17 julho, 2009

Moonwalkers & nefelibatas


Querido Diário:

Apolo, ideias apolíneas? Ontem escrevi "constroi", hoje ia escrevendo "idéias". O vilão é a ACademia Brasileira de Letras e seus apaniguados José Sarney, Garrastazu Médici, Costa & Cilva, e essa macacada toda.

Hoje li em Zero Hora um desses nefelibatas que circulam pelas altas rodas do Brazil, achando que a lua é um queijo, se me não faço chulo. Creio que uma idéia apolínea é aquela que, por harmoniosa e generosa, trata do mundo como algo passível de ser mudado. No caso que hoje nos retém postando, estarei falando dos que falam sem saber o que dizem. Vou citar em seguida, mas preciso preparar o terreno. Primeiro: tenho razões para crer que o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário o.s.l.t. é um incompetente que inclui no numerador do cálculo da taxa de tributos (sobre o PIB) as taxas de coleta de lixo e outras. Chamar taxa de imposto é tachar o carinha de falacioso, ou taxista que não conhece as ruas da cidade.

Falo do artigo da p.22 de Zero Hora de hoje: Pedro A. X. Zaluski falando sobre "Moonwalker". Por um lado, diz lá ele:

Por outro lado, os recentes bons resultados alcançados pela desoneração fiscal do IPI dos carros e da construção civil, entre outros, adotada este ano – não computada na estatística da carga fiscal de 2008 – mostram o passo certo, antiefeito moonwalker, que faz com que andemos para frente, dissipando a ilusão e gerando um modelo econômico mais forte, justo e desenvolvido.

Consciente do anacronismo do nosso padrão tributário, cujos vastos recursos arrecadados não garantem a básica infraestrutura a nossa população, o governo precisa mudar o seu ritmo e adotar um estilo que faça regressar seus pés e cabeça do mundo da Lua, criando uma nova ordem tributária: mais coerente com a realidade da atual crise financeira e com a crescente interdependência da economia mundial, e com foco na geração de empregos e na realização de investimentos perenes no país.

Pilhas de comentários sobre estes dois parágrafos.
.a. anacronismo do nosso padrão tributário: penso que ele está certo quanto ao anacronismo e até quanto a esse ser "nosso", no sentido de ser lá dele-deles. Para mim, este sistema tributário não é meu, em absoluto, ao contrário. Mas acho que difiro do rico articulista ao considerar que o anacronismo vem de outra instância. Em particular, da distribuição entre impostos diretos e indiretos. Em segundo lugar, que entendo que não existe carga máxima, nem mesmo 100% do PIB, como sugerem as exportações malaias: 104% do PIB. Pode uma componente do PIB ser maior que 100% do PIB sem contrariar o teorema fundamental da aritmética (o todo é infinitesimalmente igual à soma de suas partes)? Claro: y=c+i+g+(x-m) pode ser maior que 100%, se x>y e ao mesmo tempo c ou i ou g é suficientemente grande para compensar o m negativo!
.b. que poderia fazer o governo com menos impostos? pasmemos, pois Zaluski diz que, neste caso, poderemos gerar empregos e fazer investimentos perenes no país. Perenes? Não depreciarão nem em 50 anos, como determinam os contadores? Empregos? Estão loucos os que pensam que o povo gosta de empregos, quando este já deixou claro, num bilhetinho que recebi recentemente, que gosta de renda e odeia emprego: gosta de renda e de lazer! Como renda não tem nada a ver com produção (a não ser o fato de que o valor adicionado só pode ser gerado se houver produção, ou seja, gera-se valor adicionado -produto, renda ou despesa- no processo produtivo), e investimento nada tem a ver com renda, pasmemos!

Poderia Zaluski pensar corretamente? Creio que, infelizmente, não, pois ele não foi educado para entender essas proposições contábeis elementares que aqui faço. E ele amaria os impostos diretos com a mesma intensidade que eu? Saberá ele que a única coisa que amo é que os outros paguem, pois o Tesouro Nacional nem notaria que há apenas um professor sonegador?

DdAB

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