querido diário:
decidi fazer uma reflexão sobre dois dramas que avassalaram a parte do mundo que meu jornal cobre. na verdade, avancei sobre outro jornal, que tem duas fotos chocantíssimas da ainda viva Amy Whinehouse. na primeira, braços nus, ela aparece até com certo sobrepeso, se o papel permite dizer isto. na segunda, vê-se um palito decadente, os braços cheios de tatuagens esdrúxulas e outras mais convencionais. a figura absolutamente insofismável da decadência humana.
o contraste desta postura física da agora finada Amy é marcante com o do norueguês Anders Behring Breivik, sabe-se lá como pronunciar. ele até dá uns ares de Bruce Willis, um olhar ferino, carregado dentro de um -sei lá- camburão. ao invés de matar-se antes, durante e no imediato assassinato de quase 100 pessoas, ele se mantém vivo, tentando transmitir sua mensagem delirante ao mundo.
quando vi estas duas tragédias, uma auto-inflingida e a outra perpetrada contra jovens inocentes, fiquei pensando que minha constante recorrência aos países nórdicos como exemplos de vida pacífica precisava de qualificações. começo dizendo que a desigualdade no Brasil é tanta que a maior parte dos crimes que por aqui ocorrem (inclusive uma tragédia de igual qualidade, mas -felizmente- menor quantidade, do Rio de Janeiro). não vacilei em atribuir o assassinato de crianças pelo sr. Wellington ao descaso com sua pessoa, respeito humano para com um desvalido, por parte do governo carioca. pareceu-me, na ocasião, que o rapaz pedia ajuda, desesperado, o que o levou a gradativamente perder o juízo. houvesse -argumentava eu- mais atenção, mais cuidados básicos de saúde, ele teria sido resgatado em tempo de não infernizar a vida de ninguém (nem a sua) e, menos ainda, destruir vidinhas.
acredito que a tragédia pessoal de Amy Whinehouse tenha a ver com a desigualdade. no caso, uma visão perversa e aviso de alerta, pois -no caso- "os ricos" é que se auto-inflingiram uma derrota. não sei se não é impossível pensarmos que, houvesse lá no Reino Unido, os mesmos cuidados básicos de saúde que estou reclamando para o Rio de Janeiro, talvez até aqueles que foram cortados nos últimos 20 ou 30 anos pela virada neoliberal tatcherita, os impulsos autodestrutivos da garota poderiam ter sido não apenas diagnosticados, mas recebido um tratamento compatível.
por contraste, de tudo o que li sobre psicologia e discuti com especialistas amigos, comecei a classificar o mal do mundo como de responsabilidade de dois tipos: os psicopatas e os narcisistas. não sou hábil o suficiente para enquadrar o norueguês num caso ou no outro (e quem sabe, a classificação é tripartite?). mas digo, com pesar, que mesmo na sociedade igualitária (lá a deles ou até em situações ainda mais igualitárias), haverá espaço para a loucura individual.
haverá espaço para fugas da normalidade, para a vivência do inferno na Terra. são bilhões de pessoas, nem todas geradas em condições normais de temperatura e pressão. o que de trágico há na perspectiva de ocorrência de futuros eventos como esta tristeza nórdica é que a sociedade não se dispõe a abrir mão de tanta liberdade que garantisse a repressão a todos os crimes. a natureza humana contempla este tipo de possibilidade malévola. a saída, o nirvana está em mudá-la: gerações e gerações convivendo com a abundância poderão gerar o homem novo, o homem selecionado para viver em paz com seus irmãos e com as estrelas.
DdAB
ops: a imagem de hoje não precisa dizer de onde veio, não é mesmo?
Um comentário:
achei, por documentação, por bem colocar este link aqui:
http://solangebari.blogspot.com/2011/07/o-amor-nao-chegou-tempo-para-amy.html. não duvido que a solução pudesse ser o amor, um amor arrebatador, um anti-acachapante, um fortificante, um breve contra a solidão.
DdAB
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