04 julho, 2009

economistas e o bem-comum

Querido Diário:
Diz a legenda:
"Gostaria que você conhecesse o Marty Thorndecker, querida. Ele é economista, mas não é má pessoa."

Por outro lado, eu andei fazendo umas postagens que considerei bastante futuristas. A ciência econômica nasceu de preocupações dos filósofos políticos dos séculos XVII e XVII com o bem-comum. Eu nunca fui, admitamos, muito bom em história econômica. Ainda assim, um dia, dei-me conta de algumas coincidências interessantes. Para listar as que me agora afluem:
.a. Hall & Hitch e Sweezy com a curva de demanda quebrada
.b. Keynes e Kalecki com um ponto na curva de demanda efetiva
.c. Sylos-Labini e Joe Staten Bain, com o que Franco Modigliani intitulou de teoria do preço-limite.
Parece que andei dando um papelzinho ao Sr. Menino de Rua com a listagem de outras.

Mas hoje quero fazer dois registros, um na linha da HPE e outro na linha do bem-comum. Começo com este do bem-comum, que é mais straightforward. Meu amado Peter L. Bernstein, na p. 204 do livro "Against the gods; the remarkable story of risk", que tem em português, mas cito em inglês mesmo, diz o seguinte:

"Arrow [Kenneth, sabemo-lo] won his Nobel Prize in part as a result of his speculations about an imaginary insurance company or other risk-sharing institution that would insure against any loss of any kind and of any magnitude, in what he describes as a 'complete market'. The world, he concluded, would be a better place if we could insure against every future possibility. Then people would be more willing to engage in risk-taking without which economic progress is impossible."

O primeiro registro conclui-se com a citação de outro amado: James Clifton. Ele disse que, no capitalismo, tudo vira mercadoria, inclusive a honra. Epa, quem disse isto foi o carinha de Highgate fotografei ontem. Mas Clifton disse o que Arrow acaba de dizer: no capitalismo, tudo vira mercadoria, inclusive o risco e, como tal, os mercados de seguros. Somos forçados a concluir que, quando escrevo em "Quem sou eu" à direita de quem olha esta postagem, que:

Penso que chegou a hora da criação da Brigada Ambiental Mundial, uma organização sustentada por verba orçamentária do Banco Central Mundial retirada das contas correntes sob o título de Tobin Tax, ou Imposto de Tobin. Penso que, no futuro, vamos dedicar-nos exclusivamente às artes e aos esportes, que o trabalho ser-nos-á dedicado pelas máquinas. Ou seja, penso que meu dedinho indicador, apontando para a esquerda, está direcionando o sentido correto da evolução planetária.

Então somos forçados a concluir que chegou a hora de privatizar o novel Banco Central Mundial, no sentido de dividi-lo em ações (uma para cada terráqueo maior de 24 anos) intransferíveis, que geram a seu proprietário um estipêndio mensal no valor da renda básica universal. Ou seja, a RBU será paga pelo Banco Central Mundial. Ou seja, ele será privado, no sentido de que será propriedade comunitária e não de governos e, menos ainda, da Família Rotschild ou Bernoulli ou DuPont de Nemours ou outra de longa história registrada.

O segundo registro retoma tudo o que falei acima e muito mais, pois tem três registrinhos. O envoltório (registro aninhando registrinhos) é uma profunda drágea filosófica de meus próprios cinzéis sobre os modelos econômicos mais ricos do que seus concorrentes. Ocorre-me listar três deles, os já famosos três registrinhos.

O primeiro registrinho faz o elogio da economia marxista, ou digamos de sua revisão inteligente. Pois tudo gira em torno do conceito de concorrência, a lei fundamental do desenvolvimento capitalista. E esta manifesta-se por meio das oscilações na taxa de lucros. Esta é dada por, como sabemos, digamos r = P/K onde r é rate of profits, P é profits themselves e K é o estoque de capital a que r e P também se referem. Evadindo as controvérsias sobre se este troço cai ou não cai, uso a notação de Karl Marx himself: r = m/(c+v), onde m é o lucro e c+v é o estoque de captital, não é isto? Pois, ao dividir tudo por v, temos: r = m/v : [(c/v)+(v/v)]. Ou seja, creio que meu colega da Universidade de Berlim fez a primeira decomposição da história da humanidade. Ele decompôs a taxa de lucro em uma componente que chamou de taxa de exploração (ou m/v) e outra que batizou como composição orgânica do capital (c/v). E explicou todo o sistema capitalista passado, presente e futuro, inclusive citando especificamente a crise de setembro de 2008 ("e em 2008, September, teremos uma bruta duma crise"). Claro que esta equação explica tudinho sobre a incorporação de progresso tecnológico, e tudo o mais, que muitos pensam que foi o Herr Schumpeter que teria sacado. É HPE.

No segundo registrinho, refiro-me ao que já me referi: a dupla Bain-Sylos. Não é eles. É três conceitos. O conceito de concorrência pura (e o determinismo do preço ser igual ao custo marginal). O conceito de monopólio (e o determinismo de, por mais malvado que seja, o monopolista racional cobrará um preço menor do que infinito, ou seja, satisfaz-se com uma cota de exploração finita). E Modigliani enlaçou estas duas pérolas com sua fórmula do preço-limite: se não houver barreiras à entrada, o neguinho (como diz a Sra. Presidenta da República) cobrará um preço menor do que o de monopólio mas maior que o de concorrência. Claro que tudo isto reica com a teoria dos mercados contestáveis perfeitos, que não sei por que não foi consagrada com o Prêmio Nobel também para seu criador, o monumental William Baumol. Disse-me um Menino de Rua um dia destes que é porque ele é heterodoxo em demasia e muito velho e que não lecionou em Chicago e que é pintor. É HPE.

Para o terceiro registrinho, reservei outra pérola da ciência econômica: simples e poderosa quanto as duas a que acabo de referir-me. Trata-se do Prêmio Nobel George Akerloff e a forma perfeitamente azeitada de formular a teoria da informação. Não fosse Smith, não teria Marx e se não fosse, digamos, Frank Knight, não teria Akerloff. E se não tivesse Akerloff, neguinho ia ficar sem o conceito de assimetria de informação. Não saberíamos o que é risco moral nem seleção adversa. Não saberíamos que o mercado de seguros detonou com os oportunistas ao criar a franquia e a carência. Eu comecei a aprender isto em 1975 com o Prof. Aaron Dehter, no PPGE/UFRGS, prossegui estudando no mestrado de Sussex (1977/8) e nunca mais cansei-me de buscar meter este registrinho, acompanhado dos dois anteriores, e do trio marxista (taxa de lucro, taxa de exploração e composição orgânica) num mesmo saco. E sempre que meti e busquei o que lá entrara, retirei maravilhas potenciadas. É HPE, além do traço mais festivo de minha conturbada vida intelectual.
DdAB

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