18 abril, 2012
Gerando Emprego e Renda
querido diário:
sempre que me dizem que tal ou qual projeto "gerará emprego e renda", digo para mim mesmo: de onde surgiu a ideologia de valorizar as regras distributivas da sociedade capitalista em que -weberianamente, não é isto?- uma classe se apropria do excedente e a outra dos ganhos deixados ao trabalho (e alguns falam em pagamento dos trabalhadores e o resto é dos residual claimants). minha resposta é: difícil de saber, o fato é que se argumenta neste sentido com frequência. eu argumento, com base na teoria que desenvolvi sobre o comportamento de seres humanos: renda é bom, emprego é mau.
ok, ok. posso fazer mediações. a mais cruel delas é a boutade atribuída à finada economista britânica, mrs. Joan Robinson: é melhor ser explorado do que não ser explorado. claro que isto é apenas válido para os casos em que "não ser explorado" significa que não se ganhará renda. mas também sempre insisto que os filhotes dos ricos e os ricos velhos não trabalham e ganham boa renda. e por que me preocupo tanto com os extremos etários dos ricos? porque minha missão é entender, sob todos os ângulos, a desigualdade na sociedade. muitas delas se devem a talentos intrínsecos aos indivíduos e muitas outras se devem apenas ao fato de terem tido sorte ou azar de nascer pobre ou rico, negro ou branco, e assim por diante. entendo que a desigualdade é um fardo e responsável pela maioria das mazelas sociais planetárias contemporâneas.
ontem no jornal que leio regularmente, falava-se em três cifras interessantes. a cidade de Santa Maria está doida para receber uma fábrica de caminhões chinesa. investimento de R$ 70 milhões e geração de 500 empregos diretos. (fiquei pensando: de repente, o filho de um futuro trabalhador me contrata para umas aulas particulares e já estou na lista dos empregos indiretos, não é mesmo?). mas aí fiquei comparando esses R$ 70 milhões com os R$ 10,23 milhões que serão repassados pelo Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura para "o desenvolvimento de novos projetos para o setor".
fiquei pensando no capitalismo (China?) mundial, no financiamento do investimento, nas prioridades especialmente do dinheiro do governo. quanto dinheiro do governo irá para este negócio de Santa Maria? e para a cachaça, digo, o vinho, sabidamente, um bem de demérito. e o caminhão? não seria melhor termos investimentos na retransportização? e concluí a sessão pensando em quem é que estabelece estas prioridades. como é que sabem que a parte que me toca deve ser-me devolvida em copos de vinho ou em transporte rodoviário? modestamente, termino balbuciando: claro que não sabem. mas acham que gerar renda e emprego é um jargão interessante de ser usado para esconder precisamente este ponto: as prioridades na alocação dos recursos públicos no Brasil são um caso de polícia. e, como tal, como falta dinheiro, não há polícia mesmo...
DdAB
imagem: aqui. é um ponto gov, né? nunca me convidaram para este tipo de "public relations".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Boa tarde, prof. Dúlio. Gostaria de te entrevistar sobre a teoria dos jogos. Estou lendo o seu livro. Sou repórter da GLOSS, revista feminina da editora Abril voltada para mulheres jovens (18 a 30 anos). A entrevista seria para uma matéria sobre decisão. Poderia te ligar? Qual o seu telefone? Os meus são (11) 3037 86 72 e (11) 6295 6245
Sílvia Araújo
oi, Sílvia Amélia:
vou telefonar amanhã, ok?
Duilio
Postar um comentário