31 dezembro, 2011

Regularidades 2011

querido blog:
sempre que faz seca do tipo que a que agora acossa a gauchada, o pessoal da Zona Sul diz: "daqui nasce a chuva, a fartura, a alegria de viver". sempre que chove em excesso, o pessoal da Zona Norte diz: "aqui a chuva nunca começa". usei a palavra "seca" no sentido de falta dágua, no sentido de Luiz Gonzaga. não a usei no sentido de "corte no suprimeito de drogas ilegais". estas, como sabemos, têm a oferta mais regular do que a própria precessão dos equinócios. um negócio de deixar os néscios cônscios de sua implícita propriedade da verdade.

por estar trancado em um consultório médico (esperando a consulta, não me interpretem mal), li - por inteiro, tesconjuro - o artigo de J. R. Guzzo das p.24-25 da revista Veja de 28/dez/2011. então lembrei-me da chapa Serra-Dilma, de que eu mesmo falava há um ano e pouco. obviamente houve avanços na trajetória do nacionalismo/1950 no encaminhamento do problema crônico da diferença de renda per capita entre este país e aqueles que melhor vivem neste vale em que falta de chuva. até a metade do artigo, estou com Guzzo. não me é frequente ver este paradoxo do otimismo de gente oito vezes mais pobre, em média, do que os bem-de-vida planetários.

mas o interessante de termos uma revista reacionária como a Veja é que ela esforçou-se para achar pontos negativos na chapa Serra-Dilma, o que é um progresso. eu nunca vira tão clara exposição do dualismo brasileiro, termo - aliás - banido em toda discussão moderna sobre o desenvolvimento econômico brasileiro. aliás, nem se fala tanto em desigualdade. é fato que a maioria absoluta da população brasileira e mundial considera que o Brasil é um sucesso. Guzzo e eu achamos que é preciso lembrar também dos desvalidos, entre eles os milhares de desmpregados que acham - aqui e no mundo - que tudo está bem.
DdAB
p.s. o jornalista Guzzo trata o ex-presidente Lula como "ex-presidente", sem declinar-lhe o nome. é o que sempre chamei de mau jornalismo, como exemplifiquei sutilmente ontem com a foto amplamente circulada em que flagraram o controverso político Jader Barbalho com o filho às carantonhas. é como se eu, que não leio Veja regularmente por detestar o tom permanentemente reacionário passasse a chamá-la de Cega... tudo é relativo... (com isto, faço o ano acabar com três pontinhos, logo após o final destes parênteses)...

30 dezembro, 2011

30/dez/2011

querido blog:
faço hoje uma postagem para homenagear o dia de hoje. por que haveriam de homenagear-me, diria ele, se ainda nem terminei? eu diria: é que ontem vi algo que evitaste. o quê?, indagaria, de volta lá ele, o dia. para mim, seguiria argumentando eu, é a foto da capa do jornal zero hora com o filho do senador, ergo, reputação ilibada, Jader Barbalho.

a cadeia não é seu destino, nem do dia nem do filho nem do senador. mas o fracasso nem é do tal poder judiciário, nem da tal lei da ficha limpa, nem dos meninos de rua. aparentemente, fracassa toda a sociedade brasileira, especialmente os colegas do senador: políticos, ergo, acolherados com o dinheiro do povo.

por que eles não deram um jeito nos casos de corrpução? o dia, volta o diálogo, respondeu-me: por razões óbvias.
DdAB

28 dezembro, 2011

O Inesquecível Ano de 1931

querido diário:

Em 1931, [... o astrônomo Subrahmanyan Chandrasekhar] conseguiu demonstrar que há uma deaterminada massa crítica (limite de Chandrasekhar) além da qual uma [estrela] anã branca não pode existir, uma vez que nesse ponto o fluido eletrônico não é capaz de suportar o peso, não importa quanto essse fluido esteja comprimido. O núcleo de tal estrela deverá simplesmente desabar. 

[...]

Nâo seria impossível, mas a verdade é que todas as anãs brancas estudadas mostrarm possuir massa inferior ao limite de Chandrasekhar, e quanto mais estrelas desse tipo são descobertas, mais correto parece o limite estabelecido. 

parece a profa. Brena Fernandez falando! ela diria algo na linha do que acima transcrevi, da p.108 do livro de Isaac Azimov, intitulado "O colapso do Universo", São Paulo: Círculo do Livro (c.1980): não se pode provar, mas qualquer evidência que surja e conteste o -agora familiar- limite de Chandrasekhar terá acabado com a farra. o que eu acho é que tanta evidência um dia suscitará uma formulação teórica mais potente que permitirá dizermos que se trata de uma verdade absoluta. como é o caso de sabermos que Sócrates é mortal, essas coisas.


DdAB
e a imagem é daqui.

26 dezembro, 2011

Um Caso de Escolha Envolvendo Risco

querido diário:
se bem entendi, o deseho que segue não é bem desenho, mas um esquema. um dia transformá-lo-ei em um tipo de arte que será chamada de arte/planilha. esperemos. tem paciência, espera.

temos ali o confronto (confluência) de uma ruazinha com um avenidão. um pedestre deseja cruzar a ruazinha da esquerda para a direita. da ruazinha não se vê movimento. mas um pobre carrinho de quatro rodas quer ingressar à esquerda na ruazinha. o pedestre vê que ele está sinalizando, ainda em movimento. mas o próprio pedestre também vê o enorme caminhão circulando em linha reta pelo avenidão (em alta velocidade, como é costume dos veículos de carga nas cidades brasileiras). o pedestre pensa: como ele não está sinalizando que quer entrar à direita, posso concluir que ele quererá seguir em frente e o pobre carrinho não é loque e freará, ficará esperando a passagem do ilustrado motorista do caminhaozão.

