Querido diário:
No domingo (aqui), falei das manifestações que vêm ocorrendo no Brasil. Medroso, cheguei a cogitar de estar frente a um teatro montado pela Zero Hora em meu benefício, que tudo seria apenas uma orquestração de ações da imprensa, magnificando o ocorrido, a fim de elevar a insatisfação contra o governo. Claro que tal insatisfação estaria representando um sentimento da direita. E destaquei como um representante das interpretações de direita a um advogado muito do sofista, o sr. Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.
Pois ontem acrescentei a minhas fontes de informação alguns momentos de TV. Mal entrei no canal 36, vi a cronista Rosane de Oliveira reclamando que não há jeito de esses manifestantes fazerem o que ela gostaria. Depois, vi alguns instantes do programa Conversas Cruzadas (nesse mesmo 36). Simplesmente lá estava aquele bel. Sebastião. Aquele recurso das ambulâncias ele não pôde deixar sossegado e voltou a usar. Só que desta vez também estava no programa um dos jovens (nome lá divulgado mas que não retive) participantes de um dos grupos que as lideram. Paixão Jr. falou no caso das ambulâncias, o jovem indômito desmentiu-o, afirmando que sempre que as ambulâncias se aproximam da passeata, esta abre espaço para o deslocamento do veículo. Fiquei de cara!
A direita, meu chapa, não é bolinho. No canal 40, vi mais um tratamento conservador, buscando -no meu sub-reptício jeito de pensar as sub-repticiedades da natureza humana- associar alguns nomes de pessoas identificadas nas manifestações de véspera em Brasília com os cargos que ocupam no governo federal. Não que o governo federal me pareça merecer defesa pelo que quer que seja (exceto a bolsa família), mas parece óbvio que incriminar o governo pela presença de funcionários públicos nas passeatas é rugir à direita. A direita não dá colher: as manifestações são criminosas, pois há gente violenta envolvida.
Claro que em minha maneira de ver, as manifestações são bastante pacíficas, tanto é que ainda não começaram a atacar os políticos! As palavras de ordem para o caso seriam:
.a. acabar com os CCs
.b. acabar com a segunda reeleição para qualquer cargo público
.c. deixar claro que o Brasil não quer políticos profissionais!
Para concluir, quero citar três manifestações de opinião (página 10 de Zero Hora) que deixam-me de orelha em pé e que provam que as manifestações estão cobertas de razão:
.a. Dilma Rousseff - Presidente do Brasil:
As manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem.
.b. Renan Calheiros - Presidente do Congresso [na verdade, do Senado Federal, que -como sabemos- deveria ser fechado, pois os estados também deveriam ser fechados]:
Compreendi a legitimidade da manifestação e disse que o Congresso se guiaria pelos protestos para aperfeiçoar a agenda. Protestos são legítimos e devemos fazer a leitura correta. Esse é o desafio.
.c. Luiz Inácio Lula a Silva - Ex-presidente:
Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas. Não existe problema que não tenha solução. A única certeza é que o movimento social e as reivindicações não são coisa de polícia, mas, sim, de mesa de negociação.
É claro que as manifestações violentas ocorrem precisamente porque temos governantes como esses três.
A Dilma foi abduzida pela maneira tradicional de se fazer política, comprando as alianças que lhe dão maioria para algumas iniciativas e minoria para outras tantas. A Dilma não fala em reforma de nada, tirou o time, as propostas de reforma política, reforma tributária, reforma do judiciário, estas coisas estão prá lá de no fundo da gaveta.
O Calheiros, ele próprio, já foi objeto de manifestações, homenageando sua cara de pau, depois daqueles escândalos que o removeram da presidência do senado e que voltou a ele, com a conivência da Dilma, do Sarney, e de todos os agatunados do país.
O Lula quer que as redes sociais sentem à mesa para negociar.
O Planeta 23 quer apenas que essa turma caia fora!
DdAB
Imagem daqui. Fala-se em "contra a violência e contra a corrupção". Estou com eles! Defino como violência a vergonheira de políticos ganharem R$ 30 mil e os meninos de rua ganharem tiros e pontapés. Defino como corrupção eles ganharem R$ 30 mil e quererem aumentos, fora as propinas!
P.S. (acrescentado às 21h24min de 20/jun/2013): no jornal ZH de hoje tem uma entrevista com o jovem a que me referi acima, por ter desmentido o bel. Sebastião: Lucas Maróstica. Tá aqui a entrevista (aqui):
O rosto mais visível dos protestos em Porto Alegre, com aparições quase diárias em ZH, Rádio Gaúcha, RBS TV e TVCom, é um estudante de Ciências Sociais que assume sem rodeios sua ligação partidária. Lucas Maróstica, 22 anos, é filiado ao PSOL, trabalha para a bancada do partido na Câmara de Porto Alegre e integra o Coletivo Juntos.
