querido blog:
esta não é uma postagem de marcador "Vida Pessoal", mas de "Economia Política". seja como for, vou dando uma explicação pessoal: fiz desaparecer de minha vida o exemplar de hoje de "Zero Hora", que iria documentar ser mesmo a "Zero Herra" que às vezes meus maus bofes levam a epitetá-la. seja como for number two, as páginas 4-6 têm duas matérias que me interessam, além de milhares de outras páginas e matérias. mas ater-me-ei a estas.
duas delas falam na questão do veto do governador Tarso Genro ao tresloucado projeto do deputado Raul Carrion, proibindo as pessoas de conversarem entre si ou mesmo lerem textos com estrangeirismos, o que já colocaria esta postagem sob censura. Tarso vetou pilhas de artigos da lei, mas deixou vigente o artigo 2 (tudo de memória, mas olhe atentamente a ilustração da postagem de hoje, colhida como "Alzheimer").
só que agora, mais de duas horas depois que comecei a redigir (pois fui numa festa), achei a Zero Herra. então vamos aos erros, to begin with. nas p.4-5, repete-se a matéria "Reconhecer a variedade é legítimo", na p.4 e repetida na p.5. quem disse este troço de reconhecer a variedade foi a profa. Ana Maria Stahl Zilles, doutora em linguística. eu também acho. o que acho errado é a Zero Hora repetir a matéria inteirinha, a entrevista da professora. e o erro da professora é defender, by and large, a piada que está no livro sub judice de como ensinar português a brasileiros que não aprenderam a escrever na primeira infância, pelo que entendi. pois bem, diz a profa. Zilles que o primeiro capítulo, tão criticado por dizer que "nóis vai comê os pêche" está está certo, se é do português/brasileiro falado. estou com elas, a linguísta e a autora do livro, pelo que entendi, que não li o livro e nem creio que venha a fazê-lo, por razões, digamos, analfabéticas...
mas o que me parece um absurdo de a professora engolir e de a autora escrever é alguma arbitrariedade do tipo: "Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico." gelei. eu mesmo já fui vítima de preconceito linguístico, em Jaguari, quando minha formação começou a distanciar-me de colegas um tanto mais negligenciados pelos governantes. quando eu passei a dizer: "tu mataste os passarinhos", eles começaram a achar que eu estava falando difícil, empolado e isto iria fatalmente levar-me a uma aliança (odiosa, segundo alguns) com a classe dominante. em boa medida, isto se confirmou, pois vim a estudar a ciência econômica, o que -como sabemos- nos faz todos lacaios do imperialismo ianque. em Oxford, se eu dissesse "tu matou os paçarinho", ninguém iria entender. mas eu fiz tropelias do mesmo escol com a língua inglesa e nunca ninguém reclamou. nunca, por lá, fui vítima de preconceito linguístico, pois todo mundo sabia que eu não era um native speaker. eu mesmo, quando minha engenheira de manutenção residencial diz: "sinhô Duilio, quer alcançar-me uma nota de R$ 100 em necessaríssimo adiantamento por serviços vincendos", exercito novamente meu preconceito linguístico, tachando-a de taxista, algo assim, ou até taxidermista.
mas ainda pior do que esta besteira do preconceito linguístico é a sentença: "Por uma questão de prestígio - vale lembrar que a língua é um instrumento de poder [...]." gelei. meu chapa, eu exercito meu poder sobre a autora ao dizer que este negócio de samba lelê, ou melhor de va-lelê-mbrar é, para mim, estilo das classes inferiores, ou seja, de quem escreve sem cuidados elevados com a língua. cacofonias devem ser evitadas, em meu jeito de olhar os estilos refinados, elevados.