é o elogio da teoria da escolha racional: o motorista do pobre carrinho, na visão do Pedestre Racional (que, como não estou usando o marcador "Vida Pessoal", é outrem...), estancará, segurará seu carro, freará, temendo o atropelamento. um pipoqueiro que por ali vegetava ouviu a explicação e acrescentou: "a verdade é que existe alguma incerteza para ser enfrentada pelo Pedestre Racional, pelo motorista do pobre carrinho e pelo condutor do Enorme Caminhaozão. e ela pode ser eliminada por meio de cálculos de probabilidade que serão submetidos aos programas de inteligência artificial implantados nos relógios dos três agentes. em resumo, o pobre carrinho estancará, o Enorme Caminhão prosseguirá em linha reta, o mesmo procedimento (atravessar a rua em linha reta) sendo adotado pelo Pedestre Racional.

repito: como nada tive a ver com esta cena, despeço-me afanosamente.
DdAB

25 dezembro, 2011

Mudanças Racionais

querido diário:
sigo atento ao hedonismo da ação humana. sigo atento a pequenos traços da vida cotidiana que mostram que os indivíduos estão mais propensos a escolher racionalmente do que menos. pelo menos, falo dos indivíduos equilibrados, hehehe.

como sabemos, ou deveríamos não saber?, tenho dirigido usualmente um carro automático. em outras palavras, associo-me a meia dúzia de indivíduos que ajudam a poluir o planeta por meio do transporte de rodagem individual. ou mehor, o transporte de quatro rodas para um indivíduo. não deixa de ser escolha racional da turma que criou a roda, pois um automóve baseado em triângulos ou icosaedros irregulares para a rodagem seria menos prático.

pois bem, mal faz um par de anos que dirigo o tal carro automático e, mesmo assim, parece que minha memória dos carros movidos a solavancos e engrenagens hostis foi-se na surdina, hehehe. ou seja, várias vezes, ao dirigir o automóvel convencional que me foi emprestado gentilmente, nestes últimos dias, errei a marcha, esqueci de fazer a mudança, confundi a marcha à ré com a primeira (ou a segunda) do sistema de câmbio VolksWagen. que quero dizer? que o racional mesmo seria estar mais atento. mas ainda mais racioal mesmo é escolher algo que minimiza o esforço, o trabalho humano. ou algo parecido.
DdAB
imagem: aqui.

23 dezembro, 2011

Natais Maiúsculos

querido diário:
como sabemos, participo da campanha "Ateus, saiam do armário". em momentos críticos, lembro de uma frase de um amigo revisto recentemente: só acredito quando posso. eu não posso dizer o mesmo: nem tento acreditar, não tento problematizar esta questão. sinto-me bem na campanha, anyway, pois acho um tanto estranha a importância que a turma dá para a religião, especialmente nas horas de infortúnio. também acho que é encrenca certa a negadinha que quebra o mandamento de "não tomar seu santo nome em vão", dando graças a Deus por ter assassinado um inimigo, ou metido a mão no dinheiro público.

é que no outro dia, vi a crônica de Luis Fernando Veríssimo, falando em Deus, com maiúsculas, hábito que conservo, em homenagem às pessoas de boa vontade, as forjadoras do futuro melhor para todos. mas ele - Veríssimo - dali a pouco falou em algo tipo "Sua presença". e aí achei já um certo exagero. parece que a turma que fala em "Estado" e "Presidente" está com a bola (de natal) pronta para quebrar-se.
DdAB
imagem: procurei com "adeus", pode?

21 dezembro, 2011

Osman e a Indução

querido blog:
o Osman de que falo é Osman Lins. o livro de que falo é "Nove Novena", uma ediçãozinha Guanabara, 1987. o original, diz-se, é da Martins, de São Paulo, em 1966.

o de que falo é da p.47:

Precisei lutar, em casa, contra a resistência dos mais velhos: afirmam que os papagaios trazem para a terra micróbios de bexiga [varíola], soltos na altura. Parecem ter razão, eu mesmo já os vi; e é sempre em outubro, depois das pandorgas, que surgem na cidade os bexiguentos, a febre, outras doenças.

não é uma lógica escorreita, admirável?  a diferença é que, naqueles tempos de um pouco depois de 1966, falava-se que não se deve confiar em ninguém com mais de 30 anos. ou seja, quem nasceu a partir de 1981 safa-se por um aninho...

não resisti e botei na ilustração desta postagem o link para o maravilhoso site do romance "Avalovara". parece que o primeiro conto do livro "Nove Novena" (ou seja, "O Pássaro Transparente") é um prenúncio do que viria a ser o maravilhoso e cerebral romance.


e a ilustração é de lá mesmo.
DdAB

20 dezembro, 2011

Sinuosidades na Salvação da Saúde

querido blog:
se é que são vias sinuosas, bem entendido. o jornal de ontem, na p.20 "Economia" fala nos planos de saúde privados (mas não usa a palavra "privados" e indago-me: 'será que o SUS é um plano de saúde? e digo: óbvio, plano governamental, um serviço universal, ainda que volta e meia e na maior parte das vezes quebre o princípio da universalidade, por probleminhas banais de compreensão o que é isto da parte dos juízes 'R$ 30mil').

depois diz: "Consultas agora têm prazo máximo de espera".

e apresenta uma tabela de resoluções da Agência Nacional de Saúde - ANS determinando que os planos, digamos o Plano Vida Paga, devem oferecer a seus prestamistas (?) a possibilidade de, não havendo hora disponível no consultório do profissional selecionado (digamos, por férias ou excesso de clientes), terem atendimento por parte de outro profissional indicado pelo plano.

