18 julho, 2011

Leituras Biográficas

querido blog:
quando falo em leituras, falo -ipso facto- em minha biografia. não recordo se nasci já sabendo ler, o fato é que tenho um livro do bebê praticamente todo preenchido. também tenho boletins escolares dando notas superiores às de aprovação em "Linguagem", "Português" e até "Metodologia". um dos gêneros literários de que gosto, by the way, é a biografia. e muito aprendi sobre os grandes gênios da humanidade lendo-lhes as biografias. para não ir muito longe, volto a 1962 ou 1963, quando li algumas biografias de empresários, cabendo-me destacar por retê-los na memória, os nomes do Visconde de Mauá e de Henry Ford. fiquei muito entusiasmado com ambos e decidi que, como Mauá, eu iria fazer uma fábrica de papel na Amazônia. felizmente, não o fiz, o que não impediu o desmatamento... relativamente a Ford, decidi ser corredor de automóveis, o que -em certa medida- colidiu com os sucessos de Emerson Fittipaldi e me fez ver que aquela não era mesmo minha praia.

mas quero falar em "leituras biográficas" em outro sentido, mas outro, no sentido de que a tangente entre o assunto do parágrafo anterior e o deste não é nula, ou seja, se é que se trata de retas, são -definitivamente- retas que se interceptam em algum ponto anterior ao infinito. ou seja, no ponto de interseção, esconde-se um verdadeiro Aleph, o ponto que reúne todos os demais pontos do universo, no caso livros... explico-me: entre minhas leituras formadoras, encontram-se também biografias. para não aprofundar-me (mas sem tampouco querer abreviar-me), falarei de três delas:

.a. Monteiro Lobato
.b. Isaac Deutscher
.c. Giovanni Arrighi.

entre o primeiro e o último (claro que não é "último" naquele sentido desagradável da finalidade da vida...) passaram-se, digamos 40 anos. hoje, para mim, "veinte años no es nada" e nem 40... seja como for, trabalhei "com carteira assinada" 41, ou seja, poderia ter lido tudo novamente... agora trabalho sem carteira assinada... e em breve lerei "A Casa Assassinada" se me não faço trocadilhesco no estilo de l'art pour l'art.

pois bem, a primeira obra sistemática que li na vida tinha eu 11-12 anos, morava em Campo Grande do Matto Grosso e muito me eletrizou: praticamente toda a obra infantil de Monteiro Lobato, começando com as "Reinações de Narizinho" e chegando, se bem lembro, a "Os 12 Trabalhos de Hércules". Ou era "O Minotauro"? deixarei pendente esta questão, pois há outra ainda mais intrigante. já referi que furei a leitura de um dos volumes, cujo nome agora me foge -ou seja, não li e não gravei- e que não tenho intenção de sanar a lacuna, pois o que li preencheu-me de tal maneira que até hoje lembro com carinho e até hoje rende frutos pelo humor, pela informação e pelo que segue no próximo parágrafo.

uns 10 anos depois (até menos...), vi um carinha na TV (já rolava a ditadura militar) dizendo que "Monteiro Lobato é o comunismo para crianças". acho que era mesmo, pois talvez por lá é que residam meus primeiros grãozinhos de igualitarismo. Tia Nastácia era igual a Dona Benta, Pedrinho, igual a Narizinho e ambos iguais ao Saci e à Emília. no outro dia, li -contrafeito- que uns dromedários acham que Monteiro Lobato era politicamente incorreto, o que me fez pensar sobre o Q.I. destes strange animals e o próprio conceito de politicamente correto, que se deixa capturar por irresponsáveis com tanta facilidade, talvez apenas inferior à do PT pelos ladrões.

antes de Monteiro Lobato, lera algumas obras também importantes (para a idade): "Tarzan e os Homens Macacos", "Amar, Verbo Intransitivo" (que li escondido) e anos depois vim a relembrar, ao ver um filme, com -se bem lembro- Júlia Lemmertz, se é que existe. parece-me que por essa época comprei meu primeiro livro com meu dinheiro. não lembro o nome. no final da adolescência, lembro de ter adquirido outro, com meu dinheiro: "Mobby Dick". até hoje não entendo por que diabos a baleia voltou e detonou de vez o barco. mas evoco o gato que voltou da briga (vencedor) e baixou mais uns petelecos no gato vencido. e apenas aí é que foi embora, altaneiro. finalmente, antes -pode algo finalizar antes?- ganhei de presente do Major Bergo um belíssimo livro de contos de fadas, não sei se apenas de Grimm, Andersen, aquela maravilhosa turma.

pois bem. terei lido outras coisas entre Monteiro Lobato e a biografia de Leon Trotsky, escrita por Isaac Deutscher. o fato é que devo ter passado um bom tempo lendo-a, pois é uma coleção de três alentados volumes. lembro de que já estudava economia e gostava muito mais e assim a aprendia do que lia do que aquilo que rolava naquela faculdade em que havia, pelo menos um, alcaguete da ditadura. aprendi não apenas coisas sobre a revolução russa, a história da Europa e muito mais detalhes. o que -talvez- tenha sido a herança mais importante pode ser o estilo de argumentar (hoje reluto de chamar de "dialética", pois senti o mesmo fascínio num possível item .d. da lista acima, ao ler a biografia de Allan Greenspan, que de "dialético" deve ter pouco ou nada...). assim, esta foi a segunda grande obra sistemática que li e, certo ponto de vista, mais circunspecto, a primeira. eu, que queria ser economista e não sabia bem que diabos de profissão era esta, comecei a intuir algumas coisas que realmente vieram a se confirmar uns 10 anos depois de já graduado. e claro que houve pilhas de outras coisas que não têm a ver diretamente com minha formação nas ciências sociais, mas que reputo de importantíssimas para minha formação ponto. (sobre "ponto", ver abcz).

entre Deutscher e Arrighi passaram-se três décadas. li Arrighi em 1996, creio que no próprio ano de lançamento no Brasil (o que não é muito meu hábito, por distração ou falta de interesse). falo de "O Longo Século XX", em que fui apresentado à "teoria da história" de Fernand Braudel. por influência, li -emprestado de Carmen Gelinski- um resumo que o próprio Braudel fez em conferências nos Estados Unidos. o livro de Arrighi, claro, vai muito mais longe, pois partiu de torso de um gigante. e talvez até deva relê-lo -ao Arrighi- para lembrar bem tudo o que ele fez de bem por mim.

isto não nega que eu tenha lido outras grandes obras. para citar as mais téncicas, posso falar em Wassili Leontief e Richard Stone. e, para concluir, já que falei nesta dupla, não posso deixar de mencionar pilhas (tudo o que pude) das obras de meu finado orientador, Andrew Glyn. e há menos de cinco anos, o tão celebrado por mim, livro de microeconomia de Samuel Bowles.

DdAB
imagem (que editei, retirei dela a sra. Camila Parker-Bowles; nem ela, nem eu -portanto- podemos ser confundidos com muares): daqui.

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