12 novembro, 2011

Um Novo Inglês e Outras Drogas

querido diário:
esta postagem não obedece ao marcador "Vida Pessoal". como "não dizer o que não dizer" é um mandamento importante para a boa escrita, digo o que direi: marcadorei em "Escritos" (primeiras partes) e "Economia Política" (segundas partes). em outras palavras, não há disjunção absoluta entre as três partes, a parte intermediária não sendo alheia nem à primeira nem à segunda. para entretenimento do leitor e, em especial, para autoesclarecimento, não nego que tenha negado o mandamento importante da boa escrita, três pontinhos.

mas vejamos o que não é tão boa escrita, a não ser que realmente estejamos cortejando os Engenheiros do Hawaii, quando escreveram que "garotos inventam um novo inglês". fazia tempo que eu não comentava os erros de, por isso mesmo designada como o fazemos, Zero Herra. no Caderno Vida, a contracapa tem uma bela entrevista com Eric Kandal, prêmio nobél de medicina no ano 2000. como ele não fala o novo inglês, digo, o português, li: "Memórias que viriam lhe marcar pelo resto de sua vida, impulsionando ainda mais seu interesse na área." pensei: "Memórias que viriam a marcá-lo pelo resto da vida, impulsionando ainda mais seu interesse na área." ou ainda "Memórias que o iriam marcar pelo resto da vida, impulsionando ainda mais seu interesse na área." e pensei em mais 14 trilhões (1.000 para cada aniversário do Universo) de formas diversas de expressar aquele probleminha da transição entre um verbo transitivo direto e outro indireto, favorecendo o desenvolvimento das forças produtivas do novo inglês.

dito isto, pulei para a p.2 do caderno principal, no tradicional artigo de Cláudia Laytano. em geral, mais gosto ou sou indiferente do que desgosto a suas reflexões sobre a idade do universo e seus desdobramentos. hoje, para mim, tem uma das atrozes tiradas de patricinha: "Era um fim de tarde, e as mesas [de uma lanchonete, ora esta, onde deitava falação um literato] estavam lotadas de estudantes aparentemente com mais fome de lanche do que de literatura." claro que a primeira coisa que pensei foi: "aparentemente?" será o novo inglês? apparently? seu tradicional duplo sentido? claro que fiquei pensando que o dono da lanchotete, ao abrigar a negadinha que gosta de escrever e falar sobre escritos também pensava em ganhar algum, descolando x, y ou z, sendo x um cheese burger, y, uma coca-cola diet e z um paco de acepipes.

indigesto, pulei para um encontro com a jornalista Carolina Bahia, na p.15 desse mesmo caderno principal. eu já ouvira falar no assunto e até pensei em iniciar um abaixo-assinado no orcute, ou sei lá onde, para lançarmos ao oprópio a genialidade médica do polêmico deputado Osmar Terra (PMDB). ou melhor, diz a sra. Bahia:

"Atestado médico. O polêmico projeto do deputado Osmar Terra (PMDB, foto), que prevê a internação involuntária de dependentes de drogas mediante determinação médica, ganhou dois apoios de peso: a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina. A proposta institui penas para traficantes proporcionais ao poder de destruição da droga comercializada."

não apenas há méritos da jornalista ao iniciar sua notícia sinalizando que aí vem chumbo grosso. há deméritos espantosos no fato de ainda não termos conseguido fazer o recall com o mandato deste médico que julga-se e aos de sua classe no poder de decidir entre o bem e o mal. será que café é mesmo uma droga? ou ele está falando em oxy (era isto?), crack, coke, o quê? um simples baseado? chimarrão? mas ainda não vimos tudo, neste parágrafo. com efeito, no parágrafo acima, diz Bahia que duas instituições apoiam esta autoritária, vergonhosa iniciativa integrante do churrio legislatório apontado por Stanislaw Ponte Preta há muitos anos. para piorar minha opinião sobre o conselho federal de medicina, só mesmo sabendo que elest também estarão recebendo equiparação salariam com os ministros do supremo.

o que fazer com os viciados? se retirarmos-lhes a acusação de criminosos -per se- poderemos começar a separá-los em viciados que praticam crimes (exceto, por definição, o de usar drogas, jogar, colecionar sapatos, e todas as pilhas de blim-blim-blins que tecnicamente podem ascribe o designativo vício a indivíduos humanos) e viciados que não os praticam. no primeiro caso, não incluí, por isenção bloguística, o vício de votar em Osmar Terra, três pontinhos.