pois achei isto a redenção. sempre fiquei estupefato ao saber da enorme delegação de poder ao doente, no sentido de que este é que definirá sua doença (diagnóstico) e, como tal, procurará um profissional médico que o referende e dê o tratamento. eu mesmo já me diagnostiquei com vários problemas, o mais sério deles sendo o da língua ferina.

o contraste do sistema atual brasileiro com o britânico - de que fiz parte ativa - é marcante. ao chegar a Brighton e anos depois a Oxford, uma das primeiras medidas que me impuseram foi inscrever-me no NHS (National Health Service). Em Sussex, havia um centro médico (uns barracões) dentro do próprio campus. Em Oxford, na Jericoh Road, estava o centro. lá fui e lá inscrevi-me. e lá voltei algumas poucas vezes para consultar. sempre o médico que me fora indicado, exceto precisamente uma vez em que adoeci durante suas férias e fui atendido por uma médica que o substitiu.

claro que o sistema brasileiro (da política à coleta resíduos de unhas cortadas a bebês) é deficiente. somos deficientes. a gente somos inútil. este tipo de medida da ANS pode ajudar a encaminhar um dos problemas: o governo ajudando o setor privado a ajeitar-se. os planos de saúde interessados em maximizar suas vendas começarão a credenciar clínicos gerais que farão a triagem que, hoje em dia, fica por conta do doente, um agente, como sabemos, adoentado e, como tal, incapaz de tomar decisões plenamente racionais, como a que agora me avassala e encerro.
DdAB
saúde? repouso? inúteis?

19 dezembro, 2011

O Futebol Racional: Barcelona 4x0 Santos

querido blog:
não vou abrir novo marcador, gente. vou falar sobre futebol, gente? claro que não, pois pouco ou nada entendo. por exemplo, vi o segundo tempo do jogo e não percebi que o Barcelona se move pelo sistema 3-7-0, ou seja, não tem atacantes. se não é paradoxo hidrostático, é paradoxo do mesmo jeito: como é que pode um time sem ataque fazer quatro gols? ah, podia ser quatro gols contra, só que não foi. o primeiro tempo foi jogado sem meu conhecimento, mas vi-me pessoalmente carregado pelo segundo tempo do jogo. ou seja, eu sabia que o domingo teria futebol japonês, mas nem pensara em inserir-me na festa.vi três registros no jornal de hoje, o Zero Hora, a hora zero.

o primeiro foi Moisés Mendes, na p.4. ele diz algo óbvio, principalmente, depois que foi dito. e, para ser dito, precisou de uma verdadeira demonstração de superioridade inconteste da arguementação comportamentalista: um show de bola do novo sobre o velho:

"Tente copiar a fórmula do Barcelona e forme então um time imbatível. Os dois cérebros, Iniesta e Xavi, não correm, troteiam. Durante metado do jogo, andam de ré em busca do melhor espaço, muitas vezes um minifúndio de dois palmos. Deslocam-se, marcam. Ninguém grita, ninguém ergue o braço pedindo bola. Não caem, não levam trombada, raramente encostam em alguém. Não tentam apitar a partida com o dedo em riste e nem pedem pênalti."

achei genial, especialmente aquele traço dos barcelonetos de não tentarem apitar a partida. e sobre erguer o braço, também me comove o levantamento dos dois braços simultâneos, em defesa regulamentar, significando: "não tenho nada com estes gemidos do adversário, que caiu sozinho".

depois, na p.5, tem Abrão Slavitsky:

"A Espanha mudou o jeito de vermos futebol, está provando que o craque diferenciado não resolve sozinho. Afinal, o Messi vai para a seleção da Argentina [... e a Copa do Mundo fica com a Espanha...]."

e ainda depois, na p.15, tem a charge de Iotti. vemos o jogador Neymar (com seu penteado fundamental para a prática do esporte bretão, como se dizia. e que declarou que o Santos teve uma extraordinária aula de futebol) sentado num banquinho, assistindo a uma aula dada pelo jogador Messi do Barcelona. este aponta para o quadro verde, onde se lê: "Menos balaca. Mais futebol coletivo!".

também vi contra-exemplos, ou contra-notícias. gente que acredita que o Vasco da Gama do Rio de Janeiro não teria sido abatido com tanta facilidade. eu pensei, claro, no Bandeirantes de Futebol e Regatas, de Jaguari, agremiação que ajudei a fundar...

mas, mais importante do que evocar os áureos tempos do Bandeirantes, acrescentei à lista de Moisés Mendes o traço de trocar os treinadores dos clubes de futebol a cada três meses, o que me parece de estirpe criminosa: contratos custam dinheiro e distratos também custam. alguém está ganhando mais indenizações do que determina o regulamento.

de tudo isto, o que fica é:

.a. precisamos ter um sistema judiciário decente
.b. precisamos ter uma lei do orçamento decente
.c. precisamos ter uma administração pública decente.

DdAB
p.s.: a foto é óbvia: a construção de Gaudì, o maior arquiteto da história. postada sobre Barcelona, a maior cidade da história, postada sobre a Catalunha, a maior região mediterrânea da história. a história, por seu turno, é a maior história da história. e assim por diante.

