22 dezembro, 2008

Troca e Natureza Humana: ainda Marx, Meirelles e Tiburi


Caro Sr. Blogger:
Seguindo com o exame do artigo de 13/jan/2008, digo, 20/jan/2008 sobre o qual postei alongados comentários há poucas horas, mas oficialmente no dia anterior ao que antecede o que antecede o amanhã, artigo – é bom lembrar – de autoria de Marcia Tiburi, prossigo.

Então estamos dizendo que as mercadorias poderão ter valor nulo se não mais houver mãos humanas envolvidas em sua produção? Claro que estamos. Uma vez que A implica B, então 'ela disse-me assim':
:: se "A [...] então B [...]" dá "B e A, isto é, Bah",
não é? Então estamos dizendo que os bens e serviços deixarão de ter valor de uso? Claro que não! Na sociedade que vencer a barreira da escassez, ou que montar um arranjo institucional adequado, ou seja, na sociedade da abundância, o neguinho vai caçar de manhã, pescar de tarde e criticar de noite.

No site http://www.espacoacademico.com.br/024/24jsf.htm, encontrei o que diz o Prof. João dos Santos Filho sobre o uso do tempo de vida humano e suas consequências sobre –em minhas palavras– a formação da “curva retorcida de oferta de trabalho”:

“Uma das passagens mais brilhantes [... d’A Ideologia Alemã] se localiza no momento quando, ao abordar a sociedade comunista, [Marx] comenta da necessária liberdade de escolha pelas atividades de trabalho e atividades de lazer: ‘Na sociedade comunista, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividade exclusiva, é a [própria] sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico’ Marx, 1976: 41).” [grifo de DdAB].

Parece-me que Karl Henrich estava pensando nos ricos de hoje em dia, que devotam seu tempo (cabeça, tronco e membros) à arte e ao esporte. A este respeito, o Sr. Jumento d’Os Saltimbancos, aditou: “[...] nunca trabalhava, então achava a vida linda [...].” Será que não vai chegar o dia em que todos os nossos netos vão decicar-se apenas à crítica, ao esporte e à arte? Seguirá havendo troca? O que mudará vai ser a própria natureza humana. Não que o homem passe a ser muié ou jumento, e vice-versa, mas que:

.a. aquilo que entendemos por capitalismo terá acabado
.b. aquilo que entemos por naturez humana também terá acabado ou estará datado para acabar.

Com o fim do capitalismo e o fim da natureza humana como a conhecemos hoje, Mr. Marx, Marcel Mauss and me myself dar-nos-emos por satisfeitos em nossas explicações sobre a troca, o donativo, a oferta monetária, o valor das mercadorias, e todos os demais componentes do entorno desse contingente enrosco.

Que mais disse a Sra. Tiburi? Que: “[... Madonna, the singer] é pura e explicitamente mercadoria.” Epa, agora temos outro problema: a volta da escravatura, quando indivíduos humanos também, como tudo o mais, viraram mercadoria, como na edificante fazenda do Dr. Inocêncio de Oliveira, ilustre prócer do Governo Brasileiro, S/A. Ainda assim, não me parece que Madonna herself seja mercadoria. No máximo, podemos dizer que o livrinho ‘As Três Ecologias’, de Félix Guattari (Papyrus, 1991), falaria em “produção de signos e subjetividade”. Os signos e a subjetividade também viram mercadoria, naquele mundo dos cassinos financeiros e cassinos de gambling, o que é mais ou menos a mesma coisa. Por isto é que prevejo que a indústria dos seguros ainda salvará o mundo redondo que hoje conhecemos.

O que acho mais interessante é que a Profa. Tiburi permite-me encerrar a postagem de hoje com uma citação muito maneira, por referir-se a Madonna:

“Seu corpo forte e musculoso, capaz de enfrentar toda fraqueza, que promete superar toda morte, é o emblema do poder invejável, o poder que faz qualquer um entregar sua liberdade em nome de um sentido, uma proteção pela adoração da imagem.”

[Mais detalhes sobre a relação entre morte, história e valor das mercadorias seriam encontrados no Bar Restaurante Pedrini, se não tivessem jogado fora as bolachinhas de chopp em que fiz copiosas anotações].
DdAB

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