06 janeiro, 2009

Natureza do fetichismo

Querido Blog:
Agora não resta mais dúvida: fetichismo é a sensação que dois neguinho têm de, em trocando um pião por uma pandorga, estarem trocando peões e pandorgas, por contraste à percepção de que o que estão trocando são cristais de trabalho socialmente necessário. Ou seja, Nego I gasta 10 horas de trabalho para produzir um pião (de girar, lançado com uma fieira), 1o horas que coincidem com o trabalho médio despendido pela sociedade. Estas 10 horas metamorfoseiam-se em piões. Nego II também produz lá sua mercadoria, as pandorgas, em condições similares. Mas eles trocam p por P o.s.l.t., fetichizando as horas de trabalho. Isto parece bastante simples para alguns...

A ilustração acima veio do Goggle-Images, com a entrada de "fetichismo" + "natureza humana". Entendo que, sob o ponto de vista físico, a natureza humana se divide em cabeça, tronco e membros. Sob o ponto de vista sensorial, ela se decompõe em tato, olfato, audição, visão e fala. Era fala ou Manuel de Falla, nunca lembro?

Bertrand Russell, citado em meu amado Stephen Hymer, disse que "todo ser vivo é uma espécie de imperialista, buscando transformar a maior parte possível do meio ambiente em algo que lhe gere benefício." O ser vivo se divide em bactérias, algas etc.., chimpanzés e homens. Estamos no topo da cadeia alimentar, já andamos comendo chimpanzés e outros mamíferos geneticamente próximos, not to speak of churrascadas de homo sapiens sapiens, propriamente ditos. Comme nous mêmmes. Bactérias transformam o meio ambiente em seu benefício. Nós também. Como elas, as bactérias não falam, não se organizam tanto quanto lobos ou formigas para melhorarem sua posição na cadeia alimentar, ainda que um motorista de táxi tenha-me dito há alguns dias que elas é que levam a melhor, pois tomam partes de mim e as transformam em cinza, ou até menos tragicamente em adubo...

O lobo e o homem usam os cinco sentidos, ou melhor, os quatro comuns para melhorarem suas posições na cadeia alimentar. O lobo é lobo dele mesmo e já andou comendo um homem ou outro, mas hoje em qualquer duelo justo (ambos portando títulos financeiros, computadores ou mesmo banais espadas) o homem ganha a parada, deixando o lobo aos uivos de "caim, caim, abel...". No mosquito, ou melhor, em milhares de mosquitos, sabe-se que houve pelo menos 20 processos evolucionários que lhes geraram a visão. No homem, temos hum! Nem foi dele homem, mas dos peixes e até de quem gerou peixes, em minha opinião, arpões ou sei lá. O olho humano seria de pouca valia se não tivéssemos desenvolvido os programas de seleção (natural) que fizeram uma mistura de olho, cérebro e -principalmente- mão. Eye and brain. Brain and hand.

Mas tem muito olho, muita mão e muito cérebro, como nos gorilas, que não resiste a mais de uma ou duas horas lutando com uma onça ou uma jibóia. O homem mete uma granada na boca, nem precisa, atira de longe e faz uma ou outra virarem pó-de-bicho. E ensaca na forma de sopas maggi e come! Mas o que nos faz humanos e eu tinha jurado não mais falar em "natureza humana", mas apenas buscar entender uma "teoria da ação humana" é:
.a. tabu do incesto
.b. linguagem
.c. food sharing
.d. divisão do trabalho.

Mas tudo é relativo. Chomksi, por exemplo, não diria que os macacos vervet se expressam por meio de um vocabulário de 20 palavras, mas tem um motorista de táxi que disse! Tem gente que diz que tabu do incesto é bobagem... E por aí vai. E eu digo que os lobos, formigas etc. praticam sofisticadíssimas divisões do trabalho. Mas o que o Mr. Karl Henrich Marx diz é proverbial: o homem é o único animal que, ao transformar a natureza (em seu benefício, atalharia um vigia do Museu Britânico, na Russell Square) transforma sua própria natureza. Com isto, vemos por que eu prometera não mais falar em natureza humana. Mas o negócio agora é falar em pós-natureza humana, não a da obturação dental ou da ponte de safena, mas a dos entes escalafobéticos que ainda serão gerados por misturebas de bactérias e programas de inteligência artificial regidos por cristais de trabalho humano. Tudo tão simples que até decidi parar...
DdAB

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