ontem fiquei boquiaberto ao ver, na televisão, o arcebispo de Porto Alegre, pe. Dadeus Grings exproprando o poder judiciário nacional. ao ler um documento possivelmente de sua própria redação, via-se que, se ele é bom de escrita, não o é tanto na leitura. mas, ainda assim, o texto era tão articulado que achei que ele não estivesse para brincadeiras. diz o jornal de hoje que estava na nota que, mutatis mutandis, ouvi ontem:
"O problema da corrupção no Brasil tem sua base exatamente ali, no Judiciário. Todos sabem disso, mas poucos têm coragem de denunciá-lo. Nossa presidente começou a faxina no Executivo. Quando será a vez do Judiciário, onde o problema é mais grave"
e mais há na mesma p.22 do jornal de hoje:
"Vê-se que os juízes estão desligados da realidade. Os ministros da Igreja Católica não recebem salários polpudos, como eles, nem amealham fortunas."
e mais ainda:
"O arcebispo adiantou que escreverá uma 'cartilha' sobre o tema:
"Diante da gravidade do assunto, escreverei nova cartilha para apontar as mazelas do Judiciário e assim colaborar na urgente reforma. Ou o BRasil muda o Judiciário, ou o Judiciário acaba corrompendo o Brasil"
tudo iniciou -palpite- com a condenação do prelado a pagar R$ 940 mil reais a três advogados, por calúnia, difamação e injúria.
aí, claro a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul entrou na dança:
"[...] indignação da [m]agistratura gaúcha em face das declarações do Arcebispo [...] que atribuiu ao [p]oder judiciário a condição de ente corrompido [...]. A Ajuris sempre exigirá pronta apuração de qualquer irregularidade no [p]oder [j]udiciário, mas não admitirá a ofensa generalizada e irresponsável, de qualquer autoridade, simplesmente pelo fato de ter seus interesses contrariados por decisão judicial."
e eu pensei: ainda bem que não estou incluído nessa macacada. primeiro: não sou autoridade, segundo, não assaco ofensas, apenas observo e comento (emito opiniões) sobre o que me parece realmente o grande problema do Brasil. o arcebispo, que já metera os pés pelas mãos em várias declarações, prometeu a tar "cartilha". estou louco para vê-la. não sei o que ele vai dizer, óbvio, mas gostaria de saber o que ele pensa, por exemplo, da morosidade secular da "justiça" no Brasil., daquele negócio de supremo, supremíssimo, supremacia, super poderes, que andei postando no outro dia. e a relação entre o tráfico de drogas e a assistência jurídica aos traficantes, inclusive pelo afamado ministro aposentado do supremo tribunal (ou era o supremíssimo?), cujo escritório de advocacia paulista era/é especializado em defender os rapazes.
ok, ok. e daí? primeiro: tenho começado a constatar que os juízes dos tribunais eleitorais é que deveriam fiscalizar o descolamento entre programas partidários e promessas de campanhas. e depois entre programas partidários e lei do orçamento. e por fim, para rimar, o cumprimento da lei do orçamento.
segundo: neste caso, parece evidente que o caso da doença do presidente Lula deixa claro que, se houver recursos públicos para atendê-lo, nada mais estarão fazendo do que cumprir o tal preceito constitucional que a "saúde é direito de todos e dever do estado". mas, como dizem os ingleses, but, but, but. claro que isto é um absurdo. em qualquer fila do SUS, o presidente Lula e milhares de outros ganhariam a primazia porque saltam aos olhos, algo assim. e não estou-me referindo apenas a ele/ela, a presidenta. tenho dito várias vezes que ouvi falar de um rapaz (entre os 1% mais ricos do Brasil) que recebeu uma "ponte de safena" no coração, tudo pago pelo SUS.
qual é o problema? claro que os 1% da população são mais iguais. claro que não deveriam ser. claro que a solução era o poder judiciário parar com suas tropelias absurdas, como é o caso de mandarem -manu militari- os hospitais furarem as filas de transplantes de órgãos. e outras milhares de tropelias que, espero, venham a aparecer na cartilha do arcebispo. e mais; quem ganha R$ 32 mil mensais não deveria ter o direito de dar palpite sobre qualquer assunto popular!
DdAB
imagem: o Google deu-me esta maravilhosa interação entre cadeia e judiciário: "No local, além da cadeia, funcionou o governo do Ceará e o Judiciário". blog.opovo.com.br.
p.s.: escrevo às 20h27min: o homem, que era bispo, não era arcebismo, minha santa!
p.s.: escrevo às 20h27min: o homem, que era bispo, não era arcebismo, minha santa!
3 comentários:
Qualquer brasileiro sabe que o judiciário é uma grande máquina de expropriação. O maior beneficiário deste sistema é a União e seus tentáculos, estatais e instituições financeiras. Transfere-se renda de uma parte para outra arbitrariamente, sem nenhum critério econômico razoável. Daí o sentimento de injustiça que assola o arcebispo. Considero salutar o arcebispo se unir a milhares de pessoas que são expropriadas e que tem a voz calada perante o judiciário.
é verdade. fiquei esperançoso que, se o clero assumisse uma campanha em prol da reforma do judiciário, chegaríamos a melhores resultados no desempenho societário.
DdAB
Reforma do judiciário é para inglês ver, além de demorar muito tempo. O que falta ao judiciário é humildade e contato com a realidade. Reafirmo: em grande parte dos casos, os valores das sentenças são verdadeiros absurdos econômicos. Mal comparando com o direito penal, é como se as penas(os valores das sentenças) fossem desproporcionais aos crimes.
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