Querido Blog:
Por uma questão dominical, ou seja, prometi nunca mais trabalhar aos domingos, não posso falar no terceiro ponto do novo consenso macroeconômico internacional de Bradford DeLong que tenho examinado nas últimas postagens. Neste caso, segue-se necessariamente que deverei falar em duas condições de fingidores. Como podemos facilmente depreender, trata-se de um trecho de Jorge Luis Borges inserido em seu espantoso conto "Funes, El Memorioso" e do poema completo "Autopsicografia" de Fernando Pessoa. Dois autores amados, cultuados e que me ajudaram a vencer as agruras da vida pelo menos durante 20 anos.
Disse Borges, registradinho na p.487 do volume 1 das Obras Completas:
FUNES, EL MEMORIOSO
[...] El 14 de febrero me telegrafaron de Buenos Aires que volviera inmediatamente, porque mi padre no estaba 'nada bien'. Dios me perdone; el prestigio de ser el destinatario de un telegrama urgente, el deseo de comunicar a todo Fray Bentos la contradicción entre la forma negativa de la noticia y el perentorio adverbio, la tentación de dramatizar mi dolor, fingiendo un viril estoicismo, tal vez me distrajeron de toda posibilidad de dolor. [...]
De Fernando Pessoa, lemos nas p.164-5 da Obra Poética o poema
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Pensei em escrever mais, mas achei que não seria de maior proveito, exceto -talvez- que a ilustração de hoje veio -como sempre- do Google Images, respondendo pelo título "Ilusion", o que não necessariamente é -como sabemos- sinônimo de fingimento.
DdAB
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