há pouco li estupefato na p.3 do caderno Dinheiro de Zero Hora que a presidenta Cristina Kirchner teria dito:
"Não queremos importar nem um prego. Queremos que tudo seja produto argentino."
pensei: claro que ela não disse bem assim, claro que este negócio está sendo citado fora de contexto. claro que é difícil de dizer o que passa pela cabeça de um governante. eu sempre dediquei um afeto especial à cultura de los hermanos (Argentina e Uruguay) e sofro com suas desditas políticas.
no que diz respeito à economia, pouco ou nada sei sobre suas economias, a não ser a tragédia que lhes ocorreu na década final do século XX. se bem lembro, o PIB de ambos chegou a cair uns 40%, o que não ocorrera nem na depressão americana de 1929. claro que, sob o ponto de vista da ciência econômica, sei um pouco mais, especialmente graças ao nome de Raúl Prebish, o grande pensador estruturalista latino-americano. seu famoso artigo está publicado numa Revista Brasileira de Economia lá dos anos 1950s.
parece-me que a questão deste desenvolvimentismo e do novo estava intrinsecamente mal colocada: afinal, o que queremos, o protecionismo eterno ou o livre comércio? preciso reler o artigo de Prebish para repensar se ele estava propugnando pelo protecionismo eterno.
e agora esta. nem digo que fosse mesmo a intenção da presidenta botar abaixo não apenas o Mercosul, mas também qualquer ideia de livre comércio. o problema que me trouxe a esta postagem é precisamente o fato de que há gente que pensa assim, que pensa em protecionismo como política de estado.
a frase de Zero Hora é ridícula: se não importarmos, que faremos com nossas exportações? ou a presidente estaria pensando que vale a pena exportar os produtos do agronegócio argentino e importar serviços? botar a turma a passear pelo mundo, com hospedagem nos mais sofisticados hotéis? ou mandar seus filhos estudarem em Harvard, Sorbonne e Cambridge? surfar em Bali?
ou, mais refinado, seria fazer um fundo financeiro no exterior constituído pelo superavit do balanço de transações correntes de uns 50 anos e depois viver de rendas. ou seja, produção apenas para o mercado doméstico e depois, os dividendos eternos. mas como rimar ausência de importações com produção local e riqueza? faria sentido enviar toda a população local ao exterior, pois ninguém iria produzir localmente e, como as importações estariam proibidas, todo mundo passaria o tempo inteiro viajando, a fim de pelo menos fazer lá suas três refeições por dia.
e deixar o país vazio?
DdAB
a simpática imagem do resumo declaratório da presidenta veio de abcz.
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