Querido Diário:
Haveria maior manifestação de hipocrisia em minha postagem se eu dissesse que estamos vendo na ilustração de hoje um índio inca e um bisão norte-americano? Mas não seria ainda pior se entendêssemos que a sociedade dos grandes números vai retirando importância do indivíduo, pois este torna-se cada vez mais diluído na multidão?
O grande problema do cidadão-número é que o poder que, com ele, se atomiza, vai concentrando-se nas mãos de 'otoridades', como a do sargento que pisou no pé de Fabiano (sabe lá aonde?), o assessor do deputado e o deputado, o secretário de estado e seu assessor. Quando o cidadão-número quer recuparar algum controle da situação, ele se confronta com sua própria incapacidade de mudar ou mesmo de sonhar. Os realistas são pessimistas, pois -como hipótese de trabalho- consideram que o "outer world" é imutável. No outro dia, falei em "pau, pau e pau" nos rapazes da Academia de Letras, incluindo Costa e Silva (finado) e Sarney (finando-se, mas resiliente) que acabam de mudar novamente a grafia da língua escrita no Brasil. Se as letras mudam a cada quarto de século, como querer cidadão-letra? Só mesmo cultivando a constância do cidadão-número...
Por outro lado, para que temos juízes de direito? Primeiro, eles passam os dias inteiros jogando cartas com seus amigos, pois não lhes vemos resultados dos trabalhos. O que vemos é a indústria do habeas corpus, do data vênia, da liminar, que apenas protela a resolução das querelas entre dois insignificantes cidadãos-números. A liberdade dos prejudicados é desrespeitada por esses rapazes que atribuíram-se remunerações milionárias e delegam a funcionários de menor hierarquia os "despachos". Em todos os níveis, os assessores dos juízes, dos políticos, das comissões das instâncias legislativas é que assinam, julgam méritos, engavetam o que lhes bem apraz.
Ninguém fiscaliza o cumprimeito do orçamento público, o cumprimento das demais leis. O desmazelo é o maior convite à ação criminosa. A impunidade é o que resulta. O ódio à política é, associado ao péssimo nível educacional de duas ou três gerações, o incentivo para os oportunistas aproveitarem os desmazelos é enorme. Ninguém observa os "sinais exteriores de riqueza". Como pode um rapaz com Fernando Henrique Cardoso, com vida de professor e autor de livros ter acabado a vida como fazendeiro em Minas Gerais? Só jogando carta e principalmente só bebendo!
DdAB
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