Querido diário:
Nunca esquecendo o velho ditado latino:
Quid mensurare incipit errare incipit.
Ou seja, quando se começa a medir, ato contínuo, começa-se a errar. Isto significa que quem não se propõe a mensurar suas variáveis:
.a. talvez nem saiba bem quem é constante, quem é parâmetro e quem é variável propriamente
.b. talvez fique com a sensação de que não erra nunca, o que é a maior ameaça ao cérebro de um investigador.
Tenho isto em mente ao pensar em estilizar com o modelo IS-LM:
.a. claro que era IS-LM, progrediu a IS-LM-BP, reduziu-se para o corte da curva LM e hoje anda por aí, desafiando cérebros a fazerem algo mais útil (e assim será, ad eternum)
.b. a alternativa é estilizar com outro modelo (qual?) ou aceitar que os novos modelos, inclusive os de equilíbrio geral computável, são sucessores daquele equilíbrio geral que já foi chamado de Hicks-Hansen
.c. o origami macroeconômico permite-nos ver que embora haja equilíbrio ex post em todos os mercados, um pequeno desvio pode desarranjar todas as curvas ex ante.
Em minha visão, existem tão grandes incompatibilidades entre os três preços macroeconômicos formadores do nível geral de preços P (nomeadamente, juros i, câmbio c e salários w) que me parece que o equilíbrio planejado encontra-se muito distante do alcance. Muitos se orgulham de que o salário mínimo ascendeu a US$ 300 mensais, mas isto só ocorrer porque a taxa de câmbio está selvagemente subestimada.
A verdade é que, no capitalismo, o vetor [P i c w] é que requer o
ajuste finíssimo de sorte a ser não abalado com facilidade, ou seja, ter certa estabilidade com relação aos choques externos. Podemos figurar isto
num modelo IS-LM em que mesmo que imaginemos equilíbrio (ex ante) em um ano,
quando qualquer abalo ocorre, as curvas ex ante se deslocam tanto que não mais
podemos conceber nova harmonização que gere nova posição de equilíbrio
simultâneo.
DdAB
Imagem: daqui.
31 março, 2014
28 março, 2014
Capital dos Carta: Irã, Brasil e Alemanha
Querido diário:
A Carta Capital datada de 25/mar/2014 tem nas p.30-37 sua reportagem de capa assinada por Gianni Carta, em minha opinião um repórter qualidade "Carta" (ver aqui postagem com o elucidativo título de "A Carta que Bebe", era o número 695). Estamos agora no ano XX e número 792 da revista de R$ 10,90. E que lemos na p.32?
O próprio aiatolá Khamenei observou, em novembro, como a tomada da embaixada [americana em 1979] foi necessária para pôr um fim à espionagem americana, capaz de incomodar também a líderes de países como Brasil e Alemanha.
Ele fala da invasão da embaixada americana em Teerã, que durou de 4/nov/1979 a 20/jan/1980. O presidente da república do Brasil era o general Figueiredo, líder do Brasil e lacaio de Moscow. Nos Estados Unidos, o líder e lacaio de Moscow era Jimmy Carter. E na Alemanha? O líder era o perigoso anti-americano Helmut Schmidt, que apoiou (só por farra...) a instalação de mísseis nucleares made in USA na Europa.
"So what?", diria o aiatolá. Mas o que eu digo é que o sr. Carta cometeu um erro do tipo non sequitur. A segunda parte da sentença desloca-se da primeira por 35 anos! Em novembro de 2013 ocorreram coisas que nada têm a ver com a invasão da embaixada americana. Por contraste, por aquela época, ou seja, 35 anos depois daquela tragédia diplomática, o governo americano chegou mesmo a irritar a dupla Dilma-Ângela por ter recebido denúncias de espionagem dos países amigos. Quem viu aquele "A Carta que Bebe" pode desconfiar que Gianni não queria dizer o que saiu impresso. Ou ele viajou novamente para um futuro que dará razão a este tipo de associação? Só faltou, nesta postagem, o marcador "Besteirol".
DdAB
Um bebê que bebe na carta? Aqui.
A Carta Capital datada de 25/mar/2014 tem nas p.30-37 sua reportagem de capa assinada por Gianni Carta, em minha opinião um repórter qualidade "Carta" (ver aqui postagem com o elucidativo título de "A Carta que Bebe", era o número 695). Estamos agora no ano XX e número 792 da revista de R$ 10,90. E que lemos na p.32?
O próprio aiatolá Khamenei observou, em novembro, como a tomada da embaixada [americana em 1979] foi necessária para pôr um fim à espionagem americana, capaz de incomodar também a líderes de países como Brasil e Alemanha.
Ele fala da invasão da embaixada americana em Teerã, que durou de 4/nov/1979 a 20/jan/1980. O presidente da república do Brasil era o general Figueiredo, líder do Brasil e lacaio de Moscow. Nos Estados Unidos, o líder e lacaio de Moscow era Jimmy Carter. E na Alemanha? O líder era o perigoso anti-americano Helmut Schmidt, que apoiou (só por farra...) a instalação de mísseis nucleares made in USA na Europa.
"So what?", diria o aiatolá. Mas o que eu digo é que o sr. Carta cometeu um erro do tipo non sequitur. A segunda parte da sentença desloca-se da primeira por 35 anos! Em novembro de 2013 ocorreram coisas que nada têm a ver com a invasão da embaixada americana. Por contraste, por aquela época, ou seja, 35 anos depois daquela tragédia diplomática, o governo americano chegou mesmo a irritar a dupla Dilma-Ângela por ter recebido denúncias de espionagem dos países amigos. Quem viu aquele "A Carta que Bebe" pode desconfiar que Gianni não queria dizer o que saiu impresso. Ou ele viajou novamente para um futuro que dará razão a este tipo de associação? Só faltou, nesta postagem, o marcador "Besteirol".
DdAB
Um bebê que bebe na carta? Aqui.
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Economia Política
27 março, 2014
Sinestesia Brasileira: o cheiro da lei
Querido diário:
O jornal Zero Hora de hoje, minha sina, tem um "informe comercial" sobre logística. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul deu uma entrevista. Em letras de chamada, leio: "Em São Paulo, foi aprovada uma lei que caça a inscrição estadual do receptador de carga roubada. É muito comum cargas roubadas sendo vendidas." De imediato, pensei: "e não aprende a carga?"
Não pude deixar de esboçar um sorrisinho de mofa. Uma lei estadual para proibir as vendas de cargas roubadas? Apenas para São Paulo? Então, se o senador José Sarney quiser roubar cargas lá no Amapá, ele pode? E Jader Barbalho, no Pará? E eu, pecado dos pecados, aqui no estado que abriga o diligente sindicato patronal?
Qual a razão de meu já afamado e proverbial sorrisinho de mofa? Primeiro, pensei nos escritos políticos de Otto Maria Carpeau (aqui), um severo crítico do regime militar. A respeito a espantosa quantidade de atos legislativos protagonizados por aquela sanha redacional, falava em "churrio legislativo". Nada me parece mais a isto do que a sanha contemporânea que, atrevo-me a pensar, deixaria no chinelo a daqueles tempos. Nome de estrada? Virou lei. Pode ou não usar armas? Virou plebiscito. Queremos república ou monarquia? Outro. O senado? Só fechando. A câmara dos deputados? Só com ostracismo a seus eleitos.
DdAB
A imagem é daqui.
O jornal Zero Hora de hoje, minha sina, tem um "informe comercial" sobre logística. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul deu uma entrevista. Em letras de chamada, leio: "Em São Paulo, foi aprovada uma lei que caça a inscrição estadual do receptador de carga roubada. É muito comum cargas roubadas sendo vendidas." De imediato, pensei: "e não aprende a carga?"
Não pude deixar de esboçar um sorrisinho de mofa. Uma lei estadual para proibir as vendas de cargas roubadas? Apenas para São Paulo? Então, se o senador José Sarney quiser roubar cargas lá no Amapá, ele pode? E Jader Barbalho, no Pará? E eu, pecado dos pecados, aqui no estado que abriga o diligente sindicato patronal?
Qual a razão de meu já afamado e proverbial sorrisinho de mofa? Primeiro, pensei nos escritos políticos de Otto Maria Carpeau (aqui), um severo crítico do regime militar. A respeito a espantosa quantidade de atos legislativos protagonizados por aquela sanha redacional, falava em "churrio legislativo". Nada me parece mais a isto do que a sanha contemporânea que, atrevo-me a pensar, deixaria no chinelo a daqueles tempos. Nome de estrada? Virou lei. Pode ou não usar armas? Virou plebiscito. Queremos república ou monarquia? Outro. O senado? Só fechando. A câmara dos deputados? Só com ostracismo a seus eleitos.
DdAB
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Economia Política
26 março, 2014
Raymundo Faoro e a Escolha Racional Machadiana
Querido blog:
Tenho um objetivo na vida, nomeadamente, terminar de ler o livro:
FAORO, Raymundo (1976) Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. 2ed. São Paulo: Nacional.
E hoje quero falar da página 198 deste livro. Para bem entendermos o que será digitado em seguida, precisamos saber o que é "correspondente". Diz o aurelião em sua quinta acepção: "Pessoa que trata de negócios de outra(s) fora da terra desta(s)." Pois bem (naquele digitado 'suprindo', lia-se o indigidado 'suprimindo', que corrigi, como indica o bom-tom; no segundo, tudo de bom):
Mas o correspondente não se limitava às ligações com o agricultor, vendia em loja aberta e negociava com os comerciantes do interior, suprindo-lhes os estabelecimentos mediante suprimento de safras futuras, com juros anuais que variavam entre 7 e 17%, ou, em certas províncias, de 18 a 24%. De qualquer maneira, o juro anual de 7% era considerado não só barato, mas privilegiado. A regra, para os empréstimos bancários, seria de 9%, se realizado diretamente entre o estabelecimento e o fazendeiro; se um intermediário correspondente ou comissário - atravancasse a operação, o encarecimento atingiria mais 2 ou 3%. Mas o problema não era só o juro - esta seria a hipótese normal, se suficiente a safra, pelo preço ou pelo volume, para saldar a dívida. Se ficasse um resíduo, as amortizações cumuladas aos juros punham em risco a estabilidade e o equilíbrio financeiro da fazenda, dada sua produtividade não alta (10 a 15% ao ano). Daí a bancarrota, o desastre, a execução hipotecária - porque a dívida, se excedente à rotina entre safras e avultada ou extraordinária era, em regra, hipotecariamente garantida, na composição da qual pesava a escravatura.
Ele -Faoro- cita como sua fonte J. Nabuco, O abolicionismo, op. cit., pág. 163. Op. cit.? Sim: São Paulo, Ipê, 1949. Não tenho muito que falar. Desejo apenas registrar que os juros podem cair no máximo 100% e podem subir infinito por cento. Mas os mais altos eram de até 24%.
Mesmo com pouco a falar, não posso deixar de lado o mais estrondoso elogio ao conceito de equilíbrio: deveria manter-se certo "equilíbrio financeiro" entre a taxa de juros e a produtividade da fazenda. E se não houvesse? O correspondente iria crau na terrinha.
DdAB
P.S.: aqui postei alguma coisa sobre ler milhares de livros ao mesmo tempo. Menos de um ano atrás, nem registrei este Faoro. O certo é que comecei a lê-lo em 21/set/2013. E quando o terminarei?
Imagem: aqui. Lindíssima postagem sobre os 1.001 livros e sem esconder seu caráter crítico, pois denuncia a ausência de Saramago (Ensaio sobre a Cegueira). Então já são 1.002, ok?
Tenho um objetivo na vida, nomeadamente, terminar de ler o livro:
FAORO, Raymundo (1976) Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. 2ed. São Paulo: Nacional.
Em outra postagem (já fiz meia dúzia carregando-lhe o nome ao cyberespaço), terei dito que ele escreve ainda melhor do que Machado de Assis, cuja obra é o objeto de seus ilustríssimos comentários e um estilo de servir de exemplo no curso de introdução à língua portuguesa do Brasil.
Mas o correspondente não se limitava às ligações com o agricultor, vendia em loja aberta e negociava com os comerciantes do interior, suprindo-lhes os estabelecimentos mediante suprimento de safras futuras, com juros anuais que variavam entre 7 e 17%, ou, em certas províncias, de 18 a 24%. De qualquer maneira, o juro anual de 7% era considerado não só barato, mas privilegiado. A regra, para os empréstimos bancários, seria de 9%, se realizado diretamente entre o estabelecimento e o fazendeiro; se um intermediário correspondente ou comissário - atravancasse a operação, o encarecimento atingiria mais 2 ou 3%. Mas o problema não era só o juro - esta seria a hipótese normal, se suficiente a safra, pelo preço ou pelo volume, para saldar a dívida. Se ficasse um resíduo, as amortizações cumuladas aos juros punham em risco a estabilidade e o equilíbrio financeiro da fazenda, dada sua produtividade não alta (10 a 15% ao ano). Daí a bancarrota, o desastre, a execução hipotecária - porque a dívida, se excedente à rotina entre safras e avultada ou extraordinária era, em regra, hipotecariamente garantida, na composição da qual pesava a escravatura.
Ele -Faoro- cita como sua fonte J. Nabuco, O abolicionismo, op. cit., pág. 163. Op. cit.? Sim: São Paulo, Ipê, 1949. Não tenho muito que falar. Desejo apenas registrar que os juros podem cair no máximo 100% e podem subir infinito por cento. Mas os mais altos eram de até 24%.
Mesmo com pouco a falar, não posso deixar de lado o mais estrondoso elogio ao conceito de equilíbrio: deveria manter-se certo "equilíbrio financeiro" entre a taxa de juros e a produtividade da fazenda. E se não houvesse? O correspondente iria crau na terrinha.
DdAB
P.S.: aqui postei alguma coisa sobre ler milhares de livros ao mesmo tempo. Menos de um ano atrás, nem registrei este Faoro. O certo é que comecei a lê-lo em 21/set/2013. E quando o terminarei?
Imagem: aqui. Lindíssima postagem sobre os 1.001 livros e sem esconder seu caráter crítico, pois denuncia a ausência de Saramago (Ensaio sobre a Cegueira). Então já são 1.002, ok?
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TER Equilíbrio
23 março, 2014
Balanço do Planeta
Senhoras e senhores:
Não estamos falando de um relatório verde, ainda que verdejantes porvires esperem quem vive neste mavioso Planeta 23. Por exemplo, foi explicado em plena sala de aula que as mudanças comportamentais no planeta Terra são muito complicadas. Por isto, meu caso de, para melhorar a forma física, ter-me deslocado a outro planeta, este caracterizando-se por dias de apenas 23 horas. Com o tempo, a gente se habitua a tentar viver as 24 horas canônicas em 23. A insofismável perda de uma hora provocada pela mudança é compensada, quase que invariavelmente, pela sensação de bem-estar (ou dinheiro) que acompanha os exercícios físicos realizados durante uma hora por dia.
Por isto é que a maior santa do Planeta 23 é mesmo a sra. Olga Benário (aqui e aqui) que, ao chegar a sua prisão alemã, recusou-se a declarar-se morta e tentou criar motivação na moçada que iria morrer com a tentativa de imaginarem uma vida saudável, com canções, recitais e exercícios físicos. Onde aprendi isto? No livro, primeira edição, de Fernando Morais citado nos dois links dos parênteses. Qual é a lição? Mesmo sob condições amplamente desfavoráveis, alguma mudança instantânea é possível. Creio que, no caso, morale mais elevado facilitaria a reação à polícia nazista e a montagem de planos de fuga. O que não imagino é que seria possível ter acontecido o que a história registra.
DdAB
Imagem aqui.
Não estamos falando de um relatório verde, ainda que verdejantes porvires esperem quem vive neste mavioso Planeta 23. Por exemplo, foi explicado em plena sala de aula que as mudanças comportamentais no planeta Terra são muito complicadas. Por isto, meu caso de, para melhorar a forma física, ter-me deslocado a outro planeta, este caracterizando-se por dias de apenas 23 horas. Com o tempo, a gente se habitua a tentar viver as 24 horas canônicas em 23. A insofismável perda de uma hora provocada pela mudança é compensada, quase que invariavelmente, pela sensação de bem-estar (ou dinheiro) que acompanha os exercícios físicos realizados durante uma hora por dia.
Por isto é que a maior santa do Planeta 23 é mesmo a sra. Olga Benário (aqui e aqui) que, ao chegar a sua prisão alemã, recusou-se a declarar-se morta e tentou criar motivação na moçada que iria morrer com a tentativa de imaginarem uma vida saudável, com canções, recitais e exercícios físicos. Onde aprendi isto? No livro, primeira edição, de Fernando Morais citado nos dois links dos parênteses. Qual é a lição? Mesmo sob condições amplamente desfavoráveis, alguma mudança instantânea é possível. Creio que, no caso, morale mais elevado facilitaria a reação à polícia nazista e a montagem de planos de fuga. O que não imagino é que seria possível ter acontecido o que a história registra.
DdAB
Imagem aqui.
22 março, 2014
'Tá Tudo Errado'
Na página 12 do exemplar de ontem do jornal que leio diuturnamente há um artigo de convidados com o título que usei para esta postagem, assinado por Maria Celeste Leitzke, uma pessoa a cujas ideias, de imediado, dediquei explosiva aprovação! Seu tema é o contraste notado em matérias do próprio jornal entre o tratamento dado pelo governo aos senadores da república e um cidadão que espera por uma cirurgia há um ano.
Este tipo de contraste é mais que frequente, é diuturno, diário, instantâneo. O Brasil vive este descalabro entre as mordomias de governantes e a penúria de mais de 70% da população, seja em cuidados médicos, segurança pública, educação, transporte urbano, moradia, justiça, e por aí vai. Que dimensão da vida nacional funciona regularmente? Não acho que exista alguma!
E como é que a sra. Leitzke termina seu fulminante artigo?
Para mim, as reformas devem iniciar com a instituição do parlamentarismo e da possibilidade de ambos, executivo (o primeiro ministro) e legislativo (deputados, fechando-se o senado) extinguirem o governo, convocando novas eleições em que os impasses seriam encaminhados.
DdAB
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Economia Política
20 março, 2014
O Lacre da Placa do Carro: o Detran e a privatização
Senhoras e senhores:
Quem já andou olhando se o lacre da placa de seu dileto automóvel está quebrado? Quem já o fez mesmo ao comprar a viatura nova ou de segunda mão? Quem fez fez bem e quem não fez deve fazê-lo antes de qualquer dá lá aquela palha. Em compensação, há uma longa reportagem anunciada na capa e desenvolvida na p. 32 de Zero Hora de hoje.
Uma dentista (não era uma senhora, uma brasileira, uma umbandista, uma pessoa?) andava, na noite, em seu carro. Caiu na Balada Segura (necessária repressão ao drink-and-drive) e comprovou-se que não bebera. Mas a balada segura não se atém ao bafo. Olharam de tudo no carro. E viram irregularidades, como uma das passageiras do banco traseiro não portar o cinto de segurança. E aplicaram multas. Mas viram o lacre da placa traseira violado. Pronto: prenderam o carro.
Pensei: tá certo que prendam um carro de lacre violado. Ou melhor, dependendo dos fatos, poderia haver mais julgamento pelo oficial autuante e menos burocracia. Por exemplo, se a, vá lá, dentista é a proprietária, se ela é ela mesma, essas coisas, se o prontuário mostra que ela não andou assaltando bancos, afanando o INSS, ganhando dinheiro para financiar campanha política, fazendo caixa 2, pedindo indexação dos vencimentos dos juízes e deputados, se ela, em síntese, é boa cidadã, até que poderiam ater-se à multa e a um bilhetinho (poderia até ser mensagem do celular) em que ela se comprometeria a ir, no dia seguinte, regularizar a causa da encrenca.
Lego engano: o carro foi mesmo apreendido e a dentista (eu dissera 'vá lá', expressão que intuo haver entrado na moda há algumas semanas) e seu pai estão há uma semana lutando para reaver o meio de extermínio de massas brasileiro.
Costumo dizer que o governo é uma droga, cheio de falhas, quase tantas quanto o mercado ou a comunidade... Não sou desesperançoso, ao contrário, acho que nós -os bonzinhos do Planeta 23 e seus leitores- é que vamos dar o tom para a construção do mundo futuro. Mas não posso cessar de lamentar que aquele negócio chamado Detran é um ninho de corrupção e incompetência. Era privado, passou a ser público, ou misto. Não há nada mais embaraçoso do que um governo dizer-se controlando tal descalabro administrativo.
A todas estas, minha conclusão é que -dada a segunda lei da termodinâmica- é dificílimo apresentarmos receitas para mudar o mundo. Eu sigo na minha: três horas de ginástica, três horas de trabalho e três horas de ação comunitária. E quer mais? A reforma política, claro. E a reforma tributária. Sou pelas reformas!
DdAB
Imagem daqui. Nunca vi, vou lá. Já voltei. É o viomundo.com.br. Atraiu-me a matéria sobre as reformas que estavam na parada quando os militares fizeram sua parada em 1964. Preciso olhar ainda com mais vagar, o que me requer um tempo que não está disponível precisamente neste instante em que estou pingando o ponto final.
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Economia Política
19 março, 2014
Os Chips: batatas x silício
Senhoras e senhores:
No outro dia, vi uns dados estarrecedores. Tão estupefacientes, na verdade, que queimei a fonte para que ninguém possa realmente pensar que isto é verdade. Em parte, estou defendendo a reputação daqueles que dizem que o conceito de indústria tem alguma relevância para a discussão sobre a desindustrialização. Ou seja, por burros que sejam, merecem uma defesa eivada de ironia.
Senão vejamos. Pringles da Kellog (marca conhecidíssima no Brasil, by the way e vendida a esta pela Procter & Gamble). Gastou US$ 100 milhões em marketing, passando a 1,4 bilhão em 2007.
O verdadeiro problema é que a negadinha não percebeu que o estonteante aumento no marketing (e quem poderia dizer que é socialmente indesejável?) não foi produto da indústria de alimentos, mas dos serviços prestados às empresas. O verdadeiro problema é que a turma que preza a produção industrial não consegue pensar na economia aberta. O mais verdadeiro problema ainda é quem consome e não quem produz. Meu proverbial argumento para este último caso é o confronto entre uma fábrica de aviões a jato e um supermercado em Sant'Ana do Livramento, progressista município na borda do Uruguay (o país, não o rio). O espantosamente verdadeiro problema é a questão da convivência econômica com a China: sua taxa de câmbio artificial e seu dumping social não permitem dizermos que eles praticam fair trade. Sua entrada para a Organização Internacional do Comércio foi um engodo, aliás, a esta organização é -elle même- um engodo!
DdAB
Imagem daqui. Boa homenagem aos Rolling Stones, à indústria de alimentos e, claro, seu envoltório do setor serviços. Nomeadamente, a banda de rock e toda a publicidade que envolve um desses chips. Emprego e renda, como dizem aqueles que não aprenderam, no primeiro semestre da faculdade, a diferença entre custo social e custo privado, entre as virtudes de ganhos de produtividade com a maldição de preços escorchantes.
P.S.: aditado às 9h20min de 20/mar/2014: reli a postagem e estou insatisfeito com dois aspectos. O primeiro é que não citei o ano daqueles 100 milhões gastos em publicidade. O segundo é que não citei a fonte de todos os dados. E agora não lembro! De um deles, apenas de um deles. O outro é a Wikipedia. Olhando-a agora vejo que o faturamento atual é de 1,4 bilhão de dólares, o que faz aqueles 1,4 bilhões uma cifra completamente deslocada do bom-senso.
P.S.S.: isto não elimina meu ponto: haverá um estrondoso aumento nos gastos em publicidade, haverá tendência mundial a fazer com que os serviços prestados às empresas cresçam mais do que a produção de bens pelas indústrias. Há um problema de classificação escondido, ou melhor, não detectado por muitos defensores do crescimento da indústria. É o caso: uns querem o crescimento dos chips de silício, quando o que cresce é a propaganda dos chips de batata.
P.S.: aditado às 9h20min de 20/mar/2014: reli a postagem e estou insatisfeito com dois aspectos. O primeiro é que não citei o ano daqueles 100 milhões gastos em publicidade. O segundo é que não citei a fonte de todos os dados. E agora não lembro! De um deles, apenas de um deles. O outro é a Wikipedia. Olhando-a agora vejo que o faturamento atual é de 1,4 bilhão de dólares, o que faz aqueles 1,4 bilhões uma cifra completamente deslocada do bom-senso.
P.S.S.: isto não elimina meu ponto: haverá um estrondoso aumento nos gastos em publicidade, haverá tendência mundial a fazer com que os serviços prestados às empresas cresçam mais do que a produção de bens pelas indústrias. Há um problema de classificação escondido, ou melhor, não detectado por muitos defensores do crescimento da indústria. É o caso: uns querem o crescimento dos chips de silício, quando o que cresce é a propaganda dos chips de batata.
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Economia Política
18 março, 2014
Preços Relativos e Planejamento
Senhoras e senhores:
Tenho, nos últimos anos, assumido com triste entusiasmo a noção de falhas de governo, ou seja, o nepotismo (os CCs), o tráfico de influência (o logrolling americano) as propinas, tanta coisa. E há muitos anos venho pensando no que seria mais edificante para a nação: distribuir gasolina ou distribuir comida. Uma vez que parece que a fome foi domesticada, devemos mudar a imagem para distribuir educação.
Mas não sou contra o planejamento indicativo, ao contrário. Ainda assim, vejo enormes dificuldades em se lidar com os preços relativos. Qual é a importância dos preços relativos no planejamento? Talvez se possa, usando um modelo de equilíbrio geral computável, determinar, mais ou menos, os impactos de investimentos públicos planejados, por exemplo, uma rede brasileira de túneis, sobre os preços relativos dos transportes de mercadorias, ou dos seguros sobre trens, ou do preço da alface. E talvez não se possa.
Quero dizer: em um planejamento público originário de uma sociedade com representação política decente e um orçamento público ativo, no final das contas, os preços relativos presentes e futuros não terão papel tão ativo na alocação dos recursos. O filtro do faz/não faz, do custo/benefício será mesmo muito mais político do que econômico (tecnocrático?).
E que fazer em um país como o Brasil contemporâneo em que a classe política (inclusive os milionários do poder judiciário) sequestrou o aparelho governamental para presentear-se com todo o tipo de benesse? Como quebrar este sistema político sem atropelar a ordem institucional? Acho que este foi o fracasso do Governo Dilma. Não esqueçamos que, há quatro anos, eu falava em chapa Serra-Dilma, ou chapa branca.
DdAB
Imagem de cá.
P.S.: acrescentado às 22h19min de 19/mar/2014: um evolucionista radical negaria a necessidade de políticas públicas. Mas, ao negar o planejamento, como se faria a coordenação de atividades intergeracionais, como a catedral de Barcelona ou as viagens a Marte.
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Economia Política
16 março, 2014
Escrachos Preditivos
Senhoras e senhores:
Não falei? Olha aqui:
[Dilma] orgulhou-se da coalizão de dez partidos políticos que a levaram ao poder. Eu me indago se haverá outros atraídos pela retidão de suas ofertas de vantagens e se os atuais acompanhá-la-ão até o final de seu mandato. Há um problema interessante nesta questão, sobre o momento adequado de um partido como o PSB -vencedor inequívoco- com um nome do porte de Eduardo Campos, deixar claro que pleiteia mais do butim do que lhe está reservado. Como tal, qual o momento adequado para sair do governo, tornar-se oposição e lançar-se candidato à sucessão. Não pode ser na véspera da eleição, mas tampouco poderá ser no próximo dia 2 de janeiro de 2011, claro. A backard induction terá lá uma equação que poderá ajudar-nos a prever o momento propício. Talvez uma mistura de popularidade do governo Dilma com a estimativa subjetiva do sucesso de negociações com o epicentro do projeto sobre quem a sucederá. Já referi que li na Carta Capital o anúncio de um partido de centro-esquerda liderado pela dupla vencedora Aécio-Eduardo.
Postei isto em
http://19duilio47.blogspot.com.br/2010/11/as-eleicao-final-definitivo.html
ou seja, no dia 1st/nov/2010.
Que posso dizer hoje? Aécio-Eduardo? Parece que errei o cravo, mas a ferradura corre pelos campos, isto é, Eduardo Cunha!
Só podemos ficar pensando em qual a ordem das reformas de salvação nacional da política do jaez deste Eduardo (e talvez também do outro, claro):
.a. reforma política
.b. reforma do judiciário
E apenas assim é que voltaremos a sorrir.
Não falei? Olha aqui:
[Dilma] orgulhou-se da coalizão de dez partidos políticos que a levaram ao poder. Eu me indago se haverá outros atraídos pela retidão de suas ofertas de vantagens e se os atuais acompanhá-la-ão até o final de seu mandato. Há um problema interessante nesta questão, sobre o momento adequado de um partido como o PSB -vencedor inequívoco- com um nome do porte de Eduardo Campos, deixar claro que pleiteia mais do butim do que lhe está reservado. Como tal, qual o momento adequado para sair do governo, tornar-se oposição e lançar-se candidato à sucessão. Não pode ser na véspera da eleição, mas tampouco poderá ser no próximo dia 2 de janeiro de 2011, claro. A backard induction terá lá uma equação que poderá ajudar-nos a prever o momento propício. Talvez uma mistura de popularidade do governo Dilma com a estimativa subjetiva do sucesso de negociações com o epicentro do projeto sobre quem a sucederá. Já referi que li na Carta Capital o anúncio de um partido de centro-esquerda liderado pela dupla vencedora Aécio-Eduardo.
Postei isto em
http://19duilio47.blogspot.com.br/2010/11/as-eleicao-final-definitivo.html
ou seja, no dia 1st/nov/2010.
Que posso dizer hoje? Aécio-Eduardo? Parece que errei o cravo, mas a ferradura corre pelos campos, isto é, Eduardo Cunha!
Só podemos ficar pensando em qual a ordem das reformas de salvação nacional da política do jaez deste Eduardo (e talvez também do outro, claro):
.a. reforma política
.b. reforma do judiciário
E apenas assim é que voltaremos a sorrir.
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15 março, 2014
Robinson, Meade, Eu e a Desigualdade
Senhoras e senhores:
Volta e meia, relendo materiais manipulados em tempos de outrora, fico brincando que os plagiei, pois lembro (não tanto de tê-los lido) de -ao relê-los- ter escrito coisas assemelhadas. Assim foi, por exemplo, com "besuntar o pão" (aqui). Hoje vou falar de outro caso, mais importante, sob o ponto de vista da economia política, da sociedade igualitária, da pouca-vergonha da política brasileira contemporânea.
Em 1962, Joan Robinson publicou seu Economic philosophy, um livrequinho que, em minha edição Pelican, apresenta 140 páginas. Em, talvez, 1977 (ou no máximo 1978), adquiri um exemplar da edição de 1976 na Sussex University Bookshop, com um preço impresso na quarta capa de sessenta centavos de libra esterlina. Com o que gastávamos na época para viver num apartamento da universidade em seu campus, na vila Falmer, eu poderia adquirir, em um mês, uns 666,67 livros (ou seja, até uma fração de dois terços de um livro...). Nunca li este livrinho de cabo a rabo, como diz a bem humorada expressão do português, que eu traduziria para from cover to cover, mais burocrática.
Pois bem. Na p. 118, há poucos dias, na edificante presença do prof. Jesiel de Marco Gomes, li (não há traço que me permita dizer que lera antes, mas - you never know, plágios estão aí mesmo a serem alegados em minhas obras) o que segue:
Nowadays, a conscientious writer like Professor Meade, before setting out the merits of the free market, is careful to say 'In order that the monetary and pricing system should work with equity it is necesssary to achieve a fair distribution of income and property and to point out that inequality makes the system not only inequitable but also inefficient, so that a pre-condition for desiring to preserve it is 'to take the radical measures to ensure a tolerably equitable distribution of income and property'. [Referência a Planning and the Price Mechanism, p. 35.]
A Mrs. Robinson prossegue dando uma sarrafada no -então- futuro Prêmio Nobel de economia (aqui), reclamando que ele não tem uma visão universalista da igualdade/desigualdade, pensando que este raciocínio [...] seems just as natural as breathing to limit equity ans efficiency to our own shores.[...]
Foram plágios? Foi um enorme insight daqueles reservados apenas a quem está vigilante sobre a desigualdade 25 horas por dia? Onde estão os indícios do insight e das abluções do inconsciente? Usei o motor de busca do próprio blog e achei as seguintes referências ao senador Aécio Neves e a milhares de outras personagens da vida política do indigitado país (acho que este 'indigitado país' deve ser plágio ou da revista Pasquim, ou de algum cronista mais sério, como o foram Carlos Heitor Cony (hoje moribundo) e Otto Maria Carpeau (hoje finado). Cheguei a:
aaa
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/08/desigualdade-e-igualdade-na-cachacaria.html
bbb
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/09/mais-sobre-o-sistema-de-precos-e.html
DdAB
Imagem retirada da importante revista Capricho aqui. Não posso conter minha preocupação: que será que provocou tanta desigualdade nesta garota?
Volta e meia, relendo materiais manipulados em tempos de outrora, fico brincando que os plagiei, pois lembro (não tanto de tê-los lido) de -ao relê-los- ter escrito coisas assemelhadas. Assim foi, por exemplo, com "besuntar o pão" (aqui). Hoje vou falar de outro caso, mais importante, sob o ponto de vista da economia política, da sociedade igualitária, da pouca-vergonha da política brasileira contemporânea.
Em 1962, Joan Robinson publicou seu Economic philosophy, um livrequinho que, em minha edição Pelican, apresenta 140 páginas. Em, talvez, 1977 (ou no máximo 1978), adquiri um exemplar da edição de 1976 na Sussex University Bookshop, com um preço impresso na quarta capa de sessenta centavos de libra esterlina. Com o que gastávamos na época para viver num apartamento da universidade em seu campus, na vila Falmer, eu poderia adquirir, em um mês, uns 666,67 livros (ou seja, até uma fração de dois terços de um livro...). Nunca li este livrinho de cabo a rabo, como diz a bem humorada expressão do português, que eu traduziria para from cover to cover, mais burocrática.
Pois bem. Na p. 118, há poucos dias, na edificante presença do prof. Jesiel de Marco Gomes, li (não há traço que me permita dizer que lera antes, mas - you never know, plágios estão aí mesmo a serem alegados em minhas obras) o que segue:
Nowadays, a conscientious writer like Professor Meade, before setting out the merits of the free market, is careful to say 'In order that the monetary and pricing system should work with equity it is necesssary to achieve a fair distribution of income and property and to point out that inequality makes the system not only inequitable but also inefficient, so that a pre-condition for desiring to preserve it is 'to take the radical measures to ensure a tolerably equitable distribution of income and property'. [Referência a Planning and the Price Mechanism, p. 35.]
A Mrs. Robinson prossegue dando uma sarrafada no -então- futuro Prêmio Nobel de economia (aqui), reclamando que ele não tem uma visão universalista da igualdade/desigualdade, pensando que este raciocínio [...] seems just as natural as breathing to limit equity ans efficiency to our own shores.[...]
Foram plágios? Foi um enorme insight daqueles reservados apenas a quem está vigilante sobre a desigualdade 25 horas por dia? Onde estão os indícios do insight e das abluções do inconsciente? Usei o motor de busca do próprio blog e achei as seguintes referências ao senador Aécio Neves e a milhares de outras personagens da vida política do indigitado país (acho que este 'indigitado país' deve ser plágio ou da revista Pasquim, ou de algum cronista mais sério, como o foram Carlos Heitor Cony (hoje moribundo) e Otto Maria Carpeau (hoje finado). Cheguei a:
aaa
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/08/desigualdade-e-igualdade-na-cachacaria.html
bbb
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/09/mais-sobre-o-sistema-de-precos-e.html
ccc
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/11/ciencia-e-arte-serge-latouche-et-al.html
http://19duilio47.blogspot.com.br/2011/11/ciencia-e-arte-serge-latouche-et-al.html
ddd
http://19duilio47.blogspot.com.br/2012/06/beleleu-onde-anda-o-sistema-de-precos.html
http://19duilio47.blogspot.com.br/2012/06/beleleu-onde-anda-o-sistema-de-precos.html
eee
http://19duilio47.blogspot.com.br/2013/01/precos-dos-transportes-subintes.htmlDdAB
Imagem retirada da importante revista Capricho aqui. Não posso conter minha preocupação: que será que provocou tanta desigualdade nesta garota?
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Economia Política
14 março, 2014
O Ente que Age
Senhoras e senhores:
O agente é, como sabemos, o ente que age. E a agência é a responsabilidade do ente que age no que diz respeito aos resultados de suas ações.
no Stanford, falando sobre Max Weber e o individualismo metodológico:
Weber reserves the term “action” to refer to the subset of human behavior that is motivated by linguistically formulated or “meaningful” mental states. (Generally speaking: coughing is behavior, apologizing afterwards is action.)
No dicionário, agente é
[Do lat. agente.]. Adj. 2 g. 1. Que opera, agencia, age. ~ V. intelecto --. S. 2 g. 2. Pessoa agente (1). 3. Pessoa especializada que trata de negócio por conta alheia, ou que representa os interesses de seus clientes: 2 4. Representante, comissário ou delegado de uma pessoa, de uma instituição, de um organismo, etc.: 2 5. Pessoa encarregada de uma agência (4 e 5). 6. Pessoa que pratica a ação. 7. Membro de corporação policial; polícia: 2 8. Autor, causador, promotor. S. m. 9. O que é agente (1). 10. Causa, razão, motivo. 11. Motor, propulsor, impulsor: & 12. E. Ling. Forma lingüística que expressa o executor de uma ação; agentivo. 13. Filos. O princípio ou o sujeito de uma ação.
u Agente aditivo. Quím. 1. Aditivo (4).
u Agente da passiva. E. Ling. 1. Agente da voz passiva.
DdAB
Imagem daqui, pois -como sabemos- no capitalismo tudo vira mercadoria, até a honra.
O agente é, como sabemos, o ente que age. E a agência é a responsabilidade do ente que age no que diz respeito aos resultados de suas ações.
no Stanford, falando sobre Max Weber e o individualismo metodológico:
Weber reserves the term “action” to refer to the subset of human behavior that is motivated by linguistically formulated or “meaningful” mental states. (Generally speaking: coughing is behavior, apologizing afterwards is action.)
No dicionário, agente é
[Do lat. agente.]. Adj. 2 g. 1. Que opera, agencia, age. ~ V. intelecto --. S. 2 g. 2. Pessoa agente (1). 3. Pessoa especializada que trata de negócio por conta alheia, ou que representa os interesses de seus clientes: 2 4. Representante, comissário ou delegado de uma pessoa, de uma instituição, de um organismo, etc.: 2 5. Pessoa encarregada de uma agência (4 e 5). 6. Pessoa que pratica a ação. 7. Membro de corporação policial; polícia: 2 8. Autor, causador, promotor. S. m. 9. O que é agente (1). 10. Causa, razão, motivo. 11. Motor, propulsor, impulsor: & 12. E. Ling. Forma lingüística que expressa o executor de uma ação; agentivo. 13. Filos. O princípio ou o sujeito de uma ação.
u Agente aditivo. Quím. 1. Aditivo (4).
u Agente da passiva. E. Ling. 1. Agente da voz passiva.
DdAB
Imagem daqui, pois -como sabemos- no capitalismo tudo vira mercadoria, até a honra.
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Escritos,
TER Equilíbrio
12 março, 2014
Contribuição para a História da Exploração da Classe Trabalhadora
Senhoras e senhores:
.a. Fernando Henrique Cardoso elevou o limite da contagem de tempo para a aposentadoria por idade de 70 para 75 anos. Em outras palavras, o presidente da república proscreveu o direito à aposentadoria por idade, pois é unânime que trabalhador de mais de 75 anos só é encontrado do lado de baixo do cemitério.
.b. não contente com isto, Luiz Inácio Lula da Silva nem se tocou que poderia ter tentado mudar este movimento draconiano, de puro ódio contra os remanescentes anos de vida operária.
.c. ambos mantiveram com galhardia a conquista oferecida pelos militares de substituir a estabilidade nos empregos pelo fundo de garantia por tempo de serviço. Então este "fundo" foi parar num fundo fundeador da poupança nacional, com remuneração de 3% a.a., mais a correção monetária.
.d. cabe lembrar que, quando o trabalhador usa o fundo para adquirir sua moradia, o juro pago é de 12% a.a. A diferença, claro, é dos agentes financeiros da habitação e de seus descendentes...
.e. e ainda tem o complemento àquele FGTS dado pelo dinheirinho aplicado na caderneta de poupança: pagava 6% a.a. Como paga 6% a quem aplica e cobra 12% de quem pega? Custos financeiros? Necessidade de levar os rebentos à Disneyworld? À Europa? De comprar uma fazenda de café?
.e. há pouco, quando o governo declarou ter debelado a inflação, ele aproveitou e retirou aqueles parcos 6% da caderneta de poupança, regendo-a pelo juro de mercado. Ou seja, não há mais aquela garantia de um ganhozinho seguro, para pagar a prestação do empréstimo da casinha.
Fora a reiterada negativa desses governantes de não fazer a reforma tributária. Como é que pode o Brasil ser simultaneamente o campeão dos impostos indiretos e do índice de Gini? Pode porque pode. Pode porque o primeiro causa o segundo!
DdAB
A ilustração de hoje vem de um site de respeito e de uma pintora de respeito aqui.
.a. Fernando Henrique Cardoso elevou o limite da contagem de tempo para a aposentadoria por idade de 70 para 75 anos. Em outras palavras, o presidente da república proscreveu o direito à aposentadoria por idade, pois é unânime que trabalhador de mais de 75 anos só é encontrado do lado de baixo do cemitério.
.b. não contente com isto, Luiz Inácio Lula da Silva nem se tocou que poderia ter tentado mudar este movimento draconiano, de puro ódio contra os remanescentes anos de vida operária.
.c. ambos mantiveram com galhardia a conquista oferecida pelos militares de substituir a estabilidade nos empregos pelo fundo de garantia por tempo de serviço. Então este "fundo" foi parar num fundo fundeador da poupança nacional, com remuneração de 3% a.a., mais a correção monetária.
.d. cabe lembrar que, quando o trabalhador usa o fundo para adquirir sua moradia, o juro pago é de 12% a.a. A diferença, claro, é dos agentes financeiros da habitação e de seus descendentes...
.e. e ainda tem o complemento àquele FGTS dado pelo dinheirinho aplicado na caderneta de poupança: pagava 6% a.a. Como paga 6% a quem aplica e cobra 12% de quem pega? Custos financeiros? Necessidade de levar os rebentos à Disneyworld? À Europa? De comprar uma fazenda de café?
.e. há pouco, quando o governo declarou ter debelado a inflação, ele aproveitou e retirou aqueles parcos 6% da caderneta de poupança, regendo-a pelo juro de mercado. Ou seja, não há mais aquela garantia de um ganhozinho seguro, para pagar a prestação do empréstimo da casinha.
Fora a reiterada negativa desses governantes de não fazer a reforma tributária. Como é que pode o Brasil ser simultaneamente o campeão dos impostos indiretos e do índice de Gini? Pode porque pode. Pode porque o primeiro causa o segundo!
DdAB
A ilustração de hoje vem de um site de respeito e de uma pintora de respeito aqui.
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Economia Política
11 março, 2014
Segue a "Página 10" (agora na p. 10)
Senhoras e senhores:
Na página 10 do jornal ZH de hoje repousa a coluna "Página 10". Ontem, esta álgebra era diversa. Ontem falei do racismo e do caradurismo dos deputados em tomarem carona precisamente na falha de governo (a impunidade) que permite os maiores descalabros à vista das autoridades (?). Na página dos artigos assinados, há dois falando sobre o tema. Um deles mostra um branco revelando ter vergonha de ser branco, dizendo que (é mais ou menos tautológico) que a ação racista origina-se nos brancos. Mas a coisa não para aí, pois há gente branca que odeia amarelos, brancos, judeus, gremistas, colorados, palestinos, pobres, e por aí vai.
E a "Página 10" de hoje? Fala, ontem o assunto começara elsewhere no mesmo jornal, da vergonhosa situação de que os senadores (os deputados estão livres desta) ganham fortunas para pagar em tratamentos de saúde privados. E o chamado paladino da moralidade gaúcha, ex-governador Pedro Simon tem umas despesas de arrepiar o carpim, como dizíamos em Jaguari há mais de 50 anos...
Se fosse pouco dinheiro, poderíamos chamar os senadores de trouxas, não é? Mas com muito dinheiro, não há como evitar dar-lhes o epíteto de aproveitadores. Fala-se em R$ 300 mil, que devem ser relativos à presente legislatura. Simon paladino? Dos interesses familiares, além de bom de gogó, claro. E o menino analfabeto com isto? Ontem falei em extinção dos estados, como tal, dos deputados estaduais e, como tal, do senado da república. Que posso falar hoje? Relembrar que também sugiro que acabe o poder judiciário (sua leniência é revoltante) e façamos um convênio com alguma empresa júnior do curso de direito de alguma universidade suíça, a fim de administrar a justiça no Brasil.
DdAB
Imagem pública.
Na página 10 do jornal ZH de hoje repousa a coluna "Página 10". Ontem, esta álgebra era diversa. Ontem falei do racismo e do caradurismo dos deputados em tomarem carona precisamente na falha de governo (a impunidade) que permite os maiores descalabros à vista das autoridades (?). Na página dos artigos assinados, há dois falando sobre o tema. Um deles mostra um branco revelando ter vergonha de ser branco, dizendo que (é mais ou menos tautológico) que a ação racista origina-se nos brancos. Mas a coisa não para aí, pois há gente branca que odeia amarelos, brancos, judeus, gremistas, colorados, palestinos, pobres, e por aí vai.
E a "Página 10" de hoje? Fala, ontem o assunto começara elsewhere no mesmo jornal, da vergonhosa situação de que os senadores (os deputados estão livres desta) ganham fortunas para pagar em tratamentos de saúde privados. E o chamado paladino da moralidade gaúcha, ex-governador Pedro Simon tem umas despesas de arrepiar o carpim, como dizíamos em Jaguari há mais de 50 anos...
Se fosse pouco dinheiro, poderíamos chamar os senadores de trouxas, não é? Mas com muito dinheiro, não há como evitar dar-lhes o epíteto de aproveitadores. Fala-se em R$ 300 mil, que devem ser relativos à presente legislatura. Simon paladino? Dos interesses familiares, além de bom de gogó, claro. E o menino analfabeto com isto? Ontem falei em extinção dos estados, como tal, dos deputados estaduais e, como tal, do senado da república. Que posso falar hoje? Relembrar que também sugiro que acabe o poder judiciário (sua leniência é revoltante) e façamos um convênio com alguma empresa júnior do curso de direito de alguma universidade suíça, a fim de administrar a justiça no Brasil.
DdAB
Imagem pública.
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Economia Política
10 março, 2014
Demagogias Legislativas
Senhoras e senhores:
Na página 12 do jornal Zero Hora de hoje, situa-se a coluna "Página 10". Estes 20% de diferença só podem dever-se à inflação que renasce, altaneira, nos frontões brasileiros. Dito isto, observo um 'drops' no final da esquerda da página: "Fechados com Márcio". Márcio é o juiz de futebol que foi vítima de manifestações racistas há alguns dias nestes frontões duplamente críticos: futebol e Brasil. Diz a notícia que o indigitado árbitro se chama Márcio Chagas da Silva. Ele foi convidado por deputados estaduais para "depor sobre as ofensas raciais que sofreu em Bento Gonçalves", progressista e trabalhador município do concerto gaúcho, mas -como observamos- um tanto inflitrado por maus elementos, maus brasileiros, maus terráqueos. Deles estamos praticamente lotados, especialmente na política.
Pois os deputados, segue a notícia, "cogitam criar uma Frente Parlamentar de Combate ao Racismo para fazer campanhas permanentes de igualdade racial e receber denúncias da população, já que racismo é crime." [aquele 'igualdade racial' em negrito e avermelhado está no original, que o jornal também tem partes impressas a cores].
Que pensei eu ao ler estes termos?
.a. que a Frente Parlamentar de Combate ao Racismo faz-se acompanhar de um atraso de praticamente 150 anos!
.b. que este tipo de campanha permanente já vi aos milhares, sendo que a que mais durou foi de menos de um nanossegundo assim que a iniciativa fugiu do noticiário da imprensa comercial.
.c. que a igualdade racial deve iniciar com escola igualitária (e idealmente com padrão de qualidade suíço).
.d. este negócio de denúncias da população pode dar certo: eu denuncio, para começar, a desfaçatez dos políticos.
.e. este negócio de associar as denúncias com crimes é mais manjado do que a letra morta da constituição e, a meu ver, principalmente, a lei do orçamento. Esta, se fosse bem aplicada, acabaria com a pouca vergonha, com a corrupção escandalosa que grassa no Brasil há 150 anos!
.f. o oportunismo e a associação com a 'grande imprensa' (o jornal é nanico) dos deputados, dos vereadores, dessa turma toda são revoltantes. Por isto tenho sugerido a extinção dos estados e, com eles, vão-se os deputados estaduais e os senadores (implicando o fechamento do senado...).
.g. desde quando mesmo é que o poder legislativo está incumbido de receber denúncias? Caiu da moda fazerem leis relevantes? Desde quando é preciso mostrar a relevância do legislativo? Desde que ele se tornou absolutamente irrelevante!
DdAB
Imagem aqui.
Na página 12 do jornal Zero Hora de hoje, situa-se a coluna "Página 10". Estes 20% de diferença só podem dever-se à inflação que renasce, altaneira, nos frontões brasileiros. Dito isto, observo um 'drops' no final da esquerda da página: "Fechados com Márcio". Márcio é o juiz de futebol que foi vítima de manifestações racistas há alguns dias nestes frontões duplamente críticos: futebol e Brasil. Diz a notícia que o indigitado árbitro se chama Márcio Chagas da Silva. Ele foi convidado por deputados estaduais para "depor sobre as ofensas raciais que sofreu em Bento Gonçalves", progressista e trabalhador município do concerto gaúcho, mas -como observamos- um tanto inflitrado por maus elementos, maus brasileiros, maus terráqueos. Deles estamos praticamente lotados, especialmente na política.
Pois os deputados, segue a notícia, "cogitam criar uma Frente Parlamentar de Combate ao Racismo para fazer campanhas permanentes de igualdade racial e receber denúncias da população, já que racismo é crime." [aquele 'igualdade racial' em negrito e avermelhado está no original, que o jornal também tem partes impressas a cores].
Que pensei eu ao ler estes termos?
.a. que a Frente Parlamentar de Combate ao Racismo faz-se acompanhar de um atraso de praticamente 150 anos!
.b. que este tipo de campanha permanente já vi aos milhares, sendo que a que mais durou foi de menos de um nanossegundo assim que a iniciativa fugiu do noticiário da imprensa comercial.
.c. que a igualdade racial deve iniciar com escola igualitária (e idealmente com padrão de qualidade suíço).
.d. este negócio de denúncias da população pode dar certo: eu denuncio, para começar, a desfaçatez dos políticos.
.e. este negócio de associar as denúncias com crimes é mais manjado do que a letra morta da constituição e, a meu ver, principalmente, a lei do orçamento. Esta, se fosse bem aplicada, acabaria com a pouca vergonha, com a corrupção escandalosa que grassa no Brasil há 150 anos!
.f. o oportunismo e a associação com a 'grande imprensa' (o jornal é nanico) dos deputados, dos vereadores, dessa turma toda são revoltantes. Por isto tenho sugerido a extinção dos estados e, com eles, vão-se os deputados estaduais e os senadores (implicando o fechamento do senado...).
.g. desde quando mesmo é que o poder legislativo está incumbido de receber denúncias? Caiu da moda fazerem leis relevantes? Desde quando é preciso mostrar a relevância do legislativo? Desde que ele se tornou absolutamente irrelevante!
DdAB
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09 março, 2014
Duas Conversas de Rua
Senhoras e senhores:
Há anos(aqui) andei falando ter ouvido um camelô dizer: "A experiência é o espelho da realidade". Anos depois, li (e pouco entendi) "A filosofia e o espelho da natureza" e achei que o camelô fora mais sintético. Em outros tempos, vi uma garota andando na contramão na zona das bicicletas do Parque Marinha do Brasil e quase atropelando um rapaz também munido de outra magrela. Ele disse a ela, em reproche a sua desatenção: "Olha prá frente". Ela redarguiu: "Olha tu!". E achei que, se apenas um dos dois olhasse, a sociedade estaria maximizando seu bem-estar.
No outro dia, um menino de rua caminhava pela Av. Edevaldo Pereira de Souza, ou seja, na orla do Rio Guaíba descortinada pelo bairro Menino Deus. Disse-me ele, horas depois do fato, que viu uma senhora bem apessoada afanando umas folhagens que por ali vicejavam. Nâo se contendo, ele reprimiu-a com um muxoxo de indignação comunitária. Ela fez outro muxoxo de pouco caso, ao que ele redarguiu: "Não me rouba flores." Ela, desta vez, olhou-o de soslaio e, por azar, enfiou um pé num buraco que por ali aguardava. Com um pouco de dor, talvez, ela redarguiu apenas um "Sai, olho grande!" Disse-me o menino não declarar-se olho grande, a não ser na hora da distribuição da sobremesa.
DdAB
Imagem aqui.
Há anos(aqui) andei falando ter ouvido um camelô dizer: "A experiência é o espelho da realidade". Anos depois, li (e pouco entendi) "A filosofia e o espelho da natureza" e achei que o camelô fora mais sintético. Em outros tempos, vi uma garota andando na contramão na zona das bicicletas do Parque Marinha do Brasil e quase atropelando um rapaz também munido de outra magrela. Ele disse a ela, em reproche a sua desatenção: "Olha prá frente". Ela redarguiu: "Olha tu!". E achei que, se apenas um dos dois olhasse, a sociedade estaria maximizando seu bem-estar.
No outro dia, um menino de rua caminhava pela Av. Edevaldo Pereira de Souza, ou seja, na orla do Rio Guaíba descortinada pelo bairro Menino Deus. Disse-me ele, horas depois do fato, que viu uma senhora bem apessoada afanando umas folhagens que por ali vicejavam. Nâo se contendo, ele reprimiu-a com um muxoxo de indignação comunitária. Ela fez outro muxoxo de pouco caso, ao que ele redarguiu: "Não me rouba flores." Ela, desta vez, olhou-o de soslaio e, por azar, enfiou um pé num buraco que por ali aguardava. Com um pouco de dor, talvez, ela redarguiu apenas um "Sai, olho grande!" Disse-me o menino não declarar-se olho grande, a não ser na hora da distribuição da sobremesa.
DdAB
Imagem aqui.
08 março, 2014
Ulysses: variação número 1 e também a 2
Senhoras e senhores:
Como sabemos, a primeira sentença de "Ulysses", de James Joyce, deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Pensei que poderíamos modificá-la para:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which lay a mirror and a crossed razor.
Parece que, com isto, não apenas Joyce ficaria grato, seus epígonos ficariam furiosos e eu ficaria tranquilo quanto àquela questão topológica de um espelho plano curvar-se.
Ou ainda:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which lay a mirror crossed by a razor.
DdAB
Imagem: aqui.
Como sabemos, a primeira sentença de "Ulysses", de James Joyce, deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Pensei que poderíamos modificá-la para:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which lay a mirror and a crossed razor.
Parece que, com isto, não apenas Joyce ficaria grato, seus epígonos ficariam furiosos e eu ficaria tranquilo quanto àquela questão topológica de um espelho plano curvar-se.
Ou ainda:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which lay a mirror crossed by a razor.
DdAB
Imagem: aqui.
06 março, 2014
Made in ...
Querido diário:
A primeira manifestação que vi do "made in..." foi, claro, Made in USA. Mas é muito, muito possível que os verdadeiramente primeiros "made in..." fossem mesmo Made in England ou Made in the United Kingdom. E antes, haveria algo Made in Florence? Made in France? Made in Brazil?
Então depois daqueles "made in..." todos, e milhares de mercadorias Made in Brazil, veio o livro
FERRAZ, João Carlos, KUPFER, David e Haguenauer, Lia (1966) Made in Brazil; desafios competitivos da economia brasileira. Rio de Janeiro, Campus.
Seguiu-se o Made in China de Rosana Pinheiro-Machado:
PINHEIRO-MACHADO, Rosana (2011) Made in China: (in)formalidade, pirataria e redes sociais da China ao Brasil. São Paulo: Hucitec, Anpocs. 340p .
Pois agora, de volta das férias no México, voltando a ler-reler o livro
DdAB
Imagem aqui.
P.S.: a audácia do corretor de textos de meu Google/blog assinala como erro escrevermos Brazil com z. Sabe meu leitor do blog que vivo dizendo que a primeira constituição da república falava em Estados Unidos do Brazil, mudada por Getúlio Vargas para Estados Unidos do Brasil e pelos militares para República Federativa do Brasil (pois a negadinha andava falando em Brasil dos Estados Unidos). Há centenas de anos, cheguei a sonhar, com amigos (igualmente milenares), na República Socialista do Brasil.
P.S.S. Epa: o Google/editor também corrigiu o 'Mexico' da sra. Ross, pois queria o acento agudo para sinalizar a proparoxítona, se bem me lembro.
A primeira manifestação que vi do "made in..." foi, claro, Made in USA. Mas é muito, muito possível que os verdadeiramente primeiros "made in..." fossem mesmo Made in England ou Made in the United Kingdom. E antes, haveria algo Made in Florence? Made in France? Made in Brazil?
Então depois daqueles "made in..." todos, e milhares de mercadorias Made in Brazil, veio o livro
FERRAZ, João Carlos, KUPFER, David e Haguenauer, Lia (1966) Made in Brazil; desafios competitivos da economia brasileira. Rio de Janeiro, Campus.
Seguiu-se o Made in China de Rosana Pinheiro-Machado:
PINHEIRO-MACHADO, Rosana (2011) Made in China: (in)formalidade, pirataria e redes sociais da China ao Brasil. São Paulo: Hucitec, Anpocs. 340p .
Pois agora, de volta das férias no México, voltando a ler-reler o livro
VERÍSSIMO, Érico (c. 1978) México. Porto Alegre: Globo.
vi em suas referências da p. 302 a seguinte obra:
vi em suas referências da p. 302 a seguinte obra:
ROSS, Patricia F. (1952) Made in Mexico. New York: Alfred Knopf.
Em outras palavras, a sra. Ross é realmente a pioneira dos 'made in...', exceto pelos produtos manufaturados etc., etc. E quem é ela? Vamos à Wikipedia em inglês.
Em outras palavras, a sra. Ross é realmente a pioneira dos 'made in...', exceto pelos produtos manufaturados etc., etc. E quem é ela? Vamos à Wikipedia em inglês.
Vemos apenas:
Christine Hayes
Christine Hayes is the Robert F. and Patricia Ross Weis Professor of Religious Studies at Yale University , Chair of the Department of ...
8 KB (1,067 words) - 00:16, 28 July 2013
Christine Hayes is the Robert F. and Patricia Ross Weis Professor of Religious Studies at Yale University , Chair of the Department of ...
8 KB (1,067 words) - 00:16, 28 July 2013
E no Google propriamente? Tem 3,7 milhões de entradas com esses localizadores e vê-se que há algumas pessoas portando este nome. Não fui capaz de seguir todas essas milhões de histórias.
DdAB
Imagem aqui.
P.S.: a audácia do corretor de textos de meu Google/blog assinala como erro escrevermos Brazil com z. Sabe meu leitor do blog que vivo dizendo que a primeira constituição da república falava em Estados Unidos do Brazil, mudada por Getúlio Vargas para Estados Unidos do Brasil e pelos militares para República Federativa do Brasil (pois a negadinha andava falando em Brasil dos Estados Unidos). Há centenas de anos, cheguei a sonhar, com amigos (igualmente milenares), na República Socialista do Brasil.
P.S.S. Epa: o Google/editor também corrigiu o 'Mexico' da sra. Ross, pois queria o acento agudo para sinalizar a proparoxítona, se bem me lembro.
05 março, 2014
Ulysses: faltava uma vírgula
Senhoras e senhores:
Como sabemos, a primeira sentença de Ulysses, a imortal obra de James Joyce, deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Sabemos que o velho James Joyce marcou inomináveis bobeiras em matéria de pontuação em seus originais. Pudera, não havia nem o mais elementar dos editores de texto eletrônicos. Esta observação pode resolver aquela encrenca do espelho e a navalha se cruzarem. Basta pensarmos que a verdadeira sentença original é:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror, and a razor lay crossed.
Em outras palavras, teria faltado uma vírgula. A presença da vírgula levaria a tradução para:
Imponente, o gordacho Buck Mulligan surgiu no balaústre da escada. Ao fazê-lo, ele segurava uma tigela com espuma de barbear, mas não atrolhada a ponto de esconder o aparelho de gilete entrecruzado sobre um espelhinho.
E aquele 'on which a mirror'? Parece óbvio, na tigela havia um espelhinho. Ele, claro, não poderia ter dito 'on which a mirror could be observed' ou 'on which a mirror was laying'. Nem, menos ainda, 'where a mirror and a razor could be identifyied, although it made itself clear that the mirror was laid on the bowl and the razor rested upon it (the mirror).' Segue-se que:
O espelho cruza a navalha ou é a navalha que cruza o espelho?
O espelho é cruzado pela navalha ou vice-versa?
A navalha cruza o espelho? Claro que não. A navalha é cruzada pelo espelho!
Finalmente, não parece descabido indagarmos se o espelhinho era ou não 'made in China'.
DdAB
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Como sabemos, a primeira sentença de Ulysses, a imortal obra de James Joyce, deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Sabemos que o velho James Joyce marcou inomináveis bobeiras em matéria de pontuação em seus originais. Pudera, não havia nem o mais elementar dos editores de texto eletrônicos. Esta observação pode resolver aquela encrenca do espelho e a navalha se cruzarem. Basta pensarmos que a verdadeira sentença original é:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror, and a razor lay crossed.
Em outras palavras, teria faltado uma vírgula. A presença da vírgula levaria a tradução para:
Imponente, o gordacho Buck Mulligan surgiu no balaústre da escada. Ao fazê-lo, ele segurava uma tigela com espuma de barbear, mas não atrolhada a ponto de esconder o aparelho de gilete entrecruzado sobre um espelhinho.
E aquele 'on which a mirror'? Parece óbvio, na tigela havia um espelhinho. Ele, claro, não poderia ter dito 'on which a mirror could be observed' ou 'on which a mirror was laying'. Nem, menos ainda, 'where a mirror and a razor could be identifyied, although it made itself clear that the mirror was laid on the bowl and the razor rested upon it (the mirror).' Segue-se que:
O espelho cruza a navalha ou é a navalha que cruza o espelho?
O espelho é cruzado pela navalha ou vice-versa?
A navalha cruza o espelho? Claro que não. A navalha é cruzada pelo espelho!
Finalmente, não parece descabido indagarmos se o espelhinho era ou não 'made in China'.
DdAB
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04 março, 2014
Ulysses: a navalha sobre o espelho
Querido diário:
O original de James Joyce deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Eu me houve por bem traduzir como (aqui):
Imponente, o gordacho Buck Mulligan pintou [apareceu] no alto [balaústre] da escada com [segurando] uma tigela de barba cheia de espuma, mas não [tão cheia] a ponto de esconder o aparelho de gilete cruzado sobre um espelhinho.
Há três evidências sobre a qualidade de minha tradução de razor como aparelho de gilete:
.a. a primeira encontra-se no disco "O Povo Canta" da UNE do final dos anos 1950, início dos 1960. Isto significa os anos 1950, no Brasil, os quais, com os correspondentes 50 anos de atraso da civilização brasileira com relação ao ROW (resto do mundo). Fala-se em João da Silva, cidadão sem compromisso, que faz a barba com gilete. Claro que é com um aparelho no qual se encaixa uma lâmina de barbear da marca Gillette.
.b. o lado antissocial da tradução de navalha é a conexão financeira: o meu cartão de crédito é uma navalha, na visão da realidade nacional tida por Cazuza,
.c. por fim, tem aquele samba que fala que "larguei de banda, peguei na navalha e disse: 'pula, moleque, abusado', deixa de alegria prô meu lado."
Isto prova de modo inexorável que Buck Mulligan portava mesmo um aparelho de gilete, pois deixara a navalha há muito tempo, dada a relativa praticidade do aparelho mais moderno.
Agora temos a questão do "lay crossed". A maioria dos tradutores fala em jazerem cruzados o espelho e a navalha. Eu disse que é impossível cruzá-los: o que se pode é colocar enviesada a navalha repousando sobre o espelho. Com efeito, disse meu querido amigo, o prof. Jesiel de Marco Gomes, que uma navalha pode cruzar-se sobre o espelho, mas espelhos planos não têm capacidade de cruzar-se sobre nada.
Então temos o Webster (p.1029):
O original de James Joyce deixa-se ler como:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Eu me houve por bem traduzir como (aqui):
Imponente, o gordacho Buck Mulligan pintou [apareceu] no alto [balaústre] da escada com [segurando] uma tigela de barba cheia de espuma, mas não [tão cheia] a ponto de esconder o aparelho de gilete cruzado sobre um espelhinho.
Há três evidências sobre a qualidade de minha tradução de razor como aparelho de gilete:
.a. a primeira encontra-se no disco "O Povo Canta" da UNE do final dos anos 1950, início dos 1960. Isto significa os anos 1950, no Brasil, os quais, com os correspondentes 50 anos de atraso da civilização brasileira com relação ao ROW (resto do mundo). Fala-se em João da Silva, cidadão sem compromisso, que faz a barba com gilete. Claro que é com um aparelho no qual se encaixa uma lâmina de barbear da marca Gillette.
.b. o lado antissocial da tradução de navalha é a conexão financeira: o meu cartão de crédito é uma navalha, na visão da realidade nacional tida por Cazuza,
.c. por fim, tem aquele samba que fala que "larguei de banda, peguei na navalha e disse: 'pula, moleque, abusado', deixa de alegria prô meu lado."
Isto prova de modo inexorável que Buck Mulligan portava mesmo um aparelho de gilete, pois deixara a navalha há muito tempo, dada a relativa praticidade do aparelho mais moderno.
Agora temos a questão do "lay crossed". A maioria dos tradutores fala em jazerem cruzados o espelho e a navalha. Eu disse que é impossível cruzá-los: o que se pode é colocar enviesada a navalha repousando sobre o espelho. Com efeito, disse meu querido amigo, o prof. Jesiel de Marco Gomes, que uma navalha pode cruzar-se sobre o espelho, mas espelhos planos não têm capacidade de cruzar-se sobre nada.
Então temos o Webster (p.1029):
LAY:
O verbo 'lay' tem milhares de acepções, a mais atraente dizendo que "to place or put so as to be in a resting or recumbent position [...] as to lay the pencil on the table." Mas é do substantivo que tiramos a maior prova da validade de minha interpretação: "the way or position in which something is situated or arranged." Não podemos entusiasmar-nos com isto, na verdade. Segue a questão: a navalha e o espelho estavam cruzados ou este é que se cruzava sobre ela?
CROSS:
Então a encrenca é com 'cross'. Vamos ver o Webster, agora na p.434. Tem um 'cross and pile', que vem a ser, diz o dicionário, o velho jogo inglês do cara ou coroa. E agora, coisa melhor: 'to extend or reach across; as , the bridge crosses a river.'. Ou seja, a navalha (a ponte) cruza o espelho (o rio). Não parece óbvio? E mais: 'to cross one's fingers': fingers no plural, ou seja, podemos pensar em cruzar os dedos, mas nunca um objeto basicamente tridimensional com outro essencialmente bidimensional. A menos que não fosse bidimensional, a menos que fosse um espelho convexo, com um furo sobre o qual passaria a navalha.
Tem um 'to lie across; intersect', é verdade. Mas, nesta linha, fala-se em 'crossbow' como o arco que pode ser "cruzado" por uma flexa. Mas, claro, arco não é espelho, que não se deixa cruzar com navalhas. Também temos o 'cross piece como sendo 'a piece of anything placed crosswise on something else.' Parece que tudo está resolvido: a piece of anything - a navalha e cruzando-se sobre este something else, nomeadamente, o espelho.
Parece que tudo se resolve: a tradução que fiz realmente é a que captura o verdadeiro espírito daquilo que realmente Joyce queria dizer. Ele queria dizer que o espelho repousava sobre a navalha que estava mergulhada na espuma da tigela. Pode ocorrer de um espelho cruzar-se com um assentador
Se não fosse isto, é certo que o monólogo de Molly Bloom não terminaria do jeito como o faz. Mas estudar estas novas evidências em favor de minha hipótese levar-me-ia muito além de minha especialidade, nomeadamente, a primeira -e apenas ela- sentença.
DdAB
02 março, 2014
Hai Kai n. 53
Senhoras e senhores:
MILLÔR:
GOZE.
QUEM SABE ESSA
É A ÚLTIMA DOSE?
Planeta 23:
É a última dose
que me queima o estômago.
E também a pose.
DdAB
Imagem: aqui.
MILLÔR:
GOZE.
QUEM SABE ESSA
É A ÚLTIMA DOSE?
Planeta 23:
É a última dose
que me queima o estômago.
E também a pose.
DdAB
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