02 janeiro, 2009

Bahia, Silos e o Futuro

Querido Blog:
Mal postei uma citação transversal a Paolo Sylos-Labini (a teoria do preço-limite, lembra?), passei a preocupar-me com o problema da armazenagem, inspirado por Bahia, Carolina. Procurei no Google-Images o seguinte: "silo". E achei algumas coisas, a mais linda sendo a foto que trago acima. Isto são charutos? É um silo? Uma foto campeoníssima? Fotógrafo americano? Esta foto rima com "silos e armazéns"? No Webster de R$ 3,00, temos: si-lo ()
n. pl. <-los> v. <-loed, -lo-ing> n. 1. a structure, typically cylindrical, in which fodder or forage is kept. 2. a pit or underground space for storing grain, green feeds, etc. 3. an underground installation constructed of concrete and steel, designed to house a ballistic missile.
v.t. 4. to put into or preserve in a silo. [1825-35; < Sp: place for storing grain, hay, etc., orig. subterranean; ulterior orig. uncert.].

Muitas lições. Primeiro, que o filme "A Testemunha", de Harrison Ford e do gurizinho ammish. Ford mata o oficial de polícia contraventor, depois de matar seus asseclas dentro de um silo. O guri, possivelmente, torna-se policial ou engenheiro agrônomo. Segundo: silo pode ser dentro dágua, como não sabemos se o que está fora dágua na foto acima é apenas a imagem holográfica do silo enterrado nas águas internas, sabe-se lá o que era esta frase. Terceiro, a teoria do holograma pifa, se levarmos a sério as nuvens e uma anteninha de TV ou o que seja à direita, ao fundo da linda foto. Ine maravilhe, teria voltado a dizer o menino de rua de que falo e que também pensa fazê-lo, ou seja, tornar-se policial ou engenheiro agrônomo, como seu counterpart americano.

Sob o ponto de vista silanético (é isto, a metodologia de trabalhar com silos?), o guri deveria tornar-se agrônomo, para deixar claro que os americanos, tendo incorporado a palavra "silo" e seu significado para a elevação da produtividade do trabalho ainda no final do século XIX, não marcam bobeira, nem no terreno dos anabatistas, que descartam qualquer tentativa de incorporação de progresso tecnológico que não lhes seja do agrado. Por exemplo, armas de fogo, exceto uma que, por puro acaso, salvou nosso querido Harrison.

Pois bem. Carolina Bahia, na p.4 do caderno "Campo e Lavoura" de ZH de hoje fala do encaminhamento mundial dos países compradores de produtos agrícolas em trabalharem, como mandam os americanos e seus lacaios japoneses (ou vice-versa?, ou avesso do avesso do etc..?, isto é, contrário do vice-versa-vice-versa?), com o "just in time", ou seja, just on time, quer dizer, insumo chegando bem na horinha do uso, isto é, estoque nulo. Em minhas palavras, os rapazes dos dois lados do Mar do Japão, se é que mar tem lados, estão tentando externalizar (pode?, mesmo com a nova gramática?) custos de estocagem. Não sei se eles pensam, diabolicamente, em acabar com a alegria exportadora brasileira. Ou sabe-se lá o que pensará um litorâneo do Mar do Japão, com seus arrevesados ideogramas, o que exige pelo menos cabelo liso.

Se ter ferradura atrás da porta ajuda mesmo quem não acredita que ferradura dá sorte, não haveria razão séria para não termos antecipado este clamor oriental, montando nosso sistema de silos e armazéns, de estoques reguladores e estratégicos há 20 anos. Desde então, o PIB do Brasil cresceu à expressiva (impressiona os expressionistas) taxa de 2,33% a.a., ou 65%, o que faz a economia chinesa em cinco anos. Por que falar em meus temas de reflexão de 20 anos atrás?

Desde então precisamente neste assunto de formação de estoques estratégicos de produtos agrícolas, no Governo Sarney, ocorreu um incidente que levou-me a pensar que tudo o que estávamos discutindo naqueles anos tumultuados pelo "conflito distributivo" tinham a ver precisamente com o substantivo "distribuição". Hoje eu diria que um programa desta natureza é gerador da sociedade igualitária. Não mais da forma naïve com que me expressava naqueles tempos. Então aprendi que um Sr. Deputado Federal, parece-me que representante do Planalto Central, dono de silos em Goiás (ou n the nearby), conseguiu um cartão das autoridades executivas. Com este cartão, ele recebeu a garantia legal de que os estoques de grãos do governo que ele estocava e recebia justos aluguéis não seriam vendidos, a fim de não lhe reduzirem a renda (no sentido ricardiano...). Com este cartão, os grãos consumidos por porcos e homens do Planalto Central seriam deslocados de algum outro planalto, se fosse o caso, mas não mais centralizadao em torno de Brazília (ainda tem acento? Brasil voltou a ser escrito com z?). Um troço daqueles não gera sociedade igualitária nenhuma.

Neste caso, vale a pena abandonarmos o cultivo de estoques estratégicos? Claro que não. Como acabar com a corrupção em seu manejo? Serviço municipal, serviço municipal, meu chapa. É preciso criarmos 2^n redes de controle social sobre tudo o que diga respeito à vida pública, onde n é um número que não aporrinhe a vida privada de ninguém. Sinais exteriores de riqueza, sinais exteriores de manifestações de patologias individuais, crianças, criminosos, loucos, toda essa macacada deve ser closely monitored, você entende, né? Sem cairmos no fascismo do filme "1984", ou era "Brazil"?, um destes, ou terceiros.

E qual o problema se armazenarmos cereais para vender a Singapura, Hong-Kong, províncias interiores da China, Maranhão e -quem sabe?- Abejequistão e Zambão? Cobra aluguel, remunera o capital, é negócio de capitalista. Mas quem disse que capitalismo é concentrador? O capitalismo boliviano, claro, é muito mais do que o capitalismo sueco. E quem disse que capitalismo subdesenvolvido é mais concentrador? Estudando a origem genética de porcos e homens por esses 20 anos or so, entendi que a sociedade humana mexe-se em virtude de um sutil equilíbrio entre três instâncias de sua vida: mercado-estado-comunidade. Estado forte e comunidade fraca dão o que vemos no Brasil, com os ladrões encastelados em todos os recantos da vida nacional, da falsificação de políticos à adulteração de salsichas.

Por falar em salsichas, que tal um breakfast à inglesa, com tomates, ovos e bacon, tudo frito na banha do mais puro porco encontradiço nas águas do Rio Uruguai, ou suas culturas litorâneas.
Saudações porcinas, uma por cada leitor.
DdAB

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