18 dezembro, 2011

O Portão Lá de Casa

querido diário:
primeiro, no filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", diz-se: "o terreiro lá de casa não se varre com vassoura, varre com ponta de sabre e bala de metralhadora." acho (afinal, não sou psicanalista) que era isto o que me ia pela cabeça ao selecionar o título da postagem acima. e que diabos de portão é este? é o portão que abre as portas do conhecimento, que abre, diria Aldous Huxley, as portas da percepção. abre as portas do conhecimento e do saber, da alegria de conhecer e do alto baixo astral que é ver a inguenorâncea vencer.

pois bem, não que eu seja um sábio, mas garanto que existem três e apenas três métodos que geram o conhecimento seguro. dois deles não me são caros, próximos, o outro é o método indutivo, tão próximo a David Hume, que o esculachou. o método indutivo, com efeito, já deixou muita gente louca, como Weber e Nietszche, para não falar em Hume himself. no livro de Ferguson e em outros milhares de livros, diz-se que indução é gerar conhecimento novo a partir de traços colhidos em instâncias particulares da vida fora da mente ("do particular ao geral"). por contraste, o método dedutivo ruma do geral ao particular. o método dedutivo, dizem alguns, não é mais do que o elogio do deja vu, ou seja, nada há de novo em dizermos que Sócrates é mortal, se soubermos que todos os homens são mortais de qualquer jeito. por contraste ao contraste, ir do particular ao geral despertou o ódio de Karl Popper, que parece que toma o sentido literal de tudo muito literalmente.

tenho dito que respondo à crítica de Hume dizendo que muitos métodos é o método (como ensinaram-me as profas. Bianchi e Fernandez. elas talvez não concordem que eu concorde com elas neste quadrante. seja como for, acabo de dar uma demonstração para o cachorro que eu levara a passear sobre a validade da indução. disse-lhe, em latim, claro, que, assim que eu apertasse um botão de uma caixinha preta que eu retinha em mãos, o portão iniciaria a abrir-se e teríamos tempo de ingressar edifício a dentro, safe and dry, expressão que provavelmente seria usada pelos usuários do portão da imagem de hoje.

se Popper achava que eu iria degolar meu cachorro, dando-lhe uma pista fria sobre o comportamento de eventos futuros com base nas regularidades empíricas do passado, muito ter-se-ia engadado: o portão funcionou direitinho. e assim seguirá funcionando pelo resto da eternidade, com a probabilidade de 1% de falha, garantida pelos fornecedores e avalizada pelo prefeito da cidade, que deu "habite-se" para a firma lá deles, os fornecedores. os fornecedores, por sinal, garentem que, em caso de falha do alarme ou do portão, socorrem-nos antes que o cão perca o fôlego...
DdAB
este portão, que não é meu, não, veio daqui.

17 dezembro, 2011

EDUCAÇÃO FÍSICA E EDUCAÇÃO ECONÔMICA


senhor blog:
Na segunda metade do século XX, o mundo fez-se consciente da existência do subdesenvolvimento. Na América Latina, o clamor pela industrialização induzida pelo capital público tornou-se uma religião. Em outras palavras, achava-se que a “política industrial” poderia trazer “renda e emprego”, o que resolveria todos os problemas da vida societária. O Brasil passou do diagnóstico à recomendação, fazendo um esforço industrializante, ainda que com um PIB gerado no setor serviços já maior do que a soma dos produtos agrícola e industrial.  Ainda assim, a vitória do desenvolvimentismo foi marcante, tendo investimentos e mecanismos creditícios chancelados pelo governo.

Uma vez que, na época, os recursos não eram menos escassos, sacrificou-se, por exemplo, uma rede de distribuição serviços de educação e saúde, que geram capital humano e talvez desenvolvam a indústria do mobiliário ou a dos instrumentos de precisão. Este tipo intangível de “capital” é made in Brazil, não sendo normalmente exportado em forma direta, mas na forma de produtos tecnologicamente mais avançados como os automóveis e a soja tropical. O festejado investimento estrangeiro serviu para dinamizar setores da economia brasileira, inclusive a chamada elite operária de São Paulo. A soja tropical dinamizou mais ainda a conquista do oeste brasileiro, ainda que ambos os processos tenham ceifado vidas.

O desenvolvimento do capital humano ajudaria a reduzir ambos os morticínios. Mas não é apenas isto: empregos de professores e cuidadores, médicos e enfermeiros contribuem para o PIB dos serviços e para a demanda que estes podem exercer sobre os setores agrícola e industrial. Sua contribuição mais importante é para a formação do capital humano, que pode gerar um trânsito mais desenvolvido e um tratamento ambiental do mesmo porte. No sábado passado, Rosane de Oliveira comentou a iniciativa do Ministério da Saúde em direção à criação de centros comunitários em que serão oferecidos à população serviços de exercícios físicos. Caso a eles sejam acopladas ainda a campanhas de reeducação alimentar e de combate ao tabagismo, eleva-se o padrão sanitário nacional, ipso facto, deixando-o mais próximo ao da sociedade igualitária. Saúde para todos é mais igualdade, permitindo o funcionamento eficiente do mecanismo de mercado.

DdAB
imagem do interessante site abcz. parece o Bibines.

