querido diário:
no início dos anos 2000, apresentei um paper sobre a evolução do pensamento clássico e cepalino sobre a relação entre produção, distribuição e consumo na Associação Italiana de História Econômica (o otra cosa come questa...). o debatedor que me honrou com comentários inteligentíssimos foi o economista francês, prof. Claude Latouche. já na época, havia em seu redor um ar ecológico, conservacionista. a cidade do evento era Lecce. ele criticou inteligentemente e eu me defendi como pude. hoje, depois de outros detalhes pessoais e "escritos", vou falar sobre um texto dele -Latouche- saído na p.6 do suplemento "Nosso Mundo", de Zero Hora de hoje. ele poderá defender-se, se o desejar...
escritos: uma pessoa que, em inglês, chama-se Elisabeth Oak pode ser traduzida? traduzem-se pessoas com a nova ortografia? Beth Carvalho? pois juro que li esta declaração, já na Contracapa do 2o. Caderno do já carimbado jornal: "Isso tudo tem a ver com a CIA, que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura." pensei: "Isso tudo?, tudo o quê?". mas segue-se que a CIA quer acabar com o samba. esta eu não sabia! e acho que todos devem ter preservado o direito de dizerem o que bem quiserem, até os políticos. a restrição que seria feita aos direitos destes seria a de não roubar. acho difícil. mais fácil é a CIA prender o Zorro, sei lá.
bem, antes de alongar-me com o mr. Latouche, vejamos a p.21 do caderno main stream: "[...] é importante que os custos da rastreabilidade [do rebanho bovino] não recaiam exclusivamente sobre os produtores. O investimento [para viabilizar a rastreabilidade] não é pequeno e tem de ser dividido por toda a cadeia produtiva." pensei: e o mecanismo de preços não faz isto automaticamente? ou haverá, na visão do articulista do "Olhar do Campo", o sr. Irineu Guarnier Filho), uma ineficiência generalizada do sistema de preços no Brasil, por causa da distribuição da renda escandalosamente desigualitária? se for, eu diria que é um economista essencialmente economista, como poucos, que não pensam no conflito distributivo como a questão central da economia política. o que quero dizer? que o sistema de preços é melhor do que palpites individuais. e que o sistema de preços também tem suas distorções (bens públicos e agora afirmo que a distribuição também, como sabemos) que devem ser sanadas antes de deixá-lo agir a mil. nunca esquecerei que o senador Aécio Neves recusou-se a fazer um teste de mensuração de seu nível de álcool no sangue, pagando multa de -parece- R$ 1000, dois salários mínimos, o que sustentaria, na riqueza, a maioria das famílias brasleiras! como é que poderíamos dizer que "uma multa é um preço", se é um preço ridículo para a honra do senador?
ok. o mr. Latouche. rima com o que falei ontem sobre o planeta água. ele é o que alguns chamam de neo-malthusiano, achando que precisamos consumir menos ou tudo vai-se acabar. ele tem 71 anos. por que um velho se preocupa com o futuro? eu, de minha parte, acho que é que estamos interessados em ver aonde nos mandam nossos modelos. acho que a sociedade igualitária é a panaceia, mas como não a vejo possível em meu horizonte de vida, já vou jogando a responsabilidade para a outra geração. aí ele falou da pegada ecológica e a definiu com uma informação: "Ela é calculada em mais ou menos dois hectares de espaço bioprodutivo por habitante. [...] O Brasil está com 2,5 hectares por habitante." e isto é um problema, 25% acima do "desejado". em minha maldade, pensei que, se reduzíssemos a população em 25%, então chegaríamos no índice que ele deseja. ou seja, ingressei (e já saí) rapidamente (saí mais rapidamente ainda) no clube que acha que gente é problema, que tem que reduzir o número de pessoas, porque elas dão muito trabalho (requerem postos de trabalho), elas destróem o meio ambiente, elas fazem e acontecem.
para concluir seu artigo e esta postagem: "Eles [a negadinha do Forum Social Mundial de 2002, a que ele compareceu] lutavam por uma outra mundialização, enquanto nós pregávamos a desmundialização." e eu pensei: não é que não é? não estou dizendo?
DdAB
a imagem desta oliveria veio daqui. o que mais me impressionou em Lecce foi a oliveira da praça central, com -disseram- 450 anos de idade.
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