Coordenador do Juntos pelo Direito de Amar, que atua contra a homofobia, Lucas nasceu em Serafina Correia, mas cresceu em Guaporé.
Aos 18, veio para Porto Alegre, fez vestibular na PUC e lá descobriu a política estudantil. Depois, passou na UFRGS e concluiu que não quer ser jornalista: sua vocação é ser professor. Foi na luta política que conheceu a vereadora Fernanda Melchionna, com quem trabalha hoje.
Ontem, na Redação de ZH, ele falou por mais de uma hora. Leia a síntese da entrevista.
Zero Hora – Quais são as questões centrais nos protestos?
Lucas Maróstica – O povo quer que o dinheiro público seja investido em questões sociais. Há um desperdício muito grande desse dinheiro. Se o governo tivesse o empenho que está tendo com o dinheiro da Copa para as áreas sociais, muitos dos problemas talvez fossem resolvidos no país. A gente não vê esse esforço. Esse é um anseio geral da população, uma indignação que está batendo.
ZH – Vocês se preocupam com o fato de o excesso de causas acabar deixando os protestos sem foco?
Lucas – Temos muito essa preocupação. Primeiro, é um movimento das massas ocuparem as ruas e, como isso não acontecia há muitos anos, cada um faz a sua pauta. Então, 40, 50, 100, 200, não sabemos quantas são. A tendência é de que, agora que saiu o primeiro levante, as coisas se esclareçam. Nós, do Juntos, vamos trabalhar a nível nacional para construir determinados eixos. Eixo 1, redução da passagem em todo o país. Eixo 2, contra a criminalização dos movimentos sociais. Eixo 3, que os gastos investidos na Copa sejam investidos nas áreas sociais.
ZH – É impossível falar desse eixo dos movimentos sociais sem abordar os atos de vandalismo, com queima de ônibus e lixeiras e depredação de prédios. Como vocês avaliam esses atos?
Lucas – Há vários elementos que fazem com que essas coisas aconteçam. O primeiro, é a ação violenta da polícia. Teve um ato em que estávamos entre 100, 150 pessoas, e era um ato de estudantes do Ensino Médio. A gente chegou na frente da prefeitura e fomos recebidos a cassetada, spray de pimenta.
ZH – A queima de ônibus e de lixeiras, a depredação da revenda de motos, vocês não repudiam esses atos?
Lucas – Em São Paulo, cantaram a seguinte palavra de ordem: “Ah, que coincidência, sem polícia, sem violência”.
ZH – Mas não teve polícia em frente à prefeitura e queimaram até uma van.
Lucas – Em São Paulo, é outro caso, tem outras questões envolvidas. Não vou entrar na questão de quem está praticando isso, mas acho o seguinte: a pessoa não tem acesso a serviços básicos, saúde e educação. Essas pessoas ficam tão isoladas, tão desamparadas do poder público, de ações sociais, que cria-se uma revolta grande, que às vezes é canalizada para esse tipo de ação.
ZH – Por que o repúdio à mídia?
Lucas – A capa que a ZH fez quando teve o primeiro ato na prefeitura foi lamentável. Foi uma capa extremamente mentirosa, colocou todos como baderneiros, vândalos.
ZH – Mas os veículos do Grupo RBS têm dado amplo espaço aos protestos.
Lucas – Acho que, a partir da análise de que começaram uma cobertura extremamente equivocada, se abriu mais espaço. A mídia estava deslocada da realidade. Ela sabia que a população estava ao nosso lado. A gente tem uma aceitação muito grande, temos um espaço que é merecido, a partir de trabalhar com veículos de comunicação, mas, tem reportagens, análises que são equivocadas.
ZH – Você não se incomoda de ver um ônibus queimando?
Lucas – O que não é normal é empresa roubar R$ 72 milhões dos cofres públicos, governos roubando da população sem parar, bilhões sendo investidos em iniciativa privada, como o Itaquerão, enquanto educação e saúde são um caos. Isso é que é absurdo, isso que não dá para engolir. Essa é a resposta do movimento em relação aos atos.
ZH – Então, para vocês, a palavra vandalismo não existe nas manifestações?
Lucas – Olha, chamamos de vandalismo as ações que os governos têm promovido contra a população.
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