15 dezembro, 2011

Equilíbrio e o Fetichismo das Mercadorias

querido diário:
se o marcador usado para esta postagem ajuda a amenizar o atropelo do título, então estamos ingressando, equilibradamente, no melhor dos mundos. os desequilíbrios são a tônica da vida. e os reequilíbrios também. prá frente é que se anda, teria dito o Coríntians de Futebol e Regatas, ou algo parecido. obviamente, para termos uma trajetória prafrentex, precisaremos, volta e meia, dar meia-volta, inclinar-nos à direita ou à esquerda. subir, descer. três direções, seis sentidos.

não fosse isto, não teríamos minha tradução, a seguir, da epígrafe do capítulo 8, de Samuel Bowles, do afamado livro de microeconomia. trata-se de um trecho que ele encontrou em Léon Walras e usou para contextualizar seu capítulo intitulado "Emprego, Desemprego, e Salários", em inglês.

vai lá, Walras:

Aceitando equilíbrio, podemos inclusive ir tão longe a ponto de abstrair o papel dos empreendedores e simplesmente considerar os serviços produtivos como sendo, em certa medida, intercambiados (exchanged) diretamente entre si.
(Elements of Pure Economics, 1874).

como, obviamente, estamos carecas de saber, o que Karl Heinrich Marx chamou de "fetichismo da mercadoria" é a sensação que nós -clube da carne-e-osso- tem de olhar para as mercadorias e pensar que elas trocam-se umas pelas outras. e por que fetichismo? pois -ao vermos o mundo desta forma- estamos olvidando que o que é trocado são horas de trabalho, precisamente as horas de trabalho socialmente necessário para a produção de cada uma delas, as mercadorias. e não foi isto, precisamente, o que disse Walras, ao "aceitar equilíbrio"? é pouco?
DdAB
o pior de tudo é que ante-ontem, falei o seguinte. somos descendentes de bactérias sedentárias que, um dia, decidiram tornar-se móveis. depois, seus pósteros começaram a trocar mercadorias e chegaram a gerar o presidente do Banco Central Mundial. ninguém aplaudiu, mas tampouco desmaiou.

14 dezembro, 2011

O Pivô do Caso do Pivô


querido diário:
a postagem com o título acima:
.a. não tem erro de embaralhamento
.b. tem tudo a ver com o marcador que a -com certa redundância- identifica, ou marca.

sabemos que há pelo menos dois sentidos para a palavra pivô. o primeiro, meu velho conhecido, origina-se do jargão dos jogadores de basket-ball e suas posições na quadra. que fazem eles tanto tempo? não sei.

o outro é um chuveirão usado para irrigar as lavouras. ele gira, lança jatos de água. estes descrevem trajetórias parabólicas e, com estas duas peculiaridades, encharcam o terreno que ficaria -otherwise- seco.

segue-se logicamente que, um dia destes, a mesma personagem do fato que narrei ontem contou-me que caminhava pelas ruas do aprazível bairro Menino Deus da aprazível cidade de Porto Alegre, quando percebeu à distância a ação de um pivô, destes proibidos em épocas de seca - como é o caso. o pivô molhava as plantas, comme if faut, mas também jogava água na calçada. então o mendigo, que não estava para banho nem respingos ("já chega os da chuva", confidenciou-me ele), declarou-me ter calculado "mais ou menos" até onde a água poderia ir sem molhá-lo e adotou precisamente a trajetória que nasceu em seu cérebro e que o livraria da molhaçada, inclusive de pisar na poça que a água já fizera na calçada (que havia um buraco não sanado pelo prefeito da cidade).

disse-me ele que isto nada mais é do que explorar a teoria da escolha racional em todo seu explendor.
DdAB

13 dezembro, 2011

A Racionalidade da Economia Monetária

querido blog:
esta postagem bem que poderia estar localizada num marcador "Mal-entendidos", que nunca criarei. seja como for, o título que criei para ela é enganador. não quero falar sobre a economia monetária, ainda que queira fazê-lo sobre racionalidade.

é que no outro dia, vi um mendigo receber uma moedinha de R$ 1,00. também vi que, ao tentar inseri-la em seu porquinho da caderneta de poupança, ele fez-se trêmulo e a derrubou sobre a via de rolamento da avenida. aí é que pintou o substantivo "racionalidade" do título da postagem. e se trata, a meu ver, de racionalidade substantiva, no sentido de otimização de alguma função que lhe habita/va a cabeça.

creio que, na intenção de minimizar o tempo desperdiçado em reparar o tresloucado ato de jogar dinheiro ao chão (o que não foi, alegou, depois, no bar, ele, para mim mesmo ou meus prepostos), ele - ao soerguer-se, depois de ter empalmado (?) a moeda - ia colocando-a no orifício do afamado porquinho da poupança.

se isto não é racionalidade substantiva, pensei, minha avó é bicicleta.
DdAB
a bicicleta é daqui. o contraste entre os trajes do mendigo e os do estudantezinho oxfordiano não poderia ser mais iluminador.

11 dezembro, 2011

A Ameaça Chinesa e a Ameaça Popular

querido blog:
o mar não está para peixe, hoje é domingo, pede cachimbo. só bebendo. cada vez que me organizo para fazer uma postagem complicada, fico pensando que estes lugares comuns (pelo menos aqui pelo Planeta 23) são utilíssimos para quebrar o gelo. naquela postagem da sra. do Tapa na Pantera (aqui), falei que o Banco Central Mundial (a ser criado pelo povo armado) é que deve organizar a Brigada Ambiental Mundial (e contratar o povo em processo de pacificação, pagando-lhe uma renda maior do que a renda básica universal, que também ingressará no orçamento desta nova e já vetusta instituição).

volto a referir a reportagem da Carta Capital de 7/dez/2011, às p.98-101, retirada da Economist, respondendo pelo título de "Estrada da perdição", no catalogador "Nosso Mundo". é dele que falo, de nosso mundo, o mundo que é dominado pelo ser humano e muito ser humano tomou a liberdade de ser dominado por outros seres humanos. na Idade Média, a agiotagem era punida até com a morte, executada pela Igreja ou pelas populações revoltadas. o homem sempre teve a mania de resolver seus conflitos a ferro e fogo. hoje mesmo esta metodologia é aplicada em centenas de focos de revoltosos e revolucionários.

