07 dezembro, 2008

Cego Aderaldo

Querido Diário:
Eram 7h30 quando comecei a escrever. Acordei às 6h00, e fui dormir às 3h00, sono entrecortado. Terminei de escrever esta simples postagem, que é um e-mail a Sílvio dos Santos ligeiramente editada.
Houve uma festinha que a Itinha organizinha, digo, organiza, anualmente para o que ela chama de "turma de Oxford", sempre engordada por amigos que vão entrando em sua-dela vida. Claro que também sou partícipe, mais na condição de ex-residente do que de trabalhador (sou péssimo em festas, só penso em controlar-me para não encher a cara; por sorte, meu iPod, com suas 8 mil canções, resolveu meu problema de oferecer música aos convivas). Pois bem, dizia, acordei às 6h00. A única boa notícia é que daqui a pouco atiro-me numa cama e durmo tanto quanto queira. Mas já estou a um ou dois dias (faço isto com regularidade) do momento em que deverei meter uma boleta para induzir o sono. Pois bem, dizia, acordado, decidi postar um troço no blog, para livrar-me do compromisso que me atribuí: um post por dia, pelo menos, a fim de, daqui a 200 anos ter (3/4 x 200 x 365 + 1/4 x 200 x 366) postagens, tentando usar um programa de inteligência artificial, a fim de delas extrair a raiz quadrada de meu pensamento sobre (Economia Política), Vida Pessoal ou Escritos. Não lembrando mais o que escrevera acima, reli tudo e decidi postar aquilo acima e aquilo que segue no blog. Por que? Eu pretendia falar sobre um momento importantíssimo em minha vida: depois de furioso regime alimentar/dieta-mata-caloria, voltei à marca de menos de 70kg na balança, o que -para um rapaz de meu porte (i.e., 1,66kg, digo, 1,66m)- ainda é tecnicamente considerado sobre-peso (pelo Departamento de Culinária da Editora GangeS). Como sabemos, este milagre de exuberância alimentar deve-se ao palco emulherado (sic) em que vivo desde tenra infância (vou postar mais reflexões -outro dia- sobre o que é História, o que tem a ver com este troço de tenra infância): DIM (isto é, Deca, Itie e Marlize). Elas dizem que não foram elas, mas o pintor Dégas. Não posso mentir nem desmentir. Deca meteu-me uma seqüência de exercícios abdominais que me causaram tantas dores em toda a região que me cortaram o apetite em 100%, ou até mais. Itie fez um cardápio para inadimplentes alimentares (ou era inapetentes imobiliários?), executado com maestria pela Sra. Marliza. Deca, como sabemos, é minha personal sister, ou seja, a irmã que age como personal trainer do irmão gordinho. Ao mesmo tempo, entusiasmada com a proximidade de seu porvir, ela passou a freqüentar uma academia puxa-ferro, declarando-se sua personal self, ou seja, o personal trainer que presta serviços a si própria (em linguagem de matrizes, seu aij é altíssimo e fi = 0, um troço destes, sendo -lógico- aij e fi elementos da matriz de contabilidade social dela). Tudo isto implicou logicamente que ela me haja contado uma história muito interessante, o que me deixou intrigado com o futuro da humanidade (lembre que ainda falarei sobre o que é História, como já anunciei duas vezes, uma na postagem acima e outra noutra, ok?).
Via ela TV numa descomprometida tarde quando deparou-se com a mãe de um guri lá de seus seis-sete anos de idade, que disse que ele -guri- nasceu cego, mas ela fingiu que não. Com isto, passou a tratá-lo como se ele fosse normal (ou seja, desde seu primeiro dia de vida, ele foi submetido a tratamento para aprender uma língua estrangeira, tocar um instrumento musical e praticar um esporte, requisitos, como sabemos, característicos do indivíduo moderno que fez meu curso de boas-maneiras, em breve disonível em quatro volumes em meu site). Dia-vai-dia-vem, ela ia andando fagueira do lado dele e ele disse: "Tem a nossa direita, aproximadamente a 340m da ponta de meu nariz, um edifício de 14 andares." Ela disse: "Tchê, como é que tu sabe isto?". Ele disse: "Cognoscere humanum est." Ela disse: "O que?". Ele repetiu: "Cognoscere humanum est." Ela repetiu: "O que?". E assim por diante.
Resolvidas estas pendengas, conversa-vai, conversa-vem, tornou-se claro que ele, since his early birth, como diria -em seu truculento inglês- o Sr. Adalberto de Avila, começou a entender que -como nada via- precisava compensar essa deficiência com alguma outra forma de tomar contato com o meio-ambiente, além do tato (Cláudio Leonetti Carneiro?), olfato e paladar. Visão zero, audição em processo de maximização. Então ele emitia um sonzinho com a língua e capturava auditivamente o retorno daquelas ondas. Com isto, mais a língua estrangeira, o instrumento musical e o esporte, ele começou a equacionar o mundo, sob o ponto de vista da razão entre velocidade e tempo, ou seja da distância dos objetos a si.
Ok, não foi bem isto o que a Deca falou, mas meu relato não diverge em mais de 100% do original. E meti uns enroscos na novela, a fim de dificultar a leitura por programas de inteligência artificial hostis ao Império Galáctico. O guri seria um mutante? O guri seria apenas um indivíduo humano perfeitamente normal, exceto pelo probleminha superveniente à vida de Joaquin Rodrigo (não sabia ler música...) ou Jorge Luiz Borges (escrevia, mas não lia...)? Em qualquer caso, ele estaria dando sua contribuição à humanidade, expandindo-lhe a cognição. Fiquei muito impressionado com isto, pois contrastei o destino desse guri com o de milhares de brasileiros, detentores de razoáveis habilidades fornecidas por seus cinco sentidos, mas que não estudam língua estrangeira nenhuma, instrumento musical nenhum, esporte nenhum, alfabetização nenhuma, três refeições diárias nenhuma, duas escovações dentárias diárias nenhuma, penteada de cabelo ao levantar nenhuma, banhozinho antes de ir olhar TV nenhum, olhar TV nenhum, ir para a cama quando os "Cobertores Fiateci" tocam na TV aquela musiquinha nenhum, e assim por diante. Naturalmente, os políticos que tomaram a liberdade de requisitar o dinheiro que seria aplicado em merenda escolar e seus colegas que requisitaram outros recursos para outras finalidades não se surpreenderiam com meu impressionismo, pois volta-e-meia, assistem aos seminários que apresento no meio acadêmico sobre o conceito de sociedade igualitária.
Seja como for, fiquei pensando no assunto e vieram-me idéias preliminares sobre o tema:
.a. pensei no "Cego Aderaldo", de quem tomei conhecimento de algumas trovas por meio de Ary Toledo
.b. em Luiz Gonzaga (rei do baião) e a canção "Açum preto", que me veio ao conhecimento por meio de Gal Costa. E teria seguido pensando em dromedarismos assemelhados, tivesse o tempo e a habilidade para tal. O fato comprovado é que pensei nesas coisas de Richard Rorty que até hoje deixam-me intrigado ("precisamos pensar em tudo, especialmente o impensável"). E pensei que talvez este seja um tipo de possibilidade de pensarmos em tudo, desenvolvermos o campo de cognição humano. Pensei na humanidade daqui a um milhão de anos, nos 20 mil anos que nos separam dos animais de Lascaux e o que foi feito em 250 de Revolução Industrial e -mais ainda- no que será feito nos próximos 19.750. E aí parti para o exagero: pensei em 10^6 anos, indagando-me -from scratch- se ainda poderemos falar em humanidade.
Será que o guri que tem audição mais refinada do que a de um morcego ensinado é/será humano? Será que um guri refinado voará como os morcegos ou como os guris que voam de asa-delta? Ou como Peter Pan? Ou serão ogros, toscos e bizarros, como o filho de um menino de rua que vi no outro dia atrás do Supermercado Zaffari da Rua Múcio Teixeira?
Dizia eu: "teria seguido pensando" etc., e fui ao Google-Images, como sempre que preparo uma postagem durante esses 200 anos, e investiguei: "Cego Aderaldo", e achei várias fotos do cantador, mas nada mais fiz. Em seguida, busquei "açum preto" e encontrei a foto que credito como de Danilo Schinke (to the best of my knowledge) no siteI:
http://www.flickr.com/photos/daniloschinke/sets/72157603269923216/?page=6. Se sutilezas há na natureza, o bicho acima não é propriamente um açum preto. Nem, claro, o Fotógrafo Danilo Schinke o disse!
Olhei outras fotos, busca-daqui, busca-dali, fui tornando-me mais inquieto, pois aparentemente há um erro na expressão "açum", pois -ainda que a tenha observado em pilhas de entradas no Google-texto- nada há em meus dois dicionários de português (Aurelinho e Aurelião).
Como ao lado deste meu blog, temos o de Sílvio e Ana, especializados em fotografar a natureza e seus pertences, pensei diretaço em falar nele com ele, if you know what i mean, decidi que iria indagar-lhes o que é que o açum preto tem que -dizem- tem um cantar mais triste do que o do rapaz que teve o amor roubado pelo Sr. Luiz Gonzaga, um troço destes, ou vice-versa. Responderei em breve, se o fizer!
DdAB

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