o fim do estado nacional também e, naturalmente, o que ainda não vimos mas que não tarda, a Federação Galáctica. Ok, se tu acha que eu did't deliver what i promised, post your complain to our supervisor, entendeu?

Saudações amanuenses e minudentes, if you know what i mean.
DdAB
BERNSTEIN, Peter ()  Desafio aos Deuses; a fascinante historia do risco. Rio de Janeiro: Campus. [Li o original americano]

Nenhum comentário: