17 novembro, 2012

A Necessidade da Contingência

Querido diário:
O que parece relevante para todos os casos empíricos razoáveis não é pensarmos que o universo é contingente, mas necessário, o que nos deixa mais modestos com a razoável hipótese de que quem é contingente mesmo somos nós próprios, os seres vivos.

É difícil pensarmos em coisas que não tiveram princípio nem terão fim. Mesmo nossas abstrações de uma linha reta, o conjunto de frases diferentes passíveis de serem formuladas por um ser humano (para não falar num papagaio ou sinapses) ou o inesgotável amor que jorra, digamos, de uma mãe para sua/s cria/s, é/são por si só contingente/s. Não fosse eu, estas frases não teriam sido escritas. Se as procuro no Google, não dá nada, parecem mesmo ser únicas, até este ponto aqui.

Claro que não havia nem um documento. Aí procurei "É difícil pensarmos em coisas que não tiveram princípio nem terão fim." Tampouco achei algo. Agora verei, algo mais afinado com os políticos: "É difícil pensarmos." Agora tudo mudou: 55.600 entradas! Parece a média de mais ou menos 10 políticos por município brasileiro.

Mas, se o universo não teve início e nem terá fim, que diabos acontecerá comigo que, aparentemente, tive início e também terei um fim? Parece que a única saída sensata é lermos a postagem "Viver em Planetas é Perigoso".

O que não sei se deixei bem claro por lá é se teremos possibilidades concretas de resgatar todos os pensamentos de todos os seres que viveram em todos os tempos, antes da viagem ao cerne do buraco negro. Se o fiz, talvez também tenha deixado claro que, dependentes de matéria, podemos dizer, alternativamente, dependentes de energia. No final das contas, estamos falando mesmo de matéria-energia ao mesmo tempo que em espaço-tempo. Parece mais óbvio que somos dependentes do espaço "eu existo" e do tempo "passado, presente, futuro". Em resumo, "aqui e agora".

Então a tarefa torna-se menos desafiante para as mentes hoje disponíveis no planeta. Haverá, possivdelmente, outras dimensões, outras coordenadas, outras métricas, outras infinitudes em diferentes buracos negros. Mas em todos, haverá algo. Então nosso desafio, ou melhor, o desafio secular, o desafio milenar, daqueles que nos hão de salvar, de nos resgatar, de nos exumar é muito menos letal, ainda que estratosfericamente formidável.

Em outras palavras, os seres vivos são contingentes. Ao mesmo tempo, a vida, ou variantes assemelhadas que responderiam por outros nomes -totalmente desconhecidas até o presente momento-, como tal, deixa de ser contingente. Neste ambiente de universo infinito, transcendendo tudo o que conhecemos, desde heliocentrismo até buracos negros e big-bang, não há razão para evitarmos de falar em "pluralidade dos mundos habitados". E talvez nem para negarmos que os produtos da mente (id est, os pensamentos) são tão materiais e transmissíveis como o som emitido pela boca ou -lá vem poesia- as carícias transmitidas pela mão.

DdAB
Imagem: aqui, um blog bem interessante, em tempos interessantes, mas trancado há um ano.

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