21 dezembro, 2008

Teoria do Valor, Márcia Tíburi e o Banco Central

Dear Mr. Blog Man:
Sinto-me um verdadeiro Mr. Dylan ao escrever "mr. blog man", como o "mr. navigator man" que vi recentemente em um filme que não pode ser declarado 100% fascista. Se não pode, eu é que não vou declará-lo! Seja como for, o que posso declarar é que este negócio de cassino financeiro e mão humana dão o que falar e têm tudo a ver com a teoria do valor trabalho dos economistas clássicos e de Karl Heinrich Marx.
Digo isto à propos do instigante artigo de Marcia Tiburi, professora de filosofia da Unisinos, se me bem lembro, e participante do programa Saia Justa da TV. No Caderno Cultura de Zero Herra (já me explico), às p.4-5, você lerá: "O Aluguel dos Nossos Olhos e Ouvidos". Herra? Sim, pois ao dar a data de ontem printada no combativo jornal, vi que eles erraram (CHVH) novamente. Ao invés de falarem em 20/dez/2008, tomaram a liberdade de falar (diferentemente da capa do edificante caderno de Cultura) em 13/dez/2008, sabidamente um sábado, só que não o sábado que teve lugar no Planeta Terra ontem. Ok, vamos aos fatos, ou melhor, à teoria do valor.
Você já sabe, meu amado blog, o que quer dizer teoria, em minha visão? Digo isto para benefício do eventual leitor que não terá eventualmente lido o que escrevi elsewhere. Se a matriz inversa de Leontief (B) rastreia os requisitos de produção diretos e indiretos então posso dizer que a produção x é dada por Bf, onde f é o vetor da demanda final. Neste caso, posso definir o emprego (trabalho) dos n setores da economia como L = mBf, onde m é uma diagonal de coeficientes de emprego por unidade de produção. Neste caso, estou sustenta uma teoria que diz que o valor da mercadoria (dado pelos elementos de L) do setor i é uma função da quantidade de trabalho socialmente necessária à produção do volume x lá desse setor i mesmo. Podemos rastrear nele (i.e., o elemento do vetor L), por meio dos elementos da matriz B, os requisitos diretos e indiretos de trabalho incorporado nas demais mercadorias que integram o sistema produtivo de que estamos falando.
Ok, e que isto tem de filosófico? Marx era mais filósofo o que o Sr. Henrique Meirelles, claro. Meirelles é mais economista do que Marcia Tiburi. Mas vejamos o que diz Tíburi: "[...] artesanato´[... é a] produção em pequena escala que dificilmente envolve mais-valia." É um bom ponto de começo, especialmente para quem quer entender o que é que gera o valor das mercadorias. Disse o filósofo que V = c + v + m, onde V é o valor da mercadoria i, c é a quantidade de capital constante que ele incorpora, v é a quantidade de capital variável e m é a mais-valia gerada quando (e apenas quando) da venda da mercadoria i. Pois bem, sabemos que, para o total da economia, a soma dos valores é igual à soma dos preços. E que apenas em circunstâncias contingentes é que V = P, ou seja, não existe nenhuma obrigação, nenhuma necessidade da parte do sistema de exibir uma indústria i (produtora da mercadoria i) em gerar, em qualquer momento, um valor igual ao preço.
Para quem gosta de notação vetorial extensiva, imaginando duas mercadorias, estou dizendo que não veremos [p1 p2] = [v1 v2]. Como sabemos, p1=1 e p2=1, ou seja, os preços (medidos em unidades monetárias) são normalizados no modelo de Leontief, de sorte que teríamos que apor à igualdade uma equação de normalização também para os valores. Ainda assim, p1 ~= v1, ou seja, pi não é igual a v1. Nem, torna-se mais claro, p2 = v2.
E por que a filósofa Tíburi falou aquele troço que escrevi acima? Creio que é porque ela não estudou com o Prof. André Contri, que me ensinou que o problema da transformação está resolvido precisamente na seção final do capítulo 1 do v. 1 da opos magnum do filósofo de Trier. Ou seja, ensinou O Gringo: quando tu qué falá em produção capitalista, tu te esquece que o Velho fala em valor algumas vezes, pois ele está dando como assentado que os preços já se transformaram em valores e, neste caso, falar em valor ou em preço tem uma equação de correspondência que não dá xabu. Então (esqueçamos, coisa que nem preciso, pois nunca entendi, o que diz Ian Steedman) a soma dos preços é mesmo igual à soma dos valores e tá acabado. Não há mais nada a discutir sobre isto.
E a roleta? Mostra o dinheiro circulando em sua maior desenvoltura: recompensando agentes detentores de diferentes graus de amor-aversão ao risco. Quer ter quase certeza de ganhar? Aposta só nos pares. Quer ganhar montes? Aposta no vermelho 23, por exemplo. Mesmo quem não faz ginástica todo dia pode ganhar 33 vezes (é 33?) o capital empregado.
E o dinheiro? Diz o filósofo de Goiás (Mr. Meirelles) que o valor é regulado pela oferta monetária regulada pelos bancos criadores de moeda. Teoria da regulação? Não. Apenas uma constatação derivada da equação quantitativa da moeda. Não há teoria a respeito. Qual o valor do valor adicionado? Já falei isto, numa bolachinha de chopp do Bar Restaurante Pedrini: Y = MV/P. Se fizermos V/P = 1, então tá na cara que o Mr. Meirelles tem razão e que os deputados da oposição e os da situação são tudo uns bobão ladrão.
Quer estourar as condições de estabilidade macroeconômica do sistema? Então deixa a demanda agregada crescer a uma taxa maior do que a taxa de crescimento do produto potencial, ou seja, da NAIRU, a non-acelerating inflation rate of unemployment (traduzindo: a taxa de inflação que não é aceleradora da infiação).
E as mãos humanas que estão lá no cassino financeiro? Elas não negam que é o trabalho humano que gera o valor, mas tampouco afirmam que a mais-valia é gerada na empresa. A mais-valia, como Marx há mais tempo e eu há instantes sugerimos, só é gerada quando a mercadoria dá seu salto mortal. E ela só dá seu salto mortal quando todas as demais mercadorias também dão os seus. Isto significa que, como ele sugeriu há mais tempo e eu sugiro apenas agora, nenhum trabalhador é explorado individualmente, mas existe uma classe -a capitalista- que explora outra -a classe trabalhadora é que é explorada.
E isto implica necessariamente que deveremos criar um programa de renda básica? Claro que significa! R$ 1.000 por cada suinocultor, digo, por cada indivíduo economicamente ativo tomam 40% do produto interno bruto. Se tudo isto for jogado em consumo, ainda restam 60% para o investimento, o consumo do governo, o saldo das transações correntes e mais consumo das famílias. Tu tá lembrando que eu tenho na cabeça que P=Y=D e que D=C+I+G+(X-M), não é isto?
Se tu não quer me ajudar a criar um novo partido de esquerda, eleger um vereadorzinho, depois outro, depois um prefeitinho etc. (tout dejà vu), fazer coalizões partidárias etc., tomar o poder e implantar o projeto da Brigada Ambiental Mundial é outra coisa, mas o que tu não pode me contrariá é a aritmética: sobraram 60% para o Resto da Despesa. E a Sra. Vanderléia de Tal já me disse que não iria gastar todos os seus R$ 1.000, aplicando R$12,00 mensais em ações do Bank of Boston, pois sempre admirou o estilo administrativo do filósofo que hoje preside o Banco Central do Brasil.
Páro por ora e amanhã sigo falando naquele troço do Marx de caçar de manhã, pescar de tarde e criticar de noite?
DdAB