07 abril, 2012

Se Tudo Estivesse Escrito em Pi...

 querido diário:
volto com o número pi (imagem aqui). parece que, numa das últimas vezes em que andei filosofando sobre ele, eu saía de umas leituras de Jorge Luis Borges. hoje, em pleno sábado de aleluia, lendo Adolfo Bioy Casares, fiquei pensando se não é verdade mesmo que o dado pode ser dado. explico-me. pelas tentativas que já fiz, ao lançar um dado (rolling dice), encontro 1, 2, 3, 4, 5 ou 6. em média, 3.5. o que antes Borges e agora Bioy me fizeam pensar é que, se eu for persistente e o universo der-me tempo adequado, tanto tentarei que alcançarei precisamente uma face com o número 3.5. a verdade é que Roger Penrose acaba de dizer-me (por escrito) que este universinho em que estamos tem 14 bilhões de anos de idade e não durará para sempre. ergo, pode ser que o dado se desgaste o suficiente para eu poder qualquer número em sua única face (superfície) esférica.

como cheguei a esta conclusão? inicialmente, isto não é conclusão nenhuma. em segundo lugar, sua prova insofismável está na p.53 do conto 'La Trama Celestial' do livro de Adolfo Bioy Casares intitulado "Histórias Fantásticas". Buenos Aires: Nación. (La Nación, non?, mas cedido por Emecé). em terceiro lugar, sem ser exaustivos, vi uma meia dúzia de 'colagens' de literatura de similar pelagem. por exemplo, logo que as aventuras do Capitão Morris começam a ser contatas, em plena página inicial do conto (p.23, um número primo), fala-se de um anel que torna invisível o usuário. todos sabemos que este foi o anel que Bilbo afanou numa caverna de um rapaz cujo nome e pelagem me fogem. na p.27, ele fala "Son teorias del cura Moreau", o que insofismavelmente fez-me pensar no livro de Robert Louis Stevenson.

na p. 41, simplesmente, cita meu livrinho de teoria dos jogos (carecendo de uma segunda edição), que -como sabemos- foi publicado várias décadas depois da redação de "Histórias Fantásticas". tudo muito estranho. seja como for, diz-se: "Esos dias [...] los pasé en una pieza de dos por dos, mateando y truqueando de lo lindo con los centinelas." ora, o truco é um jogo em que importam tanto a sorte quanto a habilidade. não é um jogo trivial, sendo bom parceiro do poker. mas um tanto diverso do xadrez e da dama. pouco falamos, Borges, Bioy e Bêrni, do gamão, pois o acentuado autor deste blog nada sabe sobre ele, nunca tendo buscando sanar esta lacuna gnosiológica na Enciclopédia Britânica del Paraguay (e em nenhuma outra). e Bioy segue citando aqui e ali que cheguei a compreender que este simples conto abarca todos os demais escritos já intentados pela humanidade desde, pelo menos, o ano de 1999 (óbito de Bioy).

pois bem. o que há de tão singular na p.53? vejamos as p.53-54:

Alegar a Blanqui, para encarecer la teoría de la pluralidad de los mundos, fue, tal vez, un mérito de Servian; yo, más limitado, hubiera propuesto la autoridad de un clássico; por ejemplo: "según Demócrito, hay una infinidad de mundos, entre los cuales algunos son, no tan sólo parecidos, sino perfectamente iguales" (Cicerón, Primeras Académicas, II, XVII); o "Henos aquí, en Bauli, cerca de Pozzuoli, ?piensas tú que ahora, en un número infinitode lugares exactamente iguales, habrá reuniones de personas con nuestros mismos nombres, revestidas de los mismos honores, que hayan pasado por las mismas circunstancias, y en ingenio, en edad, en aspecto, idénticasa nosotros, discutiendo este mismo tema?" (íd. íd., II, XL). [sic]

de minha parte, pensei: e se houvesse um Duilio de Avila Berni (sem o acento circunflexo)? parece que também este tipo de tema foi explorado por milhares de terceiros. por exemplo, no filme "Brazil" e em outros locais de contos fantásticos ou pura science fiction, que nem te conto... mas agora penso, a exemplo do número 3,5 aparecendo na face de um dado: "e se eu fosse precisamente essa pessoa ubíqua com Bêrni e Berni, além de Bérni, Byrne, Talking Heads, e por aí vai?" e se eu fosse, hein?

forço-me a pensar em que seria deste mundo absolutamente igual a tudo o que se vê naquele, exceto pelo fato de que meu nome não teria qualquer acento. será que eu seria o mesmo? será que a palavra 'mesmo' seria a mesma? teria que ser, pois -descontado meu nome completo- tudo seria precisamente igual ao que vemos neste contexto sublunar.
DdAB

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