04 novembro, 2009

Workers of All Countries!

Querido Blog:
Você não é minha, eu não sou de você! Era assim? Ultraje a Rigor, 1985? Seja como for, era: "nós somos do Independente Futebol Clube". E eu agora digo: também estaríamos enterrados se fôssemos do "Highgate Futebol Clube", também no sentido de que é lá, no Highgate londrino, que Karl Heinrich Marx (05/maio/1818-14/mar/1883) foi enterrado. Esse clube de ludopédio localiza-se em Birmingham, ou Shirley, certamente nos Midlands, a terra de Bourton-on-the-Water. Deu-mo o Google Images, "m'o" era o Highgate Foot-Ball League, ou o que seja. Deu-me a dica sobre a cidadezinha de Bourton-on-the-Water o matemático Ian Stewart, num livrinho sobre caos determinístico. Claro que li o livro e claro que visitei a cidadezinha que tem uma casa que tem um terreno que tem uma miniatura da cidadezinha que tem uma casa que tem um terreno que tem uma miniatura, e por aí vai. [Esta postagem está cheirando a "Escritos" e "Vida Pessoal", não é mesmo?]

Voltemos a Marx, à conclamação de que os proletários de todas as nações devem unir-se, numa -e vem John Lennon- brotherhood of men. Eu já falei que acho o nacionalismo o fim da picada, ou seja, o mato virgem, o mato das feras e das tribos inimigas, o mato da morte, o mato do enterro, o mato de Highgate e outros cemitérios menos concorridos, o mato da briga de torcida de clube de futebol, o mato do bebê de oito meses de idade cuja rostinho risonho, com olhos vívidos, que vislumbrei na televisão inglesa, cujo bracinho fora decepado por uma bomba na guerra civil da Iugoslávia. Nacionalismo, meu? Inclua-me fora!

Examinemos Zero Hora de hoje. Na p.26, temos o que é -para mim- uma das melhores notícias do ano: "Fim do impasse; 'Constituição européia' supera o último entrave." Uma vez ouvi pessoalmente (ela em pessoa e eu, de ouvidos em pé na frente da TV) a Baronesa (ainda era simples mortal) Margareth Tatcher dizer: "somos europeus, o que não somos é federalistas", quando o Iuquêi recusou-se a ingressar no clube do euro. Achei bela retórica, mas decisão equivocada. Quando a Dinamarca recusou-se a referendar essa constituição eurupéia, sofri quase tanto quanto o rebaixamento do Grêmio me fez penar. Houve outras recusas, e a retomada -digamos- universalista. É um bom momento, o de hoje, para pensarmos nas origens.

Depois de todas as guerras da negadinha européia, culminando com a fragorosa vitória russo-americana em 1945, agora por lá só vale guerra civil, como a da Iugoslávia. Seja como for, acho que as contradições do capitalismo levaram os povos unidos em busca de paz a ver com simpatia a criação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço, a BeNeLux, algo assim, o Tratado de Roma, essas coisas, que culminam hoje com a "constituição européia", que dá enormes poderes ao federalismo daqueles desventurados 27 países.

Mas eles, a partir de agora, têm mais chances de pararem de se agredir, feito crianças de periferia (epa, os preconceitos...). Quando surgiu o euro, eu sugeri a um menino de rua que, no momento em que houvesse também uma união monetária entre o Banco Central Europeu, o Banco Central Americano e o Banco Central Japonês, teríamos implantado o governo mundial. Claro que era retórica, e ele não caiu nesta. Ainda assim, hoje acrescento a China, faço um ou dois reparos e pago-lhe um BigMac que estou certo de que ele concordará. By the way, speaking of BigMacs, também prevejo que os povos unidos melhorarão quando o McDonalds abrir sua lojinha no último dos 200 países do mundo e criar seu sindicato internacional de trabalhadores. Para mim, são dois símbolos civilizatórios, o banco central mundial e o primeiro sindicato internacional de trabalhadores. Se Marx e Trotszky sonharam, Stálin e Béria infernizaram.

