27 junho, 2013

Achei! ("ao transformar a natureza...")

Querido diário:
Nem sempre encontro o que procuro nos livros que já li e esqueci. Por exemplo, volta e meia falo que Marx disse que "o homem é o único animal que, ao transformar a natureza, transforma sua própria natureza". Pois bem, não que eu tenha procurado isto no Capital, volume I. Mas li (não sei se registrei por aqui, que a memória é mais curta do que a obra de Piero Sraffa) o livro de David Harvey:

Título: Para entender O capital
Título Original: A companion to Marx's Capital
Subtítulo: Livro I
Autor(a): David Harvey
Prefácio: Orelha: Marcio Pochmann
Tradutor(a): Rubens Enderle
Páginas: 335
Ano de publicação: 2013
ISBN: 978-85-7559-322-6
Preço: R$ 49,00

Pois simplesmente na p.114 do livro diz "Agindo sobre a natureza..." e vem toda a frase que citei acima e cito volta e meia, só que com a redação ligeiramente modificada. Ao ler o livro de David Harvey, também fiquei pensando em Groismann, Popper e Fernandez (ver aquiaqui). Na realidade, não consigo me desvencilhar da relevância da dialética. Não sei, claro, se dialética e método dialético querem dizer a mesma coisa e, menos ainda, materialismo dialético. David Harvey dá algumas explicações sobre estas coisas e, em muito boa parte de seu trabalho, vemos a relevância.

Dos autores que li modernamente (menos de 10 anos), destaca-se Carlos Roberto Cirne-Lima e seu livro "Dialética para principiantes", que tem uma capacidade de esgotar-se fenomenal. Para ele, da tese e da antítese, surge uma síntese, algo mais elevado, mais nobre. Há mais tempo, durante a moda, li alguns dos marxistas analíticos. Estes dizem que o relevante de Marx são as "descobertas substantivas" e não o método, que seria o mesmo para tudo.

E como é que eu ligo Platão e Popper? Parece que o que Marx chama de método de exposição e que David Harvey faz chover em cima em todo seu livro é o que Popper e Fernandez chamariam de imaginação criativa do cientista. Como é que se dá a centelha das hipóteses científicas? Talvez, ouso sugerir, seja mesmo ao se pensar na coisa em si (quem sou eu para usar esta expressão?) e em seu oposto-contrário (e não o contrditório, do qual -diz-nos Cirne- não sai nada). Nunca me canso de citar o ensaio "O Artesanato Intelectual", de Carl Wright-Mills, em que ele fala bem, entre outros aspectos, este de olhar a coisa (por exemplo, a classe trabalhadora) e pensar em seu oposto (digamos, a classe capitalista).

Meu orientador (aqui) dizia que devemos pensar:

.a. o que fortalece a classe capitalista
.b. o que enfraquece a classe trabalhadora.

Acho que isto é uma média entre SWOT e dialética, não é, não?

DdAB
P.S. das 21h55min de 4/ago/2015. Consideremos o livro
ITOH, Makoto (1988) The basic theory of capitalism; the forms and substance of the capitalist economy. London: Macmillan.
Na página 110, ele diz, citando Marx (isto é, ele diz que Marx diz na página 283 do volume 1 d'O Capital na edição Penguin):

Labour is, first of all, a process between man and nature, a process by which man, through his own actions, mediates, regulates and controls the metabolism between himself and nature. He confronts the materials of nature as a force of nature. He sets in motion the natural forces which belong to his own body, his arms, legs, head and hands, in order to appropriate the materials of nature in a form adapted to his own needs. Through this movement he acts upon external nature and changes it, and in this way he simultaneously changes his own nature.

2 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Oi, Profe:

Fernandez continua achando que a centelha da hipótese científica pode vir de qualquer lugar, inclusive de operações mentais que outros, adeptos de outros supostos métodos, chamam de "Verstehen", por exemplo.

Veja só o que diz o Little, naquele livrinho velho conhecido nosso (p. 72):

"It is reasonable to conclude from the vagueness of both Weber's and Geertz's descriptions that there is no distinctive method of interpretation -- no set of rules that permits us to derive an interpretation from a description of social behavior. Instead the problem confronting the interpretative social scientist is the familiar one of hypothesis-formation. The interpretative social scientist must arrive at a hypothesis about the meaning of an action that makes sense of the action in light of the known facts. And -- as in other areas of science -- there is no recipe for a good hypothesis."

E olha que este trecho já estava até sublinhado, hein? hehehehe.

Have a nice weekend,
Brena.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Cara Profa. Fernandez:
Muito obrigado pela diligência. Obrigadão, obrigadinho, obrigadaço! A rigor, sinto-me confortado com a proposição de que a hipótese pode vir de qualquer lugar. Neste caso, também pode vir do "método das contradições".
DdAB