21 abril, 2012

JUROS DA POUPANÇA: quem são os amigos do povo


querido diário:
a capa de meu jornal de hoje saúda o futuro com a seguinte manchete:

Redução do juro acelara debate sobre regras da poupança
Corte na taxa básica pressiona o governo a diminuir o rendimento da caderneta para que não fique acima dos fundos de renda fixa, provocando fuga de aplicadores

eu pensei direto: quem são os amigos do povo? na p.14, há algumas respostas que reduzem o conjunto de amigos do povo, por meio da exclusão de alguns nomes. primeiro, dizem que "Entre os economistas, a opinião é uníssona: para cortar mais os juros, o governo terá de mexer na poupança." autor da frase? bíblico mistério. se eu grito contra, seguiria o "uníssino"? será tão grande o cordão dos puxa-sacos que nem me ouvem? mas tem mais: "O problema é que os investidores tendem a tirar seus recursos de investimentos atrelados ao juro básico - hoje 9% ao ano - para ganhar mais com a poupança."

E agora vem mais:

Estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, com a Selic atual, só investimentos de longo prazo com taxa de administração inferior a 1% rendem mais do que a caderneta.  [ZH comeu a vírgula entre "Finanças" e "Administração"?]

E vem o pior:

O governo não tem escolha. Se não mexer na poupança, traqvará o crescimento do país e a queda de juros - avalia Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac.

o Milton, além de defender seus interesses, aparelhado numa sociedade entre a galera que ganha a vida precisamente no mundo das finanças, é da galera que veste-se da teoria macroeconômica de que é a poupança que determina o crescimento econômico. claro que isto é um mal-entendido, pois a macroeconomia, neste caso, é composta pelas empresas que exercem a demanda por bens de capital. e, na teoria da empresa, parece que todo mundo já concorda que quem explica o investimento é o lucro e não o juro. no outro dia, já falei que baixar o juro pode sinalizar para que o lucro baixe. mas nem sei se referi que o mais provável mesmo é que o juro baixo induza apenas a lucros mais altos tanto nas finanças quanto na empresa privada. parece que agora começa a ficar claro que tipo de transferência de renda, da renda avalizada e de seu crescimento, os amigos do povo estão pensando em implementar.

mas não me refiro apenas à caderneta de poupança, a mais simples aplicação inventada pelos governos militares (claro que inspirados em economistas civis). parece óbvio que um freio para a cobiça dos executivos financeiros consiste em estabelecer-se um patamar decente para a definição de poupança popular. nunca pensei nisto, mas por que não começarmos com uma adivinhação de R$ 49.999?

mas o verdadeiro problema ao qual me refiro é que nenhum dos amigos do povo -executivos e governantes- falou que os juros da caderneta de poupança servem para financiar o pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço que já emergiu da ditadura pagando 3% a seus suarentos depositantes. naturalmente aquele projeto do tempo antigo de que os trabalhadores poderiam criar um partido que se pautaria por um programa social-democrata (ou socialista?) foi sepultado há muito tempo. hoje a raposa é que cuida do galinheiro.

tinha gente que falava que a divisão entre esquerda e direita acabara não me lembro em que ano. este tipo de diagnóstico ajudou-me a perder o pejo e anunciar que o capitalismo acabou há mais de 15 dias. mas o que vemos é nitidamente um conflito entre rentistas e a instituição "famílias pobres". por que os amigos do povo não se deram conta de que também poderiam lançar um olhar de preocupação sobre aqueles 3% do FGTS?

DdAB
p.s.: uma vez que o subtítulo da postagem de hoje é a cópia de um folheto assinado por Lênin, nada melhor do que vê-lo na imagem lá de cima. ou ele sempre respondeu errado ou foram as más companhias, o tabagismo, quem arruinou tudo, não é mesmo?

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa discussão sobre os juros é um bom debate acadêmico.

Por um lado, a Dilma utilizará, sem dúvida, este fato em sua próxima campanha. Certamente, o combate aos banqueiros sedentos por juros é uma atitude popular.

De outro lado, a poupança torna-se mais atraente que os fundos de renda fixa, que sustentam as dívidas do governo.

Aí, pensam em mudar as regras da remuneração da poupança. Um investimento popular e único por grande parte da população.

Acredito que a Dona Dil não deixará que isso aconteça, ou pelo menos não de forma impensada.

Ouvi de alguns grandes mestres que o crescimento do crédito associado a uma baixa produtividade é uma bomba inflacionário relógio.

Enfim, aprendi que os maiores impasses das estratégias econômicas estão nos desafios políticos e populares.

Então Duilio, deveriamos ensinar os fundamentos econômicos desde o quarto ano, é ou não?

Abraços

DSC

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é verdade, querido amigo Daniel! é bem possível que, desdobrindo
"o valor do dinheiro", o povo passasse a dar mais atenção à fiscalização de seus políticos e à lei do orçamento.
Bom domingo!
DdAB