querido blog:
posso estar exagerando, a memória é menos confiável do que eu gostaria. mas não poderei olvidar que penso ter visto na TV britânica, digamos, em 1990 e 1991 diversas reportagens sobre a queda do Muro de Berlim. algumas dessas cenas levaram-me a pensar em voltar à Deutsche Republik, então já dominantemente federal, que a Demokratik dançara. minha primeira viagem foi em maio/1990, uma queda de muro tão discreta que ainda precisávamos de visto para adentrar o lado oriental da cidade de Berlim. fizemo-lo, compramos o primeiro volume do Capital em alemão, que deve jazer em algum canto na cidade de Florianópolis, se a memória ajuda.
de tudo aquilo, ficou-me na retina a montanha de berlinenses orientais com seus carrinhos de bagagem carregados de aparelhos de som, televisores, e outros, transportando-os, de metrô, ou nas ruas da cidade, da Berlim Ocidental à Oriental. pois bem, meses e muitos meses depois, comecei a ver na TV britânica (não lembro mais se era a BBC ou a comercial) entrevistas com gente que vivera o comunismo e agora vivia a reunificação, com insetos e inseticidas, expressando-me caetanescamente. o que de mais comum, notável, pareceu-me era a resposta a uma pergunta do tipo: "o que mais lhe fazia falta nos tempos do comunismo?", e a resposta invariável e unânime era: "bananas".
anos antes, digamos, 1986, o Brasil enviara uma missão comercial a Cuba que voltou cabisbaixa, pois nada poderia vender aos cubanos, que nada podiam pagar por nada. O Brasil, naturalmente, era carregado de e por bananas (saíram os militares, mas permaneceram seus asseclas). O Brasil, e seus usineiros, também era inundado por cana-de-açúcar. queríamos vender ar condicionado, até parece que vendemos uma centena. mas nada podíamos comprar. neste clima, andei fazendo as seguintes reflexões.
primeiramente: troca de banana por tratores (ou, o que dá quase na mesma coisa, Traband, o afamado carrinho da Berlim Oriental que nos ilustra hoje). ademais, serviços turísticos: os alemães adorariam meter uns mojitos na Bodeguita, que falo de ouvido, que não sou destas coisas... se fosse o Brasil, poderíamos ter aproveitado serviços médicos também, enviando-lhes sapatos e soja, além de produtos tipicamente produzidos por empresas multinacionais, como fez Juan Domingo Perón, já na condição de presidente da Argentina, que forçou ("forçou"?) a sucursal da General Motors a vender para o Clube Fidel Hilário...
o que há de comum entre as ofertas de bananas, tratores, cirurgias e sapatos? é que se trata de bens ou serviços levados ao mercado, isto é, mercadorias. mesmo que não pudessem ocorrer triangulações, apenas -para seguir no caso alemão- a troca de bananas por tratores iria fatalmente dinamizar as duas economias monetárias, Cuba e DDR. lá no primeiro semestre da faculdade de economia, se estuda um modelo elementar de determinação da renda (no mercado de bens) e que mostra um tal de teorema do orçamento equilibrado. ele também vale, só que em menor escala, ou seja, em menor potência, também para as economias que têm outros mercados funcionando (além do de bens, nomeadamente, o de dinheiro, o de divisas e o de trabalho). o teorema do orçamento equilibrado diz que, se teu governo gastar R$ 1 e, ao mesmo tempo arrecadar R$ 1, a renda de equilíbrio crescerá em R$ 1, ou seja, mirácolo. mesmo que não seja R$ 1, mas digamos R$ 0,01, os governos dos comunistas tropicais e dos alemães do norte iriam beneficiar-se. uns comeriam mais bananas, os outros usariam mais tratores e ambas as populações seriam mais felizes, desfrutraiam de maior bem-estar.
na verdade, o impacto em ambas as economias seria maior do que os R$ 0,01 instilados pelo pessimismo que dá seriedade ao exemplo. claro que as bananas que seriam abocanhadas pela alemoada não seriam comidas em Cuba de qualquer jeito. nem os tratores lá nos temperados, que já estariam devidamente patrolados (ver postagem lítero-nonsensical).
DdAB
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