19 julho, 2009

Parlapatão, Parlapatões

Querido Diário:
há alguns anos, assino Carta Capital. fi-lo pensando que -com sua leitura sistemática- compensaria um pouco o ponto-de-vista-de-direita de Zero Hora. cedo vi que a família Mino Carta é muito mais nacionalista do que eu gostaria de ver publicada. sou, claro, internacionalista. acho que, como o próprio ar, as águas, o subsolo, não têm fronteiras, poderíamos arrancar aquelas demarcações no mapa mundi. há pouco, voltando do parque Marinha do Brasil, retirei-a -à Carta Capital- da caixa postal, no dia em que o Grêmio venceu o Gre-Nal. posso dizer também que foi o jogo de número 100. e, para rimar com Lúcia Camini, só mesmo Nouriel Roubini. nos dias 14 de abril, 19 de abril e 2 de junho, fiz postagens falando na segunda figura destas rimas pobres. em outras oportunidades, falei da primeira, a meu ver uma descabelada figura radical, que fechou os brizolões, no primeiro governo municipal do PT em Porto Alegre. eine vraie sadness.

e hoje? que Camini tem a ver com o assunto? nada. mas Roubini tem tudo a ver. mas vivamos primeiramente o passado, que ele é que criou o futuro do jeito que veremos em instantes, efêmero como a própria velocidade da luz. primeiro, na terça-feira, 14 de abril de 2009, postei “Um Periscópio da Estultice”. lá eu disse, com simpatia: “Para mim, Roubini é um dos tais pigmeus de uma esquerda finada que apenas tem destaque nos outros ambientes de esquerda também finada, ou seja, retrógrados, atrasados, opiniáticos, preconceituosos, causadores de desserviços à causa igualitarista, not to speak da causa das reformas democráticas que conduzam ao socialismo (to be properly defined).” também disse eu: “[...] ele disse num artigo da própria Carta Capital que recortei com tesoura e dobrei em quatro e depositei num local que agora não lembro, escrito -o artigo- há um meio ano: o PIB dos USA, entre 2008 e 2009, vai cair 5%. [...] o fechamento de 2009 apresentará uma queda de 2%. [...] O crescimento será tão pequeno, abaixo de 1% em 2010, com a taxa de desemprego em 10%, que tecnicamente o país já terá superado a recessão, mas o ambiente será de estagnação. [...] digo mais eu: eu acho que este pessoal não aprende nem com os próprios erros.”

segundo, no domingo, 19 de Abril de 2009, escrevi a postagem “Roubini não é nonsense”. para ele, “[...] enquanto o índice de contração americana reduzirá de -6% nos últimos dois trimestres, a expansão dos EUA ainda será negativa (cerca de -2% a -1,5%) na segunda metade do ano (comparado ao consenso de 2%).” segui eu: “eu previ, só para contrariar, que nada aconteceria no PIB (crescimento zero), com inflação e desemprego.”

terceira feira, diria João Cabral, na terça-feira, 2 de junho de 2009, voltei a postar: “vamos a Roubini. tenho dito que ele é um catastrofista, que achou que o PIB americano e mundial iriam cair em 1.000% (como sugeriu Marx ou Engels, tirando farinha com o Citizen Weston, ou sei lá com quem). e aí venho eu passando a palavra para ele: “na p. 63 da Carta Capital de 3/jun/2009, Roubini, que foi festejadíssimo por estes dias in Brazil, [disse]: “embora haja alguma melhora, ou seja, o ritmo de contração foi reduzido, os indicadores também sugerem que o mundo permanece imerso em uma recessão séria, profunda e prolongada, no formato de U.” Segui eu: “Como não domino amplamente a língua portuguesa, não estou seguro de que quem esteja falando seja mesmo Roubini. [...] Ele jurou que tudo iria cair 1.000%. Se não cair, ele está numa roubada, ou vai dizer que os "muitos analistas" estavam enganados e ele revisou suas estimativas antes deles.”

agora passemos ao presente. na p.47 da Carta Capital da próxima futura quarta-feira 22 de julho de 2009, diz o rapaz:
Acreditamos que o ritmo de contração da atividade econômica se reduza significativamente. Mas prevemos queda no PIB no segundo e terceiro trimestres de 2009 e estabilidade no quarto. Após uma forte contração da atividade econômica em 2009, o crescimento vai retornar ao território positivo apenas em 2010, e mesmo assim em taxas arrastadas, bem abaixo do potencial. Mesmo se a atividade econômiica parar de se contrair no fim de 2009, isto não deve significar o fim oficial desta recessão. Recessões não são medidas exclusivamente pela redução do PIB. Desemprego, produção industrial, vendas no varejo e renda são considerados quando a Agência Nacional de Pesquisa Econômica (NBER) relaciona os dados referentes a períodos recessivos. O crescimento do PIB amearicano vai parar de cair no fim de 2009, mas é provável que muitos dos indicadores acima não atinjam o nível mínimo antes de meados de 2010.

Melhoras na atividade econômica estão presentes e visíveis na redução do ritmo de perda de empregos, na elevação de indicadores de atividade manufatureira, na estabilidade da construção civil e na estabilização das condições financeiras. Entretanto não vemos sinais de uma recuperação robusta e sustentável.

torna-se claro, agora, o que eu quero dizer. o vivente começou a amenizar sua previsão catastrofista, buscando uma falsificação ad hoc para seus raciocínios econômicos. não quero discutir psicanálise, que poderia explicar o negativismo de Nouriel Roubini e da própria Carta Capital em contratá-lo como articulista. o mesmo fez, por alguns festivos números, nossa Zero Herra. o que me interessa destacar é que, psicanaliticamente falando, é possível que seu erro grosseiro resida na má compreensão do modo de funcionamento do capitalismo financeiro, tema que explorei amplamente nas três postagens, em partes que não destaquei hoje. em particular, doi-lhe (a ABL não quer mais "dói") reconhecer o Efeito Excel, ou seja, a produção industrial não interessa para gerar renda. você entendeu, não é?, não é que não interesse, mas que ela -indústria- não pode segurar o PIB nem forçá-lo a subir ou cair. obviamente, não estou dizendo que ela deixará de produzir bens de capital. claro que sem capital não se expande substantivamente a capacidade instalada. o que digo é que a acumulação de capital vem a reboque não apenas da oferta monetária mas, no caso, principalmente, da atividade terciária.

e as burradas. primeira: parece que, para ele, PIB e renda são antípodas galácticos, como as fundações de Azimov. segunda: vendas no varejo definem a recessão, além do desemprego e da renda, já que o PIB é, segundo ele, um sei-lá-o-quê. talveza agora se esteja tornando claro que o trio produto-emprego-preços já não é tão fundamental assim para se avaliar o grau de eficiência com que os recursos são utilizados. principalmente se considerarmos que há um pobrema (diria Ieda) com o desemprego. a sociedade quer lazer e a indústria moderna criou o que, em 1922 or so, Keynes chamou de desemprego tecnológico. a era do emprego-necessário-para-gerar-PIB já está sepultada, de acordo com o livro "Lições de Contabilidade Social". obviamente, lá é dito que emprego gera (valor da) produção, e valor da produção gera valor adicionado. mas para cada unidade de valor da produção precisa-se de cada vez menos trabalhadores. isto é mau? claro que não, meu. o mal está é na distribuição enviesada contra a sociedade igualitária.
DdAB

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