O último a assinar, diz ZH, foi o presidente da República Checa, o quase-palindrômico Vaclav Klaus (eu ainda sou do tempo de Puskas e Di Stefano, algo assim). Ele disse: "Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a República Checa deixa de ser um Estado soberano." Diz ZH que se trata de um "tom claramente exagerado." O coroa é um alarmista, ou apenas um retórico. Ainda assim, sou pela perda de autonomia daqueles estados que favorecem a tortura, a discriminação da mulher, e por aí vai. Mas parece tratar-se de ganhos induzidos pela inexorável marcha do capitalismo. Epa, agora sou eu defendendo a teoria da grande conspiração.

Mas não fiquemos por aí: devemos substituir o governo dos homens pela administração das coisas. Primeiro: dinheiro mundial, depois, fim do estado nacional, depois, fim do sindicato mundial em favor -nem digo da luta entre instituições, mas - da harmonia universal. O presidente do Banco Central Mundial transformará os pay-offs d e todos os jogos em "Caça ao Cervo", tratando de preservar a vida dos cervos, servindo -diria Lourdette- apenas electric sheeps, como no Blade Runner (remember? do androids dream of electric sheeps? e parece que os andróides sonhavam mesmo! E sabiam tocar piano.

Neste caso, somos forçados a concluir que o próximo passo será a criação da Brigada Ambiental Mundial. Adicionalmente à renda básica de US$ 100 mensais, cada indivíduo humano maior de 24 anos (maioridade da ILO) que se alistar na BAM ganhará mais US$ 900 (ou menos, durante algum tempo, mas com o comprimisso de chegar a US$ 10,000 mensais em 20 ou 30 anos) para:
.a. fazer três horas de ginástica por dia (para manter a coluna ereta)
.b. fazer três horas de aula por dia (para manter a mente quieta)
.c. fazer três horas de trabalho comunitário por dia (para manter o coração tranquilo).
DdAB

Twitter:
Primeiro: queres ver a extraordinária qualidade do jornal Zero Hora? Então clica aqui! E há outro extraordinário artigo de convidados, acessível ao simples clicar aqui para ler "Tempo de ler Clarisse. Hilda Simões Lopes trata, em linhas gerais desta coisa de brotherhood of men e mesmo de temas que mexi em meu "Tempo e dinheiro", que lhe está à esquerda (em página lindeira...).

Segundo: 45min depois de postar os acimas, fiz o primeiro twitter; mais 2h34min foram-se até este: sou muito inquieto com as críticas convencionais (demorei para achar este tempo, e precisaria procurar mais para descrever o que meu coração requer) à teoria econômica. Há dias, nos blogs de Leonardo Monastério e Cláudio Shikida (na ordem inversa da descoberta), vi uma remessa a um paper de David Colander, que li e amei e que resolve certos problemas conceituais, economizando-me de pensar muito a respeito. Dito isto, digo que vim a perceber que também tenho contestações radicais. Em particular, quando descobri o que quer dizer MV = PQ, ou seja, que o valor adicionado medido pela ótica da renda é dado pelo presidente do banco central, mais que nunca tornou-se clara minha crença (emergente da matriz de contabilidade social) que devemos substituir a luta de classe pela luta das instituições. Pobre não é pobre porque é trabalhador, mas porque são os ricos que avançam em maior fração da renda, em resposta a transferências que lhes faz o governo ou mesmo um mercado de trabalho enviesado, digamos, em favor de juízes, traficantes de drogas, promotores, médicos e jogadores de futebol.

Terceiro: este gráfico do blog do Leonardo Monastério é casca grossa. É hora de quem achou que acabara o império americano passar a acreditar na máxima: "não espereis demasiado do fim-do-mundo".
Isto evocou-me (e vice-versa) o artigo da p.2 da mesma Zero Hora, de onde tanto citei acima. Claudia Tajes é fulminante, ao dizer: "O fim da linha, o fim da carreira, o fim do mundo, oba, não estão próximos."

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