trata-se dos PIIGS, trata-se da falência do modelo europeu? claro que a União Europeia é a maior invenção da história da Europa: se evitar novas guerras, ter-se-á pago mil vezes. trata-se, isto sim, da falência de um modelo de divisões perniciosas das finanças mundiais entre estados nacionais. a saída é o governo mundial. a saída é o governo mundial, sô. a saída é a reciclagem dos povos, dando-lhes novas perspectivas de vida e, como tal, de combate à destruição do meio-ambiente. hoje, parece ridículo querer tomar conta dos jacarés, crocodilos, elefantes e micos-leão, pois o garoto etíope, o da Vila Cruzeiro, o boliviano, o neto de porto-riquenhos de Nueva York Central, encontram-se em situação de mais carência do que os pobres bichinhos. tão ou mais pobres são estes espécimes humanos, relíquias da crueldade planetária do início do século XXI.

fala-se que a desigualdade pode ser curada por meio dos incentivos à mobilidade. obviamente, este é o maior elogio das ações igualitaristas, pois só se pode pensar em mobilidade com a democratização das oportunidades. e só se pode pensar em democratizar, digamos, o ensino, com crianças banhadas, alimentadas, descariadas, desviolentizadas, essas coisas. por isto, tenho dito que a função social de cada grupo de seis a oito meninos de rua é dar emprego de um dia a um psicólogo, um assistente social, um dentista, e por aí vai, por dia. se o coeficiente é de oito, então cada cinco magotes de meninos dará emprego de uma semana inteirinha para essa turma. a turma, otherwise, manter-se-á desempregada, desenvolvendo seus potenciais de revolta ou revolução.

retomo, agora, a citação que fiz no dia do Tapa na Pantera. era: diz a Carta, na p.98: "[...] Os governos prometem cortes de orçamento cada vez mais severos na esperança de pacificar os mercados de títulos. [...]"

agora fica:

[...] A intensificação da pressão financeira aumenta as probabilidades de uma moratória desordenada de um governo, uma corrida para depósitos no varejo em bancos com pouco caixa ou uma revolta contra a austeridade que marcaria o início da ruptura.

[...] Os bancos europeus liquidam os títulos dos menos dignos de crédito, e outros ativos, na tentativa de conservar capital e melhorar o fluxo de caixa enquanto paira a ameaça de uma crise financeira total. Os governo prometem cortes de orçamento cada vez mais severos na esperança de pacificar os mercados de títulos. O resultado direto dessas mexidas é um esmagamento do crédito e um aperto na demanda agregada que empurra a Europa para uma recessão.

parece óbvio: os "investidores" querem escravizar o planeta. cumpre-se, portanto,  levar-lhes uma luta mortal e colocá-los em seu devido lugar: cidadãos como todos os demais. cumpre-se, portanto, declarar já nossa independência. independência ou morte (a eles)!.
DdAB
a imagem veio deste caprichadíssimo blog. estarão pensando nos futuros empregos na Brigada Ambiental Mundial!

09 dezembro, 2011

Sonho de Valsa

querido diário:
Sonho de Valsa não é um pássaro. nem um avião, nem um supercruzador sideral (como o Galactica). nem um bombom, uma barra de chocolate, uma esfera perfeita. Severiana Rezende Pereira (ver) chamou-a, para simplificar o diálogo com Salviano Salvador do Solstício, de nave. Sonho de Valsa, portanto, é uma nave. ainda assim, não é uma nave convencional, pois rola como uma gota de mercúrio e é fluida com a esteira de uma patrola deslizando sobre azeite de oliva de 0,001% de acidez. tão harmônica quanto um concerto para cordas de Mozart ou uma natureza morta de Cézanne. Sonho de Valsa não é deste mundo, viaja a velocidades estonteantementes maiores do que a da luz e nem precisa de luz para mover-se, pois usa um código de dois bilhões de dígitos que a faz como que "ver" seu presente, passado e futuro. este, claro, sempre associado a probabilidades, que -sabe-se bem- o universo é acomodado pela teoria dos 50%-50%, ou seja, "tudo pode ser, mas apenas uma coisa é, ou foi, ou está sendo."

ao meio-dia, Salviano e Severiana encontraram-se para almoçar. ele trajava cores simbólicas e ela usava um gorro que a fazia parecer-se como se vinda de não-se-sabe-de-onde. seus robôs encarregaram-se daquela tradução implausível há dois ou três bilhões de anos, mas perfeitamente fluida naquele momento. ou seja, suas ações comunicativas, além das aclimatações e estabilizações constantes das

...
DdAB
p.s.: o texto concluiu-se assim, abruptamente, como a soma de 2+2.
p.s.s.: a imagem é, claro, da Galactica.

08 dezembro, 2011

Duas Teses para Abalar: China Lá, Bancos Cá

querido diário:
hoje acabo de viver uma experiência extraordinária. tive meu computador novo instalado e tive conversas altamente criativas com o responsável. disse-lhe que postaria mais ou menos o que agora faço. disse-lhe que iria estudar algumas coisas depois e complementar estas duas teses que hoje revelo. trata-se de minha contribuição para a teoria da grande conspiração.

em outras palavras, existe, comprovadamente, uma conspiração entre banqueiros internacionais e dissidentes do Partido Comunista Chinês cujo objetivo é colocar as economias européia e americana em recessão. com isto, abalam-se as exportações chinesas, a China entra em crise, desbanca-se o Partido Comunista, instaura-se a democracia e... pluft!, seremos felizes.

mas ainda mais séria do que esta visão idílica da miséria a que serão lançadas (estão sendo) milhares, milhões de vidas é a frase que li na Carta Capital de que falei no outro dia e que carrega o -presumo- último artigo do jogador Sócrates, falecido no outro dia.

diz a Carta, na p.98: "[...] Os governos prometem cortes de orçamento cada vez mais severos na esperança de pacificar os mercados de títulos. [...]"

eu disse para meus botões: a Brigada Ambiental Mundial que proponho na lapela deste  blog é algo que se faz mais necessário do que nunca. quem financiará? só pode ser o Banco Central Mundial, a ser criado e a ser encarregado de pagar uma renda básica a todo cidadão terráqueo maior do que, digamos, 24 anos e complementar os rendimentos daqueles que se habilitam a trabalhar na Brigada Ambiental Mundial. dado o adiantado da hora, deixo os maiores detalhes para outro dia.
DdAB
imagem: aqui. e a abundância de marcadores se deve ao inusitado instaurado pelo tema.

