05 novembro, 2009

A Arte Imita a Vida

Querido Blog:
Busquei "a arte imita a vida" no Google Images. Encontrei esta simpática imagem. Queria falar de Quincas Berro Dágua, segundo alguns o segundo livro que Jorge Amado escreveu quando começou a cair no abismo da mediocridade. O Ciclo do Cacau do milenar baiano é que seria sua grande viagem. Eu li tudo dele, ainda que lembre de pouco. Talvez até lembre de coisas de "Os Subterrâneos da Liberdade", tinha um carinha que roubava dinheiro do PCB que ele -carinha- angariava em doações de filiados da clandestinidade. Nada alheio à política brasileira: todo político é ladrão! Ok, volta e meia falo em "O Mundo da Paz", livro de viagens pela finada União Soviética. Li-o como uma espécie de antídoto a "Gato Preto em Campo de Neve", uma introdução maravilhosa à civilização americana e cartão de visita da obra de Érico Veríssimo. Pois bem, reli o "Gato Preto", li "A Volta do Gato Preto", li "México" e "Israel em Abril". Li mais vários Éricos em 2008/9, e lerei em 2010. Em Berlim, comprei "Capitães de Areia", os meninos de rua da Bahia lá dos seus 1930s, ia lê-lo, que já lera algumas coisas de Graciliano e Osman Lins, ao que parece. Pois bem, simplesmente odiei os tais precursores dos meninos de rua. Larguei-o e dei-o de presente a quem jurou-me que iria valorizar o presente.

E o Quincas? Aparentemente, a arte da história que tanto me agradou ("A Morte e a Morte de Quncas Berro Dágua", em francês, se bem lembro de contracapas ou o que seja, era algo como "as três mortes" dele, Quincas) acaba de repetir-se, na vida real, como comédia. Marx e sua história da história ocorrendo inicialmente como tragédia e, pela segunda vez, como comédia, creio que a propósito de algumas restaurações monárquicas na França, ou sei lá o quê.

Pois não é que Zero Hora de hoje, na p.42 fala que um pedreiro do município de Santo Antonio da Platina (pode?, sete vereadores, cada um com sete assessores, dá 49, elevando ao quadrado, temos quase 2.500 políticos, parentes, cunhados, todos empregados) compareceu ao próprio enterro. Quincas, meu chapa, puro Quincas, que também compareceu ao próprio enterro, embriagou-se. O porteiro já chegou -diria Lourdette- chumbado, e acabou com a farra: disse que o morto não era ele, o morto calou-se e desfez-se o mal-entendido.

Mais ainda, mas agora já não sei se é bem coincidência, ou a notícia fantástica alcançou Olyr Zavaschi, o jornalista da antepenúltima página de ZH. Hoje tem uma piadinha, como sempre, às vezes muito boa, chamada "Identidade":

O sujeito morreu e está sendo velado. No loca, apenas a mulher, dois filhos e meia dúzia de vizinhos. Na hora da cerimônia, o padre se estende em elogios:
-O finado era um bom marido, um excelente cristão, um pai exemplar...
A viúva, ouvindo a prédica, volta-se para um dos filhos e lhe diz no ouvido:
-Filho, dá uma olhada para ver se é mesmo teu pai que está no caixão.

É ou não é? Imita ou não imita?
DdAB

10 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Imita.
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

só que de forma espantosamente mais sintética e, como tal, quem seria eu para negar?, de forma também apaixonante!
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

como o fazem os poetas, as poetas.
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

como também fazem os sociólogos, as sociólogas.
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

como também fazem os economistas, as economistas.
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

e os antropólogos, como Claude Lévi-Strauss.
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

e as antropólogas, como Ondina Fachel Leal (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2707362.xml&template=3898.dwt&edition=13458&section=1012).
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

mas certos economistas não são muito sintéticos.
DdAB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

por isto eu uso a álgebra, sempre que posso.
DdAB

maria da Paz Brasil disse...

Oi Duilio!
Vim bater o ponto no Planeta 23 - seguidor bom é assim: só não bate ponto quando viaja para fazer trilha, ou pra praia deserta..., exatamente pra fugir do computador, da Tv, dos livros...sim, dos livros também! - , quando me peguei impressionada com sua voracidade(?)com a leitura. Acho que não li 1/5 do que você já leu na vida, e, veja bem, alguns amigos reclamam da minha mania de leitura. Êpa! Como hoje é domingo encontro-me mais uma vez tergiversando! Mas, eu falava do ponto no Planeta 23, pois bem, relendo esta postagem ri com a estória do pedreiro de Santo Antônio da Platina, Quincas...e, agora copio você: Dou 24 horas, 45 minutos e 35 segundos para a próxima postagem.

MdPB