Querido Diário:
ao abrir aInternet há pouco, veio-me a postagem de Cláudio Shikida de uma ou duas horas atrás falando em novidades sobre "el deterioro de los terminos de intercambio", a mais cepalinas das teses que ajudaram a açular o debate econômico. considerando que defendi a tese (reprovada por alguns dromedários) de que o nacional-desenvolvimentimo (id est, protecionismo e outros descalabros de política econômica, not to speak of inflation itself) dos anos 1950 é o vilão da espantosa reconcentração da renda ocorrida in Lizarb -to begin with- entre 1960 e 1970, fiquei de orelha em pé, como diria o cavalo do dromedário, ou era o cachorro do rei?
vi que Shikida remetia à postagem de Leonardo Monastério, feita há umas 15 horas:
http://lmonasterio.blogspot.com
fui a ela-postagem, que ele-consagrado é pensador de, pelo menos 100 ou 200 estados brasileiros e 20 ou 30 continentes terráqueos! Disse-nos Léo, sem alguns cortes abruptos que inseri por aqui:
Conversando com os colegas do curso, voltamos à antiga tese Prebisch-Singer da deterioração dos termos de troca: as commodities exportadas pela periferia tendem a ficar mais baratos em relação aos bens importados dos países industrializados. Prometi, então, fazer um post sobre o tema. A tese tem andado fora de moda, por motivos óbvios. Mas o que a literatura diz? Antes de tudo, percebeu-se que não é mole testa a hipótese corretamente. Afinal, se um grão de soja é (quase) o mesmo durante o século, como considerar o netbook de US$350 que tenho à minha frente. Uma configuração equivalente custava um fortuna faz alguns anos e não existia nada parecido em 1970. Como ajustar para essas mudanças nas qualidades dos bens manufaturados? Ainda: que ponderações usar? Faz sentido agregar todos os bens primários em um só índice? E a qualidade dos dados?
[... (cita terceiros): "Em geral, os termos de troca não caíram, mas a volatilidade do preços das commodities foram ruins para o crescimento da periferia." E prossegue LeoMon:]
Meu pitaco: se a deterioração dos termos de troca fosse uma fenômeno relevante ele seria mais robusto. Ou seja, deveria resisitir mesmo quando fossem escolhidas amostras diferentes de países, produtos e períodos. Não vale dizer: "o produto x não vale", ou "o aumento recente foi conjuntural" e assim por diante. Enfim, milhões de motivos podem tornar a especialização em commodities um problema, mas a tese Prebisch-Singer não é um deles.
disse-lhe eu:
grande tema, Léo! dias atrás, eu vi -não lembro bem- se um automóvel ou radinho de pilha made in china por R$ 1 e pensei: esses comunas vão monopolizar a indústria do mundo. antigamente eu achara que a agricultura iria acabar. agora, ao entender que os chinas serão a indúsria e que o Brasil ganhará dinheirinho vendendo água (soja, frango) a eles, pensei "en el deterioro". parece-me que Alexandre Barros achou tendência num paper de 10 ou 15 anos na RBEco. lendo o post, pensei (como obrigo-me a fazer sempre) num esquema de equilíbrio geral, insumo-produto, Leontief, Sraffa e Smith-trabalho/comandado. precisamos saber se o grão de soja é mesmo o mesmo. há 100 anos, ele não existia no Brasil. e há 20 ou 30 a Embrapa ainda não criara a soja tropical. não posso alongar-me, mas falta coisa. vou para meu próprio blog! .d.
falo mais sobre a frase de terceiros que citei acima.
Digo agora: e se prosseguir a volatididade dos preços? aí tem que contratar indianos (especializados no setor serviços de informática, o que os forçará, como água morro abaixo, a diversificarem para o mercado de seguros agrícolas), a fim de criarem mecanismos para tornar o seguro agrícola aos produtores brasileiros, de sorte que, jogando em futuros, segurando daqui, capitalizando de lá, possam aprofundar sua inserção no mundo da produção de mercadorias. Em outras palavras, não quero falar do passado, mas do futuro: daqui a 50 trilhões de anos, o Brasil vai tornar-se efetivamente uma economia aberta. Por essa época, poderemos perceber que as vantagens comparativas (diretas e indiretas, como sugeri acima, ao falar no modelo de insumo-produto) da propriedade da água planetária ajudam-nos a ter custos baixos e exportar mais. Ok, não é apenas água, como aparentemente estou divergindo do Léo, a menos que consideremos o componente hídrico do corpo dos agrônomos e demais pesquisadores da Embrapa.
[à propos: apenas um abobado há de argumentar que a Petrobrás e a Embrapa são filhas da abnegação de governantes honestos. se eles fossem honestos mesmo, teriam entendido a diferença entre produção e provisão de bens públicos e semi-públicos. eu sempre disse que o governo vender gasolina no país da fome é pau e digo agora que o governo meter gente na pesquisa de sementinhas e ovinhos é pau. no orçamento público universal, pode-se contemplar dinheirinhos para as universidades ou para quem lá seja, a fim de fazerem pesquisa de qualquer tipo. o que não pode é pagar mais a um ascensorista da Av. Rio Branco do que ganha um professor titular doutor da Universidade Federal do Maranhão, if you know what i mean.]
falo mais sobre o que queria falar: considerando que a cidade de Trier encontra-se mais próxima da Áustria do que a própria New York University, acho que -por ter lido mais os nativos da primeira e ver com certo ceticismo o que andam fazendo com o alemão Schumpeter, ou o que seja, tenho boas razões para exercitar meu marxismo-austríaco-bowlsiano. a maior lei, mais forte do que a da gravidade, é a da oferta e procura. sua força motivadora é a concorrência, a lei fundamental da ação dos seres vivos (Russel, via Hymer: "todo ser vivo é uma espécie de imperialista, procurando transformar a maior parte possível do meio ambiente em seu benefício":: ele disse "ser vivo", o que nos leva muito além d' "os políticos").
dito isto, o que precisamos entender para desmistificar de vez este culto estatizante, ou seja, autoritário, sob invocação de que é melhor para o povo não ter soja ou não ter automóveis de R$ 1, pois não cria emprego em Santo André, é que a maior de todas as leis diz que a produtividade relaciona-se inversamente com o preço. e que o poder de monopólio sobre a produção de bens industriais dos países ricos sobre os bens industriias mostrou-se também ultra-volátil (durou menos de 50 anos) (e, como ouvi de Reinaldo Gonçalves, o Brazil sempre investiu em P&D, só que em Detroid, na Suíça, na Alemanha etc.) (etc.).
tudo mudou, desde então, e o que me pergunto é mesmo se um orçamento universal não poderia ter investido no povo brasileiro, ao invés do que ocorreu com sua ausência, que serviu não apenas para golpes de estado, mas também para seguir acobertando a monumental e milenar corrupção. esse negócio de ascensoristas ganhando salários estratosféricos é um absurdo que esbarra, claro, na Petrobrás, mas principalmente, no Mr. Orçamento, quando ele nada pensa de sério sobre o imposto de renda da pessoa física. e por falar nisto, que tal meter um imposto sobre a herança deixada pelo Dr. Brizola, e a ser deixada -em boa hora- pelo Dr. Quércia, o Prisco, aquela macacada de que andei falando às escondidas...
DdAB
Um comentário:
Danke!
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