querido blog:
depois daqueles dias difíceis em que parecia que o Brasil viria abaixo por causa daquele endiabrado livro que recomendava uma lavagem ideológica em quem escreve corretamente (olha, que nem disse, acompanhando Machado de Assis, "quem escreve correto"), chegou a hora de mudarmos o foco. parece que para cada imbecilidade que alguém articula, seguem-se milhões de imbecis que acham que aquela sim é que será -diria a plebe rude- a salvação da lavoura.
pois agora começa-se a dizer que os tempos modernos vão prescindir de que as crianças aprendam a escrever, pois o computador escreverá por elas. ou seja, que a caligrafia está condenada aos infernos, ao lado das bengalas e charretes. só falta, agora, milhões de abobados começarem a dizer que, realmente, nunca mais, desde primeiro de janeiro de 2000, usamos bengalas ou andamos de charretes. haverá bengalas per omina secula e charretes idem. o que provavelmente poderá deixar de existir serão pessoas que necessitarão ser amparadas por bengalas, pois a medicina permitirá qualquer cego voar, que não dizer de andar sem bengalas. e andar com ou sem charretes, charretes por diversão e as charriots of fire que, parece, andariam nos espaços siderais.
claro que o livro de papel está com seus dias contados. claro que a digitação em teclados de computador e seus sucedâneos, nem todos devidamente catalogados em 2011, está com seus dedos contados. e claro que todo mundo precisará de seus 10 dedos para fazer milhares de coisas, inclusive, digitar e escrever. lembro-me dos velhos cursos de educação à distância (ensino por correspondência do Instituto Universal Brasileiro): quem escreve pode desenhar.
pois bem, na sociedade do futuro, todos seremos esportistas e artistas, além -como informei ontem- cientistas. artistas? claro, também seremos músicos, também deveremos saber escrever não apenas letras, mas também notas musicais. claro que deveremos ter uma caligrafia decente, claro que hoje o preconceito caligráfico é mesmo em primeiro lugar contra os analfabetos, a afasia gráfica. em segundo lugar, há preconceito caligráfico contra os produtores de garranchos. ainda assim, podemos ver, pelos garranchos, quem é culto e quem não é: nem todo garrancho é de quem mal sabe empunhar um lápis (objeto efêmero) ou sucedâneo (inimaginável por enquanto). tem que educar a letra da mesma forma que tem que educar o desenho e a grafia das notas musicais. tem que acabar com a desigualdade neste tipo de talento que, hoje, está mais próximo dos filhos dos ricos do que dos filhos dos pobres. tem que acabar com os pobres. tem que dar-lhes um chá de dinheiro!
então parece óbvio (como li no Asterix no Egito): quem desenha pode escrever!!!
DdAB
3 comentários:
Uma coisa eh certa, a cada vez que pego uma caneta minha caligrafia fica pior.
Os meus alunos não querem mais desenhar os gráficos das funções em papel milimetrado, o celular super moderno que eles usam mostra os gráficos para eles. Coincidentemente, eles têm maior dificuldade para lembrar do comportamento das funções elementares que os alunos (raros) que ainda se obrigam a fazer os desenhos.
A memória que eu tenho dos objetos matemáticos têm um pouco de tátil, envolvendo o raspar do lápis no papel enquanto vão surgindo gráficos, símbolos, equações, ideias...
Perder habilidades manuais, também é perder formas de pensar, que vão sendo substituídas por outras (alguém pode lembrar, talvez, dos gráficos associando-os a digitações de comandos(?)); mas não precisamos substituir, podemos acrescentar e, das várias formas de pensar, escolher a que mais convém em cada caso.
Um grande abraço. (Sílvio)
penso que a caligrafia do Daniel vai piorando (se é que o vai) porque ele tem cada vez mais ideias e quer colocá-las para fora todas ao mesmo tempo. e penso, na linha do Sílvio, que o progresso material não pode impedir o homem de desenvolver cada vez mais amplamente sua capacidade de pensar. meu argumento em favor da "tecnologia antiga" tem tudo a ver com a produção de arte. meus "borbotões" impediram-me de seguir na confecção dos desenhos infantis, do que muito me arrependo. o fato de eu ser um comprovado "ás no teclado" não me impede de escrever bastante diariamente, pois faço notas de leitura, notas de que fazer no supermercado, notas de que fazer com as notas de banco...
DdAB
Postar um comentário