mas há algo mais que pode ser feito relativamente a todos os viciados e que acabaria com o tráfico de drogas nun just-like-that de dar gosto a quem de mais interesse expresse pela parada. trata-se da criação de salas de consumo! o governo da república do Brasil faria um convênio com uma empresa júnior associada á faculdade de medicina de alguma universidade do norte da Europar para que ela administre um programa de encher o Brasil de salas de consumo de drogas, um, pelo menos, em cada município. neles, a frequência não seria obrigatória, ao contrário: quanto mais cedo os meninos, digamos, dinamarqueses deixarem de receber visitas do indivíduo A, do B ou do C, maiores serão seus ganhos por conseguirem convencer o viciado a abandonar esta condição, promovendo-o a ex-viciado. um troço assim.

a moral da história é que esta hipocrisia institucionalizada no Brasil de quererem fazer-nos falar uma língua europeia, quando milhões de pessoas, mesmo da mais abalizada imprensa falam um novo inglês made in Brazil, o preconceito patrício rosna contra pobres estudantes mastigantes, tudo isto, e aí vem gente querendo dizer que a solução para o problema das drogas é ainda mais repressão, mais força bruta, mais pancada. qual é a moral da história? pau, pau e pau!
DdAB
p.s.: uma vez que a postagem foi longa, nada melhor do que ampliá-la. ou melhor ainda, que ampliar ela. comecei falando em Carolina Bahia, terminei citando Monteiro Lobato: "pau, pau e pau". de onde tirei? de minha imaginação, memória oblierada por travos alienígenas, sei lá..., mais três pontinhos. qual é a moral da história? é que, no natal de 2004, comprei o livro "Urupês", de sua autoria, Monteiro Lobato. ele contesta a mudança ortográfica de não-sei-lá-quando, parece que a de 1943, e cita Carolina Michäelis, que se manifesta contra os acentos, como o trema... pilhas de três pontinhos, pois Mikaelis tem trema, não é mesmo?

p.b., isto é, o p.s. do p.s.. all of a sudden, revi o pé-da-página 10, onde tudo isto acontecia, e a transição lógica para a p.11: "Nâo há lei humana que dirija uma língua, porque língua é um fenômeno natural, como a oferta e a procura, como o crescimento das crianças, como a senilidade, etc. Se uma lei institui a obrigatoriedade dos acentos, essa lei vai fazer companhia às leis idiotas que tentam regular preços e mais coisas."

p.s.s.: tu viu? não apenas dá uma pancada (pau, pau e mais pau) nos rapazes que negam obviedades econômicas, desde economistas que têm pouco apreço ao estudo da ciência econômica centrado nas emanações da lei da oferta e procura. outra é a da linha de nosso ministro dos esportes, o mr. Aldo Rabelo que já me trancafiaria no xilindró por ter escrito a palavra ascribe sem itálico (ou mesmo o itálico seria galicismo e iríamos para o opróbio igual?). e então que dizer de um louco machadiano que quer trancafiar os viciados? por que não começam com os ministros ladrões e todos os demais políticos ladrões? e depois os demias ladrões, assim sucessivamente? pode?

p.s.s.s. tu viu a origem da foto que uso hoje para ilustrar o que uso hoje? que fazer com o espancamento de telefones? se um aluno atendesse o telefone em minha aula nos tempos em que, por pura neurose eu as ministrava, como, aliás, um atendeu em pleno curso de microeconomia no mestrado, ou não era micro?, eu não o agrediria, mas pediria uma liminar para que ele não atendesse. e não o trancafiaria pelo uso de drogas. se a liminar não chegasse a tempo, eu iria reprová-lo, daria zero na disciplina e encerraria o assunto. e, claro, me demitiria do cargo, não instantaneamente, para não dar na vista, mas para evadir-me de um ambiente que, no momento, não favorecia a contemplação e o estudo. tudo? tudo por causa dos antiequilibristas.

p.s.s.s.s. na primeira vez que este Urupês, na Biblioteca do Colégio Estadual Júlio de Caudilhos, digamos, nos meados dos anos 1960s, estava do lado de ambos, Lobato e Mikaelis. uma vez que ela morreu em 1925, se algo ela tem com a reforma ortográfica de 1943 no Brasil, é preciso estudar mais, o que não vou fazer neste momento por razões que um p.s. adicional explicaria. não vou fazer neste momento porque um p.s. adicional explicaria. idem. não vou fazer, idem. vou é publicar.

2 comentários:

Tania Giesta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

a Europa requer que nos mantenhamos vigilantes e, sem dúvida, os próximos tempos verão pressões variadas disseminando-se sobre nossa festejada mas pouco ativa mudança estrutural.
DdAB