20 junho, 2013

Briga: Manifestações x Institucionalização

Querido diário:
Agora, depois de alguns dias da estupefação geral com o poder das manifestações que hoje percolam o Brasil, há tentativas de envolver participantes (líderes e outros menos), tornando-os "de bem". Na capa de Zero Hora de hoje, há18 fotos com lindos dizeres:

.1. Povo que não tem (virtude) Vinagre acaba por ser escravo.
.2. Que país é este.
.3. Chega de privilegiar uma minoria elitizada.
.4. Quanto mais calado, mais roubado. Vem prá rua. Primavera brasileira.
.5. A aula hoje é aqui. O tema? Cidadania.
.6. Sexo é amor. Sacanagem é [R$] 2,95.
.7. Sr. governador: cadê o respeito e o fair play?
.8. Uma cidade muda não muda. Vem prá luta, vem!
.9. [Um coração vermelho]
.10 Vem prá rua!
.11. Desculpe o transtorno, estamos mudando o país.
.12 Protesto não é crime.
.13 Educação é direito e não privilégio. Xô, corrupção.
.14 Rosas não são armas.
.15 Hoje é um bom dia para lutar pelos seus direitos.
.16 Verás que um filho teu não foge à luta.
.17 Sem violência.
.18 O dia vai raiar sem lhe pedir licença.

O segundo editorial ("A crítica aos partidos") tem bem sua nota paternalista: "[...] Um dos cartazes exibidos em Porto Alegre, na última manifestação, tinha uma mensagem contundente: 'No Estado democrático existem apenas duas classes de políticos, os suspeitos de corrupção e os corruptos'. Trata-se de uma generalização exagerada, mas que reflete a visão da garotada sobre nossos representantes nos governos e nos parlamentos." Não poderia ser diferente: "a garotada", "nossos representantes". Definitivamente, não estou representado nem na política nem na imprensa!

E haverá mais paternal conselho do que da jornalista Rosane de Oliveira (p.250? "O Brasil, diferentemente da maioria dos países europeus, não enfrenta maiores problemas de desemprego, mas poderá enfrentá-los se as empresas começarem a reduzir investimentos por conta da crise."

As p.46-47 do mesmíssimo jornal deixam claras algumas fontes das manifestações. Casos de polícia, casos de arrepiar. Casos de falência absoluta, estrondosa e insofismável do aparato judiciário nacional. Um policial que teria sido assaltado passa a ser dado como suspeito. Outros Dois homens ameaçaram um cidadão de 48 anos em Passo Fundo. Finalmente, para acabar de concluir: numa rua próxima a minha casa, uma mulher foi assassinada por um homem (e seu parceiro) que, aparentemte, estavam mesmo querendo matar o companheiro da mulher (Angelica Emília Vieira dos Santos, 23 anos). Diz o jornal: "Na correria logo após os primeiros disparos, o companheiro de Angelica correu té a Avenida Azenha. Ela tentou se abrigar em um terreno no qual funcionam oficinas automotivas e foi perseguida por um dos criminosos, que fez pelo menos três disparos. Um tiro atingiu a mulher, que morreu na hora."

Parece que todas as ações violentas que estão ocorrendo hoje nas manifestações não são nada se as compararmos à violência que perpassa a vida nacional há várias décadas. A desigualdade? Claro: desigualdade significa poucos policiais, poucos juízes, poucos professores, poucos assistentes sociais. Pouco emprego decente. É o início e o final do rastilho de pólvora em que se transformou a sociedade brasileira em, digamos, 50 anos.

DdAB
Imagem: aqui.
P.S. Penso que, se pudesse, Zero Hora faria um cartaz: "Não queimem nossos veículos, não hostilizem nossos repórteres", claro que atendendo ao profundo ódio que muitos têm contra o poder e bom-mocismo deste órgão de imprensa (rádios, TVs, jornais) e construção civil...

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