Se entendi o que um menino de rua falou-me no outro dia, não poderemos cingir nossa compreensão do universo às estritas dimensões espaço-tempo e matéria-energia. Haverá, segundo ele, baseado no livro Flatland, com o Sr. A. Square, dimensões inferiores (no caso, o mundo plano do qual o Sr. Square foi resgatado e ao qual foi novamente restituído). E também dimensões superiores. Caso considerássemos cada ser humano uma dimensão, já teríamos 6 bilhões delas. Caso considerássemos que cada neurônio desses 6 bilhões, já nem saberíamos calcular, pois -seguiu o esmoler- as estimativas presentes do número dessas células na população é absolutamente incalculável, pois uns dizem que haverá -diria ZH- entre 10 e 100 bilhões de neurônios por cada.
As quatro dimensões -prosseguiria o exemplar jornal- seriam encapsuladas pela famosa equação
E = m x c^2, onde E é o conteúdo de energia de um ente tridimensional, se me expresso bem, m é sua massa e c é a velocidade da luz. Usando um quadro negro que pendia de um cinamomo à beira do Arroio Dilúvio, o menino desdobrou E:
E = m x (d/t)^2, onde, adicionalmente, d é a distância e t é o tempo. Triunfante, ele disse: esta festejada equaçãozinha, que tanto agradaria neguinhos do porte de Leibnitz e Einstein ("Deus não joga dados", teria dito o segundo) tem lá seus severos limites. Por exemplo, os buracos negros não lhe dão qualquer sobrevida. Ela -equaçãozinha- passa a assumir na física moderna o mesmo papel que a equação da gravitação universal assumiu na física clássica.
Não pude conter minha estupefação: meninos de rua sabidíssimos.
Mas ele não se conteve e citou dois autores que muito me agradam: Isaac Azimov e Richard Dawkins. O primeiro -teria dito o menino de rua objeto de meu relato- especulou que aquilo que chamamos de "universo conhecido" seria uma vesícula dentro de um buraco negro que -como tal- abarca tudo o que conhecemos, inclusive os milhões de buracos negros já catalogados ou especulados.
Dawkins, que ainda não passei das primeiras páginas, falou em "baby universes". Mas como estou lendo o livro em português, falha-me a memória, pois seria traduzido como "universos nascentes". E o termo que aprendi lendo o velho livro de Stonier & Hague (que eu ia jogar no lixo, mas o Prof. Sanson impediu-me e voltei a lê-lo com proveito) aplica-se: miríades de universos. Ou, como me veio das leituras de science fiction, "universos como grãos de areia".
Não quero especular excessivamente, mas nada nos impediria de dizer -seguindo o Prof. Harvey Leibenstein, e sua X-efficiency- que teremos uma dimensão X. E, claro, X será um vetor com bilhões de elementos, cada um com bilhões de elementos ad infinitum. Nunca o latim terá sido tão bem usado como neste caso. Não acaba nunca. Nunca de núncaras. O que é difícil de incorporarmos com proveito neste tipo de modelagem -a não ser sob o ponto de vista de uma chamada axiológica desnecessária- é o conceito de deuses, um ou mais deles.
Claro que o vetor X poderia ser chamado de Deus, mas -claro- Deus, conforme conceptualizado pela tradição religiosa terráquea, também envolve E = m x c^2, ou seja, tudo o que conhecemos, inclusive contendo-se a si mesmo. O Aleph, de Jorge Luis Borges. A apoiese, algo que não foi criado, mas existe e não cessará de existir.
Mas a anti-matéria não fará tudo deixar de existir.
Ou pelo menos foi isto que me disse o menino de rua. Mas quem confiará nele?
Pelo sim, pelo não, entendi que ele estava concluindo o assunto falando em economia política, na teoria do valor e no que ele -da mesma forma que eu- considera uma burrada dos economistas clássicos, nomeadamente, o entendimento completo do chamado problema da transformação dos valores em preços.
Dias atrás, eu dissera aos Profs. Joal e Adalmir que o conceito de valor adicionado apenas faz sentido numa "economia de granja", definida como uma economia que produz apenas um bem. Ergo, pensávamos o menino e myself, se eu planto 50t de trigo e colho, digamos 1.000t do cereal, então o valor adicionado foi de 950t, não é isto?
Aí ele me disse (creio que soprou-lhe esta passagem o Prof. Horn): "meu chapa, trigo no ano passado não pode ser somado com trigo neste ano."
Pensei diretamente na taxa de juros, mas não é apenas isto. As 1.000t de trigo colhidas -eu direi sem medo de errar- não têm absolutamente nada a ver com as 50t plantadas. Expandindo a metáfora para o mundo dos bebestíveis -e não mais dos comestíveis-, trata-se de vinhos de duas pipas. Ele -menino de rua- não precisou dizer, pois eu já intuía: o valor adicionado é um conceito que apenas pode ser pensado como quantidade monetária, no sentido de Leontief, mesmo para uma economia de granja. Segue-se que quem determina o nível de preços absoluto é a oferta de moeda. E que o salvador da humanidade é o presidente do banco central mundial. Tu entendeu?
DdAB
2 comentários:
Olha vou tentar nao mentir....
Mas entendi parte do que quis dizer, lembro de uma indagação sua a respeito de meus comentários sobre o cálculo do PIB.
Certas coisas realmente parecem ser mágicas.
Abraços
é, Daniel! a primeira parte é mesmo ininteligível. nem meus piores inimigos classificariam como ficção científica. a segunda -não lembro de ter-me "indignado"- é -a meu ver- muito importante, pois é metade Milton Friedman, metade, Karl Marx e a terceira metade (!) é pura teoria da escolha pública e, em havendo espaço para a quarta metade, é o absoluto pragmatismo filosófico. abraço.
DdAB
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