07 dezembro, 2011

O Primeiro Silogismo do MAL*

querido blog:
neste dia de 24 horas (exceto para os habitantes do Planeta 23), não custa evocar o primeiro silogismo do MAL* (o afamado Movimento pela Anistia aos Ladrões Estrela, isto é, os políticos brasileiros, instando-os a fazerem legislação que force a honestidade daqui a 50 anos, se é que não da de fazer em 2012 mesmo), à propos dos anúncios da barganha iniciada pelos cargos que serão reposicionados pela presidenta Dilma. negociando com seus "aliados", ela -como sugeri- negocia com "eles".

vamos ao silogismo:

Premissa Maior: todo político é ladrão
Premissa Menor: todo ladrão é político
Conclusão: logo todo político e todo ladrão são farinha do mesmo saco.

corolário (concatenação): segue-se logicamente que dá vontade de beber por constatar que tão cedo não vai ter este tipo de anistia, relegando nossa crença em mudanças de construção de um futuro melhor para mais adiante. mais adiante?
DdAB
e a imagem: abcz.

06 dezembro, 2011

Lições de Altruísmo: revezamento

querido blog:
ontem vivi uma experiência extraordinária. conversando com a dra. Carmem Daudt (médica e paraquedista), cheguei a mencionar

na postagem de 28/nov/2011, cheguei a mencionar, de modo brincalhão, algumas coisas:

.a. "por que um velho se preocupa com o futuro? eu, de minha parte, acho que é que estamos interessados em ver aonde nos mandam nossos modelos." com esta piadinha mais desenvolvida, postei ontem uma definição para a realidade objetiva.

.b. menos piadisticamente, sugeri: "acho que a sociedade igualitária é a panaceia, mas como não a vejo possível em meu horizonte de vida, já vou jogando a responsabilidade para a outra geração."

mas a dra. Carmem Daudt mudou-me a perspectiva, sugerindo que o que vemos é o resultado de uma enorme corrida de revezamento, em que muitos de nós -os participantes, ou seja, os nascidos vivos e talvez muito mais do que estes-  nos entendemos como parte de uma história interessantíssima. fomos treinados para viver e também somos treinadores. treinamos nossos filhos e, muito além deles, os filhos de incontáveis outros (alunos, pacientes, clientes, fornecedores, e por aí vai). como tal, queremos que eles se deem bem, ainda que não saibamos os detalhes do restante de sua viagem/corrida/revezamento.

e daí entra novamente o papel do indivíduo na história, do jeito que o vejo: transitamos do culto aos antepassados mais diretos àqueles que viveram há muitas e muitas gerações, por serem ou nossos ancestrais diretos ou por termos com eles ancestrais comuns. Sócrates -que, como soubemos no domingo passado, era mortal- ou era meu parente direto ou, se não o era, tinha ascendentes comuns comigo, nem que fosse há 10 mil anos. em certa medida, também se liga a este assunto a possibilidade de que tudo gira em torno de nossa percepção de que perderemos de modo absoluto nossas memórias. neste caso, queremos deixar o maior número possível de traços que favoreça o resgate de nosso verdadeiro "ego".

em resumo: viver bem significa dizer que precisamos estar preparados para fazer um belo papel neste revezamento. é altruísmo querer preparar bem os futuros participantes que poderão "resgatar-me"?
DdAB
a imagem, que nos evoca o capitalismo japonês, veio do seguinte veio.

05 dezembro, 2011

Definições, hehehe

querido diário:
vim a entender, durante este fim-de-semana -que acabamos de deixar para trás- que o mundo real é um artefato tetradimensional (pelo menos) criado precipuamente para favorecer a calibragem de modelos estocásticos e às vezes até os determinísticos.

de sua parte, a letra "M" (cuja minúscula é "m") tem peculiaridades que a levaram inexoravelmente (deterministicamente) a formar a décima terceira posição do alfabeto.
DdAB
imagem: mais notória do que o punho em riste que nos ficará eternamente na memória com a vida de Sócrates, o jogador de futebol e médico e cronista da Carta Capital, que -por sinal- assinou a coluna que sairá na próxima quarta-feira e que eu pude ler talvez nos momentos finais de sua vida.

