Querido Blog:
O momento é solene. Decidi colocar este origami para ilustrar a postagem de hoje, que dirá respeito à continuação de diatribes que lancei contra sindicalistas, por considerar que eles esposam uma teoria de funcionamento do mundo que informa que o nível de emprego depende dos humores do Sr. Henrique Meirelles e seus partners. Vou citar duas ou três passagens da revista Carta Capital de 28 de janeiro do ano em curso, ano 15 n. 530, de R$ 7,90. O artigo a que me refiro, até segundo, é de autoria de André Siqueira e tem por título "A crise ficou mais real; demissões; o aumento do desemprego pôs à mesa empre´sarios, sindicalistas e o governo." pps. 22-24.
Entro no assunto, pois -dias atrás- andei criticando-os, não sei se os mesmos. Tanto o jornalista quanto sindicalistas, empresários e economistas cidados no artigo -parece-me- sofrem de falsa consciência, no sentido que o termo tem recebido na literatura de filosofia política e igualitarismo, se é que esta área dos esportes marciais já foi inventada. Sugiro que tenhamos em mente a máxima: "quem não conhece conceitos pouco ou nada pode falar sobre eles".
Começo a colher pontos para o argumento. Disse o sindicalista Paulo Pereira da Silva: "Não queremos proibir o empresário de demitir, mas podemos conversar sobre porcentuais de vagas e renda e alternativas para reduzir custos." Como vemos, sutilmente, "percentuais de vagas e renda" quer dizer sabe-se lá que diabos. "Alternativas para reduzir custos" bem o sei: não botar prá rua. Seja como for, a correlação entre vagas e renda responde a certa teoria com a qual tenho avisado que -não apenas eu, mas- o planeta inteiro está prestes a romper.
Segundo: diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto [...]: "O foco de todos é manter a massa salarial, senão matamos a demanda. [...] Mas garantia de emprego quem dá é o mercado." Entendo que ele e os sindicalistas pensam umbilicalmente neles mesmos. Quero dizer, sua visão de mundo, como eles vivem dos arranjos econômicos vivificados pela instituição mercado e seu correlato estado, fica de lado todo o tipo de arranjo que pode ter na comunidade o traço característico. Quero dizer, ainda, como direi mais explicitamente abaixo, que crianças existem não é porque haja mercado ou estado, mas porque a vida comunitárias lhes garante means of subsistence.
Primeiro: emprego gera -claro- renda, mas transferência governamental como o programa Brigada Ambiental Mundial também gera. E tem fundamentos budistas... Segundo: o que o mercado garante é demanda para a produção, mas ele -mercado- nunca disse que os produtos precisam ser produzidos, roubados, importados ou sei-lá-o-quê. Tem neguinho -diria a Ministra Dilma- que pensa que seus interesses é que determinam os conceitos. Ou seja, é evidente que não é o emprego que garante a demanda. É a renda. É a renda, repetiria ela, com um novo (no sentido de que nunca dera este antes) muxoxo.
Depois, na p. 25, veio o sábio Thomaz Wood Jr. sugerindo que as tenures devem acabar na academia e que o emprego vitalício anywhere é um baixo astral dos diabos. E, como tal, devemos mesmo é soterrar os anacronismos no tratamento desses vagabundos, os professores, e outros detentores de garantia no emprego. Para abreviar-me indago a ele e sugiro que os sindicalistas e empresários também pensem no seguinte: por que mexer logo nas regulamentações do mercado de trabalho, quando este está a finar-se? Por que não mexer (criar) outras instituições encarregadas de abastecer o mercado com neguinhos -diria Dilma- investidos de poder de compra? Tu entendeu o que eu tô dizendo, não é mesmo? Todos devem participar do excedente social, mesmo que não se tenham envolvido na produção. Claro que quem mais participa mais deve ganhar, mas isto não impede que bebezinhos, despidos da capacidade de transformar a natureza em seu benefício, também ganhem lá seu seio amigo... Da mesma forma, como no filme "Montanha Mágica", não convém ficarmos enviando nossos progenitores ao prato de tigres e cobras. Ou seja, não é o mercado e talvez nem o estado que garantem a sobrevivência de crianças e velhos.
Saudações Igualitárias
DdAB
2 comentários:
essa questao de regulamentar o mercado é complicado, mas gostei do texto. Abraços
Obrigado, Daniel! Ontem mesmo falei para um jovem estudante de geografia -que me falou coisas muito interessantes sobre a teoria das placas tectônicas- que odeio o Estado. Sabedor que sou pensionista da UFSC, ele achou estranho, mas defendi-me dizendo que Karl Henrich Marx sugeria que "devemos substituir o governo dos homens pela administração das coisas". Isto ajudou-me a defender o estado mínimo dos austríacos. Difiro deles pelo papel que atribuo ao Banco Central e à provisão de bens de mérito.
DdAB
Postar um comentário