Querido Mr. BloggerMan:
Queridinho da classe trabalhadora ou sócio (bem-remunerado) do Clube da Baixaria? Vemos na foto o Senador Paulo Paim.
Nem todos os senadores (que gazetearam as aulas de Teoria da Escolha Pública, Direito Constitucional, essas coisas) saberão dizer par coeur o conceito de valor adicionado. Eu, que sou especialista no primeiro semestre do curso de formação de cidadãos, digo. Valor adicionado é um importante conceito para a compreensão de um sem-número de aspectos do funcionamento do sistema econômico. Principalmente, com ele, podemos avaliar o grau de eficiência com que os recursos (sociais) são utilizados, segundo uns. Segundo outros, com ele, qualificamo-nos para entender o modo de funcionamento e reprodução da vida econômica societária. Entre os assessores econômicos de todos os cargos em comissão da república, encontram-se muitos idiotas que desconhecem que o valor adicionado tem três óticas de cálculo. Ou seja, a sociedade (eu disse 'a sociedade', nada disse sobre o Dr. Antonio ou o Ascensorista Ermílio) gera valor adicionado uma única vez, mas contabiliza seu esforço de três maneiras.
E não devemos impressionar-nos com um conceito que permute sua mensuração de três maneiras, pois estamos habituados a saber, por exemplo, que a distância que separa nosso orçamento doméstico daquele retido pelo Sen. Paulo é a mesma, quer a mensuremos daqui para lá quer o façamos de cá para lá. Se eu ganho R$ 100 (como é razoável supormos) e ele ganha R$ 1.000.000, como presumo, há um vão de R$ 990.000 nos separando: ele ganha mais e eu ganho menos. Diríamos, claro, que o desnível social entre os polítcos e seus eleitores tem duas óticas de cálculo: a positiva-P0 (eles ganham mais) e a negativa-Ne (nós ganhamos menos). Claro que Po=Ne.
Li numa revista BatMan (ou em alguma outra fonte igualmente idônea) que as três óticas de cálculo do valor adicionado são Produto-P, renda-Y e despesa-D. Neste caso, P=Y=D. Now it begins, como teria dito John Lennon. O dinheiro que os aposentados recebem dos políticos por meio de transferências de dinheirinho retirado pelo governo na forma de tributos (ou sabe-se lá que outra forma, perfeitamente possível) à renda não é renda. Repito: transferência não é renda, entendeu? Transferência não é renda! Compreendeu, assessor? Aposentado não ganha renda, pois não há mecanismo de correspondência entre o produto e esta. Em compensação, aposentado pode gastar em "despesa", ou seja, Consumo das Famílias. Seria pueril pensarmos que aposentado pode também gastar em Investimento, Consumo do Governo (que obviamente não inclui as transferências!) ou Exportações. Quem investe é a Instituição Empresas, quem exerce o Consumo do Governo não são nem empresas nem famílias (responsáveis pelo Consumo das Famílias). Quem exporta são os Produtores! Disse o Menino Prodígio (no número citado da revistinha BatMan) que quem investe não são os Produtores, mas as Instituições Empresas, o que deixou o assessor ainda mais intrigado, alegando que fácil mesmo é a leitura de Bolinha, pois este tipo de coisa não exibiria o mesmo grau de interesse do que o que lhe despertam as aventuras do Detetive Aranha.
Então aposentado não ganha renda? Por isto deveríamos deixá-los morrerem à míngua, como parece que o pessoal que trabalhou no filme japonês "A Montanha Mágica" deixava seus ancestrais mano-a-mano com as onças, tamanduás etc.? Claro que não: quem mata fome é a Despesa, e para incidir em despesas o de que se necessita é de receita (entendeu bem? receita!) e não de renda, a menos que entendamos (e devemos fazê-lo) que a renda também faz parte da receita. Mas, claro, a recíproca não é verdadeira, como acabamos de deduzir, ajudados pela invocação do Detetive Aranha, um ás no modelo conjetural de Carlo Ginzburg.
Segue-se logicamente que o Senador Paulo Paim é mesmo sócio do clube a que acima fiz menção, porque ele quer indexar as transferências aos aposentados, pensando que isto os estaria beneficiando, quando os beneficiários são, claro, os políticos que colhem votos por todos os territórios, não havendo (nem o quereriam, pois não são altruístas o suficiente) voto distrital. Ser o representante parlamentar dos aposentados (ou dos torneiros mecânicos, ou policiais, ou o que lá seja) é a maior baixaria com que o sistema político brasileiro brinda seus reféns (os eleitores que, se não votarem, tornam-se criminosos).
A provisão para pagamento de aposentados deve ser uma disposição da Lei do Orçamento. Lá é que o casuísta senador deveria enfiar suas energias! Mas ele estudou na Faculdade de Formação de Políticos? Ganhou pelo menos um conceito C na disciplina de Direito Constitucional? Outro na de Teoria da Escolha Pública? Já que estamos no assunto, saberá ele colocar pronomes? A tabuada do oito? A conjugação do verbo prevaricar?
A única esperança que me resta é que algum matemático tente decifrar o texto acima, que meta um comentário no local competente e permita-me esclarecer a opinião pública sobre qualquer ponto, digamos, obscuro que por desventura esteja insidiosamente retido neste edificante post.
Abraços do
DdAB
Um comentário:
Tu me lembras um canivete suíço ao apresentar tantas funções! Por falar em funções e estilos, não faço estilo nenhum. Sou um ignorante praticante. Nunca viajei, geralmente, além de Jaguari.Portanto, não falo nenhuma língua nacional ou estrangeira. Nada sei de história (nem a da minha família, que não recomendo anyway. Não sei dançar nem o que é "índice de Gini"... A lista do que não sei é infinita, daí os três pontinhos.
Acho que agora é a minha vez de perquirir: "Estás feliz com todas essas coisas todas que vens fazendo? Ou o fazes apenas para fugir da solidão, essa companheira ciumenta que não abre espaço para o amor e a amizade? Sabias que vais morrer? E que pode ser que, além de ti, tudo o mais que te cerca e cercou pode virar nada?"
Finado Adalberto de Avila
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