27 novembro, 2009

Dimensões Superiores

Querido Blog: Sob o título desta postagem, achei, sem muito esforço, esta foto maravilhosa no Google Images. Também havia opções de roupas de "tamanho especial". Fiquei com as quatro dimensões, os quatro universos que vemos colados, por assim dizer, umbilicalmente. Pensando bem, eu poderia tentar adivinhar quem é quem, pois parecem-me preliminarmente figuras públicas. 

 Se entendi o que um menino de rua falou-me no outro dia, não poderemos cingir nossa compreensão do universo às estritas dimensões espaço-tempo e matéria-energia. Haverá, segundo ele, baseado no livro Flatland, com o Sr. A. Square, dimensões inferiores (no caso, o mundo plano do qual o Sr. Square foi resgatado e ao qual foi novamente restituído). E também dimensões superiores. Caso considerássemos cada ser humano uma dimensão, já teríamos 6 bilhões delas. Caso considerássemos que cada neurônio desses 6 bilhões, já nem saberíamos calcular, pois -seguiu o esmoler- as estimativas presentes do número dessas células na população é absolutamente incalculável, pois uns dizem que haverá -diria ZH- entre 10 e 100 bilhões de neurônios por cada. 

As quatro dimensões -prosseguiria o exemplar jornal- seriam encapsuladas pela famosa equação E = m x c^2, onde E é o conteúdo de energia de um ente tridimensional, se me expresso bem, m é sua massa e c é a velocidade da luz. Usando um quadro negro que pendia de um cinamomo à beira do Arroio Dilúvio, o menino desdobrou E: E = m x (d/t)^2, onde, adicionalmente, d é a distância e t é o tempo. Triunfante, ele disse: esta festejada equaçãozinha, que tanto agradaria neguinhos do porte de Leibnitz e Einstein ("Deus não joga dados", teria dito o segundo) tem lá seus severos limites. Por exemplo, os buracos negros não lhe dão qualquer sobrevida. Ela -equaçãozinha- passa a assumir na física moderna o mesmo papel que a equação da gravitação universal assumiu na física clássica. Não pude conter minha estupefação: meninos de rua sabidíssimos. 

Mas ele não se conteve e citou dois autores que muito me agradam: Isaac Azimov e Richard Dawkins. O primeiro -teria dito o menino de rua objeto de meu relato- especulou que aquilo que chamamos de "universo conhecido" seria uma vesícula dentro de um buraco negro que -como tal- abarca tudo o que conhecemos, inclusive os milhões de buracos negros já catalogados ou especulados. 

 Dawkins, que ainda não passei das primeiras páginas, falou em "baby universes". Mas como estou lendo o livro em português, falha-me a memória, pois seria traduzido como "universos nascentes". E o termo que aprendi lendo o velho livro de Stonier & Hague (que eu ia jogar no lixo, mas o Prof. Sanson impediu-me e voltei a lê-lo com proveito) aplica-se: miríades de universos. Ou, como me veio das leituras de science fiction, "universos como grãos de areia". 

Não quero especular excessivamente, mas nada nos impediria de dizer -seguindo o Prof. Harvey Leibenstein, e sua X-efficiency- que teremos uma dimensão X. E, claro, X será um vetor com bilhões de elementos, cada um com bilhões de elementos ad infinitum. Nunca o latim terá sido tão bem usado como neste caso. Não acaba nunca. Nunca de núncaras. O que é difícil de incorporarmos com proveito neste tipo de modelagem -a não ser sob o ponto de vista de uma chamada axiológica desnecessária- é o conceito de deuses, um ou mais deles. 

Claro que o vetor X poderia ser chamado de Deus, mas -claro- Deus, conforme conceptualizado pela tradição religiosa terráquea, também envolve E = m x c^2, ou seja, tudo o que conhecemos, inclusive contendo-se a si mesmo. O Aleph, de Jorge Luis Borges. A apoiese, algo que não foi criado, mas existe e não cessará de existir. Mas a anti-matéria não fará tudo deixar de existir. 

Ou pelo menos foi isto que me disse o menino de rua. Mas quem confiará nele? Pelo sim, pelo não, entendi que ele estava concluindo o assunto falando em economia política, na teoria do valor e no que ele -da mesma forma que eu- considera uma burrada dos economistas clássicos, nomeadamente, o entendimento completo do chamado problema da transformação dos valores em preços. 

Dias atrás, eu dissera aos Profs. Joal e Adalmir que o conceito de valor adicionado apenas faz sentido numa "economia de granja", definida como uma economia que produz apenas um bem. Ergo, pensávamos o menino e myself, se eu planto 50t de trigo e colho, digamos 1.000t do cereal, então o valor adicionado foi de 950t, não é isto? Aí ele me disse (creio que soprou-lhe esta passagem o Prof. Horn): "meu chapa, trigo no ano passado não pode ser somado com trigo neste ano." 

Pensei diretamente na taxa de juros, mas não é apenas isto. As 1.000t de trigo colhidas -eu direi sem medo de errar- não têm absolutamente nada a ver com as 50t plantadas. Expandindo a metáfora para o mundo dos bebestíveis -e não mais dos comestíveis-, trata-se de vinhos de duas pipas. Ele -menino de rua- não precisou dizer, pois eu já intuía: o valor adicionado é um conceito que apenas pode ser pensado como quantidade monetária, no sentido de Leontief, mesmo para uma economia de granja. Segue-se que quem determina o nível de preços absoluto é a oferta de moeda. E que o salvador da humanidade é o presidente do banco central mundial. Tu entendeu? 

DdAB

2 comentários:

Anônimo disse...

Olha vou tentar nao mentir....

Mas entendi parte do que quis dizer, lembro de uma indagação sua a respeito de meus comentários sobre o cálculo do PIB.

Certas coisas realmente parecem ser mágicas.

Abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, Daniel! a primeira parte é mesmo ininteligível. nem meus piores inimigos classificariam como ficção científica. a segunda -não lembro de ter-me "indignado"- é -a meu ver- muito importante, pois é metade Milton Friedman, metade, Karl Marx e a terceira metade (!) é pura teoria da escolha pública e, em havendo espaço para a quarta metade, é o absoluto pragmatismo filosófico. abraço.
DdAB