06 abril, 2011

Velocidade e Incentivos Materiais

querido blog:
todos sabemos que até hoje sigo procurando uma boa definição de "ciência econômica". parece que dei uma no primeiro capítulo (e único de minha autoria) lá por um daqueles livros de Introdução à Economia da Editora Atlas. se não foi lá, terá sido em algum outro lugar. ou nos velhos tempos do quadro negro (infelizmente, apagado) em sala de aula.

hoje, dado o título desta postagem, aproveito e lanço outra:

ciência econômica - aquela fração do saber humano encapsulado em seu capítulo científico, particularmente, nas ciências sociais, que se dedica a estudar as respostas que as ações humanas dão aos incentivos materiais. 

num caso extremo, eu diria que trocamos as mercadorias mais caras pelas mais baratas. no outro, penso, caso extremo, eu diria que trocamos governos que favorecem certos conjuntos de agentes por outros conjuntos. pois bem. a p.24 de Zero Hora de hoje noticia o flagra dado ao jovem Cláudio Cravo pelo radar da freeway, que assinalou 160 km/h. ele foi multado, tudo isto. não temos registros de casos que passaram impunes, pelo menos não os lemos no jornal de hoje. em compensação (compensação?), registram-se os casos mais importantes:

.a. uma infração com 184km/h
.b. outra infração com 178km/h
.c. terceiro lugar com apenas 168km/h

ou seja, o jovem Cláudio nem garraria o pódio. mas o jornal prosseguiu com um comentário intitulado "Imaturidade juvenil ou má formação técnica". o especialista em trânsito Mauri Panitz declarou about:

"Isso demonstra que os conhecimentos que foram passados no Centro de Formação de Condutores (CFC) não foram suficientes. [...]."

eu fiquei pensando: CFC? isto não cheira bem. é o locus de um dos focos de corrupção descobertos há algum tempo na vibrante sociedade gaúcha. parece que até deputado andou envolvido nas denúncias e, se bem me informam, até hoje a justiça está pedindo autorização judicial à justiça, a fim de poder processá-lo, pois ele goza (eu disse goza?) de imunidades parlamentares. Octávio Germano, parece-me -nada garanto- era o nome do denunciado. PP - Partido dos Prabalhadores, um troço destes.

antes do encaminhamento da palavra ao especialista em trânsito, Zero Hora chegou a cogitar de que haveria uma causa alternativa: "[...] problema comportamental típico da juventude?", indaga-se o modelar nanico dos pampas (que muito se orgulha de ser do mesmo tamanho que o Le Monde).

mantive-me pensando: que postarei hoje no blog? por que não criar uma nova definição de "ciência econômica" que implique quase que imediatamente no encaminhamento do diagnóstico das razões que levam os rapazes a meter o pé na jaca, ou melhor, o pé na tábua, como se dizia antigamente. pois não é que achei a definição acima? e que já me rendeu duas explicações?

a primeira sugere que pode ser que tenha-se criado um certo sistema de incentivos, de culto à velocidade com a cronometragem dos récords de velocidade em vias públicas (como, por exemplo, se a memória não falha, ontem o próprio jornal noticiou que teria ocorrido com um rapaz na Av. Carlos Gomes, ou Camargo Guarnieri, ou Villa-Lobos, um destes campeões da música brasileira). mas o complemento desta explicação associa-se ao que catalogo com a segunda: o sistema de incentivos deve criar um benefício ou custo que torne certas ações mais frequentes e outras menos, dependendo da representação política, da sobriedade de conduta dos políticos, essas coisas.

a multa para esta infração é de R$ 574,00, ou seja, mais do que o vibrante salário mínimo brasileiro que já alcança a estrondosa cifra de R$ 545, como sabemos (e o gaúcho parece que vai a R$ 610, une beléeeze, como não diriam os franceses. a hipótese de falta de formação é, a meu ver, ridícula, pois - além de 18 anos de vida, o candidato deveria ainda pagar para ter 20 horas de aulas teóricas, mais 45 aulas práticas, ou vice-versa, ou o que seja.

não quero negar que o Brasil seja uma fábrica de barbeiros. ao contrário. mas acho que o problema é mesmo a falta de desincentivos importantes. perder a carteira em um ambiente em que praticamente não é pedida não é sério. a contravenção tem preço baixo. incentivo a sua perpetuação, tanto é que até hoje ainda não se cheirou o dinheirinho roubado dos CFCs nestes anos desde a denúncia.

tenho dito que há cinco crimes:
.a. maus motoristas
.b. maus automóveis (caminhões, ônibus, motocicletas, tratores, etc.)
.c. más estradas
.d. má fiscalização
.e. má sinalização.
DdAB 
a linda imagem de hoje veio daqui.

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