08 outubro, 2009

Ladrão de São Francisco

Querido Blog:
Quando me decidi por fazer esta postagem, procurei no Google Images " + " e outras assertivas booleanas. Fixei-me neste "prá todo pecado há perdão" refletido por J. Gil no que penso ser uma alga, um líquen, uma pteridófila, sei lá. Nada achei de muito interessante. Fiquei em " + ", página em que, depois de esfalfar-me procurando, ofereceu-me a bactéria, o fungo, o angiosperma, sei lá, acima. Uma vez que esta postagem já começa estranha, ela recebe o título de "Vida Pessoal". Também chamei-a de "Economia Política", pois -como veremos em instantes- saltarei para lucubrações relativas à filosofia política e filosofia moral, temas que ignoro ainda mais do que a botânica elementar. Por fim, "Escritos" serve apenas para individualizar a beleza vitoriana da Amazônia (ou era um jardinzinho baiano?) e levar-me a refletir sobre o caráter contingente dos planetas, e tudo o mais.

Ou seja, também preciso sugerir que "fazer samba não é contar piada", o que me jogaria nos "Escritos" e permito-me evocar -dados os desdobramentos para minha filosofia política- uma piadinha de salão muito do herege (fonte: Zero Hora de one of these days). A professora indagou a seu tradicional Joãozinho se ele rezava antes das refeições, ao que ele respondeu: "Não é necessário, professora, minha mãe é excelente cozinheira." Seja como for, minha postagem de hoje começa com as reflexões acima, segue com a piada e culmina com o que considero uma piada. Diz a p.48 de Zero Hora de hoje que -em minha redação- um ladrão roubou uma cruz da igreja de São Francisco de Assis, em Mariana-MG/PT (ou seja, Minas Gerais, Brasil, pois -como sabemos- na aviação PT é Brasil, mas na política já passamos para a ladroagem). Depis de 60 anos do desaparecimento, esta peça em madeira, de cerca de 15cm, foi recebida dentro de uma carta simples. O Mister Antônio Pacheco Filho, membro da Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco de Assis -administrador da igreja- portador de uma autoridade que o investe quem se investe de autoridade, à la Joaozinho, mutatis mutandis, declarou: "A gente fica muito satisfeito pelo arrependimento e certamente Deus perdoará o autor do furto."

Claro que minha formação como criança não-católica (há milhares de anos) não acha muito pesado o pecado (venial?) de "tomar seu santo nome em vão". Ora, blasfêmia é um neguinho afirmando que os deuses perdoarão contingências planetárias. Se o Antônio tem o nome grafado com a ortografia pré-1971 (?), podemos até pensar que ele nasceu em 1943 (ano da outra onomatopeia ortográfica ditatorial). Se ele nasceu em 1943, terá ele lá seus mais de 60 anos. Se assim for, poderemos até pensar que a estatueta foi afanada precisamente nos tempos em que ele encarava lá seus estudos para sua primeira comunhão. Ou seja, se o Detetive Aranha (ver "Bolinha", vários números) estivesse assistindo o caso, ele poderia incriminar algum colega de culto do Antônio como ladrão que roubou ladrão e, mais ainda, que gasta 60 anos para arrepender-se.

Mas a postagem de filosofia moral é esta questão de que prá todo pecado há perdão. Na condição de especialista em educação de adultos (e acho que ensinei mesmo o que é elasticidade preço da procura para alguns efebos), esposo a ideia tão eficiente para o treinamento de animais de "recompensa e punição". Efebo que não foi punido manteve mau comportamento e efebo que não foi recompensado abandonou o bom comportamento. Isto é ética, isto é filosofia moral, como devo agir (qu'est ce que je peu faire?, disse Truffaud, ou era Paulette Goddard?), Editora Unisinos, essas coisas. Primeiro, se existem deuses, haverá um que poderá ser chamado de Deus. Se existe apenas um, precisaríamos saber como é que ele (ou qualquer dos eventuais outros) comunicou-se com o Antônio. Vinicius de Moraes já pediu atestado com firma reconhecida, é o Brasil. Eu contento-me com uma liminar. Se existe, de qualquer jeito, um ou mais deus/deuses, ainda assim, precisamos saber se ele se comunicou mesmo com o Antônio, ou isto é apenas charlatanice do curador da estátua.

Este troço de pecado com perdão impede que o princípio da gradação das penas seja aplicado, o que é um absurdo. Neguinho que não faz nada pega zero anos de cadeia. Logo neguinho que apronta alguma deve pegar um tempo de cadeia semi-positivo, ou seja, maior do que zero. Em casos contrários, seremos forçados a concluir que está "tudo certo como dois e dois são cinco."

DdAB

2 comentários:

Unknown disse...

"Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva"

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, Prof. Ellahe: uma das facetas das frases hagiográficas que me amalucam é uma certa contradição com as premissas. se bem entendi ou foi o São Francisco de Asis (campanha) ou o de Paula (serra) que andou falando esse negócio de achar que seu senhor não estava em sua morada. disque o senhor estava em todas as moradas simultaneamente. como Aleph, se houver mesmo um ponto que reúna todos os demais pontos, então não podemos pensar na hipótese alternativa à salvação das almas. problemas assemelhados levaram Borges a pleitear o prêmio nobel, Arrow a ganhá-lo e Obama vê-lo ungido a si. no caso, não confundamos unguento com aguento, ou melhor, com certos unguentos, a tudo aguento.
DdAB