04 dezembro, 2011

Kirchner x Prebish

querido diário:
há pouco li estupefato na p.3 do caderno Dinheiro de Zero Hora que a presidenta Cristina Kirchner teria dito:

"Não queremos importar nem um prego. Queremos que tudo seja produto argentino."

pensei: claro que ela não disse bem assim, claro que este negócio está sendo citado fora de contexto. claro que é difícil de dizer o que passa pela cabeça de um governante. eu sempre dediquei um afeto especial à cultura de los hermanos (Argentina e Uruguay) e sofro com suas desditas políticas.

no que diz respeito à economia, pouco ou nada sei sobre suas economias, a não ser a tragédia que lhes ocorreu na década final do século XX. se bem lembro, o PIB de ambos chegou a cair uns 40%, o que não ocorrera nem na depressão americana de 1929. claro que, sob o ponto de vista da ciência econômica, sei um pouco mais, especialmente graças ao nome de Raúl Prebish, o grande pensador estruturalista latino-americano. seu famoso artigo está publicado numa Revista Brasileira de Economia lá dos anos 1950s.

parece-me que a questão deste desenvolvimentismo e do novo estava intrinsecamente mal colocada: afinal, o que queremos, o protecionismo eterno ou o livre comércio? preciso reler o artigo de Prebish para repensar se ele estava propugnando pelo protecionismo eterno.

e agora esta. nem digo que fosse mesmo a intenção da presidenta botar abaixo não apenas o Mercosul, mas também qualquer ideia de livre comércio. o problema que me trouxe a esta postagem é precisamente o fato de que há gente que pensa assim, que pensa em protecionismo como política de estado.

a frase de Zero Hora é ridícula: se não importarmos, que faremos com nossas exportações? ou a presidente estaria pensando que vale a pena exportar os produtos do agronegócio argentino e importar serviços? botar a turma a passear pelo mundo, com hospedagem nos mais sofisticados hotéis? ou mandar seus filhos estudarem em Harvard, Sorbonne e Cambridge? surfar em Bali?

ou, mais refinado, seria fazer um fundo financeiro no exterior constituído pelo superavit do balanço de transações correntes de uns 50 anos e depois viver de rendas. ou seja, produção apenas para o mercado doméstico e depois, os dividendos eternos. mas como rimar ausência de importações com produção local e riqueza? faria sentido enviar toda a população local ao exterior, pois ninguém iria produzir localmente e, como as importações estariam proibidas, todo mundo passaria o tempo inteiro viajando, a fim de pelo menos fazer lá suas três refeições por dia.

e deixar o país vazio?
DdAB
a simpática imagem do resumo declaratório da presidenta veio de abcz.

03 dezembro, 2011

Novo Marcador: TER Equilíbrio

querido blog:
hoje começo a dar nome específico a postagens que se relacionam com a teoria da escolha racional, o postulado da racionalidade e a relevância do conceito de equilíbrio para a estruturação da teoria econômica. a primeira história runs as follows. estava eu sentado na sala, lendo Azimov's New Guide to Sciences, quando tropecei na palavra "slit". eu a conhecia da descrição do tempo: nem chuva nem neve, mas caindo do cosmos ao chão do planeta. mas este sentido não dava sentido à frase que li. na p.58, Azimov explicava o experimento de Joseph von Fraunhofer em 1814 que levou à invenção do espectroscópio.

levantei-me, fui ao escritório pegar o dicionário e à medida que ia voltando já ia procurando o que queria. aí observei que a cortina, deslocando-se ao ritmo do vento, praticamente caía dentro do aquário. prendi-a, protegi-a. comecei a busca por slit já pegando osalegados 20% finais, pois sei que "s" não está "no começo". na primeira tentativa, caí em self-registering. foi uma boa tacada, não é?

voltei a sentar-me no sofá e achei o que é slit: fresta, fenda, algo assim. feita entre duas ou mais chapas de metal. mas não é este meu tema. nem o aquário, nem o sofá. que queri dizer então? que agi racionalmente o tempo inteiro. tinha um objetivo em mente: "investigar palavra importante para compreender o assunto". no livro de Mesoeconomia, diz-se a certa altura que o dicionário é o melhor amigo do homem. e que a passagem da condição de júnior à de sênior reside na capacidade de identificar -num relance- a diferença entre o termo técnico e o termo de um padrão de fala mais refinado.

o fato de ter um objetivo em mente e estar-me esforçando para alcançá-lo não me impediu de cometer erros. o primeiro foi o "self-registered", ao invés de ir direto ao "slit". apenas após três ou quatro tentativas é que cheguei ao termo desconhecido. ainda mais, aninhei outro objetivo inesperadamente: salvei a cortina de molhar-se  os peixes de serem sufocados por ela, sei lá. mas fui voltando, voltando e retornei à leitura. muito boa, por sinal. outro dia falarei mais sobre método e usarei uma passagem ultra interessante deste mesmo livro. ao lê-lo fico entendendo que conhecer a história da ciência é praticamente tão importante quanto conhecer a teoria.
DdAB
fonte da imagem: aqui.

01 dezembro, 2011

Positivo x Normativo

querido blog:
o corte positivo x normativo é mais velho do que a ciência econômica, pelo que li num papelzinho um dia destes. e também lera, há mais tempo, no livro de microeconomia de Samuel Bowles que os evolucionários são mais inclinados a fazerem análises positivas, ao passo que os desenvolvimentistas pensam mais em engenharia social.

por quê? creio que os evolucionários acham que não vale a pena interferir, pois não se pude mudar nada substancialmente. um tanto austríacos, na verdade. mas acho que a política econômica, como a de Pol-Pot (?) no Cambodja, pode fazer a diferença, remetendo gente diretamente para o inferno. por outro lado, este negócio de engenharia social também cheira a autoritarismo.

parece que foi um grande pensador que falou, mas li em Fernando Gabeira (ndo tempo da tanguinha de tricô) que o problema com a revolução é que, depois de criado o exército, ninguém mais é capaz de desarmá-lo. e também ouvi, de gente mais qualificada, que o problema com os comitês de defesa da revolução é que eles defendem a revolução e outros interesses menos altruísticos.
DdAB
imagem do site a que se chega, além de incontáveis outros caminhos, clicando aqui.