e pior ainda do que este viés sociológico da autora do livro que, presumo, terá formação universal, sabendo, não apenas sociologia, mas também ciência política, e todas as demais ciências já catalogadas e por inventar, pior ainda, repito, está a seguinte frase: "A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio." eu pensei: só mesmo o Banco do Brasil (na visão do analista de Bagé, que eu ainda poderia citar a fonte), que financia todo tipo de besteira para ter levado grana ao bolso daquela macacada que fez o livro. acabo de provar acima que o sinal de prestígio aparece quando tu falas a língua de teus interlocutores e não o contrário. repito: em Jaguari, o fato de falarmos certo, ou melhor, falarmos acertadamente, é que nos desmoralizava, pois falar errado é que era falar certo (lembro myself da crônica de Celso Pedro Luft falando da crônica de Luiz Fernando Veríssimo, que dizia algo como "estou falando errado, certo?" mas Machado de Assis também usa o adjetivo como transformador do verbo, não se contentando com os advérbios. este é o português brasileiro, mas o escrito, pois nunca ouvi Machado de Assis falando. tudo o que dele sei veio-me por seus escritos.
em resumo, a autora do livro, cujo nome nem lembro, é uma criatura que se envolveu numa refrega para a qual estava absolutamente longe de ser preparada. mais ainda, diz a matéria das p.4-5 que milhares de doutores do MEC leram o livro e aprovaram. pensei: por jetons de muito menos valor, o ministro Palocci comprou seu apartamento. afinal, dizem alguns, todos temos que morar, não é mesmo? o que eu acho mesmo é que estes dois casos -Palocci e livro do peiche- deveriam ser julgados pela Corte Internacional de Haia, pois são lesa-humanidade.
o outro erro de Zero Hora está na p.6, e é de linguística, ou de linguagem, sei lá, que não estou para estas sutilizas de fonema e fonética (ou vice-versa). lá o jornalista que exarou (exalou, azarou?) a matéria de Brasília escreveu: "[...] além de não deixarem ele entrar, impediram-no de afixar cartazes [...]". pensei: este cara dar-se-ia mal no meu colégio, ao dizer "deixarem ele" e, em Jaguari, ao dizer "impediram-no". a vida é difícil, lógico. é claro que não pode escrever assim, ou agrada Jaguari ou agrada Machado de Assis. eu diria que, na escrita, devem agradar Machado, pois a escrita da autora do livro é que foi feita a machado, e bem que poderia ter sido esculpida a canivete.
por puro acaso, há um erro de política na p.6, com o ministro Antonio Palocci, que informou estar cheio de razões para dizer que o apartamento é mesmo seu, que não foi roubado e que foi ganho com o suor de seu rosto. e o pior é que o PSDB está levando a sério a estratégia que abomonei ainda há dois dias, ao elogiar o governador Geraldo Alkmin, que parece ter-se flagrado de que uma oposição imbecil carrega derrotas muares.
pois bem, a língua deu assunto suficiente. passemos agora ao MAL*, o afamado Movimento pela Anistia aos Ladrões Estrela. o MAL*, como sabemos, defende que todos os ladrões estrela sejam anistiados e que a seriedade seja implantada na política brasileira em 2021, ou seja, daqui a 20 anos. se alguém quiser radicalizar, então que os ladrões sejam deixados em paz até 31/dez/2011, e a vida nova comece no raior do novo ano. caso o programa seja para 2011 ou 2022, ou 2222, etc.., recomendo as seguintes medidas, entre outras:
.a. imposto de renda progressivo decentemente determinado
.b. imposto sobre a transmissão de fortunas
.c. voto facultativo nas eleções
.d. parlamentarismo como forma de governo
.e. voto distrital puro
.f. orçamento universal
.g. reforma do sistema judiciário valorizando o tripé punição-repressão-prevenção.
o resto é stalinismo, como é o caso do art. 2 da lei do deputado Carrion que não foi vetado e que proíbe os funcionários públicos estaduais de falarem estrangeirismos. sorte que sou um aposentado do sistema federal de ensino, o que me permite dizer: "au revoir".
DdAB
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