outro dia farei, se fizer, uma longa postagem sobre algumas opiniões que Fradique Mendes emitiu sobre o Brasil a seu amigo Eduardo Prado, conhecido de Paris, em uma carta datada simplesmente de "Paris, 1888", do início do verão europeu. Esta é da p.197-202, da Editorial Enciclopédia, Resomnia, de Lisboa, sem data (mas das Obras Completas em 20 volumes). por ora, faço uma brincadeira com o maior presidente do Brasil de todos os tempos. talvez vença-o Dilma, duvido. talvez vença-o Eduardo Campos, num futuro remoto, duvido. até Marcos Maia parece que pintará como candidato working class. Campos e Dilma, obviamente, não o são. ele é sobrinho de político, ela é de origem européia.
por que Lula é o maior, maior que Getúlio? porque colocou todo mundo a seu mando. comprou toda a macacada. liderou um partido que, pelo que andei lendo na Carta Capital, é o mais bem sucedido partido da história da república. fez a renda básica, ou melhor, seu arremedo aceito pela sociedade, a bolsa família. ainda teremos a renda básica. com Dilma, Campos ou Marcos Maia, sabe-se lá. mas ainda teremos, pois ela é que é a inovação institucional verdadeiramente consolidadora da democracia mundial no século XXI.
que diz Fradique a Eduardo? sem contextualizar excessivamente, pois toda a carta merecia cair em todos os vestibulares da história pátria, começo com uma transição lugarcomunesca, mas rapidamente veremos a que veio:
Em todo o caso, creio que o Brasil tem ainda uma chance [itálico no original, para mostrar que o que era galicismo já foi incorporado à lingua em menos de 100 anos, e serve como escárnio à iniciativa do dep. Raul Carrion] de reentrar numa vida nacional e só brasileira. Quando o império tiver desaparecido e, a seu turno, vier essa república jacobino-positivista que já lateja nas escolas e que os doutores de pena hão-de necessariamente fazer, de parceria com os doutores de espada; quando, por seu turno, essa república jacobin-positivista murchar como planta colocada artificialmente sobre o solo e, sem raízes nele, desaparecer de todo, uma manhã, levada pelo vento europeu e doutoral que a trouxe: e quando de novo, sem luta e por uma mera conclusão lógica, surgir no Paço de São Cristóvão um novo imperador ou rei - o Brasil, repito, nesse momento, tem uma chance de se desembaraçar do 'tapete europeu' que o recobre, o desfeia, o sufoca. A chance está em que o novo imperador ou rei seja um moço forte, são, de bom parecer, bem brasileiro, que ame a Natureza e deteste o livro.
não sei quem é mais mordaz, se o sr. Eça de Queiroz ou seu personagem Carlos Fradique Mendes, ou ainda personagem da personagem que se constitui num mestre de cerimônias de toda a correspondência e seu proêmio. mas Eça é espantosamente mordaz, mesmo fora deste ambiente de Fradique, pelo que li em "A Cidade e as Serras". e que lerei mais, estou certo, em outras fascinantes histórias deste que é -dizem- o grande escritor da lusofonia, que os diabos a acolham.
DdAB
p.s.: a imagem tem uma história maior, creio, do que a postagem. seria muita mirra para pouca missa descrever tudo tintim por tintim. seja como for, se bem entendo da natureza humana, ela veio de:http://en.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%A7o_de_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o.
glossário: doutores de pena e doutores de espada: todo mundo para Fradique é doutor em algo no Brasil. claro que a única exceção é Lula, o Grande.
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